segunda-feira, dezembro 30, 2024

A continuação (que se quer quase sempre diferente...)


Amanhã vira-se a página, o 2024 vai embora e chega o 2025.

Muitas vezes falamos do fim de uma coisa e do começo de outra. É mais uma daquelas "patranhas" que tentamos contar, a nós e aos outros, mesmo que sejamos cada vez menos convincentes.

Muitas vezes é uma necessidade nossa, de fingirmos que vai chegar o "novo", o "diferente", o "melhor". 

E se o ano que que está a acabar não foi grande coisa, é mesmo preciso mudar, e tentar, pelo menos no que depende de nós, que o que está quase a chegar seja melhor.

É por isso que vos desejo um bom Ano Novo.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, dezembro 27, 2024

Clamar aos deuses apenas porque sim...


A igreja do líder do Chega e de outros instigadores de ódio que andam por aí, sem esquecer os muitos padres (que se guiam sobretudo pela frase célebre e cada vez mais seguida: "Faz o que eu digo, não faças o que eu faço") poderá ter por lá algum deus menor, mas Jesus de Nazaré, não terá com toda a certeza.

Por muitos padres nossos, avés marias ou credos que saibam dizer, alto ou baixinho, de certeza que não chegam ao tal mundo dos justos e dos iguais, que dizem ser o paraíso.

Provavelmente, isso pouco lhes importa. Querem é andar por cá de barriguinha e bolsos cheios, a satisfazer os seus caprichos. No fundo, talvez acreditem que quando fecharem os olhos acaba tudo, por muito que olhem para o céu e clamem aos deuses...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, dezembro 26, 2024

Apesar dos nacionalismos crescentes, há mais que um país dentro do nosso país...


O que aconteceu em volta do Martim Moniz, acabou por se surgir em muitas conversas, nesta quadra festiva, repartidas por várias casas.

O que notei, é que nem mesmo as pessoas mais conservadoras acharam bem o que passou. Todos estavam de acordo que quando se quer apanhar "foras da lei", não se lança "fogo de artificio". A não ser que o objectivo da operação seja o de  "espantar-bandidos".

Mas nem era sobre isso que eu pretendia escrever. Uma coisa curiosa (quase a entrar no campo do "sexo dos anjos", ou do "nascimento da galinha e do aparecimento do ovo"...), que se falou, era se já nascemos racistas. Uns disseram que sim, outros disseram que não. Eu fui dos que disse "que não", esquecido das coisas que já estão dentro de nós, assim que abrimos os olhos neste mundo...

Mas do que sei, é que se vivermos numa comunidade que não seja racista, por muito que não achemos piada às pessoas de outras cores, temos de "meter a viola no saco" e fingir que somos todos iguais...

Infelizmente não é o que se passa nos nossos dias. Sente-se que o populismo veio para ficar e está cada vez mais à flor da pele, de muito boa gente que nos rodeia.

Mas não há nada a fazer. Apesar do nacionalismo crescente, somos cada vez menos (deixámos de gostar de fazer criancinhas...), a necessidade económica e laboral é quem mais ordena, e isso faz com que exista mais que um país dentro do nosso país...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, dezembro 22, 2024

O Natal já foi outra coisa...


Nunca percebi como é que a igreja (se calhar devia escrever "igrejas"...) entrou neste "logro" que é o Natal do senhor das barbas brancas e das roupas vermelhas, que não deixa de ser uma boa história vinda da Lapónia, mesmo que esteja muito longe de se aproximar, quanto mais de suplantar, a que todos conhecemos sobre o nascimento de Jesus de Nazaré. 

Mas em termos práticos, suplantou. E há já uns anos valentes. 

Na minha infância ainda existia o Menino Jesus e o célebre sapatinho, que se colocava na chaminé. Não me recordo se já existia a "parceria" com o Pai Natal (talvez já fosse uma espécie de funcionário de Deus, ou de Jesus, também com superpoderes...), que com o seu carro e as suas renas chegava a todo lado. E embora fosse anafado, conseguia encolher o corpo e descer por todas as chaminés e deixar os presentes...

Estas histórias estão sempre repletas da palavra "talvez"... E insistindo nela, talvez o Papa e os seus conselheiros tenham achado graça à figura e achassem que podiam utilizá-la, para proveito próprio (mesmo que acabassem por perder o "fio à meada", a meio do caminho)...

Vejam lá, que até fiquei a pensar, que, talvez tenha sido também por causa do Pai Natal que o Salazar, proibiu a "coca-cola" no nosso país. Ele, como qualquer ditador que se prezasse,  era "muito religioso" e não embarcava muito em "americanices"...


sábado, dezembro 21, 2024

Algo de estranho se passa no "reino da Madeira"...


Não acredito que seja apenas o medo da mudança que faz com que as pessoas continuem a votar em Albuquerque, na Madeira.

Mesmo sendo arguido, as pessoas da ilha devem ter a percepção de que continua a ser o mal menor para todas elas.

Isso acontece porque a oposição deve ser do mais "manhoso" que existe, no campo político (e são, ao ponto de terem todos vontade de se unir, só para ascenderem ao poder. Só não o fazem por vergonha...).

Em vez de fazerem pela vida nas campanhas eleitorais, parecem estar à espera de "vitórias administrativas".

Até o "bokassa", que esteve quarenta anos no poder, aparece aqui e ali, armado em "salvador da pátria", a querer vingar-se do homem que o tirou do poder...

Não tenho dúvidas, de que se Albuquerque, vencer as próximas eleições, será a democracia a funcionar, ou seja a vontade do povo.

Mesmo assim, sei que algo de estranho se passa, no "reino da Madeira"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, dezembro 20, 2024

Um Natal com cada vez mais dificuldades em esconder as "misérias humanas"...


Não sei se lhe chame uma coisa curiosa, até porque pode ser mais comum do que aquilo que eu possa imaginar.

À medida que os anos vão passando,  tenho cada vez menos paciência para o Natal.

Sei que em parte isso deve-se a este mundo que nos rodeia, ter cada vez menos ares natalícios (as luzes e as montras não contam...). Gaza, Beirute, Damasco ou Kiev, são os maiores exemplos...

Por outro lado, como tenho os filhos já adultos (ainda não há netos...), perdeu-se um pouco o encanto e a sua alegria contagiante (mesmo que passageira...) em receber presentes...

Tenho vários defeitos, mas a hipocrisia, o cinismo e a inveja, não estão no "pacote" (e ainda bem, são das coisas mais miseráveis e vulgares dos seres humanos...). E esta época traz todas essas coisas - em "tamanho xl" - para as casas, para as ruas, para as igrejas e sobretudo para as lojas.

E se há coisa que nós vamos perdendo com os anos, é a paciência para fazermos fretes.

Claro que isto não tem nada a ver, por exemplo, com a reunião natalícias das famílias. Numa época em que este núcleo especial tem sido tão desvalorizado, é bom que as pessoas que se encontrem, nem que seja, na tal "uma vez por ano"...

É com gosto que janto a 24 com a minha sogra, passo ceia com os meus cunhados e mais família (onde até costuma aparecer o "pai natal"...). Ou almoço a 25 com a minha mãe e o meu irmão...

Mas não consigo suportar este regresso ao passado, ao tempo dos "coitadinhos", com os ricos a voltarem a "escolher" o seu pobrezinho, para a sua ceia (voltou-se a isto, com mais visibilidade, porque os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres...) ou a ver o presidente da república a servir refeições aos sem abrigo (ele bem podia fazer com que o natal para esta gente não fosse apenas um dia. Até lhe dou a ideia de, quando sair do cargo, fomentar estes encontros, mensalmente...).

Nota: Este texto começou por ser publicado no "Casario", depois passou para as "Viagens" e agora fica aqui no "Largo"...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quinta-feira, dezembro 19, 2024

O poeta O' Neill faz hoje cem anos


O poeta O' Neill faz hoje cem anos.

Mesmo num país de grandes poetas, o Alexandre não conseguiu passar despercebido. E ainda bem.

O curioso, foi ele, depois de andar pelos cafés, com um casaco vestido do avesso, à boa maneira surrealista, ter conseguido mudar de rua, e retratar tão bem a nossa vidinha nos seus poemas.

A 17 de Agosto de 2022 escrevi sobre ele aqui no "Largo", porque estava a ler - e a gostar - da biografia da Maria Antónia Oliveira. E agora volto a esse texto, com um sorriso e um aplauso a um poeta, com visões poéticas geniais:

«Normalmente não tenho grande simpatia pelos nossos "génios meio chanfrados" (como são os casos de Luiz Pacheco ou de João César Monteiro, por exemplo), mas o Xana era bastante diferente deste "dueto chupista", embora também tivesse uma vida bastante irregular, não costumava "cuspir na sopa" nem deixar os amigos "descalços".

Mas vamos lá ao livro e ao poeta O'Neill...

A Maria Antónia escreveu esta biografia por aproximações, servindo-se com mestria dos testemunhos de pessoas que o conheceram bastante bem e também de alguns textos autobiográficos (embora a memória do poeta não fosse muito fiável...). A sua primeira esposa, Noémia Delgado, tem um papel importante nesta obra. Percebe-se que ele foi o amor da sua vida, mas não guardou qualquer ressentimento com a separação, nem nunca deixou de o achar um dos nossos grandes poetas.

Gostei de saber que ele além da paixão pela poesia da vida, também gostava bastante das pessoas, de preferência gente humilde, com quem gostava de conversar e acamaradar, de igual para igual. E eram muitas vezes as fontes de inspiração para os poemas e também para a publicidade, que foi o seu melhor "ganha-pão"....

Embora estivesse longe de ser um homem bonito, viveu muitos amores pela vida fora. Era um excelente conversador, levava as mulheres à certa, com o seu humor, a sua poesia e a sua simpatia natural (e também da outra, sedutora...).»

Graças a este livro-retrato, percorri, mais que uma vez, a sua Lisboa, que tinha como "capital", o Príncipe Real...

Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, dezembro 18, 2024

Um argumento forte, como ela...


Cada vez nos era mais difícil dizermos que ela não era actriz.

Puxava da lista da sua filmografia, com a participação em mais de 30 fitas e nós olhávamos uns para os outros, sem saber o que dizer. Escutávamos as suas palavras, naquela sua voz muito fininha, que não resultava em televisão ou cinema, a não ser para interpretar uma qualquer personagem complexa e ridícula. Só que, esses papeis complicados, estavam destinados para os bons actores e não para meros figurantes...

Ela merecia ser confrontada com a realidade, com o facto de nesses trinta e poucos filmes, não ter dito mais de trinta palavras...

Mas para quê? Estragava-se o sonho, a ilusão, ou o que lhe queiramos chamar.

Pensava que ela não sabia como era tratada nas ausências. Estava enganado. Foi ela que me disse, para não me preocupar se ouvisse chamarem-lhe, a "actriz gorda". Acrescentando que essa era a prova de que ela era mesmo actriz...

Parecia ser um argumento forte, parecido como ela...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, dezembro 17, 2024

Estes tempos de demasiadas realidades...


Se a primeira frase foi boa, «Gostei bastante de ler o livro», as restantes, deixaram no ar algumas pontas soltas...

Ele tinha razão quando disse, «A história está cheia de omissões...»

Foi por isso que durante alguns minutos, quando caminhava pelas ruas com cheiro a Natal, fui perseguido por esta frase. Por ser verdadeira e de alguma forma, tocar-me, ainda que indirectamente.

Claro que ele depois tentou amenizar "a coisa". «Não precisas de ficar preocupado, não é nada de grave. São apenas maneiras diferentes de olhar a realidade.»

E são mesmo. E acho que esse é o problema do nosso tempo, há demasiadas realidades, quase uma para cada um de nós...

É por estas razões que as autobiografias, os diários e as memórias, quando são transformados em livros, são quase sempre lidos de formas diferentes...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, dezembro 16, 2024

Egoísmos, oportunismos e fingimentos...


O maior problema dos políticos é a sua capacidade de "fingimento", de fazerem de conta que está tudo bem, ao mesmo tempo que vão passando ao lado dos problemas, sem se preocuparem com as "bolas de neve", que deixam crescer, aqui e ali.

É desta forma que coisas aparentemente simples, que poderiam ter respostas quase imediatas, se tornam com o tempo, autênticos flagelos sociais...

Quando olhamos e escutamos as notícias sobre a gente (quase sempre de pele mais escura...) que ocupa lugares abandonados e os transforma em "bairros", e que depois de terem andado a escapar à lei, quando são confrontados com as ilegalidades, querem que o Estado lhes resolva o problema, a primeira coisa que pensamos é na mentalidade destas pessoas, que querem ter um "estatuto especial" de cidadãos. Acham que têm de ser os poderes, locais e nacionais, a arranjarem-lhes uma casa, quanto a maior parte de nós, teve de comprar ou alugar a casa onde vive...

Ninguém escapa a este "egoísmo" humano, até por muitas vezes sermos confrontados com situações de mero oportunismo, de gente que já tem casa e vai para estes locais, apenas para que lhes "ofereçam uma outra casa"...

Continuo a pensar que se as autoridades actuassem de imediato (em vez de assobiarem para o ar...), colocando fim a estas "ocupações", mal as pessoas se começam a instalar nestes espaços abandonados, degradados e perigosos, se evitavam muitos destes problemas, que crescem quase como cogumelos.

Claro que o problema central continua a não ser este. Nem é apenas a falta de casas. É sim, um outro "oportunismo" de todos aqueles que têm casas para alugar ou vender, e que o tentam fazer pelo maior valor possível...

Eu sei que é a "lei da oferta e da procura" a funcionar, mas...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, dezembro 15, 2024

Ministras com patas de elefante e voz de peixeiras


Este governo apostou, praticamente desde início, em ter políticos (neste caso particular, políticas...) com comportamentos pouco habituais, apontando o dedo de uma forma incisiva, e até ofensiva, aos anteriores detentores dos cargos.

A ministra do Trabalho enxovalhou na praça pública a Provedora da Santa Casa da Misericórdia, demitindo-a do cargo, deixando atrás de si uma série de acusações, a maioria das quais ainda não foram provadas.

A ministra da Saúde, já com um passado de confrontos com o director-geral do sector, preparou o terreno para que este se sentisse desconfortável e fosse embora. O que acabou por acontecer, com danos graves para todos nós...

A ministra da Cultura esteve à espera do último dia (em que se pode demitir sem indemnizar...), para demitir a administradora do CCB, acusando ao mesmo tempo o anterior responsável da pasta de compadrio e de partidarização da cultura. 

Não me lembro de existirem este tipo de acusações, de ministro para ministro, mesmo quando aconteceram vários casos, mais polémicos e prejudiciais ao país (alguns até de polícia e com o recurso aos tribunais), ao longo dos últimos quarenta anos de democracia.

Mas o mais curioso, é não se notar nada de novo, de verdadeiramente reformador, nestes sectores. Especialmente no da saúde, onde os problemas se têm multiplicado neste último ano...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, dezembro 14, 2024

«As revoluções são campos de pasto, do melhor, para os oportunistas.»

 


Todos sabíamos que ele estava certo.

«As revoluções são campos de pasto, do melhor, para os oportunistas.»

A publicidade dera-lhe ginástica mental para dizer muito em poucas palavras. Sem falar do poeta, escondido, apenas de gaveta...

A maioria de nós tinha exemplos na família de gente que até ao dia 25, eram "perigosos comunistas", e que a partir de 26, passaram a ser "burgueses" ( e algumas vezes, em surdina, "fascistas"...).

A Síria não vai ser diferente das outras revoluções, por muito que inventem os  "leitores de cartas" e de "mãos"...

(Fotografia de Luis Eme - Lisboa)


sexta-feira, dezembro 13, 2024

Cada vez se olha mais para o outro, de lado, ou por baixo...


Cada vez se olha menos de frente, para a gente anónima com quem nos cruzamos, nas ruas do mundo.

Prefere-se olhar de lado, por baixo, ou simplesmente não olhar.

Claro que eu continuo a andar por aí, contra a corrente, olho para o mundo de frente. Continuo teimoso.

Os olhos podem enganar, mas têm de ter muito treino, para conseguirem dizer uma coisa e serem outra...

Pior que isso, só mesmo a desconfiança pelas bons intenções dos outros. 

Não, ainda não somos todos uns "filhos da puta", mesmo fora da época natalícia...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, dezembro 12, 2024

Direitos adquiridos com prazos de validade...


Não tenho grande opinião sobre a Síria, por desconhecer a história do país e do seu povo. A única coisa que sei é que era dominada por um ditador, que deixa atrás de si um rasto de sangue e muitos mortos, uns conhecidos e outros noticiados como "desaparecidos"...

Foi por isso que me limitei a escutar a história de vida de uma mulher que viveu por lá e que não pensa em voltar. Além de gostar de ser europeia, tem um marido e um novo país, ambos portugueses.

Quando regressava a casa pensei em algumas coisas que escutei e percebi que o que aconteceu no Afeganistão, persegue muitas destas mulheres, que de um momento para o outro podem deixar de ser pessoas e passarem a ser "objectos" telecomandados pelos homens...

Tinha nas mãos um livro que desconhecia, de José Gomes Ferreira, "O Sabor das Trevas". Um romance escrito com a fina ironia do poeta, que nos dava o retrato do portagalito dos anos sessenta, que se debatia com uma coisa que hoje até nos pode fazer rir: o uso de calças por parte das mulheres.

As mulheres conseguiram fintar a questão estética (mesmo as mulheres com mais de noventa quilos que andam pelas ruas de calças de licra e se tornam "mostrengas" aos nossos olhos, não abdicam da liberdade de usarem o que lhes apetece...) em favor do conforto. E ainda bem.

É por isso que transcrevo um curto parágrafo do livro: «Pois eu não me ralo - explodia a gorducha com aquele ênfase vingativo das mulheres feias - Os homens que se encham de paciência e não olhem para mim. Não lhes faltam miúdas giras por essas ruas. Mas lá frio nas pernas é que eu não apanho.»

Quando somos educados num mundo quase normal, custa-nos mais perceber as Alyssas ou o Mohamedes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, dezembro 10, 2024

Prometer o que não se pode (e não se quer dar) nas culturas...

A cultura continua a ser o parente pobre das políticas do nosso país.

A maior parte das queixas, que se ouvem aqui e ali, têm razão de ser,  e ainda aumentam quando se trata de governos que apostam mais na propaganda que na acção. Isso aconteceu com António Costa e continua a acontecer com Luís Montenegro. Tanto um como o outro fingem pensar que as pessoas são todas estúpidas, que gostam de comer "gato por lebre" e ainda são capazes de dizer no fim do "repasto: "está tudo muito bom"... 

Sei que eles sabem que as pessoas das culturas pensam pelas suas cabeças. São pessoas que gostam de ler, de conversar e de estarem bem informadas. O seu grande problema é fazerem parte de áreas onde não se produz lucro (felizmente graças ao turismo o património - museus e monumentos - tem sido bastante lucrativo, quase de uma forma natural, sem que tivesse existido uma aposta séria no sector...), porque não existe uma "indústria cultural", nunca houve uma política de desenvolvimento séria.

Os políticos continuam a olhar para a cultura e para os seus agentes, como pessoas que fazem umas coisas giras, boas para usar nas campanhas eleitorais, que entretem outras pessoas e precisam de umas "esmolas". Mas que não podem, nem devem, ser levados muito a sério, até porque podem tornar-se "perigosos". É por isso que também dá jeito tratá-los como "tontinhos"...

É por isso que se aposta muito mais (como em quase tudo que não é lucrativo na sociedade mas pode "dar votos"...) na subsidiodependência que na autosuficiência. Os políticos gostam de "controlar" as pessoas e os grupos que fazem teatro, cinema, dança, pintura, música, etc., dando depois uns "doces" aos que consideram "seus" e uns "coices" a todos outros...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, dezembro 09, 2024

A arte de "roubar" rostos e corpos de pessoas dentro das fotografias...


Um amigo chamou-me a atenção para o "excessivo" cuidado que eu tive com a publicação da imagem de ontem.

Disse-lhe que não houve nada de excessivo. Embora o "direito à imagem" proteja as crianças (cortei o bebé que estava no carrinho...) e as pessoas que estejam no espaço público em situações de fragilidade (e muito bem), que não era o caso. 

Tirei três fotografias a este grupo de mães e filhos. Esta era a mais discreta, mas também a que se via bem, as senhoras com a cana de pesca na mão. Achei este o aspecto mais curioso, elas estarem à pesca mesmo junto ao cais dos cacilheiros (que até é um dos lugares mais poluídos de Cacilhas à beira rio...), onde existem tainhas aos magotes.

Há muita gente que não gosta de ser fotografado, mas é impossível que isso não aconteça, nos dias de hoje. Quando estamos a querer tirar uma fotografia a qualquer monumento ou lugar especial, há sempre alguém que nos diz que os humanos também fazem parte da paisagem... 

Acho que foi "esta realidade" que me fez perder qualquer pudor, em relação ao tirar fotografias a pessoas no espaço público, mesmo que as tente apanhar de lado ou detrás, para que possam ser uma pessoa qualquer...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, dezembro 08, 2024

A Europa não é o Oriente...


Há uma questão da qual nunca se fala, quando nos referimos às diferenças sociais, atribuídas às crenças e credos religiosos.

Estava a ver duas mães rodeadas dos filhos, a pescarem, rente ao Tejo, ainda em Cacilhas, no começo do Ginjal, com o rosto tapado com as suas "burkas" e fiquei a pensar nas crianças que as rodeavam.

Por muito que os pais insistam em "viver numa ilha", eles com toda a certeza, andam na escola, até porque é decisivo que aprendam português, para serem cidadãos como nós, para conhecerem melhor este mundo diferente que os cerca.

Será que eles acham graça a este "baile de máscaras" protagonizado diariamente pelas suas mães (sei que ainda há uma pergunta a fazer antes desta, é se estas mulheres se sentem confortáveis, quando circulam de rosto escondido, nas nossas ruas...)?

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, dezembro 07, 2024

Mário Soares: um político de corpo inteiro


Mário Soares nunca foi um dos meus políticos preferidos. Sempre achei que ele era capaz de fazer tudo pelo poder. E de certa forma era...

Mas com o tempo fui percebendo que ele tinha uma intuição política única, o que fazia com que tivesse muitas vezes razão,  antes do tempo.

Embora fosse amigo do seu amigo, não evitava desafios, nem desistia daquilo que achava ser melhor para todos (mesmo que estivesse errado...). Isso explica, em parte, as "zangas" com Salgado Zenha e com Manuel Alegre, que lhe eram muito próximos. O mais curioso foi ambas terem sido provocadas por duas eleições presidenciais, distintas, em que experimentou o sabor da vitória e o sabor da derrota.

Com um olhar quase de historiador, não tenho qualquer dúvida, de que Mário Soares foi a grande figura política do nosso país dos últimos cinquenta anos. 

Os dois pontos pela qual é mais criticado pelos extremistas, são aqueles é que teve um papel decisivo para a nossa democracia (só não foi para a democracia dos outros, porque eles não quiseram...). 

Refiro-me ao processo da descolonização, que nas circunstâncias em que se realizou, dificilmente poderia ter outro resultado. As guerras pelo poder, protagonizadas entre o MPLA e a UNITA em Angola e pela FRELINO e RENAMO em Moçambique, ultrapassaram as nossas fronteiras e acabaram por dar razão aos nossos políticos, por muito que isso faça doer a todos aqueles que viveram por lá e tiveram de partir de um dia para o outro, abandonando os seus lares e os seus bens.

Sobre o 25 de Novembro já se disse praticamente tudo. Foi ele quem enfrentou os extremismos, da esquerda e da direita, foi ele quem se uniu aos militares democratas e devolveu o rumo certo ao nosso país.

Não tenho qualquer dúvida de que, sem a influência de Mário Soares, seríamos um país pior, em todos os sentidos.

Na actualidade, faz-nos muita falta um político com a sua intuição, para combater o populismo e a mentira, crescentes, desta extrema direita, cada vez mais difícil de classificar.

(Óleo de Júlio Pomar)


sexta-feira, dezembro 06, 2024

O olhar e as palavras dos outros...


Por vezes não temos assunto, não sabemos como começar, outras andamos com duas ou três coisas na cabeça, sobre a qual podíamos escrever.

Podia começar pela beleza feminina, que não é sempre igual (deve acontecer o mesmo com a masculina...). Não digo isto apenas pelo encontro de sexta feira, em que encontrei uma amiga que não via há uma porção de dias, que me sorriu, de uma forma radiosa. O dia (ou até a semana...) devia estar a correr-lhe bem,  senti que transportava dentro si mais luz que a habitual. 

Luz essa que conseguia passava para os outros...

Quase no mesmo lugar, encontrei dois amigos, sentados em mesas diferentes, que me levaram a viajar de um lado para o outro do restaurante, para lhes dar um olá. Tinham ambos a mesma novidade, nada agradável, um amigo comum que se tinha sentido mal dias antes,  foi às urgências do hospital e acabou internado. Fiquei com o "relatório médico" completo, as informações de um e de outro, complementaram-se...

Quando voltava a casa, fiquei a pensar que sou mesmo mais de ouvir que de falar. Nos casos de doenças (e se calhar de tudo...) dou sempre o mínimo de informação possível, para não estar armado em médico, muito menos a desafiar o futuro.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, dezembro 04, 2024

Eles não sabem, mas o teatro é o exagero da realidade...


A maior parte da gente que o conhece, não percebe nem olha com bons olhos para a sua paixão pelo palco.

As conversas quase de ouvido, têm quase sempre apenas um sentido, a sua vaidade pessoal, o querer exibir-se, o querer mostrar-se, em qualquer palco.

Esquecem a sua vontade de ajudar, o querer estar, o querer fazer, a aceitação de qualquer papel mesmo que seja de um simples figurante, como o de um actor amador menor, que ficou no "anedotário local", por causa da mulher. Falo do Tó da Mutela, que também gostava de tudo aquilo, de estar ali ao lado de todos aqueles homens e mulheres com muito mais jeito que ele para a arte de talma.

Quando me contaram a história da "queda em palco", sorri e lembrei-me logo do Tó...

Sim, é histórica a frase da sua mulher após a estreia. Depois de lhe fazer o jantar mais cedo, vê-lo sair de casa e passar os serões a ensaiar a nova peça do grupo cénico, meses seguidos, disse: «Tanta merda para isto? Para atravessares o palco, três vezes, de um lado ao outro, e dizeres apenas boa noite?», insistindo, irritada, «para dizeres uma merda de um boa noite, não era preciso ensaio nenhum.»

Claro que era preciso ensaio. Mas eles não sabem, nem sonham... 

O Tó tinha de conhecer a deixa, tinha de saber o caminho que iria percorrer, de um lado para o outro, no palco. Bastava um precalço para tornar o drama numa comédia...

O que ela nunca percebeu, foi a paixão do seu homem pelo palco, o querer estar ali, participar, nem que fosse apenas para ver os outros. 

Talvez preferisse que ele passasse os serões na taberna (lá não havia mulheres) e não no ensaio...

Foi por isso que percebi a frase do encenador, quando dois ou três elementos do grupo, o criticavam: «Dêem-lhe espaço, deixem-no ter o seu momento, deixem-no cair, sozinho...» 

O papel que fazia, era de um amante, que acabava assassinado em palco. Achavam que ele não caia com naturalidade, fazia um espectáculo dentro de um espectáculo. 

Eles fingiam não perceber que o teatro é isso, é o exagero da realidade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, dezembro 03, 2024

As tertúlias de café, das certezas e das dúvidas...


Estava sozinho a beber café, mesmo ao lado de um grupo de tertulianos, que passam a manhã, por ali, a pôr as "certezas" em dia.

Pensei nas minhas tertúlias, que são tão diferentes daquela. Normalmente são povoadas de gente cheia de dúvidas, que se senta para ver se aprende alguma coisa, e se diverte, claro.

Percebi à légua que um deles, ainda tinha mais certezas, que todos os outros. Ouvi-o dizer pelo menos três vezes: «Não é nada disso.» Antes de tentar vender o seu "charrouco" aos companheiros.

Ao contrário daqueles senhores, temos algumas dúvidas de que o Sporting vá ser campeão ou que o Almirante possa ser Presidente da República...

E o melhor disto tudo, é não fazermos apostas, não termos medo de errar ou de estar errados. 

O pior que nos pode acontecer, no dia seguinte, é sermos alvo de "chacota" durante um ou dois minutos.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, dezembro 02, 2024

A fronteira entre o que se pode e o que se deve fazer...


Não deixa de ser curioso, que sejam quase sempre os "moralistas de pacotilha", quem mais entra em jogos proibidos, de formas pouco inocentes. Muitas vezes basta olhar para a nossa roda de amigos ou conhecidos...

Sim, nem é preciso ir à América, aos políticos que são contra a prostituição e frequentam bordéis. Ou pior ainda, aos que são contra o aborto, mas pagam interrupções da gravidez às suas amantes.

Passa-se o mesmo com a droga. O mais comum é assistir a consumidores quase "clandestinos", ligados aos poderes, serem contra a sua legalização. E nem falo das preferências sexuais, com tanta gente "presa dentro no armário", que finge ser contra coisas tão simples como o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Provavelmente nunca existiram tantos políticos a seguir a cartilha: "faz o que eu digo, não faças o que eu faço", como nos nossos dias...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, dezembro 01, 2024

«Toda a gente quer receber e ninguém quer dar»


«Toda a gente quer receber e ninguém quer dar.»

Esta é uma das frase que não devem ser ditas, pelo menos nesta época do Natal.

Ligas a televisão, vês as notícias sobre toda a gente que doou toneladas alimentos ao Banco Alimentar, e pensas de imediato que quem diz uma frase destas, anda "a brincar com a malta".

Talvez seja necessário colocar os "pobrezinhos" de lado, e olhar para a sociedade com alguma frieza. E até para a nossa casa...

Perceber a indiferença crescente em relação ao outro. Pior que este esquecimento do outro, é o egoísmo, também crescente. Talvez ele até se note mais nas famílias, como me disse a Rita, com quem não me encontrava à meses.

Falou-me das dificuldades que tem em compreender a filha, de dezoito anos. Sabe que o problema é da miúda sempre ter tido tudo, não sonha sequer o que é viver com dificuldades. Se soubesse o que é querer comprar uma peça de roupa, um creme ou um perfume (só para falar dos "pequenos luxos"), e não ter dinheiro para isso... Talvez pensasse duas vezes em vez de dizer coisas parvas.

Por muito que se ande por aí a tentar fugir da realidade (os governos de propaganda, tanto do Costa como de Montenegro, ajudam mais do que parece...), não consigo deixar de dar razão à Rita...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)