Já conhecia a expressão, talvez até venha dos tempos da minha avó, mas nunca gostei dela. E naquele momento ainda menos, por ter sido dita com desdém, em resposta a alguém que queria muito ser pai.
Deixei-me ficar no meu canto. Sabia que as mulheres são cada vez mais, as donas do seu corpo, e ainda bem, mas continuam a irritar-me os exageros e os fundamentalismos do que quer que seja.
Estava a pensar que o mundo não seria grande coisa, se a maior parte dos homens começassem a fazer como os japoneses, fingindo preferir o mais fácil: brincar com bonecas que nunca dizem não, nem têm dores de cabeça. Depois dei um salto, até às mulheres que também fingem preferir cuidar de um cachorrinho que de uma criancinha.
Foi quando a Alice se sentou a meu lado, quebrando a linha quase estúpida dos meus pensamentos.
Sem que eu lhe perguntasse o que quer que fosse, contou-me a história simples da sua vida, irritada com aquela quase desumanidade feminina, disfarçada de brincadeira.
Confessou-me que tinha duas filhas e não imaginava a vida sem a sua presença. E sempre quisera ter um rapaz, mas não quis correr o risco de insistir e ficar com uma "equipa" feminina para qualquer desporto curto. Mesmo as discussões que tinha com elas, acabavam por ser o sal da vida. Mas foi mais longe, trouxe para a mesa os milhões de mulheres por esse mundo inteiro que querem ter filhos e o corpo não deixa, por isto ou por aquilo.
Não fomos mais longe, pelo tempo e também para não dar mais corda a uma conversa com "pano para mangas"...
(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)