A viagem de automóvel é a que menos nos permite olhar o que nos rodeia, mesmo que não sejamos nós o condutor. Há sempre uma atenção, quase enervante, que nos fixa à estrada, aos carros que nos perseguem, aos que ultrapassamos, e também aos acompanhantes...
Não há transporte que tenha uma janela tão expressiva e forte como o comboio. Apesar de ser raro apanhar uma carruagem que percorre as linhas de ferro, sei que ao olhar a paisagem, descubro tudo mais vivo, mais brutal, mais sensitivo.
Claro que também somos distraídos pelo interior da carruagem, especialmente pelas "tribos" que têm vivido mais em liberdade, que ainda não estão tão agrilhoados pelas regras da sociedade. Os ciganos e os negros em grupo falam mais alto, cantam, batem os pés, etc. Na última viagem que fiz, sorri, dividido, a pensar se eles pensavam que sabiam cantar, ou se apenas gostavam de cantar...
Voltando à janela "mágica" do comboio, descobrimos sempre coisas novas, mesmo em viagens que fazemos com alguma regularidade. Claro que não falo da suburbanidade, quase igual em toda a chamada cintura industrial (que já era...) de Lisboa, feia e inestética. Falo nas áreas onde é possível perder o olhar numa linha do horizonte menos perceptível que a do Oceano...