O pai de um amigo contou-nos uma história que lhe aconteceu na empresa onde trabalhou, que diz muito da pequenez das pessoas, capazes de cometer as maiores desonestidades por tão pouco. Ele até nos disse que é por isso que uma boa parte das pessoas nem se mostram muito escandalizadas com os "roubos" dos banqueiros. Alguns até têm o desplante de dizer que no lugar deles faziam o mesmo.
Mas vamos lá à história. Tudo começou quando lhe chamaram a atenção para as reclamações sobre a sessão de "perdidos e achados" da empresa de transportes onde trabalhava.
Numa primeira abordagem disseram-lhe que estava tudo normal, que os objectos de valor normalmente eram levantados pelos legítimos proprietários, pouco tempo depois de ali serem entregues. Isso fez com que não percebessem o porquê de tantas reclamações na sede da empresa. Acabaram por chamar alguns dos lesados, para se inteirarem da sua razão, ou não.
Depois fizeram uma visita ao local e estranharam que só lá se encontrassem objectos velhos e sem valor, que ninguém levantava, por razões óbvias. Consultaram os livros de entradas e saídas, atentos aos objectos "desaparecidos" dos reclamantes. Perceberam que as assinaturas de quem levantava os objectos não só eram falsas como demasiado parecidas.
Concluíram que a melhor maneira de chegar a algum lugar era "armadilhar" um objecto (um bom relógio de marca), que seria supostamente perdido, para depois lhe seguirem os passos...
Com a ajuda de um "infiltrado" souberam que relógio viajara até uma casa de penhores, logo na semana seguinte a ter sido dado como perdido.
A suposta pessoa que o perdera entretanto passou por lá e o funcionário começou por lhe disser que não tinha sido entregue nenhum relógio na secção. Mas ela insistiu e disse ao homem que conhecia o motorista do autocarro e que este lhe tinha garantido que encontrara o relógio e o entregara a quem de direito. O homem dos perdidos e achados ficou um pouco engasgado, mas limitou-se a abanar os ombros, a dizer que devia haver algum mal entendido, mantendo a versão anterior, que ali não tinha chegado nada.
Posteriormente visitaram o dono da loja de penhores, pediram para ver o relógio e ameaçaram-no, caso não colaborasse, com a ameaça do encerramento do estabelecimento com a respectiva participação às entidades competentes. Este acobardou-se e chegou-se ao "líder" de toda aquela negociata e desmontando a "golpada".
Os funcionários envolvidos no estratagema foram despedidos e o dono da casa de penhores devolveu os objectos que ainda estavam na loja, embora alegasse sempre que não fazia ideia que se tratava de coisas entregues na sessão de "perdidos e achados".
Quando o senhor disse que, embora aquele exemplo fosse uma insignificância podia ser transposto para quase todos os sectores da nossa sociedade, acrescentando um lugar comum, «as pessoas sem dignidade vendem-se por tostões.», nós não podíamos fazer outra coisa, que não fosse concordar...
(Óleo de Frank Fleuren)