terça-feira, outubro 31, 2017

O Meu "Passeio Mágico com Romeu Correia"


Sei que devo estar a ser um pouco repetitivo, pelo menos para quem visita todos os meus blogues.

Mas a hora é mesmo do Romeu Correia e do livro que escrevi em sua homenagem, que será apresentado no próximo sábado na Biblioteca Municipal de Almada (Sala Pablo Neruda).

Livro que está escrito em forma de entrevista e dividido em 15 capítulos temáticos. Não estavam previstos tantos. Mas surgiram algumas frases do Romeu, que pediram para ter algum realce. Vou dar apenas um exemplo.

Criei um capítulo sobre o "Contador de Histórias" apenas por encontrar uma verdadeira "pérola", numa entrevista que ele deu ao "Diário de Lisboa" em 1982:

«Se tivesse nascido há mil anos, não teria sido cobrador no banco, seria um contador de histórias.
E sentir-me-ia muito honrado em andar de terra em terra, de povo em povo.»

(Fotografia -  Romeu Correia na "Almada Velha", durante uma das muitas visitas guiadas que fez - de autor desconhecido)

segunda-feira, outubro 30, 2017

Uma "Tribo" Especial do Tejo...

No domingo de manhã o Ginjal estava cheio de pescadores (sem contar com o concurso de pesca do "Liberdade"...). Mesmo o Rio estava com mais pequenas embarcações do que é normal, lá para o meio. Provavelmente era dia de "peixe"...

Fui andando e já no cais do Olho de Boi deparei com uma cena digna de ser filmada. Um casal de meia idade estava à pesca e quando passei o homem estava entretido a "limpar" a beira do cais. Ia chamando nomes aos colegas que deixavam por ali bocados de trapos velhos, garrafas e sapos de plástico, ao mesmo tempo que ia empurrando lixo com as botas, para as águas do Tejo.

Estive quase tentado a chamar-lhe a atenção, mas não quis estragar o passeio da manhã. Limitei-me a abanar a cabeça, sem deixar de sentir o olhar desconfiado da mulher do pescador cravado no meu rosto (não sei quem são, nem se pagam alguma renda para estarem ali, sei apenas que agem como se as imediações da antiga fábrica da Companhia Portuguesa de Pesca fossem sua propriedade).

Embora esteja longe de ser inédito, não gostei nada de ver mais um elemento da "tribo" - que devia estar na primeira fila para proteger o Rio -, a contribuir para a sua transformação em "esgoto"...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, outubro 29, 2017

Raramente Escolhemos as Melhores Pessoas que Gostam de Nós...

Raramente namoramos e casamos com as melhores pessoas que gostam de nós.

Queremos sempre o difícil, o diferente, o misterioso... e muitas vezes acabamos por nos dar mal com as nossas escolhas.

Às vezes penso numa moçoila dessas (porque hoje sei que fazemos doer, sem nos apercebermos...). E o que ela gostou de mim. Somos tão complicados...

Casou algum tempo antes de mim, teve uma filha também cedo (que provavelmente já deve ter casado... terá perto de trinta anos), separou-se... e talvez continue a viver no Oeste (talvez entre Alcobaça e as Caldas...).

Há uns vinte anos que não nos encontramos. É uma pessoa divertida. talvez seja por isso que gostava de a ver, de beber um café e falarmos da vida que passou por nós...

Talvez a vida nos queira manter a alguma distância...

(Fotografia de Bert Hardy)

sábado, outubro 28, 2017

Os "Benficas-Sporting" da Vida...

Eu sei que não tenho culpa de gostar das coisas "sem doença". Até gosto. Quase muito. E não tenho vergonha de o dizer, o que deve ser ainda pior...

Às vezes penso que isso poderá ter a ver com o jornalismo, mesmo sem que tivesse feito qualquer "juramento" como o que os médicos, os os militares (sim ainda juram defender a pátria com a própria vida...)  fazem, por exemplo. Com a luta que devemos fazer para nos colocarmos fora das notícias, relatando apenas o que aconteceu e não o que queríamos (ou não) que tivesse acontecido...

Mas eu nunca fiquei "doente", não jantei mal, nem insultei a minha mulher ou os meus filhos, por o Benfica perder ou empatar. Muito menos chamo nomes "pornográficos" aos árbitros (obrigado pai...).

E só pode ter a ver com a educação que tive em casa, onde o futebol e a política, entravam e saiam, sem cachecóis e discussões acaloradas, porque sabíamos que havia quinhentas coisas mais importantes  nas nossas vidas, que as camisolas às cores dos clubes ou as falsas promessas dos políticos...

Ou seja, posso dizer que o Luisão já não "tem pernas" para ser central do Benfica, que o Jesus, sempre foi avançado no tempo (sempre teve "cabelo de salão de cabeleireira"), que a "betinha" do CDS está numa lufa-lufa para ser a melhor da rua dela, que o Santana continua a acreditar que a política tem "gel"...mas não vou muito mais longe que isso.

E por outro lado, nós somos o que somos. Há traços na nossa personalidade e no nosso carácter que nunca mudam, para o bem e para o mal. Ponto final.

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, outubro 27, 2017

Curiosamente, as Uniões não Vivem só de Amor (e ainda bem)...

São um homem e uma mulher, tanto um como o outro com quase meio século de vida.

Ainda não sabem muito bem se foram salvos... sabem apenas que a filha de nove anos foi, e continua ser, a sua aparente salvação.

Toxicodependentes, uniram-se pela droga, sem pensar em histórias de amor, ou de outra coisa qualquer. Sentiam-se mais seguros juntos. Mas numa noite mais fria que as outras, embrulharam-se um no outro. E distraídos, fizeram a Catarina.

Quando a mulher soube que estava grávida, ficou surpreendida e também contente, embora o escondesse. O companheiro de aventuras, quando soube da novidade, não quis acreditar, eles conseguiam lá fazer um filho... Mas conseguiram. Também gostou da ideia. As famílias com medo que eles trouxessem ao mundo mais uma criança deformada, a primeira coisa em que falaram foi de abortos. 

Ela desolada preferiu desaparecer de circulação. Entretanto foi ao centro de saúde e contou com a solidariedade e a amizade de uma enfermeira, que lhe pediu que aparecesse por lá todas as semanas. A muito custo deixou de consumir, porque, sabe-se lá porquê (claro que se sabe, por amor...), quis muito ter um filho, que seria uma filha quase nove meses depois.

O companheiro também fez um esforço para deixar de consumir e começou a trabalhar. Entre meia dúzia de recaídas, lá se conseguiu recompor, talvez também a querer ser um bom pai.

A Catarina nasceu um pouco antes do tempo, perfeitinha. Os únicos problemas que teve foram a nível respiratório (a asma permanece, mas já se habituou à tosse e aos espirros...), de resto tem dois pais que a amam, que se tornaram um casal por um desses acasos que às vezes aparecem nos livros e nos filmes, mas que não fazem mais que retratar a vida...

(Fotografia de Ferdinando Scianna)

quarta-feira, outubro 25, 2017

«Às vezes penso que conseguia ser feliz apenas com livros e um gira-discos.»

Estávamos a falar de coisas do quotidiano (há notícias para todos os gostos, para os entendidos de política, de protecção civil, de leis e juízes e até para aqueles como Necas, que  estão cansados do brilhantismo do Marcelo, que está a fazer o papel da sua vida....), quando a Rita virou tudo de pernas para o ar e me fez uma confidência: «às vezes penso que conseguia ser feliz apenas com livros e um gira-discos.»

Eu percebi o que ela quis dizer, éramos os únicos na mesa que tínhamos as mãos soltas. 

Talvez fossemos uns ineptos, por não conseguirmos falar e trocar mensagens ou ir aos e-mails em simultâneo.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, outubro 24, 2017

Olhar e Retratar...

Mesmo que não tenham sido tantos dias como isso, fiquei com a sensação de que há muito tempo que não saia de casa apenas para passear e retratar o que me apetecesse.

Foi o que aconteceu hoje de manhã. E foi uma boa ideia, apesar de andar pelos mesmos sítios, consegui encontrar uma ou outra coisa diferente...

Andei bastante (mais do que tinha pensado...) e quando cheguei a casa, senti-me reconfortado. Faz bem ter um tempito apenas para olhar para o nada e depois descobrir uma ou outra coisa, das que querem ficar para a "posteridade"...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, outubro 23, 2017

Um Falso Estado Laico...


Podia falar da Constituição, da igualdade de género, do facto de sermos um Estado laico, etc...

Ou então da sentença (mais falada no dia de hoje, até mesmo nos telejornais...) produzida por um juiz, que se deve ter enganado no tempo e pensado que estava em 1973 e não em 2017.

Juiz que também dá sinais de ter a "testa bem enfeitada", pela forma como abomina o adultério, ao ponto de citar a Bíblia e focar as sociedades que continuam a tratar a mulher como um ser inferior e a condenam à morte, por alegadamente trocarem de homem...

Mas o que é mesmo grave, é sentir que esta sentença retrata com justeza a nossa justiça, cheia de equívocos, de penas suspensas e de bandidos que passam o tempo a sujar as ruas da liberdade...

(Óleo de Eliot Hpdgkin)

domingo, outubro 22, 2017

Um Festival de Bandas Almadense (e Centenário)...


Há já alguns anos que a Incrível Almadense organiza o seu Festival de Bandas Filarmónicas, que é sempre uma boa oportunidade para quem gosta deste género musical e também para recordar memórias, de quando esta era a única música possível em muitos lugares deste país...

O Festival que está quase a começar (estou a escrever antes de passar por lá...), este ano tem uma particularidade bastante importante e singular. As três bandas que a Incrível convidou são as suas congéneres do Concelho de Almada, S.F.U.A. Piedense, Academia Almadense, e Musical Trafariense, todas elas centenárias, tal como a "Mãe" do Associativismo Almadense...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, outubro 20, 2017

O Poder pelo Poder (apenas isso)...


Hoje percebi - mais uma vez -, ainda que num universo menor, o que o poder faz às pessoas. A forma como as pessoas se agarram a qualquer pedacinho de notoriedade, mesmo que seja a presidir o clube da rua, é uma coisa quase surrealista.

Não vi nenhum interesse em querer melhorar, ou mudar as coisas, vi sim uma vontade férrea em continuar, até à "derrota final"...

Infelizmente os pequenos exemplos podem facilmente serem transpostos para as governações mais importantes, seja no governo central, local, ou até na própria junta... cuja governação é mais complexa do que o que parece, especialmente para quem não percebe a importância da proximidade para as gentes.

Claro que a culpa é de todos nós, que aceitamos que quem tem mais lata e lábia, "trepe muros e paredes", a seu belo prazer, para chegar ao lugar ambicionado. Mas apenas por isso, pelo cargo e pelas possíveis benesses, nunca para servir os outros, ou fazer algo que contribua para a melhoria da sua qualidade de vida...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, outubro 19, 2017

Quando a "Vingança" se Serve Quente...

As declarações dos líderes do PSD e do CDS (a pedirem a "cabeça" do primeiro-ministro, depois da ministra da Administração Interna se demitir...) são o retrato dos políticos do nosso país. Em vez de se unirem para combaterem um mal comum, do qual os governantes que foram poder no país ( nacional e local), pelo menos nos últimos trinta anos, tem grandes responsabilidades (para não recuar mais no tempo...), tentam sempre retirar dividendos políticos da desgraça alheia. 

Além de demonstrar falta de sentido de Estado e de carácter (tanto à esquerda como à direita), é apenas mais um indicador de que as "tricas políticas" são mais importantes que a resolução dos problemas graves que o país atravessa, como é o caso do ordenamento do território...

Um português da Marinha Grande explica muito bem as razões da tragédia do Pinhal do Rei, no distrito de Leiria (que podem ser generalizadas...), na reportagem publicada hoje no DN e assinada por Paula Sofia Luz: 
«Gabriel Roldão estabelece uma relação direta entre "a entrada de Durão Barroso no governo e o momento em que começou a deteriorar-se a administração dos serviços florestais". Mas a verdade é que as oficinas de carpintaria, de mecânica, estaleiros de reparação das estradas, serração de madeiras, entre outros serviços, foram sendo paulatinamente encerrados. "Nessa altura [2001] estava projetado fazer-se a recuperação das casas da mata. Houve um concurso nacional, o prazo era muito curto, a câmara não se apercebeu, e eu mesmo fui ter com o presidente de então Álvaro Órfão para concorrer à aquisição das casas que foram dos guardas-florestais", conta Roldão. Nessa altura já aposentado, ajudou a fazer os projetos, que deveriam ter sido entregues até 28 de fevereiro de 2001. Mas a 26 desse mês, dois dias antes, Durão Barroso revoga a portaria anterior. Os projetos nunca saíram da gaveta. As casas ficaram abandonadas, algumas arderam no incêndio de domingo. "Foi todo um descalabro que acabou com o Pinhal de Leiria. A direção dos serviços florestais foi descapitalizada. Deixou de funcionar o que existia: escola de guardas-florestais, escola de resinagem." A machadada final dá-se em 2008, quando os guardas-florestais são integrados na GNR, "uma organização militar onde estavam desenquadrados", sustenta Roldão, certo de que "a responsabilidade de vigilância e policiamento terminou aí. Até hoje nunca vi uma única brigada da GNR a policiar a mata".»

(Fotografia de Luís Barra - Lusa)

quarta-feira, outubro 18, 2017

A Disponibilidade (ou não) para e pelo Desconhecido...

Não sei se é a idade, se é o facto de termos uma família.

Sei apenas que raramente estamos disponíveis para conhecer alguém de quem gostámos do ar, sem precisarmos de tirar algo dos bolsos. Querer logo saber quem é... (as mulheres ainda são mais assim)

Mesmo sabendo que as melhores conversas que se podem ter é com "desconhecidos", gente que não nos interessa saber quem é ou o que fazem... só nos interessa aproveitar o momento (claro que não estou a falar de um episódio sexual...), e falar sobre o que nos apetece, sem qualquer tipo de amarras... 

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, outubro 17, 2017

Morre-se um Pouco Todos os Dias...

Vamos morrendo um pouco todos os dias, mas há dias em que "morremos" vários anos seguidos...

Foi mais ou menos isto que a mulher de mais de setenta anos disse, quando à hora das telenovelas começou a chover, e todos voltámos a sorrir na esplanada coberta...

Ninguém lhe respondeu. Fingimos todos estar mais interessados na chuva que estava a lavar as ruas e a disfarçar o nosso sentimento de culpa, por não conseguirmos fazer nada, para alterar o rumo de um país que gosta de aproximações ao abismo.

Mas a mulher precisava de desabafar. E continuou a falar, a dizer o que quase todos sentíamos: «Agora não foram só duas ou três terras queimadas, foi o país quase todo. Todos conhecemos uma aldeia ou uma vila que ficou destruída, ou alguém que tem um familiar ou amigo que perdeu tudo...» 

E continuou, agora mais enraivecida: «E nenhum destes bandidos que governa se vai embora.» Nós continuámos a fingir-nos entretidos com os fios de água que caíam e já formavam poças.

A mulher que falava por nós todos ainda foi capaz de dizer: «Só espero que não desate a chover sem parar. Só faltava virem as cheias a seguir...»

(Fotografia de Rui Oliveira - N.Magazine)

segunda-feira, outubro 16, 2017

Mais um Dia para (não) Esquecer...

Embora o dia tenha estado cinzento, a temperatura não desceu, nem a chuva apareceu...

A tragédia de ontem continuou pela noite e pelo dia fora...

O número de mortos também foi aumentando e tudo indica que ultrapassará as quatro dezenas, assim como o número de incêndios que deverá ter batido todos os recordes...

Embora sejam  poucos os concelhos sem fogos, a norte do Tejo, há uma zona que me é mais especial que as outras, refiro-me ao Pinhal de Leiria, o tal que a história nos diz que foi plantado por El Rei Dom Dinis (uma Mata Nacional que ficou por limpar durante todo o Verão...), que ocupava quilómetros e quilómetros da costa, nos concelhos da Marinha Grande e de Leiria.

Era um lugar extremamente agradável de férias, que permitia conjugar o campo e a praia. Era o sítio ideal para a habitual pausa de mar, em que se aproveitava para almoçar e para fazer a sesta...

Espero que os políticos não continuem a encolher os ombros e a culpar o tempo e os privados. 

(Fotografia de Luís Lobo  - retirada do blogue da Graça)

Um Domingo para Esquecer (ou para Lembrar...)

Dizem que a partir de hoje as temperaturas vão baixar, de uma forma significativa. Espero que sim.

Ontem assistimos à pior despedida possível deste "Verão", que conseguiu chegar até meio de Outubro, com o domingo a ser classificado como o pior dia do ano em matéria de incêndios.

Já todos descobrimos que o tamanho do nosso país não é proporcional à maldade, à inveja e à estupidez dos imensos portugueses que se "maravilham" a pegar fogo ao país...

A minha filha, do alto da sua sapiência de 13 anos, perguntava-nos ontem, como era possível existirem num só dia mais de 440 fogos (que provocaram dez mortos e mais de três dezenas de feridos), num país tão pequeno como o nosso. Portugal devia estar todo a arder, concluiu ela.

Expliquei-lhe que muitas vezes existiam dois e três incêndios na mesma mata, que se iniciavam em lugares diferentes, provocados por bandidos, que adoravam tornar a vida dos bombeiros e das pessoas, ainda mais difícil e complicada...

Doa a quem doer, a partir de 2018, tem de haver uma solução para a nossa floresta, e também para esta gente difícil de classificar, que no mínimo são demasiados "pobres e tristes"...

(Fotografia de Arménio Belo - Lusa)

domingo, outubro 15, 2017

As "Verdades" da Justiça e do Jornalismo...


Normalmente não escrevo sobre os grandes casos de justiça, que desde o "Processo Casa Pia", têm alimentado tantos episódios, quase novelescos nos jornais, televisões, cafés, bancos de jardins e lares portugueses.

Faço isso porque quero acreditar que a verdadeira justiça funciona melhor sem  qualquer tipo de condicionamento.

Na maior parte destes processos, os grandes prejudicados somos todos nós. Pois acabamos por pagar a factura dos grandes "burlões e ladrões" que se têm conseguido infiltrar, com a maior desfaçatez, nos partidos de poder portugueses, para se apropriarem sobretudo de bens alheios. Mas o mais grave é que quase todos escapam à prisão. Normalmente a nossa justiça arranja um "bode expiatório" em cada caso e o assunto fica arrumado.

Mas o pior de tudo é a dúvida que permanece no cidadão comum: os condenados são mesmo culpados?, graças à batalha de "contra-informação" esgrimida pela defesa, acusação e jornalismo, alimentada quase por meias-mentiras e meias-verdades, convenientes, que só têm um objectivo: defender os interesses pessoais e financeiros da "clientela" (que pensa sempre ter dinheiro suficiente para comprar toda a gente...).

Querem exemplos?  Carlos Cruz e Isaltino Morais foram condenados e cumpriram as suas penas na prisão. Apesar de tudo o que aconteceu, eles, e alguns dos seus amigos mais próximos, continuam a clamar inocência...

(Fotografia de Rurik Dmitrienko)

sábado, outubro 14, 2017

«Eu leio livros dentro dos filmes»


Já percebi há algum tempo que alguns pessoas nunca irão sentir qualquer fascínio ou prazer pelos livros.

Com o avançar do tempo, os números da gente incapaz de ler um livro têm tendência a aumentar, porque a concentração, a sensação de que o tempo quase que pára... e até alguma "solitude", por opção própria, parecem caminhar para o fim da linha.

Foi por isso que não me espantei com a frase do rapaz que já não se lembrava da última vez que tinha lido um livro, embora fosse "uma grande figura" de uma instituição cultural. 

E até  foi capaz de me dizer a sorrir: «Eu leio livros dentro dos filmes.»

(Óleo de Karen Hollingsworth)

sexta-feira, outubro 13, 2017

Fátima, a Igreja e os Pastorinhos...


A única coisa que acredito que existe no Santuário de Fátima é um grande "campo magnético", alimentado por toda a energia positiva que é  transmitida pelos crentes.

É por isso que não vou falar do  mar de contradições em que a Igreja tem "navegado" nos últimos 85 anos, quase sempre em proveito próprio, graças ao famoso enlace de Cardeal Cerejeira e Salazar, que tão jeito deu ao Estado Novo e à Igreja Católica (e que nos tentou  amansar durante pelo menos 48 anos)...

Falo sim dos dois irmãos, Jacinta e Francisco, que morreram cedo demais, e que continuo a acreditar que foram instrumentalizados pela prima Lúcia, nas vidências, que alguns anos mais tarde, já "irmã" (foi a vez dela se deixar instrumentalizar...), inventou os patéticos "segredos de Fátima", que são um péssimo "cartão de visita" para o "milagre" que hoje  passou a ser centenário...

(Fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, outubro 12, 2017

Tão Diferentes e tão Iguais...


A complexidade feminina não é muito diferente da complexidade masculina.

A mulher de cabelos brancos, sabia que o seu género não era muito de gostar de gente boa, dava quase sempre preferência a quem fosse capaz de quase lhe "fritar" o sangue.

Foi buscar um exemplo dos piores, a fadista que morava no antigo palacete dos Mantas, que já não ia para nova e continuava a coleccionar "filhos da puta", homens capazes de viverem à sua custa e como "prova de amor", ainda a tratavam mal e andavam com outras.

Mas também os homens não podiam nem queriam ter muita rédea solta, pois eram capazes de ir até ao fim do mundo, atrás de uma das chamadas "mulheres fatais"... 

Parece que ninguém gosta de gente boa, homens e mulheres preferem sempre um bom desafio, alguém que lhes dê luta e que não lhe faça a vida parecer um "mar chão"...

(Fotografia de Édouard Boubat)

quarta-feira, outubro 11, 2017

Esmolas e Desconfianças...

Nós somos bons em ditados, quase todos entram bem nas nossas vidas e na sociedade em que vivemos, mesmo que sejam quase milenares.

Um amigo das escritas, quase com estrela de famoso, queixou-se na nossa mesa, que agora que desistira de ir às salas de teatro, é que se fartava de receber convites na caixa do correio do prédio e na do computador.

Acabamos todos a sorrir, porque tanto eu como a Rita ou o Jorge, não sabíamos o que era isso. E acabámos por ir mais longe, dando porrada na pouca lógica deste mundo...

Todos sabíamos que os convites de tudo e mais alguma coisa, eram oferecidos a quem ganhava dinheiro suficiente para ir todas as semanas à ópera, ao teatro ou ao cinema. A Rita acrescentou que a maior parte destas pessoas nem sequer apareciam, por isso é que havia sempre mais convites que lugares, daí que fosse normal pedir-se a confirmação da presença.

E depois fomos até à rua dos "pobretanas", mais ou menos onde morávamos, com a diferença de uma esquina. Onde quando se recebe um convite, se fica a desconfiar, porque ninguém dá nada a ninguém sem querer nada em troca... 

Sei que é uma forma de pensar egoísta, mas o mundo está assim, só se "dança" quando se sabe que a "esmola é certa"...

(Fotografia de Janine Niépce)

terça-feira, outubro 10, 2017

«E as conversas das mulheres? Eram iguais às cantigas do Quim Barreiros, mas em pior. Muito me ri.»

Não sei se é verdade, mas parece-me que as raparigas falam muito mais que os rapazes.

Claro que a minha "estatística" é falível, resume-se ao facto de passar todos os dias em frente a uma escola secundária e alguns passeios a caminho da minha casa serem aproveitado como recreio e espaços de evasão (e para fumar umas "brocas"...). Pode ser um problema de ouvidos, mas quase que só ouço vozes femininas a falar, para aqui e para ali.

Mesmo quando ouço um "foda-se" ou um "caralho" é quase sempre dito por uma miúda, que finjo ser parecido com um "bom dia" ou "boa tarde". 

Foi ainda neste registo, que acabei a escutar uma moçoila, divertida, a contar as suas aventuras da apanha da fruta no Oeste, na paragem do metro.

Quase que também me ria, quando ela se saiu com esta: «E as conversas das mulheres? Eram iguais às cantigas do Quim Barreiros, mas em pior. Muito me ri.»

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, outubro 09, 2017

É Sempre Melhor Gostar (com e sem espelhos)...

No meio da conversa com um amigo, acabou por surgir uma terceira pessoa, que foi pintada da pior maneira, ao ponto de eu não a reconhecer. Tinha a certeza que não era aquela pessoa que eu conhecia.

Foi por isso que fiquei de fora do "coro maldito", que se poderia formar por ali. Sem querer acabei por provocar algum constrangimento, e até incómodo. Ele mudou de conversa, mas não foi capaz de voltar a ter um registo alegre e agradável.

Quando voltava para casa fiquei a pensar que é sempre melhor gostarmos dos outros, porque sempre que os recordamos é pela positiva, nunca há qualquer travo amargo que se intrometa nas conversas que temos. Mas ninguém é perfeito.

Mais uma vez percebi que os outros são sempre o nosso melhor espelho...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, outubro 08, 2017

(Ainda) Todo este "Teatro" Imposto pela Vida...


A vida está cada vez mais teatral. Cada vez somos mais personagens e menos aquele sujeito, que reconhecemos de longe a longe, quando nos pedem o Cartão de Cidadão e fazem algumas perguntas de cariz mais pessoal.

Talvez seja por isso que quase todos correm na direcção da fama (cada vez mais cedo), da televisão ou até dos computadores, onde se pode ser importante e ter muitos seguidores, com a aposta nas redes sociais.

Trabalhos passageiros (e até precários...) fazem com que possamos ser muito mais pessoas ao longo da vida, tornando a vida menos monótona, mas também muito mais stressante e desequilibrada.

Não se tem "tempo" para coisas tão básicas (pelo menos até meados do século passado), como pensar em casar e ter filhos. 

Muita gente crítica a juventude, por não ter objectivos. Então, e todo este "teatro" imposto pela vida?

Como é que se pode querer que toda esta gente a quem roubaram o futuro, pense no futuro?

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, outubro 06, 2017

Os Teatros da Vida...


Ontem ao ler uma reportagem sobre o circo (com mais de vinte anos...), apeteceu-me escrever uma peça de teatro. 

Claro que teria de ser sobre os palhaços, os antigos, a histórica dupla do palhaço rico e do palhaço pobre, que quase já não fazem ninguém sorrir... E não é apenas por usarem piadas gastas pelo tempo.

O objectivo é conseguir que a personagem principal se debata com os vários problemas da profissão. Embora um deles seja o espaço cada vez mais reduzido para a vida de saltimbanco, o maior de todos é ele ter a percepção de que o que se chama humor inteligente, não tem qualquer futuro no circo, porque as poucas pessoas que se sentam nas cadeiras e nos bancos, não estão ali para se rirem meia-hora depois das piadas...

(Óleo de Kim Leutwyler)

quinta-feira, outubro 05, 2017

Festejar 169 Anos Todos os Dias...

Hoje é um dia especial, e não apenas por a República ser muito mais bonita que a Monarquia, também foi pensada para ser mais justa e igualitária...

Felizmente a realização da Sessão Solene da Incrível Almadense coincide muitas vezes com o 5 de Outubro, festejando-se a Democracia e o Associativismo, duplamente, em Almada, uma Terra profundamente republicana.

Foi o que aconteceu hoje à tarde, com o Salão de Festas a receber a visita das forças vivas da Cidade, que ofereceram discursos mais sentidos e também com mais história que o costume, não estivessem eles na " Colectividade-Mãe" do Associativismo Almadense, que está a festejar o seu 169.º aniversário durante todo o mês de Outubro. 

Joaquim Judas e António Matos, presidente  e vereador da Cultura do Município de Almada (cessantes) falaram com grande lucidez, evocando a história da Incrível que se confunde com a história de Almada, sem fugir aos tempos que se avizinham (e sem qualquer ressentimento...). Não só transmitiram confiança à assistência incrível, como afirmaram que continuarão presentes no dia a dia de todos nós.

Estes dois nossos governantes sabem melhor que ninguém, que há um equilíbrio de forças em Almada (empate técnico, quatro vereadores do PS e quatro da CDU - além de dois do PSD e um do BE), pelo que faz todo o sentido colocar em funcionamento a tão célebre "geringonça", que tão bons resultados tem obtido no país.

Quem como eu, não gosta de "maiorias", sabe que, para bem de todos nós, o PS e a CDU têm mesmo de se entender. Há todo um capital de experiência (são 41 anos no poder...) que poderá ser útil aos socialistas, que de forma completamente inesperada, ficaram com os destinos de Almada nas mãos...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, outubro 04, 2017

Andar Dias e Dias a Fingir que Não se Passa Nada em Catalunha...


Só hoje é que ouvi a União Europeia falar da "batalha" pela independência da Catalunha.

Posso ter andado distraído, mas só hoje é que os vi disponibilizarem-se para mediarem o conflito, mas sempre de acordo com Madrid. Tudo isto depois de já se ter realizado o referendo local, muito pouco pacífico, com cargas policiais (dos polícias que vieram de fora...) sobre os habitantes de Barcelona, como todos vimos via televisão e internet...

Ainda não escrevi nada sobre a Catalunha, porque tenho dificuldade em tomar uma posição. Não sei até que ponto as reivindicações dos catalães são justas e fazem sentido. 

O que sei é que o chefe do Governo Espanhol está farto de dar "tiros nos pés", mas mesmo assim parece estar bem "agarrado" ao poder.

E no último domingo Rajoy deitou tudo a perder, ao lançar as polícias do governo central contra a população de Barcelona.

E também sei que esta Europa não presta. Mas já sei isso há muito tempo. Quando se tenta "vender" a questão da migração europeia à Turquia, está tudo dito...

(Óleo de Leon Kroll)

terça-feira, outubro 03, 2017

O Calor Perdeu a Graça...

Não gosto nada deste Outubro com temperaturas de mais de trinta graus. Já não me apetece andar de calções, muito menos ir dar um mergulho à praia.

E também olho com alguma apreensão para o que se está a passar com muitos dos nossos solos... estão a tornarem-se "pedra", com cada vez menor capacidade de absorção, e que podem tornar trágicas as primeira chuvas (mas espero que chova ainda em Outubro, mesmo sem ser agricultor...).

Este desabafo não tem nada que ver com o Sol (ele pode aparecer sempre, com temperaturas amenas, pouco acima dos vinte graus, ou até abaixo...). Aliás o Sol nunca foi inimigo da chuva, podem aparecer no mesmo dia e tudo...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, outubro 02, 2017

A Mudança Política (Inesperada) em Almada...

Sabia que um dia isto ia acontecer. Mas sempre pensei que fosse um processo gradual. Que a CDU começasse por perder a maioria, e depois então acontecesse a "revolução" eleitoral.

Sem analisar qualquer estudo, penso que a diminuição da abstenção foi a chave do sucesso socialista. Assim como a "onda positiva" que invadiu o país de Norte a Sul (nem os trágicos incêndios ou as armas desaparecidas "destruíram a onda"...).

Não acompanhei muito a campanha, encontrei-me ocasionalmente com Inês Medeiros e acabámos por falar sobre Almada e estas eleições. Fui de alguma forma "provocador", mas ela respondeu-me sempre de uma forma positiva... Claro que nunca pensei que a boa impressão que me deixou, fosse suficiente para se tornar presidente (rima... mas foi mentira).

Talvez os Almadenses tivessem saudades de ser governados por uma mulher.

Apesar de achar que Joaquim Judas foi um bom presidente e que tem excelentes qualidades humanas, não estou nada triste com esta mudança. Quarenta e um anos de poder da mesma força política é muito tempo. E quase sempre com maiorias, o que acaba por ter efeitos perversos, pois algumas pessoas tendem a esquecer o que é viver em democracia...

Espero que fiquemos todos a ganhar com a mudança. A cidade e os Almadenses. 

Nota: a crónica de ontem foi mesmo sobre o Benfica, embora o título possa ser colado à "posta" de hoje. Mas felizmente vivemos em democracia e não é preciso escrever nas "entrelinhas" - nem eu tenho essa capacidade. Não há qualquer dúvida é que existem mesmo coincidências tramadas...

(Fotografia de Luís Eme - este cartaz diz-nos uma coisa importante, Almada pode e deve viver mais perto do Rio Tejo)

domingo, outubro 01, 2017

Crónica de um Adeus Esperado (ou talvez não)...


Segundo a tradição - e também legislação - hoje não é dia para falar de partidos, eleições, governantes, etc. É por isso que vou escrever sobre algo de que gosto muito, mas que está povoado de zonas cinzentas, de gente que nunca gostou profundamente de desporto, particularmente de futebol. A única coisa que os motiva são as vitórias dos seus clubes, com a ajuda de árbitros, fiscais de linha ou juristas, demasiado coloridos.

Já disse várias vezes que gosto do Benfica. Penso que a única razão que encontro para "este gostar" é a "magia" da fotografia do José Águas, a sorrir, com a Taça dos Clubes Campeões Europeus, pendurada num quadro na sala da casa do vizinho de cima, no prédio onde vivi a minha meninice, no Bairro dos Arneiros, nas Caldas da Rainha. Até porque lá por casa era tudo "lagarto", a mãe, o pai e o mano.

Mas o que eu quero mesmo é falar de futebol, da actualidade, mas sem me afastar dos relvados. Falar apenas dos jogadores, dos treinadores e da bola. Neste caso particular, falar da "crise" do Benfica, do seu treinador e dos seus jogadores.

Como não tenho a memória curta, não esqueço que o Benfica que praticou melhor futebol nos últimos vinte anos, foi o de Jorge Jesus. Até ao momento Rui Vitória demonstrou ser um bom líder, sereno, competente, mas, talvez demasiado "frio" e "apagado". Pelo menos é essa a ideia que passa, para quem vê a sua equipa do Benfica a jogar, mais calculista que apaixonada por um futebol desgarrado e bonito.

Jorge Jesus só provou, que de facto é um grande treinador, na época seguinte a ter perdido "tudo" (podia ter sido Campeão Nacional, ganhar a Liga Europa e vencer a Taça de Portugal...). Conseguiu colocar os pés no chão e vencer os dois campeonatos seguintes, praticamente com os mesmos jogadores...

Rui Vitória para muitos tem hoje um "teste de fogo", na Madeira. Para mim, nem por isso. O seu verdadeiro teste é conseguir retirar da equipa "jogadores intocáveis", como é o caso de Luisão, que pode ser muito importante como líder no balneário, mas que já não tem capacidade física para ser titular de uma equipa com a grandeza do Benfica. E claro, conseguir que o "Benfica jogue à Benfica" (sempre a querer ganhar, em qualquer relvado...), o que ainda não aconteceu esta época.

Voltando ainda ao Luisão, muito mal vai o Benfica se não tem um jogador com qualidade suficiente para o substituir...

(Fotografia de autor desconhecido - mas eu gostava que fosse do grande Nuno Ferrari)