Na mercearia, no café ou no cais, todos são capazes de lhe oferecer uma "vida", quase sempre perigosa e com um futuro pintado de escuro.
Veste-se sempre de uma forma desarrumada, como se a roupa tivesse alergia ao ferro de engomar. O curioso é que não cheira nada mal, até usa perfumes caros. Um contra senso, igual a tantos outros, capazes de encher os bolsos e a boca da vizinhança.
Dizem que fala quase uma dúzia de línguas, o que lhe dá uma aura que tanto pode ser de espião como de um traficante de qualquer coisa, que escapa à lei. A coisa piorou quando o viram falar com um fulano de turbante, quase que foram obrigados a ofereceram-lhe outra actividade: terrorista a soldo dos mouros.
Mais desconcertante só mesmo o homem de idade que quando se cruza com ele, tira o chapéu e o trata por doutor. Responde-lhe com um sorriso, sem se esquecer de dizer que não dá consultas na rua.
Os homens olham-no de lado, desconfiados do seu jeito para lidar com as mulheres e pintam-no como alguém próximo da família dos "gigolos". As mulheres de todas as idades, que ainda são capazes de sonhar com um "amor bandido", sorriem-lhe com gulodice quando passa e lhes oferece um bom dia ou boa tarde feliz.
A vida dele parece um mistério, apenas porque ninguém imagina que um dentista se vista de uma forma tão desarrumada...
A fotografia é de Jean Dieuzaide.