Raramente compro um jornal coisa que fazia mais que uma vez por semana, antes da pandemia.
O "ter de ficar fechado em casa" habituou-me ao digital e... Quando o mundo tentou voltar ao normal, ainda comprei um ou outro jornal, mas não era a mesma coisa. Até porque eles tinham diminuído de tamanho (alguns pareciam ter metade das páginas...).
Mas não é sobre jornais que quero falar, embora tenha comprado hoje o "Público" (aliás eu comprei o "Ípsilon", o jornal veio atrás...). Comprei este diário porque a capa do suplemento tinha como título, "Sara Correia, o fado dela é o povo, é do bairro".
Ao começar a ler a reportagem sobre a fadista, senti que ela estava ali a falar do seu novo disco e também a lutar contra o estigma social que está colado a Chelas, o bairro das suas raízes lisboetas.
Cresci num bairro e nunca senti qualquer estigma, mesmo que não fosse uma "zona chique" das Caldas. Aliás, as ruas eram conhecidas por números (eu morava na "Rua 26"...). Provavelmente por ser um bairro de uma cidade de província ou por ser o lugar onde tive os meus primeiros amigos e onde se vivia normalmente.
Mas os bairros não são todos iguais, muito menos as cidades...
Aliás, nas cidades grandes há o hábito de despejar as pessoas "menos interessantes" (para cantos onde também parece não haver "nada de interessante"... que são normalmente feios. Deve ter sido um engano do caraças a construção do Bairro do Picapau Amarelo na Margem Sul, com aquela vista para o Tejo, que até causou "inveja" à presidente do Município...).
É por isso que compreendo a Sara.
Eu que durante muitos anos só conhecia a expressão "pareces o comboio de Chelas" (para designar algo feio e estranho, sim havia raparigas que, segundo os entendidos, as suas caras pareciam o "comboio de chelas", vá-se lá saber porquê...), sem saber sequer onde ficava este bairro lisboeta...
(Fotografia de Luís Eme - Monte da Caparica)