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quinta-feira, novembro 28, 2024

Segurança & propaganda política


Não consigo perceber onde é que o primeiro-ministro, quis chegar, com as afirmações que fez sobre a segurança e sobre crimes no nosso país, durante a semana.

Além de revelar a sua já habitual "esperteza saloia" na interpretação de números, conseguiu ser infeliz (e até ofensivo), especialmente em relação aos crimes e às vítimas de violência doméstica, na sua primeira intervenção.

Em relação à sua segunda intervenção, sei que não se devem criar alarmismos, nem dar a importância, que o "canal do crime" português não tem, por mais audiências que sonhe ter. Mas também não se pode enfiar a "cabeça na areia" e fingir que está tudo bem (não está, os incidentes nos subúrbios de Lisboa, provam isso...).

Até porque Montenegro não é uma daquelas pessoas que falam muito bem de boca fechada (como é o caso da sua ministra da Administração Interna ou como foi o caso do ministro Cabrita no governo de António Costa...). Ele sabe muito bem o que diz e o que quer dizer.

Talvez ande mesmo em busca do eleitorado perdido para o Chega. Há uma grande probabilidade de o líder do PS estar certo.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, outubro 28, 2024

«Nós, não somos bons. Somos muito bons, na arte de "enfiar a cabeça na areia"»


O Rui nunca escondeu a ninguém que cresceu no famoso "Bairro do Pica-Pau Amarelo". 

Felizmente, não foi uma coisa para todo o sempre. À distância de trinta e muitos anos, sente que não lhe fez mal nenhum conhecer gente tão diferente. Muito menos ter amigos de todas as cores.

Sentiu na pele, literalmente, desde muito cedo, que era um felizardo. Os suspeitos de qualquer coisa no bairro, tinham sempre a pele mais escura que ele.

Contou-me tudo isso, depois de ler o que escrevi aqui no blogue, sobre racismo. Mas foi ainda mais longe. Falou-me de outro problema, não menos problemático, o machismo reinante, a imensidão de homens bêbados que batiam quase diariamente nas mulheres, apenas porque sim. 

Acrescentou que essa foi a principal razão para a sua família sair do bairro. Os pais não suportavam a "normalidade" da violência doméstica naquele lugar. Se havia coisa que o seu pai se orgulhava, era de nunca ter levantado à mão à mãe. E acabou por ter problemas na vizinhança, por  ter "metido a colher entre homem e mulher", mais que uma vez...

Chocou-o ver o primeiro-ministro a falar de Portugal, como se fosse um autêntico paraíso, quase sem crimes, quase sem criminosos. E foi ainda mais longe, quando explicou que o número de mulheres que são mortas pelos companheiros ou ex-companheiros, os pretos que são presos e agredidos nas esquadras, culpados apenas de terem a pele mais escura, estão fora destas estatísticas.

Foi por isso que me disse: «Nós, não somos bons. Somos muito bons na arte de "enfiar a cabeça na areia".»

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

 

quarta-feira, outubro 23, 2024

As "narrativas para todos os gostos"...


Eu sei que nunca nos faltaram bons mentirosos, da mesma forma que também sei que a sua existência era quase anedótica, pouca gente os levava a sério. Algo que não os incomodava nem um pouco. Até tinham um certo gozo em serem descobertos e apontados a dedo, por terem uma imaginação demasiado fértil.

O problema foi quando a mentira (aliás os mentirosos...) entrou em campo e começou a querer passar pela verdade, a deixar o riso de lado e ficar com o ar mais sério do mundo. 

A América voltou a dizer-nos, de que tudo é possível, com a eleição de um presidente, capaz de mentir até nos seus sonhos. Não foi preciso esperar muito pelas imitações...

Grave foi ela ter conseguido entrar no Parlamento, agarrada a um novo partido, que no início parecia enganar apenas os "incautos" do costume. Com a técnica dos "vendedores de banha da cobra", foram-se aproveitando da indignação e indecisão crescentes e enganaram muito mais gente, do que eles próprios deviam prever. Ao ponto de terem conseguido arranjar emprego a cinquenta "inimigos da verdade" na Casa da Democracia nas últimas Legislativas.

E com eles, não só se popularizaram, ainda mais, as "narrativas para todos os gostos", como se banalizou a falta de respeito pelo próximo, com um comportamento público indecoroso.

Como de costume, tinha pensado em escrever outra coisa. Queria apenas chegar a este tempo em que vivemos, com as tais "narrativas para todos os gostos".

Por falar em narrativas, e se o Odair Moniz,  assassinado por um agente da polícia, nem sequer tinha uma arma preta nas mãos, quanto mais branca?

Sim, porque para variar, temos várias versões populares do triste acontecimento. E até a polícia, tem pelo menos duas versões do que sucedeu (a oficial e a oficiosa)...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, setembro 19, 2024

Os "fora da lei", que são tão perigosos como os incendiários...


Vou falar pela última vez dos incêndios, pelo menos nos tempos mais próximos.

Incomoda-me bastante que se continue a falar das alterações climáticas, do abandono do interior ou da falta de ordenamento florestal, quando há culpados, gente com responsabilidade, que devia fazer cumprir a  lei, e não o faz.

Os incêndios só chegaram às povoações porque não foi feita a limpeza nos terrenos próximos, alguns dos quais nem sequer deviam existir, porque depois de 2017, foram aprovadas várias leis que delimitam as áreas de floresta ou matas, tanto junto às localidades como junto às estradas.

Infelizmente, o habitual facilitismo português faz com que não se cumpra a lei. A GNR fecha os olhos e não multa, nem obriga as pessoas a limparem os seus terrenos, os autarcas das Juntas de Freguesia, assobiam para o ar e fingem não perceber o risco em que colocam os habitantes de aldeias e vilas, que vivem no meio da natureza. 

Quando  surgem situações climáticas completamente anómalas, com temperatura a mais, humidade a menos e demasiado vento, o fogo transforma-se num verdadeiro pesadelo, quase sempre incontrolável. 

Mas isto não deve fazer com que se esqueçam os dramas humanos, que poderiam ter sido evitados. Para que tal acontecesse, bastava que se cumprisse a lei e se fizesse a prevenção tão necessária...

Embora pouca gente fale deles, estes "fora da lei", são tão perigosos como os incendiários.

(Fotografia de Luís Eme - Oeste)


sexta-feira, setembro 13, 2024

Governantes que passam o tempo a "brincar com o fogo" (ano após ano)...


Este título não é para seguir, de uma forma literal, mesmo que este Setembro ventoso, esteja a trazer de volta o drama dos fogos, de Norte a Sul. 

Falo de ministros que fingem resolver os problemas, seja na Educação, na Saúde ou na Justiça. De ano para ano, vemos que os problemas anteriores, não só se mantêm, como se agravaram.

Pergunto: como é que é possível, que num país que na actualidade se debate com a falta de professores, continue a ter os problemas de sempre, na sua colocação? Com gente a ter de continuar a dar aulas, a 200 e 300 quilómetros de casa. É no mínimo, vergonhoso.

Fala-se que cada vez se nasce menos no nosso país (sei que os emigrantes têm equilibrado a "balança", felizmente...), como é que é possível assistirmos todas as semanas a problemas graves (com mães e filhos em risco...), a episódios caricatos, com ambulâncias a deslocarem-se para mais que um hospital (chegam a percorrer mais de 200 quilómetros...) que não estão preparados para receber grávidas? O curioso, é que ao mesmo tempo que se fecham serviços públicos no SNS, surgem novos hospitais e clinicas particulares em praticamente todos os distritos...

Como é que possível que os ministros da justiça e da administração interna, não consigam resolver os problemas com os agentes policiais e os guardas prisionais, tratando-os como meros funcionários públicos? Eles têm funções especiais, pelo que devem ter um tratamento também especial, para que não aconteça o que acontece hoje: não se vê um agente na rua (a excepção são os polícias municipais nas cidades grandes...), cuja presença física também dava um forte contributo na segurança dos cidadãos. E quando um guarda prisional nem sequer se dá ao trabalho de olhar para as câmaras de vigilância da prisão (seja por falta de pessoal ou de vontade), está tudo dito...

É uma vergonha a falta de sentido de estado dos nossos ministros (sejam eles sociais democratas ou socialistas). Salvo raras excepções, nota-se que estão mais vocacionados para "cortar fitas" e vender "banha da cobra", que para resolver os problemas graves que se avolumam, ano após ano, nos seus ministérios.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, abril 17, 2024

Crimes (quase) perfeitos e polícias demasiado humanos...


A televisão alimenta muitas conversas, penso mesmo que falo mais de séries policiais que de "livros pretos". Entre outras coisas, porque se vê mais televisão e se lêem menos livros. Mas há trinta anos já era assim, não fale a pena falarmos da mudança de hábitos provocada pelos ventos da modernidade.

Por causa de uma série, a conversa avançou e fixou-se em quase uma dúzia de crimes que nunca foram resolvidos (andámos desde o padre Max até à jovem grávida da Murtosa, sem esquecer a menina inglesa que estava de férias no Algarve...).

Claro que as causas da não resolução dos crimes nem sempre tinham pontos comuns (a excepção era a falta do corpo da vítima em vários casos...). Foi por isso que acabámos por focar a conversa nos "crimes perfeitos" e nos "polícias incompetentes", por fazerem mais parte da ficção que da realidade, ou seja, serem normalmente mais explorados nos livros, nos filmes e nas séries. 

Nos livros então, há quase sempre um detective particular (que funciona em paralelo com as polícias...), que é mais aberto e mais claro na exploração das pistas, descobrindo a maior parte dos assassinos, antes das autoridades policiais, que também têm como papel fazer "figura de parvo" nas histórias. 

As conversas são mesmo como as cerejas. Continuámos de viagem, ao lado de autores, que tal como nós, dispensavam a arrogância e as "certezas" das polícias, tão fáceis de caricaturar na ficção...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, março 13, 2024

O equilíbrio e bom senso que faltam cada vez mais neste nosso país...


Uma simples frase do folheto de um partido que parece ser uma "multinacional" (Volt), com uma cabeça de lista bonitinha e bem falante, sem ter tiques de "vendedora de feira", criou uma conversa, que a breves momentos parecia uma discussão. Tudo isto porque adoramos o nosso lado italiano de comunicação, em que falamos com tudo, palavras, mãos, braços, cabeça (mas sem qualquer vestígio de violência ou chatice séria, mesmo que isso possa transparecer para as mesas ao lado, durante o almoço...).

Todos estávamos de acordo que não era preciso irmos tão longe e termos "paixão pelo bom senso", como a Inês, mas que cada vez se notava menos equilíbrio e até inteligência, nas relações humanas, fosse no trabalho, em casa ou no comércio, ninguém qualquer tinha dúvida...

Quando dizíamos uns aos outros, que nunca fomos muito bons da cabeça, mas desde a pandemia, vamos mais facilmente do "oito ao oitenta". Parece que cada vez há menos meio termo, em praticamente tudo. Ergueu-se uma voz discordante.

O Jorge disse que a "pandemia" não tinha nada a ver com isso.

Não concordámos. Foi quando ele trouxe a justiça para a mesa, que era um dos factores essenciais de equilíbrio social, e que desde que se tornou uma "telenovela", com actores alexandrinos e rosinhas com e sem limões (são palavras dele...), nunca mais houve bom senso. E isso tornou-se mais grave quando se prendeu um ex-primeiro-ministro em directo no aeroporto. Ainda faltavam uns anitos para levarmos com a pandemia. E depois trouxe o último caso, não menos polémico nem menos telenovelesco, em que embarcaram 300 pessoas, a maioria inspectores da judiciária, num avião militar, para prenderem meia-dúzia de pessoas, que depois de estarem detidos de forma ilegal durante uns quinze dias, foram libertados sem que lhes fosse atribuída culpa de qualquer crime.

Como o Jorge estava com a corda toda, ainda nos deu mais um exemplo, este ainda mais gritante e verdadeiro, a acção policial. Onde devia existir mais sangue frio e bom senso, opta-se quase sempre, ora pelo deixa andar ou pela violência gratuíta. Ora se fecha os olhos (se foram meia-dúzia os criminosos, não vá sobrar para eles e ultimamente tem sobrado mais vezes...), ou se apanham um ou dois suspeitos, e antes de fazerem perguntas, usam-se logo os cassetetes, as botas e até os punhos nos seus corpos.

Não estávamos à espera de ser tão contrariados (houve mais exemplos). Pensávamos que tudo mudara depois da "pandemia", e afinal as coisas já estavam desequilibradas, vários anos antes...

Claro que as coisas estão pior. E ainda temos a guerra, que estando longe, parece estar perto...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, fevereiro 15, 2024

As frases batidas e os "heróis" do costume...


Ontem escrevi sobre o "Laranjadas", porque não me apeteceu voltar a falar da justiça, das coisas que se passam neste país e quase ninguém percebe (penso eu)...

O que já todos percebemos é que existe um problema grave entre o ministério público, as polícias e os tribunais (e também a comunicação social que gosta de "fingir" que não sabe o que é segredo de justiça). 

É bom que ele seja resolvido, rapidamente. E que os políticos não se continuem a escudar na frase cada vez mais batida: "à política o que é da política, à justiça o que é da justiça"...

Acho que todos sabemos que quando a justiça faz bem o seu papel, não se fala dela, muitos menos em juízes, polícias ou procuradores. E para que isso aconteça com frequência, não são necessários "juízes justiceiros", "procuradores super-heróis", muito menos polícias, que gostam de se fazer acompanhar pelas televisões, quase como "guarda de honra", quando deviam ser "invisíveis"... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Um esboço de autarcas, "quase modelo", com envelopes (e até estantes e diamantes...)


Os almoços tertulianos das segundas oferecem-me sempre um ou outro tema, que poderei, ou não, explorar por aqui.

Nunca tinha pensado nisso, mas faz todo o sentido, que sejam os "extras" que aumentam os pecúlios dos autarcas, que os levam a permanecer tempo demais no poder, e não apenas o gosto de ouvir o trato de "senhor presidente", nas ruas e nas festarolas. 

Embora quem ganhe 1000 euros ou menos ache graça dizer-se que os políticos do nosso país são mal pagos, é esse o pensamento geral desta classe que vai fingindo que governa, enquanto se vai "governando", seja através de envelopes que aparecem dentro de caixas ou livros (Sim, livros. Nunca me esqueço do construtor que gostava de oferecer livros a presidentes de câmara e que um mês depois telefonava a perguntar se eles já tinham lido o livro e se tinham gostado... Ouvi a história da boca do próprio durante um serão, bem comido, bem bebido e bem conversado, que também nos disse que preferia trabalhar em Angola, onde era tudo mais simples, e não precisava de perder tempo a comprar livros...).

Nada do que acontece na Madeira, em Espinho ou em Vila Real de Santo António (é mesmo assim, percorre todo o Continente e Ilhas...), é estranho.

E também não devíamos estranhar o sentimento de "impunidade" que eles sentem, ao ponto de se tornarem cada vez mais distraídos, na forma como recebem os "envelopes" e também na exibição cada vez mais vistosa dos sinais exteriores de riqueza (que são quase sempre a sua perdição, devido à bendita "inveja", que dizem ser portuguesa...). 

E depois o ministério público e as polícias enchem-se de brios, chamam a comunicação social e anunciam mais uma "grande operação"...

Algum tempo depois descobrimos que a montanha pariu mais um rato. Embora seja normal eles ficarem tempo demais em "preventiva", também ficam a aguardar o julgamento em liberdade, até quase ao "infinito e mais além"...

Que dizer mais? A nossa realidade parece-se tantas vezes com um mero "teatro de costumes", entre a comédia e a farsa, ao ponto de chegar um momento em que nos parece, que tudo o que nos rodeia "é a brincar"... 

Claro que é uma "brincadeira séria", para quem ganha apenas mil euros ou menos, que tem que fazer pela vida. Como não recebe "suplementos" em envelopes, tem de inventar segundos e terceiros empregos para alimentar a prole que tem em casa...

Mais uma vez deixei as palavras à solta, sem ter a certeza se era sobre isto que queria mesmo escrever. Mas como "já está", não vale a pena "riscar" nem "apagar". 

Mas era tão bom que este país do esboço não passasse de uma invenção...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, fevereiro 06, 2024

A Justiça "justiceira", que "prende" mais gente dentro da televisão que nos tribunais...


Há já alguns anos que não consigo perceber muito bem o comportamento das nossas polícias de investigação, do ministério público, e sobretudo dos juízes dos tribunais.

Não sei se sou eu que vejo filmes a mais, ou se são eles. Embora também exista a possibilidade de andarmos todos a ver os "filmes errados".

Não vou dizer que a realidade é outra coisa, porque muitos filmes são o espelho do mundo que nos cerca. Mas incomoda-me todo este espectáculo, que conta sempre com a cumplicidade da nossa comunicação mais populista e "voyeurista" (até parecem terem conhecimento das coisas antes das próprias autoridades...).

Sinto que a justiça não tem nada a ganhar com esta gente que adora vestir a capa de "super-herói", antes de se sentarem nos palcos dos tribunais.

E o resultado de todo este espectáculo, são as prisões em directo, que se prolongam cada vez mais no tempo, ao ponto de prenderem pessoas, durante mais de uma semana, para depois as libertarem sem qualquer acusação (o caso mais gritante deverá ter sido o autarca de Sines...). O mesmo poderá acontecer com os "corruptos" da Madeira ou com os "bandidos" da claque do Porto (mesmo que não sejam culpados pela justiça, já não se safam destes rótulos, colocados pela comunicação social...). 

Não tenho qualquer simpatia por qualquer destas pessoas que foram presas (nem tão pouco sei quem são...). Até porque isso neste momento é o que me interessa menos. O que verdadeiramente me interessa é o método, a forma como se investiga, a forma como se prende, a forma como se acusa e a forma como - quase sempre - se liberta.

Parece que a justiça em vez de ser uma coisa séria, é uma "coisa de brincar". 

Sei que esta "brincadeira" dá muito jeito aos "sócrates, salgados, berardos e pinhos", que apesar de serem tudo menos inocentes, brincam mesmo com o estado de direito e com todos nós. Mas não é essa gente que me interessa. Interessa-me sim falar das pessoas que acabam por ser inocentadas, depois de passarem anos no "purgatório".  Ao ponto de as obrigar muitas vezes a mudarem de cidade e até de país, para voltarem a ter uma vida aparentemente normal.

Não é por acaso que nos países verdadeiramente humanistas se diz que mais vale dez culpados em liberdade que um inocente na prisão.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, janeiro 25, 2024

Nunca entendi (nem vou entender) esta vontade da justiça em ser notícia...


Quando não mudamos de opinião como quem muda de camisa, corremos o risco de passarmos por "burros" (e acabamos por o ser no olhar dessa gente que hoje diz uma coisa e amanhã o seu contrário). Nada que nos preocupe.

Tudo isto para dizer que continuo a pensar o mesmo sobre a nossa justiça e os seus "justiceiros", desde que um ex-primeiro ministro foi preso em directo no aeroporto. E hoje foi um dia em cheio para o ministério público, para a polícia judiciária, para os juízes, para as televisões e para os muitos "especialistas" em justiça. Ao mesmo tempo que a "corrupção" chegou à Madeira, Sócrates voltou a ser "corrupto" (tal como mais duas ou três figurinhas). 

Não tenho nada contra, mas preferia mais acção de verdade (uma justiça mais certeira e mais recatada) e menos ficção (com a passagem de menos "filmes" na televisão...). Ou seja, que todos estes "bandidos" fossem realmente condenados pela justiça e não pelas televisões, pelas rádios e pelos jornais.

Estou cansado de julgamentos populares, que não passam disso mesmo, com a justiça a não funcionar, já que os processos duram anos e anos e os "condenados" permanecem em liberdade, quase sempre sem prescindir (e sem que lhes sejam retirados) dos pequenos e grande luxos da chamada alta sociedade.

E também finjo que não percebo porque razão é que existem tantas "acções justiceiras" rente às eleições.

A primeira palavra que me ocorre é mesmo, "vergonha". É uma vergonha o que vai acontecendo, tanto para a justiça como para o jornalismo. Assuntos que deviam ser tratados com seriedade e sobriedade, ficam-se pela farsa, pela comédia e pela tragédia, para depois caírem no esquecimento.

Nunca entendi (nem vou entender) esta vontade da justiça em ser notícia, de preferência em directo, deixando para segundo plano a sua verdadeira função: ser justa e eficiente.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 19, 2024

O cinema está sempre próximo da realidade...


O cinema está sempre mais próximo da realidade do que aquilo que pensamos.

O João estava a colocar-me a par dos bons filmes que andavam por aí (são bastantes, mas não gostam muito de "pipocas"...), quando misturámos as fitas com a actualidade. 

Fui eu que iniciei as hostilidades, recordando que o cinema raramente trata bem as polícias do giro (os detectives são uma classe à parte e ainda bem), e nem falei das perseguições policiais, em que os carros com sirenes passam o tempo a fazer o pino e a dar cambalhotas nas estradas. 

O meu companheiro de conversa disse que eles são mesmo assim, gostam de fazer cara de maus, raramente falam com as pessoas com bons modos, esquecendo-se que a sua missão não é apenas perseguir e prender bandidos. 

Lá veio o bom senso (neste caso a falta dele), para a mesa...

E como somos mauzinhos fingimos compreender esta sua aproximação ao lado mais à direita da política, porque  estamos fartos de saber que esta gente das "fardas e dos cassetetes" era muito mais feliz no país do "respeitinho e da autoridade".  

Pois era, no tempo dos "outros senhores", ninguém estranhava que apanhassem rapariguinhas e as mandassem despir no interior das esquadras...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, novembro 28, 2023

O gosto doentio de acusar antes de julgar...


É quase como uma "peste", esta mania de se estar sempre a apontar o dedo ao outro. As redes sociais ainda agravaram mais esta nossa deficiência moral, de quem apenas se olha ao espelho, para se pôr "bonito" e ir espreitar ao mundo, mesmo que este número não passe de uma farsa.

Não sei se me assusta ou se me enoja, esta nossa nova forma de vida, que valoriza cada vez mais o espectáculo e a mentira, como se tudo o que nos rodeia não passasse apenas de ficção.

O mais grave, é que nem a própria justiça conseguiu escapar imune a esta "peste".

Quando é que tudo começou? Não sei bem. Talvez com o juiz que foi até aos Passos Perdidos prender um político suspeito de pedofilia (que depois até recebeu uma indeminização de ter estado preso sem culpa formada...). Outro bom espectáculo televisivo, foi a prisão em directo, no aeroporto, de um ex-primeiro-ministro (que depois desse "número" e de ter estado em prisão preventiva, foi devolvido à  liberdade, ainda sem ter sido acusado de qualquer crime...). Há inclusive um canal televisivo (CMTV) que trata todos estes casos de polícia como se fossem "telenovelas", com episódios diários, onde nunca falta o "suspense" final, para que se sigam os próximos capítulos.

Infelizmente, o poder judicial nunca mais deixou de estar colado ao jornalismo mais rasteiro e abjeto que existe entre nós, que além de não respeitar o "segredo de justiça", adora acusar antes de julgar.

E se chegámos a um tempo em que são os próprios agentes judiciais, que dão mostras de preferir os "julgamentos públicos" na comunicação social à aplicação da lei nas salas de audiência, parece fazer cada vez menos sentido a existência de tribunais...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 22, 2023

"Descobertas" quase ocasionais, no meio de tantas "distracções" (que podem ser fatais)...


Não sei como era antes da Revolução de Abril, mas penso que nem mesmo a PIDE e as outras autoridades, conseguiam combater as nossas "vulnerabilidades", quase naturais (uma linha fronteiriça com muitos quilómetros, tal como a costa de mar).

Quem queria fugir do país a salto, conseguia-o, fosse para fugir à guerra, fosse para procurar uma vida com mais sentido material. Claro que tinha sempre de pagar a alguém... Muitas vezes dentro do próprio poder (os guardas fronteiriços não "fechavam os olhos" de graça...).

Hoje continuamos com as mesmas características, mas com menos repressão e vigilância (o fim das fronteiras com a entrada na União Europeia agravou o problema...). Não é por isso de estranhar que sejamos um dos pontos mais apetecíveis do Velho Continente para todos os tipos de tráficos, com relevância para o da droga e dos seres humanos. 

Um dos indícios dos aumentos destes crimes são as apreensões de droga (que são os melhores indicadores de que entra cada vez mais no nosso país...) e a descoberta de emigrantes ilegais, aqui e ali, que além de explorados, quase que vivem em "escravidão" (os exemplos na agricultura intensiva do Alentejo, na apanha de bivalves nas margens do Tejo ou até em pretensas academias de futebol falam por si...).

Fico com a sensação de que só agora é as autoridades estão a acordar para este flagelo social, devido a "descobertas" quase ocasionais. Ou então através do velho método de sempre: a denúncia anónima...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, maio 27, 2023

Rastos de Indignação e Incompreensão...


Já quase ninguém fala da menina inglesa, que desapareceu no Algarve, há dezasseis anos. 

Nem mesmo a insistência de alemães e ingleses, em querer colar este rapto a um bandido germânico, voltando a lugares que podem ser de crime, provoca qualquer tipo de alarido ou estados de alma, apesar das horas oferecidas pelas televisões que se alimentam sobretudo de sangue.

Quem não perdoa estes desperdícios de milhões são os familiares de desaparecidos portugueses, que nunca contaram com um milésimo do tempo perdido pelas nossas polícias. Foi por isso que percebi a indignação e incompreensão de um avô, que continua sem saber o que aconteceu à neta, que com dezasseis anos, desapareceu. Saiu de casa de manhã para não mais voltar. Ele tem uma secreta esperança que ela possa estar, viva, em qualquer parte do mundo... Mas sabe que a GNR tratou muito mal da investigação, desde o início, tal como a Judiciária. 

Disseram que ela tinha fugido e esqueceram o caso...

"Sim, poderia ter fugido. Mas porque razão nunca mais deu qualquer sinal de vida?" Era a questão que ninguém era capaz de responder a esta família (e provavelmente a muitas outras...).

Mas que se trata de um drama inultrapassável, ninguém deverá ter dúvidas. Nunca se consegue preencher este vazio que fica...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, maio 19, 2023

A facilidade com que se recorre hoje à violência, no nosso "paraíso"...


Há dois dias escrevi sobre o que me aconteceu num supermercado. Felizmente não foi grave, mas o que aconteceu ontem em duas estações de metro, com agressões através do uso de armas brancas, fez-me pensar, que se aquele senhor tivesse uma faca ou navalha no bolso, poderia muito bem estar à minha espera e tentar esfaquear-me (até porque havia alguma desproposionalidade física entre nós, não só na idade...). Normalmente usam-se armas quando se está em desvantagem física...

Tudo o que está a acontecer à nossa volta, é demasiado preocupante para fingirmos que "não se passa nada". A generalidade das pessoas têm comportamentos mais violentos uns para os outros, verbalmente e fisicamente. Respeita-se e tolera-se muito menos o outro, que até tem o direito a estar errado, porque como todos sabemos, ninguém é perfeito. Em vez de se tentar puxar as pessoas à razão, parte-se logo para o insulto, primeiro verbal e depois físico.

Há por certo muitas causas, muitas responsabilidades. Não sei onde começam e onde acabam. De certeza que a forma como as pessoas usam as redes sociais, sem qualquer filtro, tem influência. A existência de um canal televisivo que transforma qualquer crime numa telenovela, também ajuda na mudança de comportamentos. A chegada da extrema direita ao parlamento, onde recorre com demasiada frequência ao insulto e à mentira, também poderá fazer pensar que se "pode fazer e dizer tudo". O funcionamento da justiça onde paira um sentimento de impunidade (mesmo que seja falso...) e das polícias (cada vez mais ausentes no espaço público...), também deve ter a sua quota parte, neste país que caminha para outra coisa, distante do tal "paraíso", que chama tanta gente de fora.

Há pelo menos uma coisa que se pode, e deve, fazer desde já. As polícias têm de voltar às ruas, têm de estar mais presentes no dia-a-dia de cada de nós, têm de se mostrar e de fazer sentir a todos nós que não somos "uma terra sem lei".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 20, 2023

Uma Justiça Refém das Televisões que querem ser Tribunais e de Juízes que Sonham ser Heróis...


Ao ler o artigo de opinião de Manuel Pinho, publicado ontem no "Diário de Notícias" (não sou estúpido e sei que o seu principal objectivo é tentar "salvar a pele" junto da opinião pública...), fiquei mais uma vez a pensar no funcionamento da nossa justiça, cada vez mais a "reboque" de alguma comunicação social, que gosta de transformar cada caso mediático numa espécie de "telenovela", em que se mistura a realidade com ficção, porque o mais importante é manter as pessoas "presas" à televisão...

Mesmo que nunca "comprasse um carro ou um burro" ao sujeito (tal como a José Sócrates...), não lhe posso deixar de dar razão em alguns pontos. Os anos vão passando e ele vai sendo "queimado em lume brando", saltitando de processo em processo, sem que seja acusado e preso. Sempre que é alvo de buscas, os responsáveis pela justiça não prescindem da presença de uma boa parte da comunicação social, para fazerem o papel de quase "damas de companhia".

Até parece que a procura da verdade e a prisão dos bandidos passou para segundo plano e o principal objectivo dos juízes, procuradores e polícias, é alimentarem todo este "filme", em que os seus nomes surgem sempre com algum relevo, no meio das reportagens policiais, quase como se estivéssemos a falar de "super-heróis"... 

E o mais curioso, é que o resultado de todo este espectáculo justiceiro, é a "montanha parir quase sempre um pequeno ratito", ao mesmo tempo que vai alimentando todo o tipo de populismos e consegue esconder cada vez menos, que existe de facto, uma "justiça para pobres e uma justiça para ricos"...

Acredito que seja incómodo para os "Pinhos e Sócrates" da nossa sociedade, ficarem "sem vida", serem olhados de lado pela população, que ainda os brinda com nomes em que o de "bandido" pode ser o mais suave. Mas também lhes deve dar algum gozo, brincaram "ao gato e ao rato" e verem os anos a passar, sem que passem o tempo que lhes é devido nos calabouços da justiça...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, agosto 30, 2022

A Quase Vertigem de Acontecimentos que dão Vida aos Livros Pretos


Estava sem nada para fazer, quando me apeteceu ler.

Fui à pequena estante da casa de férias e andei à procura de um livro, que fosse o tal... Foi quando um pequenote, quase que me piscou o olho. Era o "Quarto 37", um policial da "colecção vampiro", dos mestres da literatura policial, escrito por Hartley Howard (fosse ele quem fosse...).

Mesmo sem estarem bem escritos, estes livros conseguem  prender mesmo a nossa atenção... apesar de ter uma letra miudinha, em apenas três bocados do dia "devorei" cem páginas da história. A técnica é a mesma das séries policiais, deixar pontas soltas e passar o tempo à procura de respostas, que vão chegando a conta gotas, até ao final do livro.

Lembrei-me também de um escritor amigo que escreveu vários livros policiais com um nome inglês, que me disse uma vez que se eu fosse um rapaz do seu tempo, também era "menino para escrever meia dúzia de policiais". Provavelmente sim. Tenho pelo menos duas histórias que continuam dentro da minha cabeça, que podiam dar livros... 

E fiquei a pensar, que, hoje até temos um canal de televisão que tenta substituir alguns dos enredos da "colecção vampiro" (sem o conseguir claro, por muito que ficcione a realidade e pinte de vermelho o ecrã da televisão)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 16, 2022

Quase um "Teatro do Absurdo" Diário...


Sei que em política o que parece raramente é. É um dos poucos espaços onde mentir "sempre fez parte do jogo". Há quem diga mesmo, que esse é um dos segredos dos homens que quase apodrecem no poder, como aconteceu com Salazar e está agora a acontecer com Putin.

Nos poucos contactos que tive com o poder, a nível mais doméstico, ainda mantenho vivas na memória algumas "mentiras", quase piedosas, ditas para "entreter"que nunca percebi se eram da lavra de um dito vereador, ou se lhe eram ditadas pela presidência. Ficou conhecido localmente pelo "nim", por ser uma personagem bem falante mas muito pouco afirmativa.

O problema é que tudo isto foi ganhando uma dimensão tal (talvez este quase "vale tudo" tenha começado com Sócrates. É importante recordar que um dos seus homens da comunicação, passou depois para o Benfica, onde se deve ter sentido como "peixe em água", nas "guerras" com o FC Porto...), que cada vez é mais difícil perceber onde começa a verdade e acaba a mentira, e vice-versa.

As coisas tornam-se ainda mais graves, quando se percebe que se brinca, cada vez mais, com coisas sérias, como são, por exemplo, a saúde ou a segurança de todos nós. 

O que os governantes e os opositores estão a fazer com o SNS, não nos vai levar a nenhuma coisa melhor, pelo contrário. Vão retalhar cada vez mais o SNS. Nós iremos poder escolher, mas também iremos pagar muito mais... 

A novela do SEF é parecida e parece também não ter fim à vista. De erro em erro, vão se desmotivando profissionais, porque um Governo - devido a um incidente grave, que causou a morte de um estrangeiro, algo que acontece, também, com alguma regularidade, na PSP e na GNR - decidiu que um serviço vital nos nossos aeroportos, devia ser substituído, por uma coisa, que parece que ninguém sabe muito vai o que vai ser. 

A política sempre foi uma coisa "teatral", mas nunca esperei que caminhasse, a passos largos, para este "teatro do absurdo" diário, com a cumplicidade de uma comunicação social, cada vez mais servil, tóxica e telenovelesca.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


terça-feira, janeiro 11, 2022

«Só me falta mesmo ir preso.»


Os novos sinais na praça são uma confusão, é por isso que pouca gente lhes liga. Mesmo sendo perigoso, uma boa parte das pessoas prefere mesmo é atravessar a rua afastada das passadeiras...

Raramente se vêm polícias nas ruas, mas quando o Rui passou o sinal vermelho, um apito ecoou no quarteirão. Ele continuou a atravessar a passadeira como se não fosse nada com ele. O polícia não gostou e quase correu atrás dele, para lhe pedir explicações. Aliás, para o ameaçar.

O agente falou em multas e outros disparates. Surpreso, o Rui teve o desabafo, «só me falta mesmo ir preso.» 

O que ele foi dizer! O polícia por breves momentos quis mesmo levá-lo para dentro da viatura. Foi salvo do ridículo pelo colega, que ao ver as pessoas a aproximarem-se do "local do crime", achou que o melhor mesmo era continuarem a ronda automóvel.

Quando o Rui nos contou o que lhe acontecera, acabámos por concordar que se há coisa que as nossas polícias não entendem, são os jogos de palavras onde reina a ironia e a metáfora. É muito mais fácil jogar o jogo do cassetete ou da pistola...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)