sábado, junho 29, 2024

O carrossel do tempo...


O tempo não é de final de Junho. Tal como em Janeiro não tivemos sempre tempo de Janeiro.

Não vale a pena falar sobre as alterações climáticas e a nossa passividade (somos bons a fingir que tudo vai bem...).

Ano após ano, fomos tornando o nosso dia a dia num "carrossel", onde pode chover e fazer sol, minuto sim minuto não, cada vez com mais naturalidade.

É por isso que é no mínimo estranho, partir de férias para o Sul com um céu de Inverno...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


sexta-feira, junho 28, 2024

Olhares de cá e olhares de lá


Ao olhar para as fotografias, lembrei-me das palavras de um grande retratista. Com algum humor, ele disse-me que depois dos candeeiros, dos bancos, das portas, das janelas e das árvores, aparecem sempre as pessoas.

Primeiro de uma forma tímida. Depois habituamo-nos a roubar rostos e bocados de corpos e nunca mais paramos. E sem darmos por isso, as pessoas passam a ser a melhor "paisagem" das fotografias.

E ainda me disse outras coisa, como há quem goste de ficar em fotografias, até era capaz de focar um ou outro sorriso...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, junho 27, 2024

As habituais contradições do dia seguinte...


Não tinha pensado escrever sobre a Selecção e sobre o Europeu, por sentir (como de costume...), que as espectativas estavam demasiado altas.

E continuo a pensar, que não há nada melhor que uma derrota, para colocar toda a gente com os pés no chão. Claro que não é preciso viajar do 80 ao 8, nem os "bestiais" passarem a "bestas", em apenas noventa minutos... Muito menos que o senhor Martinez passe a ser apenas o "espanhol" (sim, com letra minúscula).

Continuo a pensar que não somos a melhor Selecção da Europa. Mas também acredito que tudo é possível, basta que a sorte fique no nosso lado (o que não aconteceu ontem, além das ofertas que fizemos, o árbitro também era do clube dos que "não gostam do Ronaldo" (é a única explicação para não marcar o penalty das puxadelas da camisa...).

Só espero é que os jogadores pensem como eu. Faz muito mal a qualquer equipa, achar que são "os melhores da europa", antes de jogarem. 

É muito importante respeitar os adversários.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 26, 2024

Não é nenhuma novidade , de que «há gente para tudo»...


Nunca mais tinha entrado no café. Preferia parar na pastelaria. Mas naquele domingo a pastelaria estava fechada e ele lá entrou, de fugida, no café, para beber a bica da manhã. 

A cara não me era desconhecida. Mas não lhe dei muita atenção, embora tenha percebido que foi atendido com maus modos e foi por isso que mal bebeu o café saiu pela porta fora.

Mal ele saiu, a dona do café começou a "pintar-lhe a manta", dizendo que «Há gente para tudo.»

A minha companheira disse-me que ele morava na Avenida e era deputado, desde as eleições de Março.

«Vejam lá, que o merdas até mudou de penteado e comprou óculos redondos cor pele de tartaruga», continuou a mulher atrás do balcão.

Um dos clientes encostado ao balcão deu a novidade de que o tipo ainda não usara da palavra nos Passos Perdidos. Estava lá apenas a para fazer parte do coro dos "muito bem", assim que alguém acabava de falar, e bater palmas, claro.

«Faz cá tanta falta como a fome!» Insistiu a dona do café.

Entretanto nós saímos, com a sensação de que a conversa estava longe de ter acabado.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 25, 2024

Tentar pensar "dentro dos outros"...


O Cacilheiro ainda é "margem-sul", não tens pensamentos sobre o que te rodeia, como eu tive, hoje, no interior do Metro.

Andei atrás no tempo e recordei as minhas primeiras viagens a Lisboa, ainda adolescente, com o meu irmão (ele já devia ter mais de dezoito anos e eu apenas dezasseis e viemos à Capital provavelmente por causa da Universidade, em que ele se preparava para entrar...). Mesmo assim, só dava para sentir o "cheiro a novidade", todo aquele movimento e a quase indiferença das pessoas pelo que as rodeava. Não dava para descobrir muito mais, entre aquele viver e o da nossa cidade de província.

Só quando vim viver para Lisboa (Cruz Quebrada) é que senti mesmo na pele as grandes diferenças, a quase desumanização da sociedade, mais interessada em coisas de somenos, como conseguir "chegar a casa", ao fim de um dia de trabalho ou de estudo... Era uma cidade diferente, esta, do começo da década de oitenta do século passado, mais velha, mais cansada e sem capacidade para explorar o seu melhor (vivia-se de costas voltadas para o Tejo e para os bairros típicos, onde a degradação era demasiado visível, lugares que hoje são os seus melhores cartões de visita, mesmo que sejam só isso...).

Lá estou eu a mudar de assunto ou a ir longe de mais com as palavras...

O que eu pensei, ao olhar aquela gente, mesmo que muitos fossem de fora, era o que viam no buliço da cidade. Provavelmente, vêm coisas diferentes... Os que têm a pele mais escurecida, que chegam das índias, devem achar que em Lisboa é tudo mais calmo ,que nos seus países de origem, demasiado desorganizados e habitados, e também com mais poluição e pobreza... Os das europas não devem pensar muito. Gostam sobretudo do nosso "exotismo" (mesmo que esteja a desaparecer...), dos preços das coisas e da nossa simpatia (mesmo que seja hipócrita...). Ou seja, em quarenta anos, este Lisboa, não tem quase nada da que descobri no fim da adolescência.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 24, 2024

«Sempre se mentiu muito. Ajuda a viver.»


Como é que eu podia desmontar uma frase como esta? Não podia...

O Carlos estava certo, tal como o seu cigarro, que emergia de um mundo já quase sem fumadores clássicos.

Eu sabia que a mentira é como aquelas facas que se usam apenas nas conversas e que têm dois gumes. Tanto ajuda como desajuda a viver. Depende sempre da forma e do método com que é usada.

Foi por isso que não disse nada. Ele fingiu não perceber e mudou de assunto. E ainda bem, falou-me de um escritor que eu desconhecia, Nelson Aldren. Era americano. Havia um ou dois realizadores que adaptaram os seus romances para o cinema. Adiantou-me que ele escrevia sobre as pessoas que não contavam, os pobres, os desgraçados, os marginais. E ainda me disse que ele era de Chicago...

E rematou a conversa, dizendo que o Aldren era incapaz de mentir, nos livros e, provavelmente, na vida.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, junho 23, 2024

O Sol é mesmo um Deus...


No nosso canto, ainda só sentimos umas ligeiras transformações, até porque gostamos de Sol (ainda existem campos de golfe no Algarve e tudo)...

Mas no Mediterrâneo as coisas estão longe de ser simples e fáceis.

Ainda estamos em Junho e já se fecham ilhas (aos turistas...), como aconteceu em Capri, na Itália, porque a única água que existe por lá em abundância, é a salgada.

Segundo as notícias do mundo, há várias regiões do planeta (em vários continentes...) onde as temperaturas têm ultrapassado os 50 graus, como se fosse uma coisa normal.

Continuamos a fingir que não é necessário mudar de vida. Não sei bem porquê. Ou talvez saiba.

Sempre fomos bons a inventar coisas, como se a autodestruição fosse o caminho... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 22, 2024

Contradições que escapam à compreensão de quem tem dois dedos de testa


Eu sei que os políticos e a sua prática diária - cada vez com mais contradições - está longe de fazer parte da compreensão da maior parte dos portugueses.

Mas quando se começa a entrar no jogo do "vale tudo", 

Como é que se pode compreender, que a mesma pessoa que é boa para ser candidata ao cargo da presidência do Conselho Europeu, com o apoio do PSD, possa ser envolvida num caso em que não teve qualquer interferência (caso das gémeas...), apenas por ter recebido um e-mail (provavelmente de informação e que deve ter o mesmo destino de uma boa parte da correspondência electrónica...), com os votos dessa mesma força política.

São todas estas coisas, no mínimo, esquisitas, que afastam cada vez mais as pessoas do mundo da política e das eleições...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, junho 20, 2024

Os cheiros e outras coisas parvas que fazem parte das conversas


Há dias que falamos sobre coisas parvas. Sei que isso acontece porque este mundo que nos rodeia, também está cada vez mais parvo...

Não vou ao exagero de dizer que está tudo mal nessa coisa que dizem ser a mais inteligente que habita neste planeta quase redondo. Mas o normal é encontrarmos mais caras sisudas que caras sorridentes nas ruas e nos transportes públicos.

Não sei quem foi que começou a falar de "cheiros", mas acho que foi a senhora que disse que teve de fingir que estava com alergia logo de manhã e tapar o nariz, e logo às oito e alguns minutos da manhã, porque um dos companheiros de viagem não devia gastar dinheiro em desodorizantes e também devia evitar tomar banho para poupar água...

Claro que depois a Capital quase que veio abaixo, porque Lisboa há muito que não cheira bem. E diziam eles, que era por causa de quem vinha de fora, não de férias mas em trabalho...

Estavam certos. Se em muitas casas vivem mais de uma dezena de pessoas, deve ser complicado ter condições para dormir, quanto mais para um banhito... E nem vale a pena falar de quem vive em tendas.

Vá lá que só se falou do cheiro do sovaco, não se falou do cheiro dos lugares mais recatados, que fazem as vezes de urinol público...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 19, 2024

Falar para o microfone é uma coisa, falar com a bola é outra coisa...



As coisas mudaram muito no nosso país, inclusive no futebol, onde se ganha muito mais dinheiro que há cinquenta, sessenta anos.

O normal é que as diferenças monetárias também se intrometessem na cultura e na educação (mas nem sempre acontece...).

Esta pequena entrada deve-se a um comentário que ouvi sobre um jogador da selecção, que além de ter dificuldade em falar para a televisão, não falava com clareza. 

Foi quando me lembrei de uma história contada por um dos nossos grandes jornalistas, Carlos Pinhão, quando se sentiu na obrigação de perguntar a outro jornalista, que estava a criticar de uma forma abusiva a dificuldade que um dos nossos grandes futebolistas tinha em se expressar - ainda por cima tinha vindo das "áfricas", ou seja a sua instrução devia ser diminuta -, "se ele tinha sido contratado para discursar ou para resolver jogos com golos". 

E o bom do Carlos lá obrigou o outro senhor "a meter a viola no saco" e a escolher outro, para o "canal da critica", porque ele fazia golos de toda a maneira e feitio...

(Fotografia de autor desconhecido - uma homenagem a Fernando Vaz e ao Vitória de Setúbal, que tinha acabado de ganhar a Taça de Portugal com estas três excelentes "pérolas negras")


terça-feira, junho 18, 2024

Agora é tempo do "país do futebol"...


Nós agora somos um país de muitas coisas, depende sobretudo da "moda" da semana ou do mês.

E a moda do mês de Junho (e Julho...) é o futebol. Não o dos clubes mas o das selecções. Por norma costuma ser mais pacífico, embora aconteçam sempre coisas estranhas, aqui e ali.

O que já não é estranho são as horas que todas as televisões lhes dedicam, nem tão pouco os comentadores, normalmente, treinadores, jornalistas ou antigos futebolistas. Pelo menos na área do "comentário da bola", não se vai buscar gente  de quem nunca ouvimos falar (como acontece com a guerra ou com a cultura da batata). 

Claro que, mesmo assim, junta demasiados motivos para desligar a televisão e voltar ao mundo sem futebol...

(Fotografia de Luís Eme - Boca do Vento) 


segunda-feira, junho 17, 2024

Os "filhos do euro"...


Sei que há publicidade e publicidade e que os profissionais do ramo, tentam ir cada vez mais longe.

Não me lembro se os primeiros anúncios sobre os "filhos do euro" já tem nove meses, mas deverão ter. Ou pelo menos deveriam ter.

Falámos sobre isso ao jantar cá por casa, se a taxa da natalidade terá aumentado ou se é apenas mais um anúncio. Todos achámos que não, que um campeonato de futebol não é uma motivação para se encher Portugal de crianças. Mas nunca se sabe...

Já tínhamos falado também sobre as "noivas de Santo António" (acho curioso nunca se falar dos "noivos de Santo António, já faltou mais...), mas aí não estivemos de acordo. Mesmo sem dados estatísticos, achámos que embora seja uma oportunidade, está longe de ter tudo "para dar certo"...

Sim, apesar do "espectáculo" fazer cada vez mais parte da nossa vida, isso não indica que sejamos mais felizes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 16, 2024

O mundo com "coitadinhos" e com a "gente que só tem direitos"...


Nunca percebi muito bem a quem é que interessa um estado exageradamente assistencialista, como é cada vez mais o nosso. O problema é que à medida que vou procurando respostas, vou descobrindo interesses onde não esperava. Mas a vida é isso...

Sei que quanto mais nos viramos para a direita (a mais clássica, não a liberal...), mais se faz sentir a filosofia de um mundo com "coitadinhos", como se o mundo fosse mais bonito com pobrezinhos e estropiados. Também sei que os socialistas contribuíram para "este estado de coisas", ao evitarem resolver alguns problemas sociais que careciam de alguma urgência, roubando a dignidade a cada vez mais pessoas...

E também se mantém a ligação ao catolicismo mais conservador, que gosta que exista a "esmola", quase como instituição, alimentando a fábula de que os ricos à medida que vão distribuindo umas moeditas aos pobres, "compram" o seu espaço no céu...

Normalmente quem recebe rendimentos mínimos e afins, são as franjas que cresceram (e habitam...) em meios mais pobres, muitos, mesmo jovens, nunca chegaram a terminar o secundário. O mais curioso é a sua filosofia de vida: fazer o mínimo possível e sacar o mais possível ao estado, à igreja ou seja a quem for (fazem da pedincha um modo de vida e são capazes de ir buscas alimentos ao máximo de instituições que puderem, muitas vezes para os venderem, obrigando a que sejam criados sistemas burocráticos, que não permitam estes abusos completamente egoístas). Ou seja, fazem da "esperteza" um modo de vida (só que nós não somos todos estúpidos, como eles pensam...).

E por muito que queiramos proteger ou ajudar esta gente, rapidamente percebemos que não pertencemos a este mundo, onde as pessoas, por serem "pobrezinhas" (às vezes até parece que gostam deste estatuto...), pensam que só têm direitos e nada de deveres...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, junho 15, 2024

«Somos todos malucos. É por isso que continuamos aqui, à espera do Godot...»


Muitas vezes fico sem muitas palavras para meter nos diálogos, quando converso com amigos. Parece que fico preso àquela frase velha e gasta de que, "só sei que nada sei". 

Talvez seja por isso que gosto do depois. Sim, é o depois que me faz acordar com uma vontade imensa de escrever, no dia seguinte e nos outros, sobre as pontas soltas e as outras.

Pois é, a noite tanto é boa como má conselheira.

Aquecia o café e não me saía da cabeça a proximidade daqueles amigos teatreiros com a "Avenida do Brasil". Foi a Rita que disse, num ar alegre, com a concordância geral: «Somos todos malucos. É por isso que continuamos aqui, à espera do Godot...»

Sim, mas além da tal loucura, deve ser preciso alguma dose de marginalidade, e até ausência de amor próprio, como se sentiu no desabafo do Ricardo. A "sopa" que os alimenta, deve ter ainda mais ingredientes, para os ajudar a viver tantas vidas diferentes, esquecendo o "Eu", que é nada mais nada menos, que o primeiro rosto que encontram quando se olham ao espelho de manhã (que quase nunca é de manhã...), e dizem para ele, «estou uma desgraça», como nos contou a Ana a sorrir.

Por serem parecidos com os palhaços, tão são capazes de rir com as coisas sérias, como de chorar, a fingir, porque a personagem que encostaram à pele é ainda mais melodrámatica que eles...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 14, 2024

O teatro é cada vez mais outro...


Ontem estive com três amigos do teatro, que aproveitaram a minha visita, para fazerem contas à vida, para depois acrescentarem que os problemas continuam a ser os mesmos de sempre, para quem a vida nunca foi fácil, neste país que faz "gala" em tratar mal os criadores (quase todos, das artes e letras).

Os únicos que escapam a esta "triste sina" na Arte de Talma são a meia-dúzia de actores e actrizes, que gosta do conforto de fazer parte do clube dos "artistas do regime", ao mesmo tempo que enchem revistas com jogos de "verdade e consequência" e "brilham" na primeira fila das telenovelas.

Os subsídios são cada vez mais curtos, os espectadores cada vez visitam menos as salas... 

Eles sabem que o teatro nunca vai acabar, mas também sabem que cada vez haverá menos companhias ou grupos profissionais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 12, 2024

O que havia antes do depois (continuação de ontem)...


Para ficarem com uma imagem do que existia antes de se erguer o tal muro no Ginjal, coloco aqui duas fotografias que dão uma panorâmica do que está acontecer  nesta zona rente ao Tejo, da Margem Sul.


Faz-me confusão a passividade das autoridades perante estes aparentes abusos. Parece que tudo é permitido em algumas zonas do Concelho...

(Fotografias de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, junho 11, 2024

A tentação de erguer muros...


O Ginjal está longe de ser "uma terra de ninguém", mesmo assim tem sido um espaço fértil em ocupações, de imigrantes de mais de uma nacionalidade. Um dos barrações, onde esteve alojado o Clube Náutico de Almada foi ocupado por "pseudo-artistas", que andam ao "lixo" pelas ruas da cidade, provavelmente quando esta dorme e criaram uma espécie de "quermesse", com livros, quadros, fotografias e mil e uma bugigangas, que devem vender à melhor oferta.

Só entrei naquele espaço logo no início, quando ainda estava aberto e eles ocupavam um espaço mais recatado. Pouco tempo depois começaram a colocar madeiras nas janelas e portas improvisadas, tornando o que era aparentemente público (abandonado, mesmo com donos...) em privado. Nunca liguei muito a este comportamento, que é mais normal do que parece. Quem ocupa, tenta tornar esses espaços seus...

Mas o que estranhei foi terem erguido agora, um muro em cimento, num espaço antes aberto (será para terem também o seu quintal "reservado"?)... 

Pois é... Mesmo quem vive às vezes preso entre muros, por muito que clame pela liberdade, assim que pode, faz também o seu murozito de estimação...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, junho 10, 2024

Camões do Tamanho de Portugal


Luís de Camões é, sem qualquer dúvida, o nosso grande poeta da história. 

Sei que há Fernando Pessoa, mas não nos devemos esquecer que Camões é do século XVI...

Por hoje ser aquele dia que é muitas coisas, até Dia de Portugal, a melhor combinação continua a ser o Dia de Camões.

E nada melhor que esta fotografia tirada na Feira do Livro, para homenagear o nosso Poeta, que além de excepcional vate, via melhor com um só olho que muito boa gente com dois...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 08, 2024

A partidarização da justiça (cada vez mais às claras)


Ninguém no nosso País deverá ter dúvidas que há uma "partidarização" da justiça, especialmente dentro do ministério público.

Começa a ser norma que na semana antes das eleições, apareça um escândalo qualquer que, normalmente, envolve a principal força da oposição. Ou seja, se for o PS que está a governar, há uma forte possibilidade de que alguém do PSD seja "investigado".  Se for o PSD (ou AD...) que seja governo, acontece o mesmo em relação ao PS. Neste caso a vitima directa é Lacerda Sales, as indirectas são o Presidente da República e a antiga ministra da Saúde, que por mera coincidência, é a cabeça de lista do PS, às Eleições Europeias...

É apenas mais um sector do país a precisar de um verdadeiro "25 de Abril"...

(Fotografia de Luís Eme - Caramujo)


sexta-feira, junho 07, 2024

A medida pessoal do tempo...


Sei que é um exagero dizer que cada um de nós tem uma medida do tempo, mas não deixa de ser verdade, que não vivemos todos no mesmo tempo...

E não estou apenas a referir-me à vizinha que sempre que se cruza comigo na rua, pergunta pelos meninos, "como estão os meninos". E entretanto já passaram quase vinte anos... já estão uma mulher e um homem.

Passa-se o mesmo com os acontecimentos. Se não estivermos a lidar com cronologias, facilmente temos a noção que o tempo é mais lento do que realmente é... Facilmente dizemos que algo que se passou há vinte anos, passou-se há apenas dez.

Ou seja, trata-se de uma imprecisão natural, que faz parte do facto de sermos seres imperfeitos, que à medida que o tempo passa (sempre o tempo), perdemos qualidades, a todos os níveis.

Talvez seja por isso que alguns espertalhaços continuem a pensar que o futuro é a inteligência artificial...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, junho 06, 2024

Uma coisa é um coisa, outra coisa, é outra coisa...


Nas campanhas eleitorais devia ser proibido resolver (ou fingir que resolvem...) problemas, como aconteceu agora com a imigração.

O pior de tudo é a mistura que se faz de quem trabalha e tenta ter uma vida normal (a maior parte das pessoas que forma filas na AIMA...), e de quem vive "do ar", que tornou alguns largos e praças de Lisboa em pequenos parques de campismo clandestinos, sem quaisquer condições higiénicas ou de salubridade, e que têm tido a sorte de as polícias portugueses estarem mais preocupadas com seu o subsídio de risco que em cumprir as suas funções de segurança e fingem que não os vêm nas ruas (caso contrário muitos já tinham sido "deslocados" à bastonada)...

E quem é esta gente que "vive do ar"? São pelo menos dois tipos de pessoas: as que gostam de vagabundear, que encontraram em Portugal, um país onde reina mais a anarquia, que em Espanha, por exemplo (para não ir mais longe) onde muitas leis não são para cumprir e se finge que "está tudo bem"; e as que foram "contratadas" para trabalhos sanzonais (agricultura e hotelaria) e que quando deixaram de ser necessárias, foram abandonadas à sua sorte, acabando pro se deslocar para a Capital, porque há sempre a ilusão de que é mais fácil encontrar um trabalho qualquer por lá.

Estas situações não irão mudar, também por duas razões: os maus patrões vão continuar a explorar esta mão de obra barata, descartando-a, quando deixa de ser boa para o negócio; e qualquer pessoa poderá continuar a entrar no país, sem qualquer controle (a única vigilância com alguma eficácia faz-se nos aeroportos), por terra e mar...

O problema é que todas estas "misturas" só fazem com que aumente o racismo e a xenofobia entre nós, dando força a uma extrema-direita sem qualquer princípio humanista.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 05, 2024

«Sempre que vires a porta aberta, entra...»


O portão exterior estava aberto e entrei, subi as escadas, fiquei por ali, a ver as vistas do terraço. A porta do atelier também estava aberta, ouvia-se música de rádio no interior, fiquei indeciso, se devia tocar no batente da porta ou não.

Passava por ali, dezenas de vezes, mas raramente encontrava o portão aberto. E nessas raras vezes, nunca subi...

Felizmente bati e ouvi uma voz no interior, que me disse para esperar. Quando  o Mestre me viu, recebeu-me com grande alegria, desculpou-se pela desarrumação, que se fazia notar, logo ali no hall de entrada, como se isso tivesse alguma importância.

E começámos a falar (aliás ele começou a falar...), do significado das peças e dos objectos artísticos que nos davam as boas vindas naquele espaço. E claro das fotografias e diplomas (cada um deles também com uma história pessoal...). 

Era também a história de uma vida...

Pelo meio aparecia uma descoberta, um acaso local que o levava a questionar amigos historiadores e a folhear livros que poderiam ter respostas... Sim, ele nunca quis ser apenas professor e pintor. Também era investigador, gostava de saber coisas sobre história de arte.

Depois entrei na sala de pintura, que precisava mesmo de arrumação. Mas aquela desordem tinha um brilho especial. De um lado livros nas estantes e no chão, empilhados, de outro desenhos antigos também espalhados pelo chão (à espera de tempo para serem "classificados" e "ordenados"... E na parte central de uma das paredes, panos, pincéis, tintas, que estavam na fase de serem quase um objecto de museu (ou então de irem para o lixo...).

E entretanto era hora de almoço. Despedimo-nos com um abraço. E ele disse, com um ar feliz: «Sempre que vires a porta aberta, entra...»

Fiz sinal que sim, agradado com aquele encontro especial, cheio de histórias, de pessoas e de lugares...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, junho 04, 2024

Sabia que ser pai era muitas coisas...


Eu sabia que somos amigos de formas diferentes. Isso acontece porque sentimos e olhamos as coisas também de forma diferente.

Também sabia que nos tornamos íntimos de alguém, quando lhes começamos a contra coisas que não contamos aos outros, mesmo quando são família.

Foi por isso que nem estranhei que o Valentim me começasse a falar do filho que perdera, daquela forma. Nunca fora tão longe. Até falou das suas visitas ao Casal Ventoso, para lhe comprar o que o corpo lhe pedia. Foi quase dentro de um sussurro que reviveu o dia que o encontrou, com uma seringa presa a um dos braços.  Estava com os olhos abertos, a olhar para o infinito, com um ar que quase parecia feliz... 

Foi quando os seus olhos ficaram brilhantes e o silêncio tomou conta da mesa onde almoçávamos.

Sabe que falhou em alguma coisa. Mas ainda não percebeu onde. Falou-me em excesso de amor dele e da companheira. E também em excesso da liberdade. Deixou-o desde cedo viver a vida que queria viver, mesmo quando ele ainda não sabia bem o que queria...

Pensava que ser pai era, sobretudo, isso. Talvez estivesse enganado.

Não fui capaz de dizer nada. Sabia que ser pai era muitas coisas, mas as que ele dera ao filho, eram as melhores que algum pai podia dar a um filho: Amor e Liberdade, Talvez devesse ter dito isso. 

Talvez...

As pessoas precisam de falar, precisam de contar, precisam de tentar compreender, mesmo o que parece incompreensível. Foi o que pensei depois de nos termos separado na esquina do costume, com as recomendações dele à minha família como continuam a fazer os antigos.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, junho 03, 2024

«Tenta escrever. Tens a história toda na tua cabeça.»


Já me tinham feito algumas propostas estranhas, mas nenhuma como esta.

A senhora cruzou-se comigo e com mais três amigos na rua, depois do almoço. Cumprimentou mais efusivamente um dos nós, de quem era amiga, depois virou-se para mim e disse que precisava de falar comigo.

Fiquei meio surpreso, mas disse que sim, sem saber o que viria dali, até porque apenas nos conhecíamos de vista e trocávamos bom dia e boa tarde. Perguntou se podia ser na segunda-feira, na esplanada de um dos cafés da Praça Gil Vicente, às 14.30 horas.

E hoje lá nos encontrámos, com a companhia de dois cafés.

Ela começou por perguntou se nos podíamos tratar por tu. Disse que sim. Depois começou-me a contar uma história que achava que poderia dar uma boa peça de teatro. Durante dez minutos escutei-a sem qualquer interrupção. Depois, com alguma lata, ela disse que estava ali para me convidar para escrever aquela peça.

Eu sorri, e, também com a lata possível, disse que ela não precisava de ninguém para escrever a peça. O drama estava toda na sua cabeça, era só colocá-lo no papel.

Fez uma careta e disse que não sabia escrever. Eu insisti e disse que só precisava de ir falando alto, como o tinha feito ali, e escrever, escrever... 

Continuou reticente. Foi então que lhe ofereci apoio, dizendo que não me importava de fazer uma leitura crítica, mas insisti: «Tenta escrever. Tens a história toda na tua cabeça.»

Vamos ver o que irá acontecer. Era bom que acontecesse teatro...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, junho 02, 2024

"um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"


É quase parvo dizer-se que se gosta muito da escrita de um autor, mas que não se têm lido tantos livros quantos se deviam da sua autoria.

O problema é que isso não se passa apenas com Mia Couto. Há pelo menos uma dúzia de escritores a quem faço o mesmo. Nem é muito difícil arranjar desculpas. Além de ser humanamente impossível ler todos os livros que desejamos, também é normal aparecer mais que um livro, capaz de fazer ultrapassagens, tanto pela esquerda como pela direita, fazendo com que as "filas de espera" continuem a crescer nas estantes da casa.

Mas foi um prazer imenso ler "um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", e viajar por dentro de uma família especial (como são todas as inventadas pelo Mia Couto...), que abraça as tradições, usa os dialectos locais e reinventa o misticismo e a magia, que fazem parte do dia a dia do continente africano.

Apesar do escritor moçambicano nos levar de viagem pelo presente e pelo passado, gostar de usar metáforas, ditos populares, e até enigmas, dá-nos sempre espaço para a reflexão, para pensarmos sobre o que andamos por cá a fazer (ou a não fazer...). 

Para tornar as coisas mais enigmáticas, Mia Couto fez aparecer "cartas" ao longo dos capítulos (que aparecem e desaparecem...), trocadas entre os Marianos, cheias de pequenas e grandes curiosidades, que vão adensando a ficção. 

Foi por isso que resolvi retirar uma frase da última "epistola": «Há um rio que nasce dentro de nós, corre por dentro da casa e desagua não no mar, mas na terra.»

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


sábado, junho 01, 2024

Dois exemplos da "cegueira pelo poder"...


Sei que hoje devia ser dia para falar de crianças e não de "criancices", mas os meus filhos cresceram e...

Não me lembro de ver um líder de um partido (PS), depois de perder as eleições (de uma forma notória...) na ilha da Madeira, achar que tem a mesma legitimidade para ser poder que o vencedor das eleições, Miguel Albuquerque, do PSD. 

Talvez o senhor Cafôfo pense que o melhor é acabar-se, primeiro com as eleições e depois com a democracia...

Também não me lembro de ver gente tão agarrada ao poder como o antigo presidente do FC Porto, depois de 42 anos de presidência do clube (foi muito difícil tirá-lo do "poleiro") e agora o treinador da equipa principal de futebol, Sérgio Conceição. Apesar da sua "ambiguidade" (nunca assumiu de uma forma directa a sua saída, embora o seu apoio ao presidente derrotado e a assinatura de um contrato a dois dias das eleições digam tudo da personagem...), é óbvio que ele não quer continuar como treinador. Mas também não quer que seja o seu antigo adjunto, como se este fosse apenas um seu "lacaio", não tivesse valor ou vontade própria.

São dois exemplos do que faz a "cegueira pelo poder", com esta gente a prejudicar de uma forma inqualificável as instituições que dizem "amar até à morte"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)