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quinta-feira, setembro 26, 2019

As Burricadas de Cacilhas (e a protecção dos animais...)


No dia 29 de Setembro (domingo) realizam-se as já habituais "Burricadas", uma tradição antiga transportada para os dias de hoje pelos escuteiros de Cacilhas.

Quando ainda não se sabia a data do evento, o Centro de Cultura Libertária (anarquistas), com sede na rua Cândido dos Reis, onde se realiza o habitual percurso das "Burricadas", divulgou no seu blogue que iria organizar uma "jornada de protesto" silenciosa, junto ao seu espaço:

«Junto com o VOE (Veganismo de Oposição à Exploração), iremos realizar um protesto (silencioso) contra as Burricadas que se realiza anualmente na Rua Cândido dos Reis, ainda que nos tem sido recusada a informação sobre a data, estamos já com o protesto e evento preparado. Pormenores finais em breve.»

O CCL irá colocar uma faixa com estas palavras: "Os animais não são um brinquedo" e farão uma pequena performance "O burro triste".

Claro que tudo isto contraria o uso que tradicionalmente se dá a estes animais domésticos (mesmo nos lugares onde existem associações de protecção dos Burros, é normal serem realizados passeios no seu dorso, quase sempre por crianças...). 

Mas todos os "radicalismos" fazem pensar... E neste caso particular o protesto também se realiza contra a entidade organizadora (os Escuteiros), que por serem defensores da natureza, deviam proteger todas as espécies animais...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

sábado, janeiro 12, 2019

Os Óculos Escuros são Óptimos para Dizer Bom Dia ao Sol...


De certeza que já falei disso por aqui (quando fico sentado alguns minutos no banco de madeira do "Largo", falo mais do que a conta...). Sempre fui ligeiramente distraído, com o bom e o mau da coisa. 

Além desta característica, tenho também uma grande capacidade de abstracção, o que faz que me digam muitas vezes, que não "vivo cá".

E na verdade eu prefiro mesmo não "viver lá". É por isso que às vezes fujo das ruas onde há demasiadas pessoas a andarem, para baixo e para cima. E até sou capaz de acelerar o passo, se sentir um cheiro a fritos, quase exóticos.

Às vezes penso que duas ou três pessoas têm inveja de não conseguirem aproveitar as oportunidades, mesmo pequenas, de esvaziar os bolsos de problemas, algo que também sempre fiz, sem grande dificuldade. Digo isso porque este meu "positivismo natural", acaba por irritar algumas gentes, especialmente as que vivem abraçadas à "desgraça" e tentam transformar a vida em algo parecido com um "álbum duplo de fado escuro"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

sexta-feira, dezembro 21, 2018

Populismo? Não, Obrigado!


A resposta dos portugueses aos muitos convites para vestirem coletes amarelos hoje (que falta de imaginação...), foi a que se esperava (ou a que eu esperava).

Se por um lado, os revolucionários das "redes sociais" continuam a ter alguma dificuldade (e medo) em entrar no mundo real, por outro, as pessoas não gostam muito de protestar apenas porque sim.

Já se sabia que a "anarquia" da organização deste movimento, poderia ser aproveitada pelos nacionalistas do "cabelo rapado, botas da tropa e vivas ao salazar", para tentarem tomar conta dos acontecimentos e dar nas vistas, especialmente na Capital, onde se sabia que as televisões iam estar atentas (coitadas não tiveram grande espectáculo, apesar das várias tentativas de dar voz aos "revolucionários" para as câmaras...). E parece que sim (até tentaram ficar "cativos" dos guardiões do poder), que foi, pelos testemunhos de alguns participantes, que se queixaram de ser "ameaçados de morte"...

Quem deve ter tido pena de não participar, foi a nossa (salvo seja) Assunção. E o amarelo até lhe fica bem...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, outubro 15, 2018

Depois Sorrimos, sem Palavras...


Conversa acalorada, com os cinismos, as hipocrisias, e os egoísmos  a saltaram para a mesa, com a ligeireza de heróis da Olímpia. 

Durante cinco minutos ninguém se entendeu. Foi o bom tempo dos atropelos, de falarmos todos quase ao mesmo tempo.

Em todos os grupos há sempre alguém que fala pouco e que quando abre a boca diz quase sempre coisas "filosóficas". O Arenga é um bocado assim.

Quando disse: «É normal que os interesse particulares se sobreponham aos colectivos. Somos mais ilhas que continentes...»

Ficámos calados a olhar uns para os outros, quase com uma fita métrica, a medir o alcance da frase do nosso "escutador-mor". 

Depois sorrimos, sem palavras.

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, maio 03, 2018

Conservadorismo & Teimosia


Sei que sou um conservador teimoso. E que também vivo mais vezes do que parece num "outro mundo"... Algo que acontece com quem tem a capacidade de falar com o que não se vê (quando me cruzo com pessoas que falam sozinhas na rua, como eu, penso sempre que elas deviam escrever, embora não tenham ar de o fazer...) e de escrever sobre e com os "seus fantasmas"...

Pensei nisso por continuar avesso a ter um telemóvel daqueles que quase que  fazem as pessoas sair do mundo, talvez por conseguirem o "milagre" de esconderem outras pessoas lá dentro (sim, o meu continua a ser uma coisa pequenina, do século passado, que só serve de telefone...).

Talvez seja uma limitação minha, mas não consigo andar no coração da cidade, sem olhar, ouvir e sentir o mundo...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, janeiro 30, 2018

Os "Excelentíssimos" Fiscais...


Os fiscais dos transportes de Almada (especialmente os do "metro"...), têm qualquer coisa de "passadista" (também pode ser de "salazarista"), na forma como olham e como falam com os utentes.

Por vezes fazem mesmo uma autêntica "espera" às pessoas que saem do transporte nas estações, barrando-lhes o caminho, para lhes pedir o passe ou um título válido da viagem, provocando a indignação da maior parte das pessoas, que acham que as estações já são campos de liberdade...

Já fiz mais que uma vez  orelhas moucas conseguindo pôr os fiscais a correr atrás de mim, com a tal "cara" passadista. Faço-me desentendido e "surdo", mostrando-lhes o passe, sem dizer qualquer palavra. Ficam desconfiados, sem perceber que faço aquilo graças à sua "actuação pública", que faz com que me apeteça "transgredir"...

Aquilo que recordo mais parecido com a acção destes "excelentíssimos" fiscais, é o impagável guarda do Parque das Caldas, coxo, que, munido do seu apito, parecia um árbitro num campo de futebol, mal pisávamos a relva...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, janeiro 14, 2018

Lá Voltam os Espelhos...


Dos poucos amigos que tenho, dois são bastante radicais e excessivos. Isso acontece porque não só se estão borrifando para o "politicamente correcto", como são incapazes de tolerar hipocrisias e cinismos. 

Ficam muitas vezes mal na fotografia. Mas não é nada que os incomode muito, diga-se de passagem.

Eu que também não sou das pessoas mais "moldáveis", noto que ao pé deles passo quase por um tipo "tolerante". Isso acontece sobretudo por saber (por experiência própria...), que "partir louça" normalmente não resolve nenhum problema (às vezes ainda os agrava mais...).

Muitas vezes chamo-lhes "revolucionários" e "anarquistas", e mesmo sabendo que têm razão em muitos pontos de vista, tento puxá-los até às linhas do razoável. Sei que não lhes posso dar demasiada força, porque estes tempos não estão para "revoluções" e exigem mais inteligência e esperteza que o normal para lidar com o coro de "hipócritas e cínicos", que nos abordam quase sempre com sorrisos e palminhas nas costas...

Estes dois bons "radicais" têm ainda outra particularidade, quando são amigos são mesmo a sério, nunca falham (claro que acontece exactamente o contrário com os "inimigos", mas estes que se danem, como diz o outro...).

(Óleo de Franz Van Stuck)

sexta-feira, setembro 15, 2017

É Impossível Meter o Meu Gosto no Bolso...


Embora por vezes tente, sei que não é possível ser neutro, muito menos meter o meu gosto no bolso.

Onde experimento mais essa sensação, é quando monto uma exposição artística sozinho (algo que acontece mais vezes do que queria...). Por muito que me tente defender com as cores e os tamanhos das obras, usando-os inclusive como pontos de referência, acabo quase sempre traído pelos meus olhos, que sabem ser convincentes, ao não prescindirem das suas escolhas.

Como as pessoas raramente se manifestam (pelo menos publicamente...), acabam por não questionar os critérios utilizados na montagem, e ficam sem saber a razão para do quadro do "Manel" ter mais destaque que o da "Maria"...

Ou seja, não tenho a oportunidade de lhes dizer, que é por ser "mais giro"...

(Óleo de Henri Matisse)

quarta-feira, maio 03, 2017

Palavras Frescas (e às vezes confusas)

Quando se escreve directamente no "blogger", as palavras acabam por sair quase sempre mais frescas, mas por vezes também mais confusas (foi o que aconteceu ontem e é o que vai acontecer hoje...).

As ideias são tão complicadas como nós, às vezes misturam-se num simples parágrafo e fazem com que se mude o sentido das coisas. Ou seja, a ideia inicial é "derrotada" por outra que entretanto apareceu, e que me disse que tinha vindo para ficar.

Outras vezes é uma telefonema, como aconteceu agora, em que me estavam a oferecer uma data de coisas (os fulanos que vendem os pacotes de telecomunicações gostam de fazer o número de "pai natal"...),que acabamos por não usar, para no final acabarmos por pagar mais.

Pois é, queria falar de uma coisa e já estou a falar de outra.

Mais um telefonema. Afinal vou ter de ficar por aqui. Vou lá fora até ao mundo (pode parecer que estou a ficar maluco, mas não, passo só ao lado da casa amarela, onde mora um bom grupo deles...)

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, maio 17, 2016

A Sempre Bela Feira da Ladra


O campo de Santa Clara continua a encher-se de gente às terças e aos sábados na já histórica Feira da Ladra. Muitos aparecem para fazer negócio, outros apenas para assistirem a todo aquele movimento humano, onde é possível regatear como em Marrocos.

Nos períodos de crise este tipo de mercado costuma florescer, e foi o que aconteceu nos últimos anos, para gáudio dos turistas, que descobrem uma feira especial, com um colorido único de ofertas.

Embora possa parecer estranho, há cada vez mais jovens que se vestem nas várias "boutiques ambulantes", que espalham pelo chão da feira. Isto acontece porque conseguem encontrar peças com alguma originalidade e sempre a bons preços.

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, abril 27, 2016

Uma Cidade Para os Outros

Não gosto desta Lisboa que está a perder a autenticidade, da Cidade que se está a virar para fora e a esquecer a sua verdadeira essência bairrista, apenas porque se transformou num óptimo negócio, para alguns, apostados em a espremer até ao tutano.

O mais estranho é que nos acusam de trabalharmos pouco, mas são os outros povos, oriundos de países mais desenvolvidos (os turistas estão longe de ser apenas reformados, pois há entre eles gente de todas as idades...), que passam o tempo a viajar, a conhecer mundo...

Os preços dos bilhetes para os museus aumentaram, penso que os próprios bilhetes de transportares são diferenciados (por enquanto...). A comida nas partes que atraem mais visitantes também deve ter sido inflacionada. 

Nunca tinha visto tantos eléctricos a circularem pelas colinas, com "aluguer" como destino, a par das "motorizadas-táxi" coloridas e voadoras, conduzidas por jovens de ambos os sexos que nos fazem lembrar o oriente,  até pelo seu desembaraço.

Sei que este "filão é esgotável", pelo menos desta forma confusa e atabalhoada, que nos faz lembrar mais o Norte de África e algum Oriente, que a Europa. Mas talvez seja isso que estas pessoas procuram... e como agora não dá muito jeito visitar a Síria, o Egipto, a Líbia ou Tunísia, visitam este Portugal, com exotismos para quase todos os gostos.

A identidade nacional? Está no fado, e não se fala mais nisso...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, março 06, 2016

O "Doutor" que Canta o Fado e Conta Histórias Deliciosas


Embora ele não me explicasse como foi a sua infância (pelo menos com principio, meio e fim...), percebi que tinha sido uma enorme aventura, quase um salve-se quem puder. Filho de pais demasiado ausentes e distraídos, salvou-se o avô,  mestre em todo o género de expedientes e que continua a ser o seu herói preferido.

Com tantos putos do seu tempo foi obrigado a crescer depressa demais e a descobrir antes do tempo todo o tipo de "manhas", usadas pelos adultos para arranjarem uns trocados e sobreviverem na "selva urbana".

No bairro onde cresceu habituou-se a ser visita das casas dos vizinhos, que lhe davam comida e até abrigo, especialmente no Inverno. 

Quem o queria chatear chamava-lhe "Má Sorte", a alcunha do pai, que ficou sempre com a sensação que passou mais tempo preso que em liberdade, sobretudo por aselhice, a que se juntava algum azar. O avô há muito que desistira de o ensinar a fugir dos problemas. Preferiu dedicar-se ao neto, que tinha mais do dobro do potencial do filho e era menos teimoso. Foi por isso que quando ele cresceu ficou conhecido como o "Doutor" (alcunha do avô) e não por "Má Sorte".

Hoje, quando lhe perguntam a profissão, nunca sabe o que responder. Talvez seja engenheiro de qualquer coisa, como alguns fulanos que não trabalham como ele, mas têm bons empregos e melhores ordenados. Ele tem de fazer pela vida, todos os dias têm de enganar alguém, para conseguir viver decentemente.

O que me deixou mais surpreso, foi perceber que ele tinha valores diferentes,  não perdia tempo a preocupar-se com o bem ou o mal. A única ética que tinha era a do bom malandro, ensinada pelo avô: nunca enganar vizinhos, pobres, desgraçados ou velhinhos.

O dono do café onde o conheci disse-me em surdina que era quase um milagre ele nunca ter sido preso. Talvez fosse demasiado esperto para se deixar apanhar nos muitos "cantos da sereia" que lhe lançaram pela vida fora.

Tal como todos os heróis de qualquer bairro, já tinha sido dado como preso e como morto mais de uma dúzia de vezes. Mas como depois se cruzavam com ele na rua, pensavam que ele devia ser amigo de alguns "deuses" e também de um ou dois chefes de polícia...

Diziam à boca fechada que tinha umas "meninas" que trabalhavam para ele  no número 107. Claro que era mentira. Neste número vive há mais de cinquenta anos um casal de velhos, que quer "sopas e descanso" e não que lhes toquem constantemente à campainha à procura da "Rosa". Esta é apenas mais uma das muitas histórias que se contavam sobre este homem que também foi cantador de fado no retiro do Tio João, recebendo como troco as refeições e uma pequena mesada, que dava para as cigarrilhas e gravatas.

Quando nos encontramos no café dá-me um abraço e nunca me deixa pagar a despesa. E ainda é senhor para me oferecer uma ou duas histórias pitorescas, capazes de enriquecer as personagens de qualquer livro.

(Fotografia de André Kertesz)

sábado, fevereiro 28, 2015

Duas Certezas que Tenho, neste Tempo de Incertezas


Aos sábados acordo sempre cedo. Normalmente fico ainda um bocado na cama a ver passarem ideias e reflexões.

Desta vez dei por mim a pensar que na actualidade serei tudo menos católico e comunista, olhando para a prática diária das "casas-mãe" destas duas ideologias (Igreja Católica e Partido Comunista).

E isto não acontece apenas por me saber demasiado libertário ou por gostar muito de pensar pela minha cabeça. Mas sim por sentir que estas duas "instituições" estão mais próximas do que parecem (uma da outra), pela superioridade moral que espalham (ou pelo menos tentam) na sociedade. 

Ambos se sentem os "escolhidos". Uns pensam que são os únicos filhos de Deus e que só eles têm a chave do "céu". Os outros pensam que são os únicos donos da verdade e da solução para um mundo mais justo.

Claro se Jesus e Marx, passassem por aqui, olhando para as suas práticas, eram capazes de lhes dizer que tinham interpretado mal as "cartilhas" que ambos deixaram por cá, mas...

O óleo é de Blake Flynn.

sexta-feira, agosto 29, 2014

Lutar Contra as "Sociedades Anónimas"


Sei que não é possível combater o anonimato, até por ele ser em algumas circunstâncias a única forma de se chegar à verdade - situações em que há ameaça da integridade física e até da vida -,  através da denúncia anónima às autoridades.

Embora não diabolize a internet, de nenhuma forma, sei que ainda não se chegou ao ponto certo da sua regulação (que para alguns irá ser entendido como forma de censura, etc). A melhor prova disso é a forma como se utilizam as caixas de comentários, especialmente dos jornais.

Felizmente na blogosfera existe uma coisa chamada moderação de comentários, a qual a maior parte das pessoas que têm blogues aderiu, mesmo os que acham que toda a gente tem direito a manifestar a sua opinião neste espaço.

A única coisa que eu continuo a não perceber é a necessidade de as pessoas deixarem um comentário anónimo, quando nem sequer precisam de assinar com o seu verdadeiro nome, pois podem assinar como quiserem, têm toda a liberdade para criarem uma personagem.

E não continuam a ser anónimos? Não. Passam a ser alguém, mesmo que não tenha identidade real.

Até aqui tenho publicado comentários anónimos, desde que não sejam ofensivos. A partir de hoje, não publicarei mais nenhum, pelas razões que já expressei.

Se não querem usar o vosso nome, sejam criativos, criem uma outra identidade para utilizar na blogosfera. Nos meus espaços aceitam-se opiniões contrárias, o que não se aceitam são insultos.

Como Ricardo Araújo Pereira, muito bem disse na "Visão" (31 de Outubro de 2013): «A internet não pode albergar mais pessoas grotescas do que o mundo real na medida em que todo o universo de pessoas, incluindo as grotescas, habita no mundo real.»

O óleo é de Marta Kawiorska.


sexta-feira, julho 18, 2014

Elogio com Fumo ao não Fumador

 
Nunca tinha ouvido um elogio tão forte e sentido, a um não fumador activo, pelos frequentadores do seu escritório.
 
Embora ele nunca fumasse, nunca proibiu ninguém de fumar no seu espaço de trabalho e local de abrigo e de escrita, nem mesmo depois das proibições oficiais e da "publicidade assassina" nos maços de cigarros.
 
Depois de escutar os amigos, quase sem jeito, desculpou-se que sempre gostou do cheiro do tabaco.
 
Mas do que ele gosta muito, muito mais do que do cheiro do tabaco, é da liberdade...
 
O óleo é de Bernard Safran.
 

segunda-feira, maio 12, 2014

Quase Auto-Retrato de Esmeralda, ela Própria uma Aguarela Bonita


«Não sei se ele queria que eu fosse pintora. Acho que não. Acho que ele nunca quis que eu fosse nada que não quisesse ser.

Só quem teve ou tem um pai libertário percebe isto. O único lugar para onde ele me tentou empurrar foi para o canto dos "felizes", disse-me que era das coisas mais difíceis da vida, mas que devia tentar, sempre, ser feliz. Em tudo e em todos os lados.

Como passava o tempo a desenhar, ele começou a trazer-me lápis de cor, de cera, aguarelas, cadernos. Acho que foi isso que me colou às artes.

Sabes qual foi a melhor herança que recebi dele? O desprezo pelo dinheiro e bens materiais. A minha mãe não acha muita piada, paciência.»

O óleo é de Graig Mundins.

quarta-feira, maio 07, 2014

Num Lugar Sujo a Limpeza não Passa de uma Ilusão


Não viste os governantes orgulhosos por terem saído de uma "forma limpa" do reinado troikano (algo que ninguém percebe muito o que é, excluindo o presidente da República, que é um sabido), a pavonearem-se na televisão. Não é que tenhas muito com que te preocupar, mas devias ter visto...

Pensavas que não era possível descer mais, quando perdeste o emprego, ficaste sem carro, deixaste de ter televisão por cabo, gás canalizado e por fim até electricidade.

No dia seguinte o prazo do banco esgotou-se e deixaste a casa. Antes entregaste a tua mulher e o teu filho na casa dos sogros e passaste a ser mais um dono das ruas, à procura de um abrigo em qualquer canto ainda vago…

Só que agora tens medo que ainda seja possível descer mais.

Apetece-te morrer da mesma forma que te apetece viver.

O mais esquisito é que ainda tens sonhos…

Ainda te espantas, porque a solidariedade surge de quem menos esperas e de quem menos tem. Nunca imaginaste que alguém partilhasse contigo uma manta cheia de buracos e que ela te aquecesse tanto…

Sabes que é impossível procurares trabalho assim, sujo, mal vestido e com um cheiro horrível.

Disseram-te onde podes tomar banho. E até podes escolher roupa limpa, mas tens um medo terrível da sensação de "limpeza" no esterco da vida.

Provavelmente devias ter dado uma olhadela à televisão para perceberes que é mais fácil do que parece, uma saída limpa...

Nota: A fotografia é da "Casa Viva" do Porto e foi publicada no blogue, "Portal Anarquista".  A faixa foi afixada para festejar o 1º de Maio no Porto, mas parece que houve quem se sentisse muito ofendido e 38 horas depois, numa operação quase de assalto - protagonizada pela PSP, PM e Sapadores do Porto -, a faixa da "Casa Vida" foi arrancada, sem sequer informarem a malta da "Casa".
Mas continuem descansados, não se enervem que ainda vivemos em democracia...

sábado, novembro 23, 2013

As Estações Deviam Estar Abertas pela Noite Dentro


O frio chegou às ruas. 

Ruas inundadas de gente que perdeu quase tudo e se esconde por aí, dentro de papelões, em camas improvisadas, onde quase todos tentam esquecer os dias, afogados dentro da noite, que passa sempre tão rapidamente.

Nestes dias em que a temperatura desce até fazer doer, as estações do metro, do comboio, do barco, deviam permanecer abertas e deixar por lá mantas espalhadas pelos bancos.

Como as portas ficam fechadas, o frio faz doer e faz beber...

O óleo é de Reginald Marsh.

sexta-feira, novembro 08, 2013

O País dos Xailes Negros


A senhora septagenária, que vestia de negro desde que perdera o companheiro, há mais de vinte anos, nunca tinha visto tantos jovens juntos, vestidos com roupas da mesma cor que as suas.

Num primeiro olhar ainda pensou que poderiam ser órfãos, que se estavam ali a manifestar por qualquer coisa contra o governo. Qualquer direito retirado. Não fosse este um tempo de tantas manifestações e de tanta perda...

Mas depois de olhar melhor, reparou que algumas moças tinham cabelo vermelho, brincos no nariz e até alguns desenhos na pele. Eles não lhe ficavam atrás. além de usarem penteados esquisitos, também tinham os braços pintados e usavam brincos para lá das orelhas. E era raro aquele que não tinha uma garrafa na mão.

Percebeu rapidamente que a única coisa que tinham em comum era a cor da roupa. Foi por isso que mudou de rua e lançou um louvado seja Deus, para quem a ouvisse. 

Num pequeno momento de ausência de fé, pensou que o o mundo talvez seja mesmo uma causa perdida, apesar das orações e dos mil enganos que se vendem por aí. Talvez o seu marido estivesse certo e não existisse nenhum Deus.

Ao ter noção da heresia que invadiu os seus pensamentos, benzeu-se, na tentativa frustrada de afastar os mil demónios que andam por aí à solta, com toda a certeza. 

O óleo é de Will Barnet.

quinta-feira, setembro 26, 2013

A Liberdade às Vezes Tem um Preço Demasiado Alto


Há muito a ideia que os "sem abrigo" são todos uns desgraçadinhos, desde velhos  e maluquinhos abandonados pelas famílias a toxicodependentes e alcoólicos, sem lugar onde "cair mortos", para além da rua, claro.

Para todos nós que vivemos uma vida aparentemente normal, faz-nos confusão que alguém possa abandonar o lar, para viver por aí sem eira nem beira, apenas em nome da sua liberdade individual. Ou seja, apenas para ser quem é, e não o que os querem que ele seja.

Há vários casos destes, de gente que prefere andar perdida pelas ruas da "Grande Cidade", a ter de cumprir regras e "obrigações", que não são as suas. 

É uma opção perigosa, porque a vagabundagem tem códigos e maneiras de sobreviver, que os podem afastar de vez do "nosso mundo".

Felizmente existem regressos. Eu conheço pelo menos dois que acabaram por ser bem sucedidos. Isso aconteceu por sorte, porque todos nós sabemos que o talento não é coisa que seja muito reconhecida, neste país de "espertalhaços"...

O óleo é de Óscar Bluemner.