quarta-feira, janeiro 29, 2025

Os oitenta anos da "Bíblia do futebol"


Podia falar do "calimero" que começa a andar em negação, quando se fala de violência em Lisboa, ao ponto de até colocar em causa os números apresentados pela polícia, mas isso era dar atenção a quem não a merece.

É por isso que prefiro festejar os oitenta anos de vida que a "Bíblia" do futebol comemora hoje.

"A Bola" foi o jornal que mais li no começo da adolescência até à idade adulta, porque tinha jornalistas extraordinários, como foram o Alfredo Farinha, o Carlos Miranda, o Aurélio Márcio, o Vitor Santos, e sobretudo, o Carlos Pinhão. Adorava ler as suas crónicas, especialmente quando "largavam a bola", e davam largas à imaginação e ao espírito de cronistas, com os populares "Hoje Jogo eu"...

Não tenho grandes dúvidas, que foi graças a eles, que quis ser jornalista desde muito cedo. Ainda tive o prazer de conhecer Alfredo Farinha, Carlos Miranda e o Carlos Pinhão. Acabei por ter uma maior proximidade com  este último, por gostarmos ambos das coisas da cultura. Conversámos bastantes vezes, sobre livros, mas também sobre cinema ou teatro, apesar da concorrência quase doentia desse tempo entre o "Record", - onde eu já trabalhava - e "A Bola". Era uma daquelas coisas em que fingíamos passar-nos ao lado...

E não posso esquecer Cândido de Oliveira, jogador, treinador, seleccionador nacional e democrata (esteve preso no Tarrafal...), o principal responsável por este projecto jornalístico de grande sucesso, que dura há oitenta anos...

A propósito da capa, eu é que agradeço!


2 comentários:

  1. SAmmy, o paquete30/01/25, 19:45

    Lembra-se que «A Bola» tem mais ou menos 3 meses que ele.
    Em 29 de Janeiro de 1945, Cândido de Oliveira fundou o jornal A Bola.
    Já lhe chamaram, Bíblia, também o Avante da Travessa da Queimada.
    O jornalismo de sarjeta que por aí se faz, também atacou o jornal.
    Desaparecidos os jornalistas, notáveis cronistas, diga-se, que lhe deram glamour, hoje não passa de um produto amorfo, sem qualquer ponta de brilho, que aposta no sensacionalismo para vender papel.
    Poderia dizer que aprendeu a ler com A Bola, por lá exercitou as primeiras letras.
    Quando o jornal fez 43 anos, convidou algumas personalidades para se pronunciarem sobre a efeméride. O cineasta João César Monteiro foi uma dessas personalidades:
    «Se não estou em erro, sou ledor de “A Bola” há mais de trinta anos. Do tempo em que era quase afrontoso ser visto com “ela” debaixo do braço e nem sempre se ousava confessar o pecadilho que era gostar de a ler. Para restituir a boa consciência a esse perverso apetite, criou-se um álibi curioso. “A Bola” passou a ser, antes do mais, um modelo de virtudes prosódicas, uma escola de bem escrever jornalístico. Com alguma razão, diga-se, se fecharmos piedosamente os olhos a certas piroseiras metafóricas que, de onde em onde, ensombram com a má literatura o bom jornalismo.
    Para ser franco e sem cair no pretensiosismo de ter mais em que pensar, nunca pensei muito n’”A Bola”. Passo os olhos por ela, deixo-a deliberadamente na mesa do café, encontro-lhe utilidades culinárias para embrulhar tachos com arroz ou para absorver o óleo dos carapaus fritos. Numa ou noutra aflição, já me tem valido, com todos os inconvenientes de estampagem de aí decorrente. Nada de grave: conheço letrados bem piores.»
    A Bola que hoje corre por aí, com o mesmo nome, não tem nada a ver com o jornal do Cândido.
    Foi, até certa altura, um jornal bem feito, interessante mas não ao ponto de, com uma grande dose de exagero e injustiça, Carlos Pinhão ter afirmado, em pleno salazarismo/marcelismo, que «o jornalismo desportivo era o melhor jornalismo português». Carlos Pinhão esquecia-se (?) que A Bola não ia à Comissão de Censura. Os outros, seus camaradas de profissão tinham de escrever nas entrelinhas para tentarem fazer um jornalismo minimamente honesto.
    À velha A Bola deve o facto de Ruy Belo ser um poeta do seu panteão e o conhecimento que teve do poeta, não começou nem pelos livros, nem pelos poemas, mas por uns artigos sobre futebol que, nos idos de 1972, publicou em A Bola.
    Gostou tanto desses artigos que se interessou logo na procura de coisas acerca de Ruy Belo, acabando por lhe comprar os livros e ainda se lembra que o primeiro foi Homem de Palavra(s), uma capa azul, um belo livro.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Grato pelas memórias, Sammy.

      Claro que o jornal de hoje é diferente do de ontem. Mas talvez não fosse possível resistir com os princípios de Cândido de Oliveira, tão bem defendidos por Carlos Pinhão, Vitor Santos, Alfredo Farinha ou Carlos MIranda...

      Infelizmente a qualidade deixou de ser o mais importante na comunicação social dos nossos dias...

      Eliminar