Há poucos dias, durante uma das minhas caminhadas, vi uns fulanos ao "ferro" nas instalações devolutas do "Clube Lisnave" e também da velha empresa da Margueira.
Vi que havia dois novos buracos na rede e dois dias depois entrei lá dentro, para tirar algumas fotografias (o retrato de ontem é de lá...). Acabei por me cruzar com os dois fulanos, que pelos vistos ainda não tinham levado o ferro todo. Sem que eu perguntasse, um deles tentou justificar-se, contou-me que estava desempregado e andava por ali a ver se arranjava uns cobres. Respondi-lhe para estar à vontade, só estava a tirar fotografias. Minutos depois o outro passou por mim a alguma distância, e provocador, disse: «Não me queres tirar também uma fotografia?» A minha resposta foi um virar costas.
Fiquei a pensar que uma parte das instalações, que devia ser de escritórios, ainda estava com bom ar (esquecendo o vandalismo do costume...), e que podia ter tido outra vida, outra utilidade, e nunca o abandono. Também pensei que nunca fora ocupada pela "gente sem eira nem beira", por se encontrar à beira da estrada.
Foi então que "regressei" ao Ginjal, porque dias antes tinha descoberto que a casa da Júlia (a última moradora oficial do Ginjal...) estava de novo ocupada, mas com uma inovação: desta vez tinha electricidade e tudo. Da janela da sua cozinha vi uma lâmpada florescente e ouvi música, além de vozes a cantar. Na altura pensei na "arte e engenho" desta gentinha, que consegue ir buscar luz, onde ninguém espera...
Também fiquei dividido em relação a estes espaços abandonados. Sei que se estiverem desabitados a degradação e a destruição é muito mais rápida, a melhor solução era oferecer-lhe uma nova "família". Mas também sei que uma boa parte destes "ocupas", quando abandonam estas "casas de abrigo", deixam-as sempre muito pior do que as encontram...
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)