A crónica do Vasco Pulido Valente de hoje no "Público", roça o ridículo e a estupidez, em praticamente todos os parágrafos.
Quando ele diz: «A Ditadura tivera a religião, o PREC a "cultura". o artista e o intelectual passaram a opinar sobre o destino da Pátria e da civilização, com uma autoridade de origem suspeita mas reconhecível», demonstra ignorância e sobretudo preconceito (por a esquerda se afirmar culturalmente).
Seria bom recordar este senhor, de que os "comentadores" do que quer que seja (como ele), são uma coisa relativamente recente. Os da imprensa (com várias colunas diárias) devem o seu espaço de papel ao aparecimento do "Público", que mudou na época o paradigma dos jornais generalistas. E os "opinadores" televisivos, cresceram e multiplicaram-se, primeiro com o aparecimento da televisão privada e depois com os canais por cabo. Até ai, eram quase inexistentes.
Embora tivesse apenas onze, doze anos no PREC, pelo que tenho lido, os ditos "intelectuais" de esquerda que o VPV fala, andavam sim, de braço dado com as comissões de trabalhadores, a fazerem cursos de alfabetização, principalmente no interior do país.
Mas o mais absurdo estava guardado para o último parágrafo: «As câmaras arranjaram "vereadores culturais", com funções para lá da compreensão humana. Promoveram colóquios, simpósios, festivais. Convenceram o Estado a comprar os cineteatros de 1905 ou 1940, que se iam desfazendo serenamente em ruinas, para uma "produção nacional" imaginária ou pobre.» Que acaba desta maneira (muito mal escrito diga-se de passagem): «A crise veio de muitos milhares de histórias assim.»
Num país que nunca investiu na Cultura, onde o dinheiro gasto no património e na produção cultural foi sempre insignificante, é triste ver um "parvalhão" destes, que só pode ter uma vida pequenina e completamente afastada da realidade, culpar a Cultura da crise.
Se culpasse por exemplo o futebol, o investimento que foi feito nos estádios para o Europeu de 2004, e até em estádios municipais, cujos custos de manutenção são um problema para vários Municípios, poderia dar-lhe razão, mas falar das "migalhas" que sempre foram atribuídas à Cultura (que tiro as aspas dele e coloco em letra grande), é absurdo e revelador de uma grande ignorância e estupidez, por muito inteligente que a "personagem" julgue ser.
O óleo é de Marta Kiss.