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quinta-feira, outubro 24, 2024

Quando se diz e faz quase tudo...


Marco Paulo deixou-nos hoje e foi homenageado pelas televisões, com um tratamento digno das maiores figuras da cultura do nosso país. 

Em parte, ainda bem que isso aconteceu, contrariando o "esquecimento" de muito boa gente, que tem apenas direito a uma fotografia e uma nota de rodapé, no seu adeus.

Mas não deixa de ser curioso, este tratamento especial. Até porque penso que Marco Paulo nunca teve direito à chamada "unanimidade", especialmente nos meios musicais (e isso não muda apenas porque as televisões lhe oferecem mais horas de emissão, na despedida...). 

O mais curioso, foi ter sido o aparecimento massivo da "música pimba", que fez com que passasse de "cantor piroso" a quase um interprete de culto da nossa música ligeira. Mesmo que nunca tenha sido  esquecido o facto de Marco Paulo ter "apenas" uma bonita voz e de nunca ter composto ou escrito uma canção. Marco limitou-se a cantar versões de autores de outros países, escolhidas a dedo pelo seu produtor. Não tenho grandes dúvidas, que é essa a explicação para a tal ausência da unanimidade, por parte dos seus pares...

Embora tenha ficado feliz por se ter dito, e feito quase tudo, em relação a um dos interpretes mais populares da música portuguesa (que por isso mesmo, usou e foi usado até ao fim, por um canal televisivo), era bom que não se exagerasse na adjectivação. Até porque a história diz-nos que só temos direito a uma "Amália" e a um "Zeca Afonso", por século...

Focando-me essencialmente na memória (cada vez mais selectiva...), mesmo que passe por "lírico", era bom que este exemplo perdurasse, que se acabassem, de vez, com os esquecimentos da tanta gente de qualidade que faz parte da nossa Cultura, especialmente pela dita televisão...


quarta-feira, agosto 14, 2024

«Olho para nós e só descubro filmes, peças de teatro e livros, que nunca vão ter vida própria.»


Estou tempos e tempos sem aparecer. Mas às vezes preciso mesmo de entrar naquele velho café, com mais histórias que clientes. É como se precisasse de me "carregar de raiva", daquela que depois se vai embora, à medida que regresso à Margem Sul, primeiro a pé e depois de metro ou autocarro. Às vezes estou no cacilheiro e pareço já estar "curado"...

O velho Henrique continua atrás do balcão, a música de fundo também é a mesma, um jazz longínquo. Sim, por ali para ouvires música, tens de estar em silêncio ou falar baixinho. O Jorge aparece às três da tarde para almoçar e a Catarina para beber café. São o "material humano fixo" daquele ninho de "pássaros feridos", o resto da malta vai aparecendo, sem hora ou dia marcado...

O Raul gosta de nos chamar "vencidos pela vida", confessa mesmo ser incapaz de se tornar amigo de alguém bem sucedido neste "país de merda". Também faz filmes de publicidade, mas ao contrário do Jorge finge não querer nada com o cinema, muito menos o português...

O Jorge tem três fitas começadas, que provavelmente nunca irão visitar qualquer sala de cinema. Desculpa-se com a idade, com o ter ultrapassado os cinquenta e ter perdido a "chama do ir à luta". Sei o que é isso, mas não tenho a certeza de a ter perdido de todo, agora que passei para o lado dos sessentões. A Catarina, menina ainda dos quarentas, sorri, mas não esconde o nervosismo, enquanto acende um cigarro e não quer olhar para o que se passa lá fora, na rua.

Foi nesta altura que o Jorge disse: «Olho para nós e só descubro filmes, peças de teatro e livros que nunca vão ter vida própria.»

Em vez de chorarmos, sorrimos.

Claro que não era bem assim. A Catarina tinha acabado de realizar um filme. A questão era mais complexa do que parecia. E lá apareceu o Fernando Lopes - um dos "nossos deuses" -  à mesa. Ele, mesmo com a qualidade que tinha como realizador, também viu um ou outro filme ser "chumbado" por aquela coisa estatal que é mais audiovisual que cinema. E não foi caso único. Estávamos todos de acordo, alguns daqueles chumbos não conseguiam disfarçar o "gosto da humilhação" e o "perfume da vingança", latentes nos elementos do júri.

Pelo menos desta vez não deixámos os sentimentos de revolta despertarem, em vez de "lamber feridas" "contámos anedotas".

Até porque estávamos a gostar da música escolhida pelo Henrique e lá fomos conversando, calmamente, sem que o jazz saísse do tom...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 29, 2024

«Felizmente a esperança é uma adolescente»


Estávamos a conversar sobre a quantidade de jovens que sabem cantar e andam por aí, fora de mão, ao contrário dos "artistas da cassete pirata" que animam os arraiais nos fins de semana televisivos. 

O custo zero merecia mais que que a pinderiquice das roupas, das danças, o mau gosto das letras e, claro, o "play baçk" musical.

O Ruca disse uma coisa bonita e certa: «Felizmente a esperança é uma adolescente.»

E é mesmo. Quando somos jovens não desistimos dos nossos sonhos às primeiras e às segundas, e ainda bem.

Só há um problema, que muitas vezes se descobre tarde demais: no nosso país a qualidade nunca foi o requisito mais importante, para o que quer que seja...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 27, 2024

João Lagarto, ou a importância de um actor ( e da música, claro) dentro de "Tudo Isto é Jazz!"


Hoje festeja-se o teatro, por esse mundo fora. 

Lembrei-me do poema da AnyAna, das peças que escrevo directamente para a gaveta - sem lhes arranjar um final -, e sobretudo das salas que não visito e das peças que não vejo.

É por isso que vou falar de um acaso feliz, desta manhã. Enquanto trabalho, tenho muitas vezes a televisão ligada. Normalmente vejo coisas "atrasadas", que me passaram ao lado ou que não tive tempo de ver. Foi desta forma que "descobri" que na noite de domingo para segunda a RTP2 transmitiu o espectáculo, "Tudo Isto é Jazz!", de homenagem a Luís Villas-Boas, que fez cem anos este mês.

Comecei a ver o espectáculo que misturava jazz com teatro e a ficar deliciado com João Lagarto, que fazia (muito bem) o papel do "pai do jazz" no nosso País, e claro, com a música.

Não conheci muito bem Luís Villas-Boas (acho que o cheguei a entrevistar...), devo ter falado com ele duas ou três vezes. Mas mesmo assim penso que a personagem está muito bem caracterizada, até fisicamente (os óculos, o bigode, o penteado e os trejeitos pareceram-me excelentes...).

Felizmente houve pessoas como o Luís, irreverente, teimoso e desalinhado. Só desta forma é que é possível contrariar a "mediocridade" que se arma em sentinela nas ruas das artes e letras do nosso país (e se pensarmos nas coisas que fez durante as ditaduras salazaristas e marcelistas...) e virar algumas coisas, quase de pernas para o ar.

Felizmente escolheram o João Lagarto, para ser um Villas-Boas, quase autêntico, a falar com a normalidade possível, sem usar dotes declamatórios, passando em quase duas horas pela vida de um grande amante dessa música que hoje é de todo o mundo e de todas as cores (foi muito bem metida a frase, de que o jazz se dá muito bem com os climas frios, por ser também bastante amada e tocada no Norte da Europa...).

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, dezembro 05, 2023

Conseguir ouvir vozes através das palavras...


Estava a ler a entrevista de António Pinho Vargas publicada no "D. Notícias" e enquanto ia "bebendo" as palavras do músico, conseguia "ouvir a sua voz", como se ele estivesse ali, ao pé de mim, a responder ao jornalista.

Isto acontece-me várias vezes, quando conheço a voz do entrevistado. E quando existe alguma intimidade entre nós, até percebo quando ele sorri ou faz uma cara séria enquanto está à conversa...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, novembro 19, 2023

Adeus Sara...


A Sara Tavares deixou-nos hoje.

Era uma Mulher, simples, livre, bonita e cheia de talento.

Felizmente conseguiu seguir o seu caminho musical e cantar os géneros musicais com que mais se identificava, sem ficar presa à "mesma canção", como acontece com tanta gente que canta por aqui, neste nosso cantinho.

A Sara cresceu em Almada, mas nunca foi apenas uma voz da Margem Sul. Quis ir mais longe e conseguiu saltar fronteiras e ser uma voz do Mundo.

Apetece dizer que partiu cedo demais... mesmo que tenha partido no seu tempo (como acontecerá com todos nós).

(Fotografia de autor desconhecido)


terça-feira, outubro 31, 2023

Traços da vida de um pianista quase vulgar...


Ele tocava piano enquanto nós conversávamos, naquele bar frequentado por pessoas que gostavam de baladas e de bandas sonoras de filmes.

Nos intervalos vinha até à nossa mesa, com um whisky numa das mãos, mais para ouvir que para falar ou perguntar se lá fora estava a chover. Pouco tempo antes tinha estado a tocar num dos poucos restaurantes que ainda tinham música ao vivo. Por lá só tocava música clássica. Gostava destas variações, mantinham-lhe os dedos preparados para quase tudo. 

Sabia que aquela vida de bar em bar, de restaurante em restaurante, não estava dentro dos seus melhores sonhos. Nada que o preocupasse demasiado. Também sabia que não fez tudo o que era preciso para as coisas acontecessem, quando teve vinte anos. Faltava-lhe a ambição de quem era capaz de vender a alma ao diabo, se tal fosse necessário, para chegar ao topo da escadaria.

Foi-se habituando aquela vidinha, com horários entre o começo e o fim da noite, que lhe rendiam muito mais que qualquer emprego vulgar das "nove às cinco".

Andava há quase quarenta anos naquilo, sem saber ao certo quando era tempo de se reformar...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, outubro 02, 2023

Pois é, o que seria da vida sem a poesia?


Ao contrário dos livros, os filmes conseguem sobreviver, mesmo com uma história fraca. Mas para que isso seja possível têm de ter bons actores, uma boa banda sonora e um excelente director de fotografia.

Um bom actor, só com a sua presença, pode encher o écran (ou o palco...), nem precisa de falar, basta movimentar-se e olhar... mesmo que seja para sítio nenhum.

A música também pode ser decisiva, só precisa de se colar às imagens como se fossem apenas uma coisa... E é aqui que também entra o director de fotografia.

Claro que se trata de uma mera opinião pessoal. Talvez demasiado poética, mas o que seria da vida sem a poesia?

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, agosto 04, 2023

Os "seres cantantes" e os "velhos de cacilhas"...


Passam por nós seres cantantes, um ou outro embrulhado em bandeiras que identificam as suas origens, que alegra estes dias quentes, repletos de santidade.

Não me embalo nem me incomodo com estas cantorias e alegria alheia.

A "velha do restelo" que me acompanha diz, «que pena na segunda-feira voltar a ser tudo como era...» 

Há mais ironia que vontade de parar este tempo que, entre outras coisas, deu férias aos ministros e secretários de estado que adoram enfiar os pés nos buracos das estradas...

Eu sei que ela tem razão mas mantenho-me em silêncio, a olhar esta multidão quase jovem, que junta a calma e a alegria ao ruído, sem fazer tremer as calçadas.

Antes de subirmos à cidade, assistimos ao embarque  lento de uma multidão de gente de todas as cores e raças no cacilheiro.

Penso que agora sim, imitamos os "velhos do restelo", mesmo que sejamos apenas "velhos de Cacilhas", cativos no cais, à espera dos dias normais de Agosto nas cidades. 

Ao contrário das calçadas, o cacilheiro, sim, deve abanar com tanta gente e tanta canção por metro quadrado...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quarta-feira, julho 12, 2023

A música tem de tudo, o que vale é que podemos escolher o que ouvimos...


Uma das coisas que mais irrita uma das minhas amigas, é a música foleira que lhe entra pelos seus ouvidos e sai toda catita pela sua boca.

Como normalmente ouve o que não gosta, controla-se mais e a "música pimba" pode continuar a entrar pelos seus ouvidos, mas já não lhe sai pela boca, com tanta facilidade. Diz que a culpa é da rádio (afinal não colocam no ar só música estrangeira...) que ouve no carro.

É normal escutar coisas do género, "não tens mais estações de rádio, além dessas pindéricas que ouves e cantas?" E acabamos todos a sorrir.

Claro que a culpa não é dela, é sim, da chamada "música popular" (os cantores, detestam ser "pimbas", mesmo que não consigam fugir do registo e apelidam-se como "músicos populares"...), que por ser de "ouvido fácil", consegue chegar quase a todo o lado, até aos nossos ouvidos distraídos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, julho 10, 2023

Musicalidades para quem gosta de ouvir música de olhos fechados...


Estou a começar a manhã, já escrevi algumas coisas no meu caderno, mas não era para escrever por aqui, tão cedo, só que não consigo escapar ao que posso chamar, meu bom gosto matinal (liguei a televisão e comecei a ver e a ouvir o concerto de Brian e Roger Eno na Acrópole de Atenas, na Grécia, transmitido ontem à noite na RTP2), sem resistir à vontade de partilhar esta musicalidade tão pouco popular, mas tão suave, quase doce, que me transmite coisas tão boas...

Gosto muito deste género musical (nunca me canso de ouvir álbuns como o "Cinema" do nosso Rodrigo Leão...).

Sei que toda esta suavidade é incompatível com os nossos tempos demasiado barulhentos. Mesmo assim não resisti em escrever algumas linhas sobre a música de Brian Eno, que não falou muito, mas é tão grande que até teve a humildade de se justificar por cantar algumas canções com a ajuda de uma estante com as letras: «As nossas músicas são tão antigas que já não me recordo das letras... ou então são tão modernas que também não recordo as suas letras.»

(Fotografia de Luís Eme - Évora)


quinta-feira, janeiro 26, 2023

«Não te metas nisso. As ordens são instituições com um travo fascista.»


A existência de Ordens faz sentido, em praticamente todas as profissões, não só por ter um papel regulador, mas também por tentar valorizar e dar mais dignidade a várias actividades.

Claro que nem sempre o conseguem. Existe sempre o perigo de ficarem reféns de um corporativismo demasiado conservador, como acontece com a Ordem dos Médicos, que além de defender os seus pares quase até à exaustão, limita bastante a entrada de novos elementos à profissão.

Talvez seja por exemplos como este, que nunca se chegou a um consenso sobre a existência de uma Ordem de Jornalistas, e ainda bem. Na minha opinião seria mais um obstáculo à liberdade de informação (já bastam as entidades patronais para controlarem e escolherem os "jornalistas bons" e os "jornalistas maus"...).

Lá estou eu a "caminhar" para outras bandas...

O que eu queria era falar no mundo da música, que parece ser o menos regulado das "culturas" (parece...), dos muitos cantores que nunca entrariam em qualquer programa do género de "ídolos" ou "chuva de estrelas" e que andam por esse país fora a fingir que sabem cantar, escondidos atrás da mesma cassete (sim, parece que cantam todos com a mesma música de fundo...). Quando veio à baila a falta de qualidade da maior parte dos visitantes dos programas de fins de semana televisivos, o Tó exclamou que devia haver uma entidade (disse a palavra "Ordem" e tudo...), com força e capacidade para excluir da profissão todos aqueles que nem sequer deviam cantar durante o banho.

O Rui contrariou-o de imediato, dizendo: «Não te metas nisso. As ordens são instituições com um travo fascista.» E continuou. «Sabes o que é que ia acontecer? Só entravam na profissão quem eles queriam, o que não quer dizer que fossem os melhores. Parece que não conhecer este país de merda, infestado de cunhas por tudo o que é sitio.»

E lá tivemos de dar razão ao Rui. Ou seja a ideia de uma entidade reguladora nas canções podia ser muito boa, mas não no nosso país...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, janeiro 02, 2023

"O Salto no Escuro e o Encontro com a Luz"...


Apesar de conviver há décadas com artistas, nunca tinha ouvido alguém dizer a um jovem músico: "até que enfim! Finalmente deste um salto no escuro e encontraste a luz". Expressão que, provavelmente, terá significados diferentes noutras ruas e noutras cidades.

Ele tinha tocado pela primeira vez uma composição da sua autoria, saída apenas da sua cabeça. Mesmo que tivesse sofrido mil e uma influências, era a sua primeira criação, com qualidade, segundo os entendidos.

Acabámos por brincar com a minha ignorância e também com a facilidade com que esta expressão podia ser transposta para outras áreas artísticas, onde se imita mais do que se cria. Sem sairmos da música falámos dos cantores de bares que cantam as canções dos outros, mas também dos outros, que se limitam a colar uma letra a uma música mais que batida, ou seja, cantam sempre a mesma canção.

Pensei também nos pintores que são capazes de se inspirar e tentar criar algo de novo, sem se limitarem a "copiar" (e eu conheço tantos "copistas"...).

Que bom que é dar "um salto no escuro e encontrar a luz"...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, agosto 25, 2022

"Olha Quem Está ali, os Quatro Rapazes que Têm uma Estátua em Liverpool!"


Hoje vou continuar na na Feira da Ladra. Não é apenas falta de assunto, há sempre pequenas coisas que me deixam a pensar e despertam a curiosidade...

Foi o que aconteceu com estes dois "posters" dos Beatles. A primeira coisa que pensei foi que alguém se cansara desta "memória permanente" dos seus ídolos e resolvera fazer uma "renovação" das paredes do seu quarto ou da sala...

Mas depois lembrei-me que os Beatles passaram à história no começo dos anos setenta. Embora muito dos seus êxitos continuem vivos e a serem cantados aqui e ali, os quatro elementos da banda passaram a ter carreiras a solo a partir dessa época. Ou seja, aparentemente, só alguém mais velho do que eu, é que era capaz de ter estas duas imagens num lugar de destaque, lá por casa...

E há ainda a possibilidade dos dois quadros terem estado anos a fio no sótão ou na garagem, até aparecer alguém a querer desocupar espaço e ganhar umas moedas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, julho 16, 2022

Parecem Contradições (mas são outra coisa qualquer)


Estou a escrever e a ouvir jazz. 

Dei por mim a pensar que este meu gostar de jazz foi influenciado pelo cinema. Mas não por qualquer cinema. Foram os chamados "filmes negros", com homens de chapéu e gabardine, cigarros, fumo e pistolas quase escondidas, e muita música experimental de improviso. 

Já o meu gostar de cinema, não tem qualquer influência do jazz ou de outra qualquer música. A única influência acaba por ser o próprio cinema... talvez pela sua proximidade com a vida.

Estou quase a deixar de escrever... sem deixar de ouvir jazz...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 29, 2022

Sinais Sonoros da Crise na Minha Rua


Nos últimos dias a minha rua tem sido visitada por um senhor que se faz anunciar como se visitasse uma das nossa aldeias do interior, com a música eloquente do Quim Barreiros, que de alguma maneira está ligada ao comércio do pão. 

Ainda antes de chegar à minha rua já começo a ouvir "Ai, ai, Maria! Gosto de ir à tua padaria."

Embora "o disco da Maria já comece a ficar riscado", percebo que o senhor para sobreviver a estes tempos estranhos, tenha de apostar em novas rotas, mais citadinas, para vender o seu pão alentejano...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, junho 25, 2022

Andar Atrás no Tempo (a pedido)


Hoje a minha filha sentiu curiosidade em saber como é que vivíamos sem "internet" e também que música ouvíamos, no fim da adolescência, começo da idade de adultos.

Em relação à "internet", como não existia, não fazia falta nenhuma. Fazíamos outras coisas, diferentes, provavelmente mais saudáveis, porque estávamos menos tempo fechados em casa, "presos" a telemóveis ou computadores. 

Falei-lhe da minha paixão pelo cinema. Durante muitos anos ia uma ou duas vezes (no mínimo) às salas ver um bom filme. Solteiro ia mais vezes, mas mesmo depois de casado, quando ainda não havia filhos, eu e a minha companheira víamos muito cinema.

Praticamente deixei de ir ao cinema, mas continuo a pensar que os bons filmes devem ser vistos numa sala escura, em silêncio e num ecrã gigante.

Nesses tempos via pouca televisão. Mas mesmo assim falei-lhe da existência de um programa de divulgação musical, o "Top +", que nos mostrava os "videoclips" dos discos mais vendidos no nosso país. Algo que não existe hoje, apesar de termos mais de uma centena de canais para vermos... Talvez acabasse por condicionar um pouco o nosso gosto, assim como a rádio (também se ouvia muito mais rádio que hoje...).

Mas ouvíamos muita coisa. Desde as músicas comerciais da moda ao rock português que tinha uma grande vitalidade nos anos oitenta, passando por bandas míticas, como eram os Pink Floyd, os Rolling Stones, os Genesis ou os Dire Straits.

Também quis saber se eu ouvia fado (por saber que hoje gosto de ouvir os nossos bons fadistas...). Disse-lhe que não. A única coisa parecida com fado que ouvia era o Zeca Afonso ou o Adriano.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 14, 2022

O Poder dos "Vendedores de Sabonetes" da Televisão


Embora tenha o poder de mudar de canal, sempre que me apetece, incomoda-me ver no que se transformaram os canais generalistas portugueses, sempre com as mesmas caras, a saltitar de canal em canal, para fingirem que cantam ou para ficcionarem a história das suas vidas, naqueles programas apresentados pelos "vendedores de sabonetes" do costume, que se têm em tal conta, que se vangloriam de  de serem capazes de tudo, até de fazer "chorar as pedras da calçada".

Faz-me confusão que nos programas de fins de semana sejam promovidas tantas pessoas, que além de não terem vozes melódicas e afinadas, cantam sempre a mesma canção, sem som ao vivo.

Gostava de saber o que pensa um Sérgio Godinho, um Rui Veloso, um Camané, um João Gil, um Pedro Ayres de Magalhães, um Rodrigo Leão, um Samuel Úria,  uma Dulce Pontes, uma Aldina Duarte, uma Capicua, uma Manuela Azevedo, uma Sónia Tavares, uma Márcia ou uma Ana Bacalhau, sobre o protagonismo que hoje é dado a Marco Paulo (até tem um programa nas tardes de sábado), que andou toda a vida a cantar versões de músicas cantadas por outros artistas...

Infelizmente, este "triunfo da mediocridade", retrata a época em que vivemos, e acaba por se reflectir em quase tudo na sociedade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, junho 11, 2022

O Calor Humano, os Bairros e os Santos


Ao passarmos por qualquer arraial de bairro dos Santos Populares, percebemos o quanto os portugueses gostam do "calor humano" e das festas.

Claro que mesmo não sendo todos, são muitos. Provavelmente são os mais bairristas, os que sentem os Santos Populares quase como uma tatuagem, que mesmo invisível, fica-lhes para sempre no corpo. 

Foi por isso que fiquei a pensar se os antigos moradores de Alfama e de outros bairros típicos (apesar de "terem sido corridos" pelos empreendedores do turismo de lucro fácil), nestas noites especiais, voltam às suas antigas ruas, para matar saudades da vizinhança e das colectividades locais.

Talvez sim, talvez não. Calculo que nem todos gostem das confusões em todas as ruas, que em alguns casos não permitem andar, nem para a frente nem para trás...

Eu por exemplo, menos dado a estas confusões, se sentisse saudades, escolheria dias e noites mais calmas.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, dezembro 05, 2021

A Porcaria Reinante


Sei que a televisão tem feito um esforço para "endeusar" a música pimba, que ao contrário de alguns estudiosos como o cantor Emanuel defendem, se resume a uma palavra: porcaria.

O facto dos seus interpretes cantarem de borla e andaram aos fins de semana a animar os arraiais improvisados pelas antenas de televisão generalistas, em muitas das nossa vilas e cidades (eu sei que o negócio dos "telefonemas macacos" que dão carros e etc., são uma das partes principais desta vidinha feirante...), pode-lhes aumentar a popularidade, mas não aumenta a qualidade.

Alguns sabem cantar, outros nem isso. Mesmo sem voz e afinação, conseguem construir carreiras musicais, domingo a domingo, porque o que é realmente importante para eles é o palco. É por isso que nem sequer se importam de cantar sempre a mesma canção, anos a fio...

Claro que o exemplo da música pode ser passado para quase todas as áreas da sociedade, onde reina a mediocridade. E metermos a poesia no meio do caminho, também não é solução, porque na vida não é "tudo é possível" nem "podemos ser tudo o que quisermos", por muito que "vendam" estas frases em livros, filmes e programas televisivos. O mundo real é muito diferente do mundo dos sonhos. Sem talento natural devíamos ser os primeiros a perceber que a música, a literatura e as outras artes, são sobretudo para os predestinados.

É por isso que Pedro Gonçalves, Jorge Palma, Sónia Tavares, Paulo de Carvalho, Rui Reininho, Dulce Pontes, José Cid, António Zambujo, Manuela Azevedo, Pedro Ayres Magalhães, Rodrigo Leão, Cristina Branco, Rui Veloso, Sérgio Godinho ou Capicua, entre dezenas de excelentes interpretes nacionais, farão sempre a diferença, porque reinventam-se de disco a disco, de espectáculo em espectáculo.

Queria continuar a homenagear o Pedro e todos os nossos músicos de qualidade, mas como de costume, as palavras foram-se agarrando umas às outras e lá se foi a "síntese". Até porque a primeira frase, diz tudo. Talvez em vez de porcaria devesse colocar um outro sinónimo. mas...

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)