Acabei hoje de ler, "Os Memoráveis", da autoria de Lídia Jorge.
É um grande livro sobre a Revolução de Abril e sobre os seus principais heróis, que sobressaíram do tal grupo de 5.000 mil homens, que tomou a Cidade de Lisboa, na madrugada de 25 de Abril de 1974.
É também um excelente exemplo de como se pode fazer ficção, sem fugir dos factos e sem menorizar as grandes figuras da Revolução.
O ponto de partida escolhido pela autora é uma fotografia, datada de 21 de Agosto de 1975, que juntou à mesma mesa do "Memories" figuras improváveis - aos nossos dias, claro - de vários quadrantes da sociedade, quando o PREC estava ao rubro. Fotografia que será usada como pano de fundo de um documentário televisivo produzido para a CBS, a conhecida cadeia televisiva norte americana, a partir dos depoimentos de uma boa parte dos retratados, onde estão incluídos os principais estrategas do 25 de Abril de 1974.
Ana Maria, Margarida e Miguel Ângelo são as principais personagens desta aventura, recebendo de Lídia Jorge os papeis de jornalistas e operador de câmara, na realização da "História Acordada".
Um dos aspectos mais curiosos deste romance, é a posição do casal de poetas, que também aparecem na fotografia, Francisco e Ingrid, principalmente ele, com um pensamento demasiado realista em relação à Revolução, logo nos seus primeiros dias. Francisco achava que o facto de não se ter derramado sangue seria fatal para o desfecho do golpe militar, ou seja, fingia-se uma mudança para que tudo ficasse na mesma... Quem diria, um poeta aparentemente vazio de sonhos...
Muito mais haveria a dizer desta obra, onde Otelo surge a cavalo, na Praia Grande, ao engano. O jornalismo que, através de António Machado, aparece quase moribundo... E até se inventa um amor fora de tempo, porque Margarida queria ter um "filho da revolução", alguém com sonhos, gerado com um homem diferente dos homens da sua geração...
Se puderem, leiam.