Há muito que não escutava as histórias de vida do velho Daniel, que tem andado "escondido" na aldeia onde se costuma encontrar consigo próprio, no coração do Alentejo, distante deste país que há bastante tempo que já não é o dele.
Desta vez falou-nos de outro lado do seu exílio, mais colorido e algo que nunca tinha escutado. Os protagonistas eram falsos "hippies" e "beatnicks", gente que só vestia roupas sujas e deixava de se barbear ou perfumar, quando se aproximava um acontecimento que juntava a malta excêntrica que enchia páginas de jornais e revistas. Foi um fenómeno que conheceu em Londres, mas que soube ser comum em Paris e Nova Iorque.
Disse-nos que nunca percebeu muito bem a modernidade de um gajo cheirar mal e andar com roupas de mendigo, nesses já longínquos anos sessenta.
Uma coisa era um tipo ser obrigado a viver na rua, não ter dinheiro para um simples pão com manteiga, como lhe aconteceu, outra era pertencer à classe média alta e fazer quase um número de teatro, na rua, nos cafés e bares mais populares, junto dos verdadeiros "donos da rua".
Percebeu isso quando entrou nos seus apartamentos, com tudo no lugar. E onde, descobriu que afinal, tomavam banhos diários, ao contrário dele e usavam perfumes parisienses.
O que nos rimos com os episódios mais pitorescos (alguns a roçar a pornografia, que por razões óbvias, ficaram lá na mesa do café).
O óleo é de Gil Bruvel.
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ResponderEliminar~ Sou uma simpatizante do fenómeno hippie americano dos anos 60.
~ Se tivesse por lá, tinha participado, já ninguém podia ouvir falar da guerra do Vietnam!
~ Excluindo exageros que os media conservadores faziam questão de sublinhar, o movimento teve enorme valor pelo seu poder contestário, numa sociedade cristã profundamente hipócrita.
~ Estou convencida que muitos jovens sérios fizeram parte das fileiras, mas deles não reza a história.
~ Continuo a apreciar a banda do Bruce Springsteen...