
O atravessar da fronteira (frame)
14 de Novembro de 2024, 68º dia de viagem: partindo de La Alamedilla, Jette atravessou a fronteira, perto de Aldeia da Ribeira, concelho do Sabugal.
Chegava finalmente a Portugal e a paisagem encantou-a, desde o primeiro minuto. Só o tempo não estava agradável, com frio e chuva miudinha. Jette escreveu no seu diário nunca ter pensado passar mais frio em Portugal do que em Espanha. Típico de alemães, têm sempre a ideia de que em Portugal nunca faz frio…


Continuam as manadas de bovinos
Jette penetrou na Reserva Natural da Serra da Malcata, atravessou um rio e passou por um lago formado por uma barragem. Depois de uma consulta ao Google Maps, presumo ter sido na zona de Alfaiates.

Mais tarde, ela enviou a sua localização à pessoa que a hospedaria, em Souto. Um homem veio ao seu encontro, igualmente a cavalo (nada devendo, em cortesia, aos espanhóis) e guiando-a até às cavalariças, onde a Pinou ficou instalada.



Na aldeia, Jette pernoitou numa, como ela escreveu, “casa enorme”. Depois do jantar, foi levada a um bar, onde toda a gente falava inglês (nisto, temos claramente vantagem em relação a nuestros hermanos), proporcionando-lhe bons momentos de conversa.
15 de Novembro de 2024, 69º dia de viagem: de Souto a Vale da Senhora da Póvoa.

À despedida, o dono da quinta onde Jette pernoitou surpreendeu-a com uma t-shirt da sua propriedade.
Pelo caminho, o mapa mostrava uma ponte, onde poderia atravessar um pequeno rio. Lá chegada, porém, Jette viu apenas uma passagem estreita, sem qualquer tipo de proteção.

Não vislumbrando alternativa, Jette fez-se à travessia arriscada. E a Pinou passou o teste com bravura.

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Esta foi uma etapa cansativa e demorada, com subidas e descidas íngremes e alguma chuva.


Começou a escurecer, antes de chegarem ao seu destino, e tiveram de usar uma estrada com trânsito automóvel. Mesmo provida de colete refletor e iluminação no seu capacete (frente e traseira), Jette esteve em permanente alerta, respirando de alívio, quando finalmente chegou.
Foi convidada para jantar e passou um serão agradável. Mas, quando se recolheu, lembrou-se dos cães acorrentados, ao longo do caminho, e acabou por escrever no seu diário (tradução minha): “Em Espanha e em Portugal, os animais são frequentemente mantidos de maneira diferente ao que estou habituada: muitos cães estão permanentemente acorrentados, burros e cavalos trancados, ou amarrados no meio do nada. Isto deprimiu-me um pouco.”
16 de Novembro de 2024, 70º dia de viagem: de Vale da Senhora da Póvoa até Pedrógão de São Pedro. 25,8 km, com alguns montes para vencer.

Como sempre, Jette desmontou nas subidas. Por vezes, até largou a Pinou, para que ela pudesse escolher o próprio ritmo. E a égua acabou por surpreender a moça com a sua agilidade. Era mais rápida, mas esperava por ela, quando a distância entre as duas aumentava. A relação entre a moça e a égua atingira a perfeita harmonia. E Jette, caminhando atrás, constatou que a Pinou estava mais musculosa do que antes da viagem.

As canseiras eram recompensadas com a beleza da paisagem, embora o tempo continuasse chuvoso.

Em Pedrógão de São Pedro, ficaram instaladas na quinta de uma senhora que Jette conhecia do Instagram.


A moça resolveu repousar durante um dia. O cansaço não foi, porém, o único motivo para a pausa. As duas tinham apenas mais uma etapa pela frente e Jette, apesar de se sentir aliviada por as duas terem vencido tantos quilómetros sãs e salvas, receava o momento da despedida.
Aproveitou a pausa para escovar a Pinou e tratar-lhe dos cascos.


Depois do jantar, tornou a ir ao estábulo, a fim de passar aquele último serão junto com a égua. Pinou deitou-se e Jette sentou-se junto a ela. Não evitou verter lágrimas, mal acreditando que a aventura estava quase a terminar.


18 de Novembro de 2024, 72º dia de viagem: os últimos 20 km. Sol e 20ºC.

Jette passou o dia cheia de sentimentos contraditórios, tanto chorava, como se alegrava.

A chegada ao seu destino foi registada em vídeo pela dona da Pinou. Jette experimentou uma turbulência de emoções. Não aguentou. Levou a mão aos olhos, chorando mais uma vez. O vídeo pode ser visto no Instagram, não penso que exista alguma maneira de eu o trazer para aqui. Mas deixo um frame:

A aventura durou quase dois meses e meio. Jette e Pinou percorreram sozinhas 1.595,49 km.

Passado cinco dias, a moça foi apanhar o avião a Lisboa, de regresso à Alemanha.
Todas as fotografias e informações aqui divulgadas foram retiradas do diário de viagem de Jette:
https://www.instagram.com/jette.horse.journey/
@jette.horse.journey
Nota: três semanas depois da sua chegada à Alemanha, Jette teve a calma e a distância suficientes para fazer um balanço da viagem, concluindo, dessa forma, o seu diário. Penso que ela foca alguns pontos e momentos interessantes. Por isso, na próxima sexta-feira, vou postar algumas dessas impressões.