Encontrámos-nos e falámos de muitas coisas, inclusive da noite, dos lugares por onde passávamos e onde encontrávamos amigos comuns.Acho que andávamos por ali, meio perdidos, à espera de encontrar alguém, ou que alguém nos encontrasse.
Uma das coisas boas, era continuarmos presos à idade da inocência, o que nos permitia suportar todas as "feira de banalidades" que eram montadas com um sorriso.
Na altura tínhamos a mania de falar da autenticidade e da beleza da noite. Descobrimos que hoje somos incapazes de falar dessas coisas. Acho que mentimos menos a nós próprios.
Nesses tempos tinha uma namorada "protegida" pelos pais e pelos quilómetros que dividiam a Capital dos subúrbios. Ela não tinha ninguém, era daquelas raparigas que fingiam não querer namorar...
Saía muitas vezes comigo, até porque na maior parte dos lugares da noite lisboeta nos anos oitenta só se podia entrar "acasalado". Passou por minha irmã, prima, raramente por namorada. Acho que isso acontecia porque a nossa intimidade ficava-se por alguns passeios de mão dada, mais no Outono e Inverno...
Mas tínhamos uma grande cumplicidade (ainda temos, estas coisas não se perdem com o tempo, mesmo que estejamos meses ou anos sem nos vermos e trocar uma palavra...), talvez por isso alguns amigos comuns pensavam que andávamos "enroscados". Não, éramos demasiado amigos para isso. Coisas que nem toda a gente percebe...
Reparo agora que fiz um desvio na prosa para falar de nós e ainda não toquei nos contra sensos nocturnos.
Passados estes anos todos, chegámos à conclusão que a noite é ligeiramente mais postiça e falsa do que pensávamos, aquela história das pessoas serem mais autênticas com a boleia das estrelas nocturnas, é um "bluff". Muitas vezes não passam de "personagens"...
Realmente passavam-se coisas muito estranhas entre a meia-noite e as três, quatro da manhã. Muita daquela gente que sorria, brincava, entre copos e música, se as encontrássemos na rua no dia seguinte, faziam de conta que não nos conheciam.
Talvez fosse por isso que descobrimos mais uma coisa em comum, as saudades desse tempo.
Praticamente nenhumas. Porque será?
Já há muito que se diz que a noite é uma mulher, mas talvez seja uma mulher pintada, como a representada no óleo de Liana Bennett...