segunda-feira, agosto 29, 2011

O Original


Gosto muito deste óleo de Andrew Wieth.


Por estes dias ando em paisagens com estas tonalidades...

sexta-feira, agosto 26, 2011

Três ou Quatro Coisas


Noto que cada vez mais nos limitamos a assistir, serenamente, via televisão, ao que se está a passar na Líbia - e já se passou noutros países das arábias. Começa por ser uma guerra contra um ditador, mas depois é contra todos os seus habitantes. Além de provocar a morte de milhares de inocentes, destrói quase tudo nesses países.


Hoje depois do almoço, falámos superficialmente da Líbia. O foco central da conversa foram as temáticas pelas quais mais nos chateamos uns com os outros, ao ponto de nos agredirmos, verbalmente ou fisicamente. Encontrámos três, de imediato: política, religião e futebol. Mas esquecemos-nos da principal, o Nada.

Foi o Jorge, que não gosta de futebol, muito menos de política ou religião, que nos adiantou que a maior parte das discussões - e até guerras - começam quase sempre do "nada".

Claro que este "nada" pode ser muita coisa, mas tudo insignificâncias...

Acabámos todos por lhe dar razão. Ser filósofo sempre vale alguma coisa...

O óleo é de Steven Lawder.

quinta-feira, agosto 25, 2011

A Estação Oriental do Saldanha


Uma das coisas que me irrita quando apanho o metro até ao Campo Pequeno, é ter de mudar de linha duas vezes, apesar do percurso ser relativamente curto.


Foi por isso que no "regresso a casa", decidi apanhar a linha vermelha no Saldanha e mudar apenas uma vez de linha, na Alameda.

Nunca tinha descido até à "Estação Oriental do Saldanha" e foi uma decisão feliz. Encontrei um espaço muito agradável, com frases e desenhos (muito Almada...), que chamam a atenção ao transeunte mais distraído. como esta que fotografei...

quarta-feira, agosto 24, 2011

A Nossa Ilha Grega


Nos últimos cinco anos a divida madeirense duplicou, por culpa de José Sócrates, segundo a versão do seu "excelentíssimo dinosaurio", Alberto Jardim.


Como o primeiro-ministro de então lhe reduziu as verbas, Alberto, com a sua "esperteza cubana", continuou a esbanjar o nosso dinheiro a seu bel prazer.

Obviamente isto só pode ter um desfecho: os governantes - do presidente da República ao primeiro-ministro, sorrateiramente vão-lhe dar os milhões necessários para que pelo menos seja possível pagar ordenados a quem não tem culpa dos desvarios de um homem que continua a pensar que o poder lhe dá direito a fazer o que lhe apetece.

Mas as coisas já estão a mudar na nossa Ilha "Grega". Parece que finalmente o Marítimo e o Nacional vão ter de aprender a "governar-se" sem os habituais subsídios chorudos do Governo Regional, para o futebol, assim como todos os "quinteiros", comandados pelo Ramos "das sanitas".

A Grande dúvida que permanece é esta: será que os madeirenses lhe vão dar "sopinha", nas próximas eleições, em vez da maioria pedida?

O óleo é de Alice Dalton Brown.

segunda-feira, agosto 22, 2011

Não me Lembrava do Teu Nome...


Não me lembrava do teu nome, apenas do teu rosto, do teu olhar feliz, capaz de acalmar a minha rebeldia de adolescente tardio.


Embora já nos conhecêssemos, só começámos a reparar mais um no outro nas viagens nocturnas de comboio, que fazíamos entre as Caldas e Lisboa, nesses anos oitenta do século passado. Na Primavera assumimos o nosso namoro que durou até ao Outono.

Passei um Verão diferente, mais calmo e mais apaixonado, com um pé quase de fora da trupe "Os Ibéricos", que animava a lagoa e o mar da Foz do Arelho, com as sessões infindáveis de mergulhos, para todos os gostos.

Nunca passeei tanto pelos recantos da Lagoa de Óbidos como nessa época, de bicicleta com a tua companhia. Descobri lugares únicos onde não voltei.

Não me lembrava do teu nome mas lembrava-me do teu corte de cabelo à rapaz e do teu corpo esguio, que fui desbravando com a inocência de quem ainda andava a apalpar o amor.

Nunca percebi porque razão não chegámos ao Inverno.

O óleo é de LIz Ridgway.

domingo, agosto 21, 2011

Os Nossos Verdadeiros Campeões


Embora se diga que o segundo de qualquer competição, é o primeiro derrotado, essa frase não serve nem se ajusta à nossa equipa de juniores, finalista vencida no Campeonato do Mundo de sub-20, disputado na Colômbia, ganho pelo Brasil após prolongamento. Um Brasil recheado de vedetas (como um tal Danilo, defesa lateral, alvo de mais uma "guerra" entre Pinto de Costa e Filipe Viera, ganha pelos 13 milhões do FCPorto, segundo os jornais...).


De uma forma surpreendente estes jovens, muito bem comandados por Ilidio Vale, deram o seu grito de revolta, pelo que se vai passando no nosso campeonato de futebol, com muito mais sul americanos que portugueses.

Sei que daqui a uns dias está tudo esquecido e vai ficar tudo na mesma, para gáudio dos empresários e dirigentes do nosso futebol. Como benfiquista acho vergonhosas as dispensas de Sanã e de Danilo, que segundo os entendidos não serviram para os seniores do Benfica. E estou à espera de ver o que vão fazer com o Nelson Oliveira ou o Mika...

Provavelmente estes jovens para continuarem a ter sucesso, terão de emigrar, tal como fazem os nossos melhores investigadores.

Um país que trata desta forma os seus melhores cidadãos, não pode ter grandes aspirações a sair da cepa torta, como é óbvio...

Foto retirada do site de "A Bola".

«Este gajo devia escrever fados em vez de histórias que ninguém lê.»


Estávamos entretidos na conversa à mesa do café, quando o Vitinha surgiu à entrada, com o cabelo esbranquiçado, quase todo de pé. Olhou para todos os lados, já com o saco do almoço na mão, o habitual cozido, encomenda da "patroa", até nos encontrar.


Aproximou-se e depois de nos cumprimentar, sem se sentar, começou a contar a história da vidinha dele nos últimos dois meses, em que praticamente desapareceu do café, por razões que até a própria razão finge desconhecer.

Tudo lhe aconteceu neste tempo. Só faltou cair-lhe o tecto da casa, embora o mesmo tenha acontecido ao vizinho do lado por causa de uma infiltração do andar de cima. Depois vieram as doenças, nada escapou, da cabeça aos pés. Para terminar o rosário, vieram os medicamentos, cada vez mais caros, depois os médicos que passam as receitas com a totalidade dos medicamentos, incomportáveis para as bolsas pobres.

Quando ele virou as costas, Carlos com a sua bonomia disse-nos: «este gajo devia escrever fados, em vez de histórias que ninguém lê. Conhece como ninguém o dia-a-dia dos desgraçadinhos.»

O óleo é de Frank McNab.

sábado, agosto 20, 2011

Podia ser uma Fita de Série B. Podia...


Podia ser uma, duas, ou três, mas não, todas as mulheres com quem me cruzei naquela festa tinham uma cor e um ar estranho. Pensei que tinham saído de um filme barato americano, onde tudo era exagerado, desde o penteado, a cor do cabelo, a maquilhagem, a cor do bâton, as calças e as blusas, de modelos e cores espampanantes, o calçado, sandálias, altas e modernistas.


Só quando sai e olhei o cartaz que anunciava: "Festa dos Anos Setenta", é que percebi que se havia alguém que tinha entrado no filme errado, era eu.

Sorri, grato mais uma vez à minha distracção natural.

O óleo é de Holguer Maass.

sexta-feira, agosto 19, 2011

Festejar a Fotografia


Ao pensar na fotografia, só me ocorre dizer: «as coisas que temos inventado, para nos lembrarmos de ontem...»


Mesmo que a fotografia hoje seja quase uma banalidade, enquanto invento e também como instrumento. O digital massificou a imagem de tal maneira, que ela está ao alcance de um clique, mesmo de quem não tem a noção mínima do que é a fotografia, enquanto objecto artístico.

O curioso é a fotografia transportar também a ilusão. Sim ilusão, não é por acaso que pensamos sempre que o nosso olhar pode ser transportado para a fotografia, quando o que encontramos impresso no papel ou no visor da máquina, é quase sempre outra coisa diferente.

Neste dia especial escolhi esta imagem minha pelo seu simbolismo. Nela encontramos o Tejo, Lisboa, o Amor, o Campo e até um transporte, tão saudável e barato...

quinta-feira, agosto 18, 2011

A Pose de Mulher Fatal


Estive a remexer em papeis e descobri a fotografia de uma das actrizes mais populares do teatro e cinema da primeira metade do século passado.


É uma das imagens que mais gosto desta senhora, que ainda tive o prazer de entrevistar no hotel lisboeta onde fixou residência nos últimos anos da sua vida.

A sua alegria continuava contagiante, tão diferente desta foto em que a Beatriz faz o papel de Mulher Fatal, onde nem falta o cigarro...

Desconheço o nome do autor da foto, mas deixo aqui a minha vénia, pois está muito bem conseguida.

terça-feira, agosto 16, 2011

Marta, a Mulher Coragem que Respondeu à Letra ao Ditador da Madeira


Ao passar pelo "
Delito de Opinião", li a notícia que o Pedro escreveu sobre Marta Caires, uma jornalista que não se assustou, nem ligou às ameaças, insultos e "ordens" de Alberto João Jardim.

Fez o que o actual e os anteriores presidentes da República nunca fizeram, constantemente desautorizados ou insultados por uma das figuras mais miseráveis da nossa democracia.

Soube bem ler as respostas da Marta ao despotismo dessa figura ridícula, que governa a Madeira.

E como o jornalismo português anda precisado de Martas.

O meu aplauso e a minha solidariedade pela coragem desta mulher que não se verga ao "jardinismo", apesar das represálias que deve passar numa ilha povoada por homens pequeninos que se julgam grandes.

O óleo é de David Quinn.

Ainda em Estado de Graça


Normalmente já nem passo os olhos pelo suplemento "Inimigo Público", por achar que aquilo não é humor, é outra coisa qualquer que está um ou dois escalões abaixo (pelo menos para o meu gosto). Mas achei esta capa de 5 de Agosto soberba e bastante esclarecedora sobre esta gente que nos governa (não deixem de reparar no nadador salvador...).


Por enquanto os ministros vão tendo palavras para tudo, desde aquele senhor que quer ser tratado simplesmente por Álvaro, que ainda deve viver num mundo cheio de "super-heróis" e justifica os ordenados chorudos da chefe de gabinete e dos assessores pela sua "super-qualidade", mas sem se esquecer do chavão sempre usado por governantes e deputados: «aceitámos o cargo pela causa nacional, já que ficámos a perder dinheiro.»

Tenho a sensação que vão tentar "vender" o país a retalho, para que não sobre nada para quem vier a seguir, fechar a porta...

Fico abismado com o "silêncio dos inocentes" que escrevem nos jornais (claro que há excepções, mas são muito poucas e servem de aviso para aqueles que diziam que Sócrates dominava a comunicação social...), que continuam à espera dos próximos episódios deste governo, que por enquanto tem como único grande corte na despesa, o "desvio" de parte do subsídio de Natal de todos nós.

segunda-feira, agosto 15, 2011

Fim de Semana no Oeste


Passámos estes fim de semana com feriado nas Caldas da Rainha.


Apesar do microclima do Oeste ter feito das suas - no sábado á noite até caiu aquela "cacimba", que não molha apenas parvos -, foram três dias bem passados.

No sábado estivemos na "Livraria 107", onde comprámos alguns livros. Falei com a Isabel, que me confidenciou que não vai mesmo conseguir manter aquele espaço, tão familiar e do bom tempo em que vender livros era tarefa de quem os ama e conhece como ninguém...

A Praça da Fruta continua única, poderá estar ultrapassada no tempo, mas aquele regatear adocicado (pelo menos para quem está habituado aos preços tabelados), assim como o orgulho em que dizem que tudo o que vendem é das suas várzeas do Oeste, são únicos.

E muitas flores naturais (como as da fotografia, sim os girassóis são verdadeiros), em ramos e arranjos, a preços convidativos.

Também visitámos no domingo a Quinta dos Lóridos, onde o Berardo "plantou" o seu Jardim do Oriente (em princípio escreverei sobre isso nas "Viagens").

Hoje, depois de almoço regressámos à Margem Sul. Saímos das Caldas com nevoeiro e uma temperatura de pouco mais de vinte graus e chegámos a Almada com trinta e quatro.

Como eu gosto daquela frescura, ao contrário do resto da família...

sábado, agosto 13, 2011

«Durante largos anos fiz colecção de amores impossíveis.»


Escutava-o embebecido, pela forma pormenorizada com que relatava cada uma das suas histórias de amor impossíveis.

Começou pela miúda dos búzios, que encontrou a escutar o mar, a poucas centenas de metros da praia. Convidou-a para ir ouvir o oceano sem búzio, ela olhou-o surpreendida, para de seguida lhe virar as costas. Passou mais vezes pelo mesmo lugar, mas nunca mais encontrou a pequena.

Até chegou a pensar que tinha sido fruto da sua imaginação, mas quase no final de férias, viu-a na praia de mão dada com um rapaz muito penteadinho.

Pensou que tinha aprendido a primeira lição sobre as mulheres e chegou a pensar em comprar um pente.

Depois falou da loura, que podia ser da Suécia, mas era da Amadora. Tinha uma irmã gémea, bem portuguesa, que fez tudo para que a coisa não resultasse. Como era de ideias fixas, deixou a irmã da sua musa, a chuchar no dedo.

Julgou que tinha aprendido a segunda lição, pensando que duas mulheres eram uma multidão, e se fossem irmãs, a coisa ainda aumentava de volume...

Cresceu um palmo e apaixonou-se por uma mulher casada, aparentemente infeliz, mas incapaz de dar qualquer "facadinha" no matrimónio. Pensava que os olhares que trocavam na mercearia não enganavam. Mas nunca passou disso. Apeteceu-lhe bater à porta da senhora e cantar-lhe qualquer canção do bandido. Mas a sua voz era péssima...

Podia estar ali a noite toda a contar histórias de amores impossíveis, apenas porque nunca se esforçou para que fossem possíveis, como confessou.

Quando ele lhe perguntou pela mulher, com quem estava casado há mais de trinta anos, o velho amigo piscou-lhe o olho respondeu: «não casei por amor.»

O óleo é de Spartaco Lombardo.

sexta-feira, agosto 12, 2011

O Espantalho, a Natureza e a Poesia


Já fizera um pouco de tudo, mas nunca estivera assim, em exposição para o mundo.
Nos primeiros dias achou tudo aquilo agradável, por ser novidade e por ter tanto tempo para olhar, pensar e sonhar acordado.

Adorava sentir o vento a entrar e a sair pelas suas roupas largas, cheias de "respiradores".


Divertia-se ao perceber que a sua figura era assustadora, principalmente para os pássaros, que nunca se aproximavam muito da área cultivada.


Pouco tempo depois quis entender a razão deste "respeito". Pensou que era da sua posição, quase de Cristo na cruz, com os braços bem abertos, com pedaços de palha a saírem das mangas do casaco, que ainda por cima soltavam sons quase musicais, quando o vento soprava mais forte.


Foi por isso que no dia seguinte decidiu baixar os braços. Alguns pássaros mais corajosos entenderam o gesto e aproximaram-se, sem sentir qualquer animosidade. Surpreendidos e satisfeitos, voltaram à sua ladainha diária, penicando os frutos e as plantas apetitosas, da melhor horta das redondezas.


Quem não gostou daquele baixar de braços foi o patrão. Desceu imediatamente do seu pedestal e sem pedir explicações, despediu-o.


Ele não se importou muito. Ao princípio achou graça, mas depois percebeu que era demasiado triste a vida de espantalho...


O óleo é de Andrea Kowch.


quinta-feira, agosto 11, 2011

Os Saldos Humanos do Jornalismo


Encontrei nas ruas de Lisboa um dos meus mestres do jornalismo, o "Lola". Gostei muito de o ver, de o abraçar, de sentir que continua rebelde e sem dono, apesar de receber uma reforma curta, que mesmo assim não lhe rouba o prazer de uma boa comezaina nem da cachimbadela depois da refeição. E como gostei de sentir o cheiro único do tabaco de cachimbo, algo quase inexistente nas nossas urbes.


A sua alcunha singular não nasceu de qualquer preconceito sexual, mas sim da paixão ardente por uma bailarina do Parque Mayer, nunca totalmente correspondida. Este amor além de lhe ter marcado a juventude, foi cravado na sua "pele" por toda a gente que o conhecia e conhece, no Bairro Alto e arredores. Tenho quase a certeza que se alguém gritar por Carlos, ele nem se deve voltar para trás, porque o "Lola", foi e é, a sua verdadeira identidade lisboeta.

Está profundamente desiludido com o mundo, por perceber que os homens em vez de lutarem pela igualdade e liberdade, preferem espezinhar e ser espezinhados, nesta autêntica selva capitalista.

Do jornalismo nem quis falar, pela falta de coluna vertebral dos escribas da corte e pela "autêntica dança de cadeiras", que acontece sempre que há eleições, com os críticos mais severos do PS a receberem como prémio lugares de assessores, directores de comunicação, chefes de gabinete e até secretários de estado, tal como já sucedera antes com os críticos do PSD, quando os socialistas entraram para o poder.

É por isso que diz que o mundo mudou, mas para pior, tal como o jornalismo. Admite que a malta do seu tempo escrevia pior que a gente que sai das universidades, mas escreviam notícias e não artigos encomendados por este ou aquele grupo e económico. E andavam de costas direitas, sem se preocuparem com os colarinhos das camisas roçados, a cor das gravatas ou com os buraquitos que apareciam nas meias...

Em mais de duas horas de conversa, limitei-me a ouvir e a sorrir, grato por receber aquela lufada de ar, cheia de lucidez, que ainda me deixou mais satisfeito por ter acontecido minutos depois de uma reunião de trabalho, povoada de "lambe botas"...

O óleo é de Bjorn Richter.

quarta-feira, agosto 10, 2011

O Que Arde em Londres?


Em Londres, ardem sobretudo os nossos sonhos.


Parece que as ruas, normalmente desertas, assim que cai a noite, se enchem de fantasmas, saídos de quartos irrespiráveis, onde o pequeno almoço, lanche, almoço, jantar, ceia, e as horas mortas, estão sempre acompanhados pelo lado mais esconso do mundo, quase tão virtual como irreal, que imerge no interior dos computadores e da própria televisão. De repente a China, a Rússia ou a América, ficaram logo ali ao virar da esquina.

Percebe-se que é este "novo mundo", que nos dá cartas (mesmo que sejam só duques e ternos) em toda a sua dimensão.

No mundo económico e financeiro as agências mafiosas provocam crises a partir do nada, quase apenas porque sim, numa nova febre do "ouro". No seio dos jovens desempregados, carregados de solidão e cada vez mais desiludidos com o outro mundo, que lhes é apresentado a cinzento, é hora de brincar às guerras, aproveitando a elasticidade das novas tecnologias, fazendo aquilo que é mais fácil a qualquer ser humano, destruir.

Londres promete ser outras cidades, até Lisboa, certamente, porque há demasiada gente, na maior parte dos governos, a esforçar-se para que que fiquemos sem sonhos...

O óleo é de Modesto Trigo.

terça-feira, agosto 09, 2011

Quando Foi Que Perdemos a Rua?


Depois de ter despejado o lixo resolvi dar uma volta pelo quarteirão. Passava das vinte e três horas e um grupo de "putos" cujas idades deviam andar entre os 10 e os 15, brincavam na rua, num misto de apanhada e escondidas.


O único que se meteu comigo foi o mais novo, estava pendurado numa árvore e antes que eu dissesse alguma coisa, disse que não caia dali. Sorri e disse-lhe que sim, acrescentando que para ele não cair tinha de se segurar bem.

Os outros rapazes maiores passavam rente a mim, como se eu não existisse. Um pouco mais à frente estavam umas bicicletas caídas no chão e umas bolas de futebol alinhadas. Percebi que alguns tinham vindo de outros quarteirões brincar para a minha rua.

Sabia que eles não eram uns rapazes quaisquer, tinham a liberdade de andar na rua, coisa que o meu filho e outros miúdos perderam, há bastante tempo.

Nós pais somos os principais culpados de eles não terem uma rua, fomos nós com o super (e normal) proteccionismo, que os habituámos a não sair à noite sozinhos, etc, por "causa" dos filmes que nos vendem de violência, quase a todas as horas na "caixa mágica"...

O óleo é de Kim Cogan.

domingo, agosto 07, 2011

O Futuro da União Europeia e o Fantoche Português


Não sou muito bom em inglês, preciso quase sempre de tradutor quando falo com gente de fora ou passeio pelo Mundo. Mas ontem à noite nem foi preciso, num jantar onde esteve presente um casal que vive por cá, ele norueguês ela italiana.


Não, não falámos do "louco de Oslo", falámos sim desta Europa onde estamos. Laura, uma romana sem papas na língua, chamou fantoche ao Durão Barroso e culpou-o de ser um dos grandes responsáveis pela falta de identidade da União Europeia. E tem razão, com outro líder, menos "fantoche" (esta palavra diz quase tudo sobre a sua postura como governante), mais forte, os alemães talvez fossem forçados a respeitar os outros países, talvez fossemos mais uma "união europeia" e não esta coisa que está a marginalizar o Sul da Europa. Só falta dizerem que é preciso expulsar o nosso Sol, porque nos faz mal e nos torna improdutivos.

Quando quiseram saber se eu acreditava numa Europa unida, eu disse que sim, mas não esta, com tantas desigualdades e desequilíbrios. Dei como exemplo o nosso país: quando entrámos recebemos muito dinheiro, mas oferecemos como contrapartida, a quase destruição da agricultura e das pescas, ficando completamente reféns do exterior. Esta última então é completamente incompreensível, quando temos uma das maiores costas marítimas europeias.

Todos concordaram que a senhora Merkel acredita mais na Alemanha que na Europa...

O óleo é de Gugliemo Siega.

sábado, agosto 06, 2011

A Lição da Cigana


Pensava que os polícias já não andavam atrás das ciganas que vendiam roupa na rua, nem de outros vendedores ambulantes. Pensava... mas estava enganado.


A mulher de saia comprida lá foi obrigada a arrumar a trouxa mas o polícia não parava de a chatear, até que ela o enfrentou, em voz alta, para que todos ouvíssemos: «largue-me da mão, além de ser casada, você não tem boca para me comer nem cu para me cagar.» O agente da autoridade, surpreso, olhou para todos os lados, sem saber o que fazer.

Ela continuou, aconselhando-o: «vá mais é à sua vida e deixe-me com a minha, que de certeza que é muito pior que a sua.» O polícia desta vez não olhou para ninguém, limitou-se a acelerar o passo e a desaparecer da praça, enquanto o diabo devia exclamar, tal como todos nós, surpreendido com ambas as reacções.

Mesmo sem ter uma admiração muito grande por ciganos, simpatizei com a dureza e coragem da mulher, que deu a entender ser capaz de sobreviver a todas as hostilidades do tempo e dos homens.

O óleo é de Arquer Buigas.

sexta-feira, agosto 05, 2011

As Outras Leituras de Férias...


Além de "La Coca", li mais dois romances, "O Coração dos Homens", de Hugo Gonçalves e o "Hotel Memória", de João Tordo (que já tinha viajado para o Sul e acabou por regressar sem ser lido). Como sou o mais rápido a ler cá de casa e costumamos partilhar os livros nas férias, acabei por ficar "sem livro", o que fez com que comprássemos, "Histórias Daqui e Dali", de Luís Sepúlveda, na Feira do Livro de Tavira.


Além destas leituras, levei também três livros de poesia, "Obra Poética - VI", de Armindo Rodrigues, "Tempo da Cidade", de Rui Cinatti e a "Incidência da Luz", de Graça Pires, uma visita sempre agradável aqui no Largo. Os dois primeiros devido a um trabalho que estou a fazer e o último para dar a conhecer as palavras da Graça, sempre profundas e luminosas, que já tinha lido em Maio.

Mas vamos lá voltar à prosa: "O Coração dos Homens", é quase uma obra de ficção cientifica devido ao absurdo da sua história, a invenção de um país sem mulheres (e sem homossexuais...), ou seja sem amor. Embora se leia bem, não deixa de ser um livro estranho.

O "Hotel Memória", está muito bem escrito (João Tordo deve ser o escritor da sua geração que melhor escreve), mas continuo a achar que o João não se deixa agarrar pelas melhores histórias. Já o tinha sentido quando li o seu último romance. Desta vez a história circula em volta de um estudante, em Nova Iorque, que é quase triturado por uma torrente de acontecimentos do piorio, desde um amor, que lhe foge das mãos demasiado cedo, a incapacidade de continuar a estudar e a perda da bolsa de estudo, a vagabundagem, um emprego como lavador de pratos, mais rua até ser contratado para descobrir o paradeiro de um fadista português (Daniel da Silva). Levou longe demais a investigação, acabando por ficar sem um olho e com vários ossos quebrados. Mas acabou por encontrar o fadista, já sem sonhos musicais. Embora esteja bem escrito, há demasiados saltos na história e muitas pontas soltas.

As "Histórias Daqui e Dali", não são mais que uma colagem de crónicas inéditas do autor, publicadas ao longo dos anos. Ajudam a perceber a vida de Luís Sepúlveda nos anos que passou no exílio. Também desmonta algumas histórias e evoca amigos de sempre, alguns engolidos pela ditadura de Pinochet. Só por contar quem era o Velho que lia romances de amor (que deu origem a este belo romance), valeu a pena a leitura.

quarta-feira, agosto 03, 2011

"La Coca" e a Droga da Vida...


Durante as férias consegui ler quatro livros.


O primeiro que li foi "La Coca", de J. Rentes de Carvalho. Gostei bastante, tal como já tinha gostado de "A Amante Holandesa".

O autor aproveita muito bem a "boleia" do contrabando e tráfico entre as margens do Minho, para revisitar a infância e adolescência, voltando ao convívio com amigos desses tempos, alguns dos quais completamente enrolados pelas artimanhas do dinheiro fácil e sujo.

"La Coca" passa para segundo plano porque as memórias do autor preferem percorrer outros caminhos, bem mais agradáveis para o leitor.

É agradável sentir que a literatura não tem de ser complicada, que os livros não têm de ser escritos de pernas para o ar, como tantos autores insistem em fazer.

J.Rentes de Carvalho além de escrever muito bem, utiliza todas as palavras sem se preocupar com os outros. A sabedoria que se vai adquirindo com a idade, tem destas coisas, permite-nos chamar as coisas com os nomes certos, e JRC chama, felizmente.

Há outro aspecto inquietante na sua obra, os livros são tão reais que nunca sabemos onde começa a ficção e acaba a realidade.


terça-feira, agosto 02, 2011

Olhar de Cima


Gosto daqui. Gosto de olhar as coisas de cima, de miradouros, de ver os campos que se perdem de vista, as cidades cheias de telhados, ruas pequenas e pessoas-formiga, os rios sempre vivos, e claro, o mar, então se for dos barulhentos, como o meu Mar da Foz do Arelho...

segunda-feira, agosto 01, 2011

Primeiro de Agosto Chuvoso


A chuva que cai um pouco por todo o país, provoca sensações diferentes: irrita quem entrou de férias, faz sorrir quem começou a trabalhar.


De manhã apanhei um salpicos, pois não levei a sério o cinzento do céu nem o cheiro a terra molhada perto da minha casa e sai de casa de camisa e calções.

No Sul só apanhei uma manhã estranha, assim para o cinzento, mas não chegou a chover. E às onze e pouco o Sol apareceu e ficou até ao fim do dia.

Embora possa parecer engraçada, a chuva de Agosto é sempre uma coisa estranha, mesmo que já não se esteja de férias...