Nestes dias que antecedem o Natal é normal existir mais confusão de trânsito que no resto do ano. Mesmo com a inflacção, a correria tonta à procura de prendas é a mesma de sempre.
E foi por causa das compras, que eu estava ali parado, dentro do carro, bem estacionado, porque entretanto alguém deixara um lugar vago. Esperava e desesperava para que "ela chegasse" com as mãos cheias de sacos...
Quase a meu lado uma mulher jovem buzinava há já um par de minutos, porque alguém a encurralara com o carro e fora às compras, com a maior desfaçatez. Algum tempo antes houve outro alguém que também me tentou "prender", mas eu buzinei, e ele lá foi "tapar outro carro" nas redondezas, de preferência sem condutor...
Entretanto o homem chegou e em vez de pedir desculpa à jovem pelo incómodo, começou a insultá-la, por esta ter demonstrado o seu desagrado, educadamente, por ter de ficar ali presa, há já uns bons cinco minutos.
Eu achei tudo aquilo surrealista, embora fosse mais normal do que poderia parecer, vindo de quem vinha o insulto. O sujeito era de etnia cigana e devia passar o tempo fingir que desconhecia o significado da palavra civismo, quando circulava pelas ruas da cidade.
Acabei por ficar a pensar, que ainda bem que era uma mulher que estava ali, a afastar-se com o carro. Ela não só não voltou a dirigir a palavra ao "selvagem", como foi capaz de fingir que ele não existia.
Se fosse um homem não ia reagir assim e acabaria por haver confusão, com toda a certeza pouco natalícia...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)