Estava a passar pelo largo do Bairro da Ponte (Caldas), onde ficava a velha sede dos "Pimpões" e se organizavam os bailes dos Santos Populares (há anos que já lá vão...), quando reparei num velho sentado a uma mesa da pequena esplanada de um café de supermercado, entretido a ler banda desenhada. Lia um dos clássicos de Walt Disney, que eram a "oitava maravilha" das leituras da minha infância. Nesse tempo eram escritos em brasileiro (importados do Brasil...). Penso que só depois do 25 de Abril é que se começaram a fazer edições em Portugal.
Vendo que o homem estava completamente absorvido pela leitura, não resisti a tirar "um boneco" (meio à pressa nem ficou com a nitidez desejada, não fosse ele olhar para mim e "estragar a fotografia"...).
Só depois, quando olhei o retrato com "olhos de ver", é que verifiquei que estava a fazer publicidade ao grupo de supermercados. Nada que me preocupasse, até porque eu sempre gostei de publicidade (sou até coleccionador, tenho centenas de recortes da imprensa...) e faço-a por aqui de forma ocasional e gratuita.
Este pequeno episódio lembrou-me uma chamada de atenção de um dos responsáveis pela Oficina de Cultura de Almada, quando lá fiz a minha última grande exposição. Uma das minhas fotografias com um plano geral da Praça da Fruta das Caldas tinha ao fundo, em letras muito pequeninas, o nome de uma instituição bancária. O senhor começou por me dizer que aquilo era publicidade e que não podia constar no folheto. Claro que lhe disse que era uma fotografia de um lugar e que não podia "apagar" as coisas que por lá existiam. Ou seja, se estava a fazer publicidade, era à Praça da Fruta. E claro que fui intransigente. A exposição era minha, era eu que mandava nas minhas fotografias. Um pouco a contragosto, o funcionário da Autarquia lá meteu a "viola no saco" e foi dar música para outra freguesia.
Continuo a pensar da mesma forma. Não vou "apagar" a publicidade por estar atrás da pessoa ou do objecto que quero fotografar.
E lá acontece, fazer mais uma vez publicidade, de borla, por aqui no "Largo"...
(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)