sábado, novembro 30, 2024

A necessidade de antecipar o Natal...


Percebo que o comércio queira antecipar o Natal, que sejamos massacrados diariamente com as suas "black friday" (que podiam perder o "friday", embora também perdesse a graça...) e que nem mesmo assim se verifiquem as enchentes tão desejadas, no chamado comércio tradicional (fora dos centros comerciais)...

Talvez seja esse mesmo comércio que faça pressão junto das Autarquias, para que se comecem a iluminar as ruas cada vez mais cedo e a instalar as árvores de Natal, quase gigantes, nos seus lugares mais centrais.

Talvez sejam essas árvores gigantes que fazem com que muitas casas já tenham as árvores de Natal montadas e se preparem as iluminações particulares neste último dia de Novembro, mesmo que não se faça qualquer "black friday" no preço da eletricidade...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sexta-feira, novembro 29, 2024

«Deixamos de ser umas coisas e passamos a ser outras, quase sempre piores. É isto, a velhice.»


Eu sabia que esta coisa de irmos para velhos, não se resumia a uma frase, tal como aquele homem, que apenas conhecia de vista, queria dar a entender.

Mas, talvez até fosse um bom resumo. Sim, «deixamos de ser umas coisas e passamos a ser outras quase sempre piores. É isso, a velhice.»

Não é preciso chegarmos aos oitenta anos, para sabermos que se perde mais do que se ganha, pelo menos em termos físicos. Mas nem tudo é mau. 

Talvez o que seja mau, seja o facto da sociedade ocidental não achar grande piada, não ter a capacidade de aproveitar as coisas boas de quem viveu mais tempo. O olhar mais vivido e tranquilo, o ser capaz de se adiantar ao futuro próximo, são tudo coisas cada vez mais banalizadas, por quem está habituado a "comprar o novo e a deitar fora o velho"...

Não sou chinês nem indiano, mas uma boa parte da sua cultura social, baseia-se no conhecimento daqueles que já viveram mais tempo, já passaram por mais coisas. E, curiosamente, são as sociedades emergentes deste tempo, que parece não ter tempo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, novembro 28, 2024

Segurança & propaganda política


Não consigo perceber onde é que o primeiro-ministro, quis chegar, com as afirmações que fez sobre a segurança e sobre crimes no nosso país, durante a semana.

Além de revelar a sua já habitual "esperteza saloia" na interpretação de números, conseguiu ser infeliz (e até ofensivo), especialmente em relação aos crimes e às vítimas de violência doméstica, na sua primeira intervenção.

Em relação à sua segunda intervenção, sei que não se devem criar alarmismos, nem dar a importância, que o "canal do crime" português não tem, por mais audiências que sonhe ter. Mas também não se pode enfiar a "cabeça na areia" e fingir que está tudo bem (não está, os incidentes nos subúrbios de Lisboa, provam isso...).

Até porque Montenegro não é uma daquelas pessoas que falam muito bem de boca fechada (como é o caso da sua ministra da Administração Interna ou como foi o caso do ministro Cabrita no governo de António Costa...). Ele sabe muito bem o que diz e o que quer dizer.

Talvez ande mesmo em busca do eleitorado perdido para o Chega. Há uma grande probabilidade de o líder do PS estar certo.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 27, 2024

A importância do atendimento público...


Há uma tendência estúpida para olhar para os locais de atendimento público, com alguma ligeireza, e até condescendência, principalmente os ligados ao Estado.

É a explicação que encontro para a colocação nestes lugares de pessoas com algum tipo de deficiência, física ou mental. Quando os problemas são motores, não existe qualquer problema, agora quando as pessoas têm dificuldade em expressar-se ou em responder com ligeireza e acerto, às perguntas que lhes são feitas, é um erro.

Sei que toda a gente tem direito ao trabalho, mas também sei que devem ser protegidas, em relação aos problemas que têm, sejam eles de dificuldade de expressão, de raciocínio ou até de sociabilidade.

O caso real com que me debati, passou-se numa autarquia. A pessoa em causa, foi incapaz de me responder ao que pretendia. Enrolava a conversa e não conseguiu responder com objectividade a nenhuma das questões que lhe coloquei. E quando acabei por lhe perguntar quem é que me poderia ajudar, com aquele assunto, disse-me para enviar um e-mail para o presidente da Câmara. Ainda lhe disse que o presidente devia ter coisas mais importantes para fazer, que receber e responder aos meus e-mails (o que estava em causa era apenas uma actividade cultural...).

E depois agradeci a atenção e virei costas. 

Claro que fiquei a pensar no assunto...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, novembro 26, 2024

Continuar o vinte cinco no dia vinte seis...


Por tudo o que tenho lido e ouvido (as conferências a que assisti na sede da Associação 25 de Abril, com alguns dos protagonistas, convidado pelo meu saudoso amigo, Carlos Guilherme, foram muito importantes...), existiu mesmo a possibilidade de se desencadear uma "guerra civil", no dia 25 de Novembro de 1975, de consequências imprevisíveis, até porque existiam demasiadas armas na posse de civis (distribuídas pelo exército)...

Há três factores, decisivos, para que só existissem três mortes, e de militares, nesta operação.

Aquilo que nos nossos dias, ainda pode ser entendido como um "acto de cobardia", também pode, e deve, ser olhado numa outra perspectiva, completamente oposta. 

Foi preciso ter muita coragem, para colocar os interesses do país acima de todos os outros (militares, partidários e pessoais). Refiro-me às "ausências" responsáveis de Otelo Saraiva de Carvalho, de Álvaro Cunhal e dos Fuzileiros (que não saíram da sua unidade, para "desempatar" a batalha entre Comandos e Paraquedistas...), decisivas que que este golpe militar fosse controlado por todos aqueles que defendiam a democracia.

Isto só foi possível, porque o Presidente da República era o general Costa Gomes, uma das pessoas mais ponderadas e inteligentes, do "Verão Quente". Foi ele que conseguiu que o Otelo, o Cunhal e os Fuzileiros, ficassem em casa...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, novembro 25, 2024

O 25 de Novembro foi apenas um Golpe Militar Democrático, e não uma Revolução!


É preciso recordar que esta direita e extrema-direita, que nunca gostou de Abril (pudera, uma boa parte deles perderam uma série de regalias, perceberam que afinal eram pessoas como as outras, apesar dos privilégios que os rodeavam...), não esteve directamente ligada ao golpe militar, de 25 de Novembro de 1975.

Nesses tempos conturbados os fascistas - disfarçados de democratas conservadores -, andavam mais entretidos a incendiar sedes do PCP  e a serem protagonistas de ataques bombistas, em toda a região Norte (alguns dos quais mortais), que em preparar golpes militares democráticos.

Claro que, dia após dia, iam sonhando com a possibilidade de voltar ao poder, apostando em dividir o território português ao meio, ficando com todo o Norte do Tejo (como se a democracia não tivesse atravessado o rio...), porque o presente fazia-lhes doer. Gostavam era do país dos pobrezinhos e coitadinhos, a quem davam esmolas, para onde caminhamos, há mais de uma década...

Voltando ao 25 de Novembro, foi um golpe militar democrático, protagonizado pelo "Grupo dos Nove" (liderado por Vasco Lourenço e Melo Antunes) e pelo Presidente da República, Costa Gomes, com o apoio efectivo do PS, por intermédio de Mário Soares, que esteve sempre na primeira linha deste combate pela democracia (ao contrário dos representantes do PSD e do CDS, que hoje querem ser protagonistas...). Este golpe pretendia acabar com os excessos esquerdistas, que estavam a tornar o país ingovernável e a dividir cada vez mais os militares. 

Felizmente foi uma acção militar bem sucedida, quase sem sangue derramado, que teve Ramalho Eanes como o seu comandante operacional.

É preciso dizer que, esta comemoração, não passa de mais uma farsa, de uma direita que tenta alterar a história, como se isso fosse possível. 

E claro, também quer voltar ao "passado". Mas isso depende de todos nós e não apenas deles...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 24, 2024

Está tudo nos livros...


Poderia começar pelo "Ensaio sobre a Cegueira", de Saramago, para explicar o que parece não ter grande explicação, por caminhar a passos largos para o absurdo...

Mas o poeta e jornalista, Eduardo Guerra Carneiro, ao escolher a verdade "lapaliciana", de que "Isto Anda Tudo Ligado", diz quase tudo.

Sim, a manifestação provocatória da extrema-direita de hoje, no Porto, só pretendeu antecipar mais uma mentira das suas. Não o 24 de Novembro de 1975, não foi nada disso (fica para a amanhã a lição de história), muito menos o 25...

Felizmente Ricardo Araújo Pereira continua a ter o seu espaço televisivo e a apresentar-nos pessoas, que existem mesmo. Alguns até são deputados, como o senhor com cara de "et", que representa o PSD e atropelou uma criança em Viseu, quando esta atravessava a passadeira. Mas como todos nós sabemos, o ridículo não tem limites. É a única explicação para esse senhor ter a lata de divulgar um comunicado, surreal, em que quase culpa a criança de se ter atirado para cima do carro... E em vez de se "enfiar num buraco", ainda diz que estava completamente consciente, com os seus um vírgula tal se álcool no sangue... Provavelmente tem razão. O seu problema não deve ser a bebida, mas todos sabemos que este é o tempo do "Elogio da Loucura", escrito a mais de quinhentos anos por Erasmo de Roterdão...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 23, 2024

«Queremos ser animais e não seres humanos»


«Queremos ser animais e não seres humanos.»

Esta foi a frase que retive de uma jovem de 22 anos, como reacção ao nosso comportamento perante as guerras, mas também à forma como nos relacionamos com os outros, especialmente os que são diferentes de nós.

Era suposto falar-se de teatro. Mas o teatro é a nossa vida, pelo que fez todo o sentido soltar aquela frase no meio de nós.

Como de costume, a resposta que foi dada à miúda atrevida, cheia de ideias próprias e certezas, foi de que não podia generalizar as coisas de uma forma tão simplista.

E eu ali a pensar, "claro que pode, e que ainda bem que ela é assim". 

Sei que é a indiferença que nos vai destruindo como pessoas. 

Não há ditador que não adore a frase de que "quem cala consente". Não há um ditador que não cresça, perante a indiferença das maiorias...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 22, 2024

As imagens são muito diferentes das vozes...


Sei que parece mais uma "palissada", mas as imagens são mesmo diferentes das vozes, pelo menos quando se compara a televisão com a rádio, mesmo que pareçam incomparáveis.

Reparo também que são mais as vezes que estou de acordo, que em desacordo, com a meia-dúzia de amigos, cuja amizade dura há bem mais de duas décadas. Talvez seja também por isso que continuamos amigos...

Não, não é por isso. Normalmente quando estamos em desacordo, não nos chateamos uns com os outros (claro que existe uma excepção, mas serve apenas para confirmar a regra...).

Mas vamos lá às tais "diferenças", que os donos dos canais de notícias fingem não perceber. A rádio, por emitir 24 horas por dia, sempre teve necessidade de repetir e actualizar as notícias, hora a hora. Como as vozes não trazem imagens coladas, não têm o mesmo efeito dentro de nós que o "pequeno ecrã". O serviços noticiosos televisivos vão muito mais longe (e cada vez mais longe...), estão horas e dias seguidos a transmitir a mesma notícia, a mostrar as mesmas imagens, a repetir os mesmos comentários, ditos por uma lista cada vez mais comprida de "tudólogos". 

A coisa torna-se tão doentia, que só se podem fazer três coisas: mudar de canal, desligar a televisão, ou então, ficar preso aos dramas do mundo, como se estes não passassem de "telenovelas"...

Estivemos todos de acordo - sem excepções para confirmarem regras -, que é esta aposta na transmissão de notícias com o "guião" telenovelesco, que está a banalizar todos estes acontecimentos gravíssimos, que acontecem diariamente, especialmente os mortais na Palestina, no Líbano e na Ucrânia.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, novembro 21, 2024

Quando a esperteza (pouco saloia) consegue virar a justiça de pernas para o ar


Hoje foi dia de "São Sócrates", por passarem dez anos da prisão do antigo primeiro-ministro, transmitida em directo do aeroporto de Lisboa, pela televisão, alíás, pelo canal, que com o tempo se tornaria quase um órgão "oficial", do ministério público.

Hoje também foi dia dos juízes culparem a "defesa" de José Sócrates, por esta utilizar todos os expedientes, para atrasar, descredibilizar e "virar de pernas para o ar", a "Operação Marquês".

Mesmo quem acha que ele cometeu vários crimes durante a sua função governativa (é o meu caso...), sabe que tudo isto nasceu torto, alimentando a hipótese de dificilmente se endireitar, com o avançar do tempo... 

Pensamos que a prisão em directo foi o "primeiro tiro no pé" do ministério público, muito graças à acção de um "juiz justiceiro" (Carlos Alexandre, que ainda devia ter sonhos de ser um "super-herói", ao jeito da Marvel...), que apesar de fingir que se escondia das câmaras de televisão, sempre gostou de ser notícia.

Qualquer pessoa sabe que o "segredo" continua a ser a alma de qualquer negócio. E isso ainda se revela mais importante quando se trata de assuntos ligados ao crime e à justiça. E a grande probabilidade de todo aquele espalhafato, feito em redor da "primeira vez que se prendeu um primeiro-ministro",  com o tempo de revelar pernicioso para a própria justiça, tornou-se mesmo realidade.

E hoje assistimos à publicação de um artigo de jornal (no "Diário de Notícias"), escrito pelo próprio José Sócrates, em que este aproveita todos os deslizes do Ministério Público, para se declarar, mais uma vez, inocente e vítima da justiça.

Em relação ao "apontar do dedo" que a justiça faz à defesa de Sócrates, esta só fez o que lhe deixaram fazer (com  a tal esperteza, pouco saloia)...

Quem falou com sabedoria, foi a Ministra da Justiça. Era bom que todos os agentes da nossa justiça a ouvissem, e percebessem, de uma vez por todas, que são eles os principais responsáveis pelos atrasos nos processos e pela morosidade dos julgamentos.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 20, 2024

«Sabes? Foi a primeira vez que me senti importante na vida...»


Voltava para casa e pensava na quantidade de pessoas que conhecemos de vista mas que nunca iremos conhecer de verdade, nunca trocaremos mais que um bom dia ou boa tarde...

Tudo por ter o prazer de conversar e conhecer o António, um jovem que daqui a poucos meses será nonagenário, e que tinha tantas histórias para contar. Foi por isso que aos cinco minutos previstos, tiveram de ser somados muitos mais, ultrapassando a hora e obrigando à alteração da agenda. E ainda bem que isso aconteceu, porque foi um tempo ganho (para os dois)...

Vou escrever apenas sobre duas frases das muitas que ele me disse. Embora fosse um "lordesinho", por saber escrever e ler, bem (e como gostava de ler...), aos doze anos foi trabalhar para uma das fábricas de transformação da cortiça do Caramujo, e já era a sua segunda profissão, antes, com apenas dez anos, fora aprendiz de marçano na loja do André, que tinha mais de explorador que de mestre.

Estávamos na segunda metade dos anos 40 do século passado, a Guerra tinha acabado na Europa e no Mundo, mas a pobreza continuava bem presente na vida da maior parte das pessoas, que recebiam ordenados de miséria. Pobreza bem visível nas casas onde se vivia, na alimentação e até na forma de vestir e calçar... (Lá estou eu a "fugir" ao assunto)

O António era um miúdo vivaço e imaginativo, e depressa descobriram o seu gosto pelos livros (havia uma estante improvisada num dos cantos da fábrica, com meia-dúzia de livros, usados nas leituras, alguns deles lidos várias vezes, tal era o interesse que despertavam junto dos operários de ambos os sexos...).

E foi assim, que vez de escolher rolhas ou andar nas limpezas ou a recolher o desperdício, passou a ser o "leitor" de serviço. E lá vem a frase que ele me contou: «Sabes? Foi a primeira vez que me senti importante na vida...»

Entre as muitas coisas que me contou, houve outra que ficou: «Éramos obrigados a ser adultos à força. Vivemos tantas coisas nos tempos errados. Por gostar de saber coisas novas, sonhei muito tempo com a escola de Lisboa, mas foi apenas um sonho...»

Era esta a triste sina de uma boa parte das crianças da sua geração, que tinham de trabalhar, mal acabavam a instrução primária, para ajudar a equilibrar os orçamentos baixos das famílias (muito maiores que as dos nossos dias, em que ter meia-dúzia de filhos era a coisa mais normal do mundo) e não iam para a escola, muito menos passavam o tempo a brincar com os amigos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, novembro 19, 2024

Conseguir resistir ao fascínio da televisão...


Conheci duas ou três pessoas que nunca tiveram televisão em casa. E estavam longe de ser aparentados com "marcianos". Era apenas uma questão de opções, de escolhas. Preferiam conversar uns com os outros, ler, ouvir música ou dar uma volta ao quarteirão, que  ficarem presos às notícias ou à telenovela da noite. E também tinham uma apetência especial por ver teatro e cinema.

O curioso era os filhos crescerem (falei com alguns...), sem sentir a falta do "pequeno ecrã", que nos influencia, muito mais do que pensamos.

Mas por alguma razão elas eram tão poucas...

É muito difícil resistir ao fascínio da "caixa mágica". E quem vive sozinho ainda terá mais dificuldade em deixar de fazer esse gesto simples, de carregar no botão e ficar com o "mundo em casa"... 

A não ser que não goste de companhia, de "ouvir outras vozes" à sua volta.

(E mais uma vez, não era bem sobre isto que queria escrever, mas agora já está...)

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, novembro 18, 2024

«O que é hoje a Arte? O que é hoje um artista plástico?»


Cada vez gosto menos de ser demasiado afirmativo (a idade oferece-nos a dúvida e a incerteza, que nos tornam mais humanos...).

Tantas vezes que me limito a sorrir, por não saber que palavras usar, para responder a isto e aquilo.

Dois amigos tinham visitado uma exposição estranhíssima e tinham muitas dúvidas  de que aquilo fosse arte. Não "embarcavam" nas novas formas de expressão artística, que pelo simples facto de nos surpreenderem, mesmo que fosse pela negativa, já transportavam arte dentro de si...

Quando o Rui nos questionou: «O que é hoje a Arte? O que é hoje um artista plástico?»

Ninguém respondeu. Aliás, houve alguém que soltou uma palavra, mas mais a gozar com tudo aquilo que de que falávamos, que a explicar o que quer que fosse. E sim, ele estava certo muitos artistas são isso mesmo, uns "pantomineiros".

Eu viajei no tempo, fui até às "instalações artísticas" e às pinturas dos portões do nosso casal, criadas pelo meu pai, que mesmo sem ter qualquer formação, tinha dentro de si a alma de artista. Talvez todas aquelas coisas estranhas, que ele montava com o que já não prestava, hoje fossem Arte...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 17, 2024

"Vinde a mim, pobrezinhos do mundo..."


Os dias disto e daquilo, sobrepõem-se cada vez mais. Hoje era  dia mundial de pelo menos três coisas diferentes. Apenas vou falar de uma delas, por esta continuar a ser um dos nossos maiores flagelos sociais: a pobreza.

Depois dos tristes anos da "troika" (com o nosso Governo a ir ainda mais longe que essa gente...), o fosso entre ricos e pobres, em vez de diminuir, foi aumentando. Haverá várias explicações para isso acontecer, mas hoje nem me quero focar muito no "capitalismo selvagem" ou nas "más políticas sociais" de um partido, que de socialista só tem o nome, muito menos do seu sucedâneo, que nunca escondeu ao que vem.

Quero falar sim de toda uma indústria que tem florescido em volta dos "pobrezinhos" (sem meter no mesmo saco as associações de voluntários que tentam mesmo ajudar as pessoas...), que gosta de "coitadinhos" e se esforça para roubar a dignidade ao ser humano. 

Indústria que tem a seu lado uma igreja quase moribunda, que também sempre fez a sua "luta" em redor dos "pobrezinhos", e claro, as grandes famílias do poder, que sempre gostaram de distribuir esmolas. Com algumas "esposas do regime" a voltarem a ter a sua "corte de pobrezinhos" a quem dão "pão e agasalhos", e claro, a fazerem o respectivo sorteio, para terem um "pobrezinho" na mesa de Natal...

É por estas pequenas grandes coisas, que se percebe que crescemos muito pouco, como seres humanos. Tenho cada vez mais vergonha de viver numa sociedade que se alimenta e alimenta este "mundo dos coitadinhos", que prefere dar esmolas em vez do pagamento justo pelo trabalho.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 16, 2024

Fingimos que não, mas já anda por aí um mundo diferente...


Penso que é a primeira vez que escolho a resposta a um comentário, como título de um texto por aqui, no "Largo".

Isso aconteceu por estar a pensar em coisas próximas, que acabaram por me levar a comentar desta forma: «Fingimos que não, mas já anda por aí um mundo diferente...»

Muitas vezes, estamos tão próximos das transições, que passamos por elas sem olhar para elas, mesmo quando quase "nos tocam"...

Do que não tenho qualquer dúvida, é que, o que vem aí, em vez de nos facilitar a vida, só a irá complicar mais. E não estou apenas a falar da "inteligência artificial" (que será de grande utilidade para quem não gosta de pensar e criar, pela sua própria cabeça...). 

O que é mais incompreensível, para mim, é reparar que há demasiados países na europa a suspirarem por "salazares", "hitleres" e "stalines"...

Será que esta gente anda toda com medo da liberdade (dos outros, claro)? Ou será que estão cansados desta (falsa) democracia?

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 15, 2024

Conversas com memórias (das curiosas e boas)...


Por motivos profissionais, por vezes cruzamo-nos com figuras públicas, e por razões óbvias, tratamos-as como qualquer outra pessoa. Até somos capazes de fingir que não vemos telenovelas ou programas de "novidades artísticas", apenas porque sim...

Conversámos sobre isso ao jantar, porque a minha filha, que dá os primeiros passos na sua vida profissional, confrontou-se com uma situação destas e disse-nos que se sentiu confortável, por ser capaz de tratar a "vedeta" como qualquer outro paciente.

Acabei por viajar no tempo e ver alguns "filmes" a passarem por mim. 

Primeiro passaram estes artistas da televisão. Nunca esqueci a cena patética de um actor que passou por mim, três ou quatro vezes no corredor de um supermercado, e em vez de ser eu a olhar para ele, era ele que não parava de olhar para mim. Não se tratou de uma cena de "assédio sexual" (duas palavras que andam na moda...), mas sim de busca de reconhecimento. Não só fingi que não o conhecia, como deixei o meu olhar ficar preso nas prateleiras deste espaço comercial.

E depois apareceu-me um outro "filme" e passaram por mim as pessoas que só são conhecidas por uma minoria, os leitores. Claro que falo de escritores. Normalmente preferem observar em vez de ser observados, pelo que têm uma postura antagónica em relação à gente da televisão, que já sai de casa com a preocupação de ser vista. 

Penso que a primeira pessoa do "mundo dos livros" que cruzou o seu olhar comigo, foi o grande José Gomes Ferreira, no Chiado, no começo da década de 80 (tinha acabado de chegar à "cidade grande"...). A sua farta cabeleira branca que o vento levantava, não enganava. Durante uns segundos olhámos um para um outro com espanto e também com vontade sorrir, como se fossemos apanhados em qualquer situação imprevista. Depois perdemo-nos na multidão, sem sequer trocarmos um bom dia ou boa tarde. Fiquei sempre com pena de não lhe dizer: "Olá "Poeta Gigante".

Acabei por recordar outros encontros. O mais curioso aconteceu com a Maria Gabriela Llansol, que estava à porta de uma livraria (também no Chiado...) e me ofereceu um sorriso, daqueles bonitos, também sem palavras. Sem fugir da zona, na escadaria do metro, na estação Baixa-Chiado, cruzei-me, recentemente, com o Mário de Carvalho, ele descia e eu subia. Também ficámos uns segundos a olhar um para o outro, mais uma vez sem dizermos uma palavra, com a tal vontade de sorrir, fruto da cumplicidade que existe entre leitor e autor.

Também podia falar do encontro na Praça Gil Vicente com Luísa Costa Gomes, onde experimentámos o mesmo espanto. Mas tenho uma história ainda mais curiosa e diferente, de todas estas, que teve como protagonista a minha poeta preferida, a Sophia. Nos anos 90 cruzámo-nos na Graça (nessa altura não sabia que ela vivia por ali...), ela vinha com um saco de compras e falava sozinha. Por ter óculos escuros, só a reconheci depois de nos cruzarmos. Desta vez não houve troca de olhares. Ela estava tão entretida a "falar com os seus botões", dentro do seu mundo, que o resto devia ser apenas paisagem. Mas pela elegância e altivez, só podia ser ela, a minha Poeta...

Só por estas "viagens dentro da minha memória", valeu a pena a conversa durante o jantar...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, novembro 14, 2024

Quando se "mostra (quase) tudo", fica sempre pouca coisa para esconder...


Basta andar na rua, para ver que um dos usos do smartphone é o "auto-retrato", é normal vermos as miúdas passarem o tempo a olharem-se ao "espelho", através das câmaras deste pequeno rectângulo, que tem sido ainda mais revolucionário, que a televisão quando apareceu, no final dos anos cinquenta.

Provavelmente, depois, enviam os seus "retratos" por esse mundo fora...

Foi esta imagem que me fez pensar, neste tempo em que se "mostra tudo", mas que também dá espaço para todo o género de "ficções". Sim, oferece a possibilidade de se jogar vezes demais às escondidas, mentir (aliás fugir da realidade, talvez seja mais certo...), é mais normal que nos tempos da minha adolescência.

Claro que é um tempo de riscos, destapa-se de um lado e tapa-se de outro. Claro que ao "tapar", há sempre algo que fica à vista, que fica de fora...

São os riscos da exposição excessiva, algo que antes só acontecia com as figuras públicas quer gostavam de ser capa das revistas "cor de rosa". Agora está a banalizar-se. 

E tudo indica que todas estas "ficções" irão piorar, com as inúmeras possibilidades oferecidas pela "inteligência artificial"...

(Fotografia de Luís Eme - Alcochete)


quarta-feira, novembro 13, 2024

Mulheres bonitas muito distraídas...


Há uma coisa que sempre me fez alguma confusão, as pessoas bonitas (falo de mulheres, os jornalistas só fazem estas perguntas ao "mais belo animal do mundo"...) que dizem nunca terem dado conta do efeito que a sua beleza provocava nos outros (em nós, homens, claro)...

Ainda ontem li uma entrevista, com vinte e alguns anos, em que uma mulher elegante e bonita, de cabelo e olhos claros, disse isso. Nesse tempo ela "parava o trânsito"...

Talvez fosse uma rapariga loura muito distraída. Até porque nessa altura os piropos na rua (daqueles muito ordinários...) e os assobios, eram o "pão nosso de cada dia".

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, novembro 12, 2024

A quase lenta mudança de regime sente-se nas pequenas coisas (essenciais à vida)


Pensamos em muitas coisas, que esquecemos, porque a nossa cabecinha é demasiado pequena, para dar abrigo a tanta informação, significante e insignificante...

Pensei nisto, quando ouvi uma mulher com idade para ter netos já crescidotes, falar do aumento do custo de vida, dando um foco especial ao preço do pão, na mercearia do bairro.

Não disse nada mais fiquei com o "pão" na cabeça, ao qual somei o "leite".

Vinha a andar para casa e continuei a pensar, neste tempo em que se pensa mais do que se fala. Sabia que era nas pequenas coisas, essenciais para a vida de todos nós, como são o pão e o leite, que se percebe e sente que esta gente que governa, além de ter perdido o bom senso, também perdeu o pudor. Sim, perdeu o pudor, bens essenciais como o pão e o leite estão no "mercado livre", podem ser aumentados semana sim, semana não como a gasolina ou o gasóleo. Acabou-se a sua "protecção", o tempo em que havia algum cuidado, para que pelo menos o pão e o leite, não faltassem aos pobrezinhos.

É através destas pequenas coisas, que percebemos que de uma forma lenta, vamos mudando de regime, abrindo portas aos gajos e gajas que aspiram a ser "donos disto tudo"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, novembro 11, 2024

Fartos (e cansados) de perceber a parte do "não há dinheiro"...


Já escrevi vários textos sobre a vida difícil de quem tenta ser artista a tempo inteiro, viver apenas da sua arte, sem ter uma outra primeira actividade que chama segunda...

Talvez a teimosia maior resida em quem faz teatro e raramente recebe convites para  qualquer papel, grande ou pequeno nas telenovelas. Alguns fingem que não suportam a televisão, cada vez mais estupidificante, e acrescentam que nunca aceitariam fazer parte do elenco telenovelesco.

Dizem isto, mas contam os tostões até ao fim do mês, para sobreviverem com a dignidade possível (para alguns isso só acontece porque almoçam e jantam vezes demais na casa dos pais...). Comecei a contá-los e já ultrapassam os dedos das minhas duas mãos...

Olhando para a nossa realidade, só dois ou três "consagrados" é que se podem dar ao luxo de não fazer telenovelas. Mas para contrabalançar este "luxo", fazem publicidade, que normalmente dá mais dinheiro e menos trabalho, que as fitas por episódios que ocupam diariamente os serões televisivos portugueses.

Lá estou eu a querer dizer uma coisa e acabar por escrever sobre outra...

Eu só queria dizer que não há um actor português, das pequenas e grandes companhias de teatro, que não esteja farto e cansado, do disco riscado, que lhes é oferecido, quase todos os dias, de que "não há dinheiro" (quase sempre pelas autarquias...), porque é preciso alimentar as criancinhas nas escolas, sim a fome existe, em quase todo o lado; porque têm de fazer obras para realojar as pessoas; porque é preciso tapar os buracos da estrada, etc.. Ou seja, a cultura não consegue sair do último lugar das prioridades deste país, "cada vez mais de brincar"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 10, 2024

Ainda as estranhezas (dos que lutam para não mudar)...


(não é a continuação de ontem, mas até podia ser, quase no sentido inverso)

Curiosamente, dois dos lugares mais avessos a mudanças (talvez por serem estranhos por natureza), são o futebol e a política.

Apesar das aparentes inovações e das palavras bonitas ditas pelos dirigentes da Liga e Federação, a "chico-espertice" continua a reinar em toda a linha no futebol (são muitos milhões a saltar de bolso em bolso, por cima e por baixo da mesa...), assim como a habitual má gestão (são muito mais os clubes "falidos" que os com as chamadas "boas contas"...).

É toda esta incompetência que faz com que a "corda" seja cortada sempre no mesmo lado: o canto dos treinadores, que se perderem duas vezes seguidas, são despedidos e obrigados a assumir todas as culpas, desde a falta de qualidade dos atletas contratados até ao dinheiro que não chega às contas dos profissionais no final do mês (nem o sindicato os vale). 

Na política, embora também continue a prevalecer a "chico-espertice", é um mundo mais "finório" (até porque nem nos tempos de "banca rota", o dinheiro falta...). Mesmo que existam mais "rabos de palha", há muito mais "arte" para os esconder.

Isso faz com que aconteça o inverso do futebol: só se demitem ministros e secretários de estado (por mais incompetentes que sejam ou por serem suspeitos de ter feito desaparecer a "caixa das esmolas" da paróquia onde eram autarcas...), se não existir outra alternativa qualquer, como eles saírem pelo próprio pé...

Pois é. Há coisas que passam o tempo a mudar... e outras que nunca mudam.

Vá-se lá perceber porquê...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, novembro 09, 2024

A "Fenomenologia do Entroncamento" nas Culturas


Se o mundo se tornou um lugar mais estranho, o normal é que aconteçam muitas mais coisas estranhas, que no tempo em que tudo parecia ligeiramente mais normal.

E isso acontece em todas as áreas da sociedade. A cultura, apesar de esquecida, vezes de mais, não escapa às estranhezas deste tempo...

Vou dar apenas dois exemplos, só deste nosso Portugal: editam-se muito mais livros que há dez anos, mesmo que os leitores sejam cada vez mais menos; fazem-se também mais filmes falados em português, mesmo que espectadores continuem a preferir a língua inglesa.

E é possível viver assim, muito tempo? às vezes sim. Depende dos expedientes usados para se tentar "sobreviver"...

Acontece que os custos de produção de ambas as áreas são cada vez mais reduzidos: as tiragens são cada vez mais curtas no mundo dos livros - há primeiras edições de apenas de 100 exemplares;  os filmes produzidos têm muito menos custos e são realizados quase de forma caseira.

E ainda bem que somos bons na "guerra da sobrevivência", é a explicação simplista para a existência de um número significativo de livros e filmes portugueses novos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 08, 2024

A única estatística que tenho é o meu olhar, mas...


Embora não tenha nenhum dado estatístico sobre qual é o animal doméstico mais popular na actualidade em Almada, noto um grande crescimento de cães. E isso acontece desde a pandemia.

Antes, o que se via mais em Almada, eram gatos. Muitos deles "vadios", mas como tinham sempre várias distribuidoras de comida e de água, pelas ruas da Cidade, sobreviviam sem grandes dificuldades.

Depois veio a pandemia e quase que se deu ouvidos à sabedoria popular (sempre ela...), e quem "tinha medo", acabou mesmo por comprar um cão, nem que fosse para ter uma desculpa para andar na rua, nesses tempos de quase reclusão...

Alguns deles devem-se ter afeiçoado aos animais, outros habituaram-se a estes passeios, como momentos de evasão familiar, outros mais estranhos, perceberam que os cães nunca refilam com os donos, nem quando levam um ou outro pontapé...

A única coisa de que tenho a certeza, é que nunca vi tanto cão a passear na cidade, atrelado a seres humanos...

Também sei que antes da pandemia, havia mais humanidade pelas ruas. Claro que se há alguém que não tem nenhuma culpa disso, são os cães e os gatos...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, novembro 07, 2024

Por causa de um sonho (quase lindo como o da canção)...


Por causa de um sonho (por acaso, quase lindo), lembrei-me que tenho de telefonar a uma pessoa especial, para que ela me faça uma visita guiada à última exposição em que esteve envolvida.

Gosto de todas as formas de ver exposições. Desde aquelas de apenas cinco minutos, em que passamos pelas coisas e fingimos não as ver, às outras, mais normais, sem tempo marcado, em que até nos podemos sentar (se existirem bancos, claro...) e ficar por ali, a descobrir pormenores e a associar a cor e os retratados a outras histórias. E até aquelas em que parecemos perdidos, andamos por aqui e por ali, a ver se percebemos "a coisa"...

Claro que as melhores são as visitas guiadas, feitas pelos autores das obras ou pelos responsáveis das exposições. Nem é tanto pela explicação de cada obra, que isso acontece, é mais pelas histórias que elas transportam. Sim, de onde vieram (algumas quase que chegam da lua...), juntamente com os acasos, as trocas e baldrocas (sim, às vezes troca-se a ordem às coisas, quase à última hora...), que só quem andou às voltas com cada peça, viveu...

Pois é, vou ter de telefonar...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, novembro 06, 2024

E esta? Afinal correu tudo bem...


Como devem calcular não estou a falar das eleições nos EUA (é um problema sobretudo dos norte-americanos, das maiorias - mulheres - e das minorias - latinos e pretos - que votaram no "homem cor de laranja". Além disso sei que ele não vai fazer todas aquelas coisas estúpidas que prometeu fazer na campanha...).

Estou a falar, sim, de Ruben Amorim, que já é o melhor treinador português da actualidade. E será, com toda a certeza, dentro de dois ou três anos, o nosso melhor de sempre.

Sei que só alguém muito, muito especial, serias capaz de dar a "volta por cima", perante um cenário desportivo, que tinha tudo para correr mal (ser "obrigado a ficar" e dirigir a equipa em três jogos, depois de assinar por outro clube...).

Mesmo não sendo "lagarto", estou grato a Ruben Amorim, por ser diferente, para melhor, da maior parte dos treinadores, e mesmo assim ganhar. 

Basta pensar que é o único treinador português do lote dos nossos cinco melhores, que nunca se desculpa ou fala de arbitragens, quando perde jogos, ao contrário de José Mourinho, Jorge Jesus, Abel Ferreira ou Sérgio Conceição.

Embora seja difícil, tenho a esperança de que um dia o Ruben volte ao Benfica...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, novembro 05, 2024

A globalidade e a "estranheza humana" (para não lhe chamar uma coisa pior)...


A história sempre nos disse que o "animal" mais estranho que vivia na Terra era o homem (e a mulher, claro). 

Isso acontece, porque, apesar de termos uma coisa que chamamos inteligência, que nos diferencia dos restantes animais, nem sempre a usamos da melhor maneira...

Nem vou falar das guerras - a coisa mais estúpida e animalesca que fazemos -, que nos coloca quase no fim da fila, em relação aos outros animais, que matam quase sempre apenas por uma questão de sobrevivência, e não por mera ambição pessoal ou conquista de poder.

Falo sim de toda a "globalidade" virtual conquistada, da forma como o mundo se aproximou, como os continentes mais afastados passaram a estar quase logo ali, depois da fronteira de Vale Formoso. 

Curiosamente, ou não, esta "globalidade", só é bem aceite, virtualmente. Todos aqueles que chegam de fora, de outros continentes (a excepção são os turistas, que são olhados não como pessoas, mas sim como "galinhas que cagam ouro"), não são bem aceites, são olhados de lado. E se tiverem a pele mais escura, ainda pior...

Ou seja, queremos o mundo já ali, depois da esquina, mas apenas dentro dos computadores e smartphones...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, novembro 04, 2024

Nem nas catástrofes se esquece (ou esconde) a "partidarite"...


E triste perceber que nem em situações de catástrofe, com as pessoas a precisarem de toda a ajuda possível, com o máximo de urgência, os partidos políticos conseguem esquecer as diferenças e os interesses políticos existentes no seu seio.

Acredito que em Portugal (mesmo com muito menos meios...), era impossível acontecer o que se passou em Espanha, por não existirem as "regiões" (tão desejadas por vários caciques locais...), nem as "autonomias", que têm coisas positivas, e muitas outras negativas, como todos ficámos a perceber. 

Talvez a pior de todas seja a facilidade com que crescem os pequenos poderes, aqui e ali, alimentando uma "corte" interesseira, e sempre atenta, em volta de pequenos ditadores, capazes de comprarem sapatos de salto alto, para não andarem sempre em bicos de pés...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, novembro 03, 2024

Quando não falamos, pensamos...


De vez enquanto olhava para ela, parecia satisfeita, apesar de perceber que não sentia muito confortável na cadeira. 

As dores de costas eram cada vez era maiores, a pior posição para estar era sentada. Deitada, a vida tornava-se menos dolorosa, mas mais lenta. De pé, e a andar, não era mau de todo. Sentia-se mais viva, mesmo que as pernas fraquejassem, pois cada vez queriam menos andar...

Não se metia nas conversas, como noutros tempos, limitava-se a escutar  e a olhar para os netos, tão crescidos, um deles já com a namorada ali presente. Todos eles andaram ao seu colo, todos eles foram apaparicados por ela, como devem ser pelas avós. 

E ali estava ela, a pensar. 

Sim, pensar. Pensar na vida, andar para trás e para a frente no tempo, trazer para o lado de cá aqueles que teimavam em ficar no lado de lá....

Quando não falamos, pensamos...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


sábado, novembro 02, 2024

Autoridade é tão diferente de autoritarismo...


Há gente que vive duas ou três vidas sem conseguir distinguir a autoridade de autoritarismo, normalmente por duas razões: preguiça ou interesse.

E nem estou a pensar naquele senhor com pele cor de laranja, que quer ser o "deus todo poderoso" das américas. Muito menos nas polícias. Estes são daqueles, que não têm grande interesse em fazer esta distinção, quanto mais confusão melhor...

Se nós em casa, e depois os professores na escola, fizessemos sentir a diferença prática que existe entre estas palavras, talvez todos gostássemos mais das democracias e menos nos autoritarismos...

De uma forma simplista, entendo a autoridade, como algo que é aceite e necessário, para que se possa viver com regras. Já o autoritarismo, olho para ele como algo que nos é imposto, e por isso mesmo "obrigatório" e muitas vezes também "injusto".

Mas nem precisamos de sair da família, onde se confunde e mistura, tanto estes dois termos, pais que querem ser os "melhores amigos dos filhos" e "polícias", quase em simultâneo. Claro que nunca dá bom resultado. Ser pai não é ser uma coisa nem outra...

Não é por acaso que se utiliza a autoridade moral e  ética, como exemplos da prática humana. Já em relação aos autoritarismos, eles o que querem menos saber, de morais ou éticas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 01, 2024

O Dia da Procissão de Cacilhas (sem procissão...)


Desci até Cacilhas com o objectivo de carregar o passe e acabei por me cruzar com os primeiros preparativos para a habitual procissão anual, que devia sair daí a minutos da Igreja da Localidade Ribeirinha.

A Fanfarra dos Bombeiros desfilava e animava a Rua Cândido dos Reis com a sua música. Já quase no seu final os vários vendedores de castanhas e de farturas, preparavam-se para satisfazer as gentes que daí a nada iriam encher a rua e o largo...

Foi quando caíram os primeiros pingos, sem que o Sol fugisse ou quisesse dar tréguas ao mau tempo. O costume era haver uma pausa do mau tempo, enquanto a procissão passava pelas ruas de Cacilhas.

Mas cada vez percebemos menos o tempo (a tragédia do Sul de Espanha, é um bom exemplo...). E, apesar de todos os preparativos, a procissão não saiu mesmo à rua... 

Até tivemos direito a uns trovões e tudo...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas - ainda com Sol...)