segunda-feira, dezembro 16, 2024

Egoísmos, oportunismos e fingimentos...


O maior problema dos políticos é a sua capacidade de "fingimento", de fazerem de conta que está tudo bem, ao mesmo tempo que vão passando ao lado dos problemas, sem se preocuparem com as "bolas de neve", que deixam crescer, aqui e ali.

É desta forma que coisas aparentemente simples, que poderiam ter respostas quase imediatas, se tornam com o tempo, autênticos flagelos sociais...

Quando olhamos e escutamos as notícias sobre a gente (quase sempre de pele mais escura...) que ocupa lugares abandonados e os transforma em "bairros", e que depois de ter andado a escapar à lei, quando são confrontados com as ilegalidades, querem que o Estado lhes resolva o problema, a primeira coisa que pensamos é na mentalidade destas pessoas, que querem ter um "estatuto especial" de cidadãos. Acham que têm de ser os poderes, locais e nacionais, a arranjarem-lhes uma casa, quanto a maior parte de nós, comprou ou alugou a casa onde vive.

Ninguém escapa a este "egoísmo" humano, até por muitas vezes sermos confrontados com situações de mero oportunismo, de gente que já tem casa e vai para estes locais, apenas para que lhes "ofereçam uma outra casa"...

Continuo a pensar que se as autoridades actuassem de imediato (em vez de assobiarem para o ar...), colocando fim a estas "ocupações", mal as pessoas se começam a instalar nestes espaços abandonados, degradados e perigosos, se evitavam muitos destes problemas, que crescem quase como cogumelos.

Claro que o problema central continua a não ser este. Nem é apenas a falta de casas. É sim, um outro "oportunismo" de todos aqueles que têm casas para alugar ou vender, e que o tentam fazer pelo maior valor possível...

Eu sei que é a "lei da oferta e da procura" a funcionar, mas...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, dezembro 15, 2024

Ministras com patas de elefante e voz de peixeiras


Este governo apostou, praticamente desde início, em ter políticos (neste caso particular, políticas...) com comportamentos pouco habituais, apontando o dedo de uma forma incisiva, e até ofensiva, aos anteriores detentores dos cargos.

A ministra do Trabalho enxovalhou na praça pública a Provedora da Santa Casa da Misericórdia, demitindo-a do cargo, deixando atrás de si uma série de acusações, a maioria das quais ainda não foram provadas.

A ministra da Saúde, já com um passado de confrontos com o director-geral do sector, preparou o terreno para que este se sentisse desconfortável e fosse embora. O que acabou por acontecer, com danos graves para todos nós...

A ministra da Cultura esteve à espera do último dia (em que se pode demitir sem indemnizar...), para demitir a administradora do CCB, acusando ao mesmo tempo o anterior responsável da pasta de compadrio e de partidarização da cultura. 

Não me lembro de existirem este tipo de acusações, de ministro para ministro, mesmo quando aconteceram vários casos, mais polémicos e prejudiciais ao país (alguns até de polícia e com o recurso aos tribunais), ao longo dos últimos quarenta anos de democracia.

Mas o mais curioso, é não se notar nada de novo, de verdadeiramente reformador, nestes sectores. Especialmente no da saúde, onde os problemas se têm multiplicado neste último ano...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, dezembro 14, 2024

«As revoluções são campos de pasto, do melhor, para os oportunistas.»

 


Todos sabíamos que ele estava certo.

«As revoluções são campos de pasto, do melhor, para os oportunistas.»

A publicidade dera-lhe ginástica mental para dizer muito em poucas palavras. Sem falar do poeta, escondido, apenas de gaveta...

A maioria de nós tinha exemplos na família de gente que até ao dia 25, eram "perigosos comunistas", e que a partir de 26, passaram a ser "burgueses" ( e algumas vezes, em surdina, "fascistas"...).

A Síria não vai ser diferente das outras revoluções, por muito que inventem os  "leitores de cartas" e de "mãos"...

(Fotografia de Luis Eme - Lisboa)


sexta-feira, dezembro 13, 2024

Cada vez se olha mais para o outro, de lado, ou por baixo...


Cada vez se olha menos de frente, para a gente anónima com quem nos cruzamos, nas ruas do mundo.

Prefere-se olhar de lado, por baixo, ou simplesmente não olhar.

Claro que eu continuo a andar por aí, contra a corrente, olho para o mundo de frente. Continuo teimoso.

Os olhos podem enganar, mas têm de ter muito treino, para conseguirem dizer uma coisa e serem outra...

Pior que isso, só mesmo a desconfiança pelas bons intenções dos outros. 

Não, ainda não somos todos uns "filhos da puta", mesmo fora da época natalícia...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, dezembro 12, 2024

Direitos adquiridos com prazos de validade...


Não tenho grande opinião sobre a Síria, por desconhecer a história do país e do seu povo. A única coisa que sei é que era dominada por um ditador, que deixa atrás de si um rasto de sangue e muitos mortos, uns conhecidos e outros noticiados como "desaparecidos"...

Foi por isso que me limitei a escutar a história de vida de uma mulher que viveu por lá e que não pensa em voltar. Além de gostar de ser europeia, tem um marido e um novo país, ambos portugueses.

Quando regressava a casa pensei em algumas coisas que escutei e percebi que o que aconteceu no Afeganistão, persegue muitas destas mulheres, que de um momento para o outro podem deixar de ser pessoas e passarem a ser "objectos" telecomandados pelos homens...

Tinha nas mãos um livro que desconhecia, de José Gomes Ferreira, "O Sabor das Trevas". Um romance escrito com a fina ironia do poeta, que nos dava o retrato do portagalito dos anos sessenta, que se debatia com uma coisa que hoje até nos pode fazer rir: o uso de calças por parte das mulheres.

As mulheres conseguiram fintar a questão estética (mesmo as mulheres com mais de noventa quilos que andam pelas ruas de calças de licra e se tornam "mostrengas" aos nossos olhos, não abdicam da liberdade de usarem o que lhes apetece...) em favor do conforto. E ainda bem.

É por isso que transcrevo um curto parágrafo do livro: «Pois eu não me ralo - explodia a gorducha com aquele ênfase vingativo das mulheres feias - Os homens que se encham de paciência e não olhem para mim. Não lhes faltam miúdas giras por essas ruas. Mas lá frio nas pernas é que eu não apanho.»

Quando somos educados num mundo quase normal, custa-nos mais perceber as Alyssas ou o Mohamedes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, dezembro 10, 2024

Prometer o que não se pode ( e não se quer dar) nas culturas...

A cultura continua a ser o parente pobre das políticas do nosso país.

A maior parte das queixas, que se ouvem aqui e ali, têm razão de ser,  e ainda aumentam quando se trata de governos que apostam mais na propaganda que na acção. Isso aconteceu com António Costa e continua a acontecer com Luís Montenegro. Tanto um como o outro fingem pensar que as pessoas são todas estúpidas, que gostam de comer "gato por lebre" e ainda são capazes de dizer no fim do "repasto: "está tudo muito bom"... 

Sei que eles sabem que as pessoas das culturas pensam pelas suas cabeças. São pessoas que gostam de ler, de conversar e de estarem bem informadas. O seu grande problema é fazerem parte de áreas onde não se produz lucro (felizmente graças ao turismo o património - museus e monumentos - tem sido bastante lucrativo, quase de uma forma natural, sem que tivesse existido uma aposta séria no sector...), porque não existe uma "indústria cultural", nunca houve uma política de desenvolvimento séria.

Os políticos continuam a olhar para a cultura e para os seus agentes, como pessoas que fazem umas coisas giras, boas para usar nas campanhas eleitorais, que entretem outras pessoas e precisam de umas "esmolas". Mas que não podem, nem devem, ser levados muito a sério, até porque podem tornar-se "perigosos". É por isso que também dá jeito tratá-los como "tontinhos"...

É por isso que se aposta muito mais (como em quase tudo que não é lucrativo na sociedade mas pode "dar votos"...) na subsidiodependência que na autosuficiência. Os políticos gostam de "controlar" as pessoas e os grupos que fazem teatro, cinema, dança, pintura, música, etc., dando depois uns "doces" aos que consideram "seus" e uns "coices" a todos outros...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, dezembro 09, 2024

A arte de "roubar" rostos e corpos de pessoas dentro das fotografias...


Um amigo chamou-me a atenção para o "excessivo" cuidado que eu tive com a publicação da imagem de ontem.

Disse-lhe que não houve nada de excessivo. Embora o "direito à imagem" proteja as crianças (cortei o bebé que estava no carrinho...) e as pessoas que estejam no espaço público em situações de fragilidade (e muito bem), que não era o caso. 

Tirei três fotografias a este grupo de mães e filhos. Esta era a mais discreta, mas também a que se via bem, as senhoras com a cana de pesca na mão. Achei este o aspecto mais curioso, elas estarem à pesca mesmo junto ao cais dos cacilheiros (que até é um dos lugares mais poluídos de Cacilhas à beira rio...), onde existem tainhas aos magotes.

Há muita gente que não gosta de ser fotografado, mas é impossível que isso não aconteça, nos dias de hoje. Quando estamos a querer tirar uma fotografia a qualquer monumento ou lugar especial, há sempre alguém que nos diz que os humanos também fazem parte da paisagem... 

Acho que foi "esta realidade" que me fez perder qualquer pudor, em relação ao tirar fotografias a pessoas no espaço público, mesmo que as tente apanhar de lado ou detrás, para que possam ser uma pessoa qualquer...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, dezembro 08, 2024

A Europa não é o Oriente...


Há uma questão da qual nunca se fala, quando nos referimos às diferenças sociais, atribuídas às crenças e credos religiosos.

Estava a ver duas mães rodeadas dos filhos, a pescarem, rente ao Tejo, ainda em Cacilhas, no começo do Ginjal, com o rosto tapado com as suas "burkas" e fiquei a pensar nas crianças que as rodeavam.

Por muito que os pais insistam em "viver numa ilha", eles com toda a certeza, andam na escola, até porque é decisivo que aprendam português, para serem cidadãos como nós, para conhecerem melhor este mundo diferente que os cerca.

Será que eles acham graça a este "baile de máscaras" protagonizado diariamente pelas suas mães (sei que ainda há uma pergunta a fazer antes desta, é se estas mulheres se sentem confortáveis, quando circulam de rosto escondido, nas nossas ruas...)?

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, dezembro 07, 2024

Mário Soares: um político de corpo inteiro


Mário Soares nunca foi um dos meus políticos preferidos. Sempre achei que ele era capaz de fazer tudo pelo poder. E de certa forma era...

Mas com o tempo fui percebendo que ele tinha uma intuição política única, o que fazia com que tivesse muitas vezes razão,  antes do tempo.

Embora fosse amigo do seu amigo, não evitava desafios, nem desistia daquilo que achava ser melhor para todos (mesmo que estivesse errado...). Isso explica, em parte, as "zangas" com Salgado Zenha e com Manuel Alegre, que lhe eram muito próximos. O mais curioso foi ambas terem sido provocadas por duas eleições presidenciais, distintas, em que experimentou o sabor da vitória e o sabor da derrota.

Com um olhar quase de historiador, não tenho qualquer dúvida, de que Mário Soares foi a grande figura política do nosso país dos últimos cinquenta anos. 

Os dois pontos pela qual é mais criticado pelos extremistas, são aqueles é que teve um papel decisivo para a nossa democracia (só não foi para a democracia dos outros, porque eles não quiseram...). 

Refiro-me ao processo da descolonização, que nas circunstâncias em que se realizou, dificilmente poderia ter outro resultado. As guerras pelo poder, protagonizadas entre o MPLA e a UNITA em Angola e pela FRELINO e RENAMO em Moçambique, ultrapassaram as nossas fronteiras e acabaram por dar razão aos nossos políticos, por muito que isso faça doer a todos aqueles que viveram por lá e tiveram de partir de um dia para o outro, abandonando os seus lares e os seus bens.

Sobre o 25 de Novembro já se disse praticamente tudo. Foi ele quem enfrentou os extremismos, da esquerda e da direita, foi ele quem se uniu aos militares democratas e devolveu o rumo certo ao nosso país.

Não tenho qualquer dúvida de que, sem a influência de Mário Soares, seríamos um país pior, em todos os sentidos.

Na actualidade, faz-nos muita falta um político com a sua intuição, para combater o populismo e a mentira, crescentes, desta extrema direita, cada vez mais difícil de classificar.

(Óleo de Júlio Pomar)


sexta-feira, dezembro 06, 2024

O olhar e as palavras dos outros...


Por vezes não temos assunto, não sabemos como começar, outras andamos com duas ou três coisas na cabeça, sobre a qual podíamos escrever.

Podia começar pela beleza feminina, que não é sempre igual (deve acontecer o mesmo com a masculina...). Não digo isto apenas pelo encontro de sexta feira, em que encontrei uma amiga que não via há uma porção de dias, que me sorriu, de uma forma radiosa. O dia (ou até a semana...) devia estar a correr-lhe bem,  senti que transportava dentro si mais luz que a habitual. 

Luz essa que conseguia passava para os outros...

Quase no mesmo lugar, encontrei dois amigos, sentados em mesas diferentes, que me levaram a viajar de um lado para o outro do restaurante, para lhes dar um olá. Tinham ambos a mesma novidade, nada agradável, um amigo comum que se tinha sentido mal dias antes,  foi às urgências do hospital e acabou internado. Fiquei com o "relatório médico" completo, as informações de um e de outro, complementaram-se...

Quando voltava a casa, fiquei a pensar que sou mesmo mais de ouvir que de falar. Nos casos de doenças (e se calhar de tudo...) dou sempre o mínimo de informação possível, para não estar armado em médico, muito menos a desafiar o futuro.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, dezembro 04, 2024

Eles não sabem, mas o teatro é o exagero da realidade...


A maior parte da gente que o conhece, não percebe nem olha com bons olhos para a sua paixão pelo palco.

As conversas quase de ouvido, têm quase sempre apenas um sentido, a sua vaidade pessoal, o querer exibir-se, o querer mostrar-se, em qualquer palco.

Esquecem a sua vontade de ajudar, o querer estar, o querer fazer, a aceitação de qualquer papel mesmo que seja de um simples figurante, como o de um actor amador menor, que ficou no "anedotário local", por causa da mulher. Falo do Tó da Mutela, que também gostava de tudo aquilo, de estar ali ao lado de todos aqueles homens e mulheres com muito mais jeito que ele para a arte de talma.

Quando me contaram a história da "queda em palco", sorri e lembrei-me logo do Tó...

Sim, é histórica a frase da sua mulher após a estreia. Depois de lhe fazer o jantar mais cedo, vê-lo sair de casa e passar os serões a ensaiar a nova peça do grupo cénico, meses seguidos, disse: «Tanta merda para isto? Para atravessares o palco, três vezes, de um lado ao outro, e dizeres apenas boa noite?», insistindo, irritada, «para dizeres uma merda de um boa noite, não era preciso ensaio nenhum.»

Claro que era preciso ensaio. Mas eles não sabem, nem sonham... 

O Tó tinha de conhecer a deixa, tinha de saber o caminho que iria percorrer, de um lado para o outro, no palco. Bastava um precalço para tornar o drama numa comédia...

O que ela nunca percebeu, foi a paixão do seu homem pelo palco, o querer estar ali, participar, nem que fosse apenas para ver os outros. 

Talvez preferisse que ele passasse os serões na taberna (lá não havia mulheres) e não no ensaio...

Foi por isso que percebi a frase do encenador, quando dois ou três elementos do grupo, o criticavam: «Dêem-lhe espaço, deixem-no ter o seu momento, deixem-no cair, sozinho...» 

O papel que fazia, era de um amante, que acabava assassinado em palco. Achavam que ele não caia com naturalidade, fazia um espectáculo dentro de um espectáculo. 

Eles fingiam não perceber que o teatro é isso, é o exagero da realidade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, dezembro 03, 2024

As tertúlias de café, das certezas e das dúvidas...


Estava sozinho a beber café, mesmo ao lado de um grupo de tertulianos, que passam a manhã, por ali, a pôr as "certezas" em dia.

Pensei nas minhas tertúlias, que são tão diferentes daquela. Normalmente são povoadas de gente cheia de dúvidas, que se senta para ver se aprende alguma coisa, e se diverte, claro.

Percebi à légua que um deles, ainda tinha mais certezas, que todos os outros. Ouvi-o dizer pelo menos três vezes: «Não é nada disso.» Antes de tentar vender o seu "charrouco" aos companheiros.

Ao contrário daqueles senhores, temos algumas dúvidas de que o Sporting vá ser campeão ou que o Almirante possa ser Presidente da República...

E o melhor disto tudo, é não fazermos apostas, não termos medo de errar ou de estar errados. 

O pior que nos pode acontecer, no dia seguinte, é sermos alvo de "chacota" durante um ou dois minutos.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)