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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Este telhado com forma côncava capta água da chuva e pode ser usado nas regiões mais áridas do Planeta


A falta de água e o clima quente são uma realidade difícil em várias regiões do planeta. Uma das maneiras de melhorar as condições de vida de quem vive nestes lugares está na arquitetura. Com uma proposta inovadora, o estúdio BMDesign propõe que os telhados em climas áridos sejam cobertos por construções côncavas (uma espécie de grandes tigelas).

Este formato tem função dupla: ao mesmo tempo que é mais eficiente para captar água da chuva, também ajuda a arrefecer o interior das casas devido à sombra e ao vento aproveitado pela forma.  O teto côncavo foi especialmente criado para regiões onde chove pouco e a captação da água de chuva é dificultada pelas altas taxas de evaporação.

O formato côncavo tem ainda a vantagem de criar uma sombra que se movimenta durante o dia e de encontrar um espaço entre os dois telhados por onde o vento passa, otimizando ainda mais o arrefecimento natural. Depois de captada, a água é direcionada para um ponto central, seguindo para um sistema interno de armazenamento.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Mentor das cidades esponja critica o plano municipal de Lisboa


Kongjian Yu quer transformar as cidades em esponjas contra cheias e secas. Cidades devem absorver e libertar água para enfrentar alterações climáticas, defende arquiteto paisagista. Planos de drenagem como o de Lisboa vão falhar a longo prazo, diz. 

Quando a pergunta é sobre o plano de drenagem de Lisboa, que implica um investimento de 250 milhões de euros e, entre outros pontos, a abertura de dois grandes túneis, o arquiteto paisagista ri-se abertamente. “Esse é o modelo business as usual. Não vai resolver o problema”, diz. Além do gigante esforço financeiro, as grandes infra-estruturas — sejam túneis, diques ou outras soluções — são construídas em betão, material que tem um determinado tempo útil até que o desgaste provoque os seus danos. Depois disso, precisa de manutenção, o que implica novo e generoso investimento. Acresce que os episódios de cheia são cada vez mais extremos e, mesmo que os sistemas estejam dimensionados para volumes que consideramos hoje históricos, é uma questão de tempo até que estes sejam superados.

“Do ponto de vista económico, não é sustentável. É absurdo. A longo prazo, é estúpido pensar que a tecnologia vai resolver o problema”, entende. Reter a água na sua “esponja” significa que se pode fazer uso dela durante o outro extremo, nos períodos de seca, ajudando também a arrefecer a cidade em ondas de calor. “Se tiveres água, tens tudo. Se te livrares da água, terás problemas durante os períodos de seca. É uma oportunidade perdida”, nota. Público 10jun2024

Saber mais:

terça-feira, 21 de maio de 2024

Como conter enchentes, segundo criador das 'cidades-esponja': 'Barragens estão fadadas ao fracasso'

Eventos atmosféricos extremos com períodos prolongados de fortes chuvas e inundações, como as ocorridas no Rio Grande do Sul nas últimas semanas, se tornarão cada vez mais comuns e intensos, segundo os cientistas.

Mas o que as cidades podem fazer para evitar ou mitigar esse tipo de tragédia?

Para o criador do conceito de cidades-esponja, o arquiteto chinês Kongjian Yu, a resposta está em parar de "lutar contra a água" e investir em soluções duradouras e baseadas na natureza.

"Temos uma escolha a fazer: investir em grandes barragens e diques que estão fadados a fracassar ou apostar em algo que é duradouro, sustentável e ainda bonito e produtivo", questionou o decano da faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim em entrevista à BBC News Brasil.

Para Yu, as soluções tradicionais baseadas em barragens de cimento e tubulações impermeáveis já se mostraram incapazes de acompanhar os efeitos das mudanças climáticas, já que as chuvas são cada vez mais intensas e o nível da água de rios e mares não para de subir.

Como alternativa, o arquiteto propõe adotar uma infraestrutura verde, baseada em um balanço hídrico artificial que seja o mais parecido possível com o natural e dê espaço e tempo para que a água seja absorvida pelo solo.

Em outras palavras, criar espaços e infraestruturas capazes de absorver, reter e liberar a chuva de forma que ela retorne ao ciclo natural da água sem causar estragos.

O conceito já foi aplicado pela equipe de Yu em diversas cidades na China e também na Tailândia, Indonésia e Rússia — e por outros arquitetos em todo o mundo.

Segundo o chinês, ele pode ser reproduzido em qualquer lugar, inclusive no Brasil.

"Funciona em qualquer lugar. As cidades-esponja são uma solução para climas extremos, onde quer que eles estejam", diz.

"E o Brasil pode se dar muito bem com elas, porque tem muitas áreas naturais, o que dá mais espaço para a água escoar."

De acordo com o arquiteto, além de impedir inundações, o modelo também pode ser útil durante os períodos de seca, já que a água armazenada pode ser utilizada para irrigação e para manter as árvores e plantas da cidade em boas condições.

Além das fortes chuvas, períodos mais prolongados de seca também são efeitos das mudanças climáticas.

Antes de sofrerem com as inundações, muitos produtores gaúchos já haviam sido castigados pela falta de água no ano safra de 2021/22.

Mas para que o conceito das cidades-esponja funcione, ele deve se basear em três grandes estratégias, segundo Kongjian Yu.

1. Contenção da água
O primeiro princípio adotado nos projetos do chinês é reter a água assim que ela toca o solo. Segundo Yu, isso pode ser alcançado por meio de grandes áreas permeáveis e porosas, não pavimentadas.

Da mesma forma que uma esponja com muitos orifícios, a cidade deve conter a chuva com lagos artificiais e áreas de açude alimentados naturalmente ou por canos que ajudam a escoar a água de rios e represas.

Telhados e fachadas verdes, assim como valas com áreas verdes com camadas de solo permeáveis ​​por baixo também são usadas para esse propósito.

Kongjian Yu explica que, em áreas cultiváveis, reservar 20% do terreno para operar como um sistema de açude é suficiente para impedir que o restante do lote seja inundado. Essa área pode ainda ser adaptada para colheitas resistentes à umidade e para posteriormente abastecer o restante das plantações em épocas de seca.

Apesar de ser algo recente, a base teórica na qual as cidades-esponja resgata as antigas tradições chinesas da agricultura e da gestão da água.

"Temos que aprender com a aquacultura como fazer essa terra fértil, quais culturas podem sobreviver e usar essas áreas para isso", diz. "O arroz é um exemplo de uma plantação que pode funcionar."

2. Redução da velocidade
Em seguida, o arquiteto aconselha pensar no manejo da água coletada. Isto é, desacelerar o fluxo d'água.

Em vez de tentar canalizar a água rapidamente para longe em linhas retas, rios tortuosos com vegetação ou várzeas reduzem a velocidade da água.

Eles oferecem mais um benefício, que é a criação de áreas verdes, parques e habitats para animais, purificando a água escoada na superfície com plantas que removem toxinas poluentes e nutrientes.

Yu conta que se interessou pelo tema da urbanização e da contenção das águas após vivenciar uma experiência com inundações durante a infância.

Na época com apenas 10 anos, o chinês vivia em uma fazenda na Província de Zhejiang, perto de Hangzhou. Durante um período de fortes chuvas, o córrego da região inundou os campos de arroz da comunidade agrícola e Yu foi pego pelas águas, carregado pela enchente.

Mas as plantas, troncos e salgueiros ao longo do córrego reduziram a velocidade do fluxo do rio, permitindo que ele se agarrasse à vegetação e saísse das águas.

"Se o rio fosse como muitos são hoje, nivelados com paredes de concreto, certamente eu teria me afogado", contou Yu à BBC.

As técnicas usadas pelo arquiteto em seus projetos atuam da mesma forma que a vegetação no córrego na fazenda de Yu, desacelerando a água.

3. Escoamento e absorção
A terceira estratégia é adaptar as cidades para que elas tenham áreas alagáveis, para onde a água possa escorrer sem causar destruição.

"Em vez de construir barragens e ir acumulando a água em áreas de cimento, precisamos nos adaptar à água, deixa a cidade lidar com a água de forma saudável", diz Yu.

A principal forma de fazer isso é criar grandes estruturas naturais alagáveis para que a água possa ser contida por um tempo e, depois, absorvida pelo lençol freático.

Yu defende que essas áreas alagáveis permaneçam desocupadas, evitando-se construções nas áreas baixas.

Nos casos de infiltração, podem ser feitas caixas infiltrantes, que facilitam a entrada da água no solo.

Algumas cidades usam "jardins de chuva" que armazenam o excesso de chuva em tanques subterrâneos e túneis. A água só é descartada nos rios depois que os níveis diminuem.

Plantas que absorvem água também podem ser usadas para dar conta do alto volume de chuvas.

"A natureza se adapta. O conceito de cidade-esponja é baseado no princípio de que a natureza regula a água", diz o arquiteto. "Não é apenas a natureza em si. Sistemas feitos pelo homem devem ser certamente usados, mas a natureza deve ser dominante."

Yu afirma ainda que, para conter as grandes inundações previstas para os próximos anos, é preciso expandir essa estratégia por várias regiões e criar um "planeta-esponja" onde a força das águas possa ser dissipada e desacelerada aos poucos.

Ainda na visão do chinês, além de parques adaptados e áreas cultiváveis capazes de absorver mais água, lagoas e pântanos podem coexistir com rodovias e arranha-céus.

terça-feira, 9 de abril de 2024

Petição Criação da Ordem dos Geólogos (2024)

Para: Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República

Os geólogos são profissionais com formação superior específica no vasto domínio da geologia, debruçando-se, nomeadamente, no estudo do solo, do subsolo, dos processos geológicos ativos e daqueles que ocorreram ao longo da história da Terra. Atuam, igualmente, no âmbito do ordenamento e planeamento do território, na exploração e gestão sustentável dos recursos naturais, e na prevenção e mitigação dos riscos geológicos. O desempenho da profissão de geólogo está dependente do conhecimento geológico do território, sendo este de importância estratégica para o desenvolvimento socioeconómico do país. Estes profissionais contribuem para a obtenção de soluções sustentáveis para muitos dos grandes problemas sociais, económicos e ambientais que a Sociedade enfrenta, tais como as mudanças climáticas, a transição energética, a escassez hídrica e o declínio dos ecossistemas.

A profissão de geólogo tornou-se, nas últimas décadas, complexa e muito diversificada devido à sua ligação com outras profissões numa grande variedade de domínios de atividade, nomeadamente, nos sectores das indústrias de construção, extrativa e energética, do ordenamento do território, da gestão ambiental, bem como da prestação de serviços especializados ao Estado e às empresas. Atua, ainda, nos setores da proteção ambiental e societal. Ou seja, o geólogo é um especialista com um olhar único na proteção e gestão sustentável do nexo solo-água-energia-alimentos-património, tão destacado, por exemplo, pela ONU – Organização das Nações Unidas, FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, e UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Tem, também, um papel determinante na dinamização da geologia espacial dos programas da AEP - Agência Espacial Portuguesa, ESA – Agência Espacial Europeia e NASA - Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Estados Unidos da América).

Neste quadro complexo, mas desafiante, os geólogos defendem a necessidade da criação de uma associação pública profissional, assentando esta aspiração em quatro pontos fundamentais:

1) A necessidade de uma cabal regulação da profissão, visando definir os requisitos e as qualificações profissionais, o âmbito da profissão e a exigência dos respetivos atos profissionais, levando à atribuição de uma certificação através de uma cédula profissional, elevando assim os mais exigentes padrões na prática do geólogo profissional englobando todos os princípios éticos e de probidade técnica que acarretam;

2) A necessidade de dispor de um código de princípios deontológicos e de dispositivos jurídico-disciplinares adequados à defesa da independência do julgamento profissional;

3) A necessidade de criar condições que permitam o reconhecimento das qualificações e requisitos profissionais em condições de reciprocidade com instituições homólogas nacionais e estrangeiras, visando garantir o exercício da atividade profissional dos geólogos portugueses dentro e fora do espaço europeu;

4) A verificação do cumprimento de requisitos profissionais deve ser confiada aos próprios geólogos constituídos em associação pública profissional, dado que, face à atual complexidade desta atividade profissional, estão mais bem apetrechados para a realizar, compatibilizando a liberdade de acesso e de exercício da profissão, e a ponderação do interesse público.

A estreita relação entre a natureza da profissão e o interesse público emerge com clareza do simples enunciado de algumas das áreas mais paradigmáticas da intervenção profissional dos geólogos:

a) Planeamento territorial e georrecursos: estudos de cartografia geológica sistemática do país, realizada a várias escalas, implementação e gestão de bases de dados digitais da cartografia geológica, dos recursos geológicos, hidrogeológicos e geotérmicos, entre outros. Apoio à execução de cartografia temática e com fins diversos que incluem uma perspetiva agronómica, agrícola, geotécnica, hidrológica, territorial e de risco natural/geológico. De facto, o território é um agente de transformação a ser conhecido e gerido de uma forma ambientalmente sustentável e de interligação com todos os agentes envolvidos, incluindo as comunidades e os ecossistemas;

b) Riscos naturais, segurança e proteção civil: previsão e prevenção de riscos naturais visando a minimização dos desastres, a proteção da vida humana e a limitação de danos (identificação das falhas sísmicas e zonamento do perigo sísmico das regiões e dos sítios, contribuição na engenharia sísmica geotécnica, monitorização da atividade vulcânica, controlo da erosão, da estabilidade de taludes, das encostas e das arribas de praia ou adjacentes a outros espaços públicos, entre outros);

c) Análise de riscos na construção e economia das grandes obras: estudo e avaliação das condições geológico-geotécnicas para o projeto e construção das grandes obras de engenharia e identificação dos riscos financeiros, bem como de problemas de desempenho induzidos por causas geológicas (a derrapagem do custo final das grandes obras está frequentemente relacionada com a falta ou com a insuficiência de estudos de geologia de engenharia);

d) Ambiente, água, território e adaptação às mudanças climáticas: prospeção, pesquisa, captação e proteção de águas subterrâneas; contributo para a avaliação, proteção e gestão sustentável dos recursos hídricos e recursos hidrominerais, a várias escalas; avaliação da radioatividade natural; estudos sobre o uso sustentável do solo; prevenção e mitigação de riscos naturais ou tecnológicos; remediação de solos e águas contaminadas, monitorização da erosão costeira, restauro da natureza, gestão da geodiversidade, entre outros;

e) Gestão sustentável e proteção dos recursos naturais: prospeção, avaliação e extração dos recursos minerais numa base eco-eficiente (metálicos estratégicos e não-metálicos); estudo, caracterização e gestão de geomateriais; colaboração na exploração e gestão dos recursos energéticos (como a geotermia); conservação do património geológico e valorização do geoturismo;

f) Saúde pública e geologia: prevenção dos riscos de contaminação dos solos e das águas subterrâneas, com base no estudo dos sistemas aquíferos, da sua vulnerabilidade e dos processos de propagação dos contaminantes; estudo da contaminação dos solos e dos métodos de descontaminação; avaliação do risco de exposição da radioatividade natural; estudos e o papel da geologia médica nos solos-alimentos-água; o papel terapêutico e de bem-estar dos recursos hidrominerais; contributos dos recursos hidrominerais em produtos farmacêuticos e dermocosméticos, entre outros temas;

g) Geologia marinha e reconhecimento dos fundos oceânicos da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal: o nosso país detém a maior ZEE da Europa, revestindo-se esta de grande valor estratégico e potencial base de um novo paradigma do desenvolvimento económico do país ligado à Economia do Mar e Oceanografia Geológica. Os geólogos têm um papel preponderante no estudo da geologia dos fundos marinhos, e no estudo, exploração e gestão dos valiosos recursos naturais localizados na ZEE. A geologia costeira é, igualmente, importante na gestão, valorização da zona costeira continental e insular, bem como para a valorização deste fantástico e frágil território de interface com o oceano;

h) Investigação, ensino e cultura: os geólogos têm um papel extremamente relevante quer nas atividades de investigação, desenvolvimento e inovação em equipas inter, multi e transdisciplinares, quer no ensino básico, secundário e superior, bem como na formação de cidadãos cultos e informados. É, igualmente, relevante a sua participação em programas de astrogeologia para a difusão da geologia planetária, promovidos pela AEP e ESA. Os geólogos têm, também, um papel pertinente na difusão e disseminação de uma literacia e cultura geocientífica esclarecida direcionada aos cidadãos, através de programas e iniciativas de divulgação científica.

Assim, tendo em conta a defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, a salvaguarda do interesse público e a correlativa necessidade de autorregulação da profissão de Geólogo, assinamos esta petição solicitando à Assembleia da República a criação da Ordem dos Geólogos.

sábado, 2 de março de 2024

Adélio Mendes: “A extração de lítio em Portugal é um engano, as reservas são pequenas e os custos de extração enormíssimos”


Adélio Mendes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), confessa-se entusiasta das energias renováveis, mas não abdica da capacidade crítica sobre alguns projetos que têm em vista colocar o País no mapa das baterias de nova geração.

“A extração de lítio em Portugal é um engano. As reservas em Portugal são pequenas, os custos da extração são enormíssimos, é uma extração que precisa de ser subsidiada para ser viável economicamente. E nós olhamos para o mar e temos milhares de vezes mais de lítio dissolvido na água do mar à espera de ser recolhido”, responde o cientista em entrevista ao Futuro do Futuro.

Também no que toca o uso do hidrogénio como vetor que armazena e permite transportar energia, Adélio Mendes é especialmente crítico, devido aos custos implicados. “É um mau vetor energético”, reitera o cientista. Segundo as estimativas que realizou, o projeto de produção e transporte de hidrogénio entre Sines e a Holanda terá sempre de debater-se com o custo da liquefação.

“O processo de liquefação faz com que se gaste o correspondente a 36% da energia do próprio hidrogénio”, refere Adélio Mendes, apontando o metanol como alternativa menos onerosa.

Numa entrevista que começa em cerveja e acaba num novo método de extração de dióxido de carbono para a produção de carvão e hidrogénio, o cientista portuense que hoje tem o nome em 35 famílias de patentes explica quais os métodos a que recorre quando quer potenciar ideias luminosas, e dá a conhecer os projetos de desenvolvimento de painéis fotovoltaicos para espaços interiores e também a corrida a novos materiais, como a perovskita, para painéis fotovoltaicos que eventualmente poderão superar os 32% do limite atual da captação de energia solar.

É também por questões ambientais e de eficiência energética que o investigador revela reticências quanto aos carros elétricos, que prefere descrever como carros a pilhas, devido às baterias que transportam. O reparo é essencialmente dirigido aos carros com baterias de lítio que têm “uma potência absolutamente brutal que não é precisa”, mas por outro lado não têm “o armazenamento de energia que gostaríamos que tivesse”.

Para garantir uma maior autonomia, as baterias dos automóveis terão de assumir um peso superior ao peso das pessoas transportadas. “ E o impacto ambiental passa a ser muito grande”, acrescenta Adélio Mendes, indicando as baterias de sódio como potencial solução para este problema.

Num dos projetos mais bem-sucedidos do currículo, o cientista recorda como foi transacionada aquela que é, provavelmente, a patente mais valiosa que alguma vez saiu de uma universidade portuguesa. Em causa estava um novo método de solda de painéis fotovoltaicos que tinha como atrativo o facto de não precisar de recorrer a temperaturas de 250 graus.

“Os australianos chegaram à nossa beira e disseram assim: “Damos 5 milhões de euros se vocês soldarem a 120 graus””, lembra o professor da FEUP que estará entre os mais prolíferos autores de patentes das universidades nacionais.

Para os desafios que costumam ser colocados no podcast Futuro do Futuro, Adélio Mendes trouxe um som que tem por base dados recolhidos pela Sonda Solar Parker, e ainda uma imagem ilustrativa da epopeia portuguesa do Descobrimentos, que só se tornou possível com “tecnologia, preparação de recursos humanos altamente qualificados, desenvolvimento de métodos de navegação dez vezes mais precisos do que a concorrência, aprovisionamento de matérias-primas, conservação dos alimentos e financiamento das operações”.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Galileu Galilei (1564-1642)


460 anos do nascimento do Pai da Ciência Moderna. Nome maior da Ciência.
Nasceu a 15 de fevereiro de 1564 em Pisa e morreu em Florença em 1642.
Numa sociedade do Geocentrismo , onde a Terra era vista como imóvel , Galileu defendeu e provou o Heliocentrismo. Ainda abordou os princípios da relatividade. Esteve em prisão no domicilio suspeito de "heresia" e a fim de escapar à morte pela fogueira.
Como todos os grandiosos de espírito , não foi compreendido no seu tempo.

Biografia completa aqui

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Quem são os grandes patrocinadores do Chega?


A extrema-direita não está contra o sistema. A extrema-direita é o pior que o sistema tem.

Além disso é incrível ouvir uma grande mentira por parte do André Ventura. É mesmo racista. André Ventura defende a teoria racista da substituição que inspirou massacres nos EUA, Europa e Nova Zelândia, apesar da Europa ter apenas 5% de imigrantes, que muito jeito dão para trabalhos que ninguém quer fazer.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Geoengenharia solar: ineficaz, arriscada e desnecessária

Solar geoengineering is becoming a respectable idea [The Economist, 22.11.2023]


Tem gente propondo combater a mudança do clima por meio da geoengenharia solar, a diminuição artificial da intensidade da insolação. Um processo em grande parte ineficaz, desnecessário e que traz riscos potenciais. Ao invés disso, devemos nos concentrar em soluções que funcionam no mundo real.


Interromper as mudanças do clima é relativamente simples. Nós sabemos o que fazer. Só temos que fazer.

Sobretudo, precisamos acabar o mais rápido possível com as emissões de gases de efeito estufa – vindas do uso da energia, do uso da terra e da agricultura, e de materiais exóticos do mundo. Já existem muitas oportunidades para se reduzir as emissões de eletricidade, alimentos e agricultura, indústria, transporte e edificações.

Também há oportunidades para se apoiar e melhorar os sumidouros naturais de carbono que podem ajudar a remover os gases de efeito estufa que já emitimos. E há maneiras de melhorar a sociedade com benefícios climáticos adicionais.

No Project Drawdown, delineamos dezenas de oportunidades para reduzir emissões, apoiar os sumidouros de carbono e melhorar a sociedade – impedindo que o mundo se encaminhe para mudanças climáticas descontroladas.

As soluções climáticas começam por se reduzir as fontes de gases de efeito estufa, incentivar remoções de carbono e melhorar a sociedade de maneiras que ofereçam benefícios climáticos. Imagem por Projeto Drawdown 2021.

As soluções essenciais estão bem na nossa frente. Nosso trabalho é aplicá-las em escala da forma mais rápida, segura e equitativa possível.

Mas alguns parecem não estar dispostos a aceitar isto e propõem a implantação de ideias descabidas para combater as mudanças climáticas ao invés de atacar suas causas subjacentes.

O que é Geoengenharia Solar?
A ideia básica é manipular a quantidade de luz solar que atinge a Terra, refletindo parte dela de volta ao espaço. O processo pretende esfriar o planeta apenas o suficiente para neutralizar os efeitos de aquecimento causados pelo aumento dos gases de efeito estufa.

Há várias maneiras de se refletir a luz solar. Podemos colocar grandes espelhos em órbita ou em uma posição estável entre a Terra e o Sol. Mas a opção mais frequentemente discutida é injetar aerossóis na estratosfera, a camada de ar que reside a cerca de 10 a 50 quilômetros acima da superfície. Estes aerossóis espalhariam um tanto da luz solar que atinge a Terra, refletindo-a para o espaço.

Já existe uma camada natural de aerossóis de sulfato na estratosfera, com enxofre proveniente de emissões vulcânicas e outras fontes naturais. Sua espessura varia de ano para ano, especialmente após grandes erupções vulcânicas. A geoengenharia solar tornaria esta camada mais espessa, refletindo mais luz solar, resfriando assim o planeta.

À primeira vista, pode parecer razoável. Por que não podemos simplesmente dissipar um pouco de sol e esfriar um pouco o planeta? Isto não contrabalançaria bem os efeitos do aquecimento global?

Não exatamente.
Espalhar aerosois na atmosfera não combate efetivamente o aquecimento causado pelos gases de efeito estufa

Embora possa parecer razoável se cancelar o aquecimento do efeito estufa com a refrigeração por geoengenharia solar, não é tão simples assim. As formas como os gases de efeito estufa aquecem o planeta são muito diferentes de como a geoengenharia solar poderia resfriá-lo. Um não cancela diretamente o outro.

Ao efetivamente “aprisionar” parte da radiação infravermelha de saída da Terra, os gases de efeito estufa aquecem o planeta de uma forma particular. Em primeiro lugar, o aumento dos gases de efeito estufa faz com que o planeta se aqueça mais à noite do que durante o dia – um padrão observado em grande parte do mundo. Eles também aquecem o planeta mais nas altas latitudes, especialmente no Hemisfério Norte, do que nas regiões equatoriais. E geralmente causam mais aquecimento nos meses de inverno do que nos de verão.

Injetar aerossóis na estratosfera esfriaria o planeta – mas de uma maneira diferente. Como os aerossóis refletem a radiação solar, eles são mais eficazes durante o dia, durante o verão e na zona equatorial. Em outras palavra: o padrão oposto do aquecimento causado pelos gases de efeito estufa.

Portanto, este tipo de geoengenharia solar não combateria efetivamente o aquecimento causado pelos gases de efeito estufa. Ela tenderia a esfriar os lugares errados, nas horas erradas, para ser um antídoto perfeito contra o aquecimento de efeito estufa.

Simplificadamente, não se apresenta como uma solução fácil para o aquecimento causado pelos gases de efeito estufa.

Uma analogia vem à mente: se seu cabelo pegar fogo, colocar os pés na água gelada não vai ajudar.

A geoengenharia solar não só é largamente ineficaz como pode ser perigosa. O efeito combinado dos gases de efeito estufa e da geoengenharia solar pode criar uma verdadeira desordem – potencialmente desestabilizando os padrões climáticos e meteorológicos de formas imprevisíveis. Isso pode tornar as coisas ainda piores.

Há outros riscos
Se os efeitos da geoengenharia solar somente no clima não o preocupam – e deveriam – há um conjunto de outros impactos a se considerar.

Em termos potenciais, o mais grave deles é como a mudança da natureza da luz solar ao redor da Terra afetaria a fotossíntese, a própria fundação da biosfera. Ao se reduzir a quantidade de luz solar que atinge a superfície da Terra e mudar o equilíbrio da luz solar “direta” e “difusa” (efetivamente fazendo o céu parecer mais nebuloso), a geoengenharia solar poderia causar um impacto profundo sobre os ecossistemas e as culturas.

Além disso, mudar fundamentalmente a natureza da estratosfera – por décadas à frente – poderia ter impactos profundos na física, na química e na circulação da atmosfera superior. Os efeitos ambientais disto, a longo prazo, ainda são mal compreendidos, mas uma preocupação é que poderiam prejudicar a camada de ozônio estratosférica.

A geoengenharia solar não faz nada em relação aos efeitos não-climáticos do aumento do dióxido de carbono. Mesmo que pudesse neutralizar o aquecimento global, seria nula em relação à acidificação dos oceanos. Isto, por si só, a retira da contenda como uma solução séria.

Principalmente, me preocupo com o risco moral da geoengenharia solar – nos distraindo do trabalho real de lidarmos com as mudanças climáticas. Ao invés de gastarmos tempo, atenção e dinheiro com fantasias, concentremos nossa atenção na redução das emissões de gases de efeito estufa do mundo, apoiando os sumidouros de carbono da natureza e melhorando os fundamentos da sociedade.
Apesar de manchetes equivocadas, os cientistas não estão endossando a ideia

A geoengenharia solar recentemente ganhou atenção porque a Academia Nacional de Ciências, um respeitado órgão consultivo do governo dos Estados Unidos, propôs um programa de pesquisa limitado sobre o tema.

Ela não endossou o conceito, como alguns meios de comunicação erroneamente relataram. Ela meramente propôs um esforço de pesquisa para se examinar o conceito, incluindo seus perigos potenciais. É uma linha de ação razoável.

Mas não confundam esta proposta de estudo com um endosso da geoengenharia solar por cientistas climáticos sérios. Não é o caso.

A geoengenharia solar é desnecessária
Um último argumento dos proponentes da geoengenharia solar é que podemos precisar dela como uma medida de emergência para “dar uma brecada” nas mudanças climáticas – se não agirmos a tempo.

Essa é uma posição irónica, já que a geoengenharia solar desvia a atenção da ação efetiva sobre o clima.

Mas também é equivocada por outro motivo: temos outras ferramentas para “dar uma brecada” no sistema climático. E estas não representam uma distração perigosa no caminho de impedirmos a mudança do clima. Na verdade, elas são parte da solução.

O aquecimento global é causado por vários gases – não apenas pelo dióxido de carbono. Cada gás tem suas próprias características. Alguns retêm mais calor, molécula a molécula, do que outros. E alguns duram mais tempo na atmosfera do que outros.

Para rapidamente diminuir a mudança do clima e ganhar tempo para que possamos fazer outras reduções de emissões, podemos nos concentrar em gases de efeito estufa poderosos e de curta duração como metano, monóxido de carbono e “carbono negro”.

Para entendermos como isto pode funcionar, olhemos os seguintes gráficos “pulso-resposta” de como os gases de efeito estufa afetam o clima. Veremos como um único ano de emissões (com base no mix que emitimos hoje) aqueceria o planeta durante as décadas seguintes. Em outras palavras, poderemos estimar como um único ano de “pulso” de gases de efeito estufa causa uma “resposta” de aquecimento nas décadas futuras.

domingo, 5 de novembro de 2023

Novas baterias. Vamos a isso! NASA desenvolve baterias mais seguras e potentes que as de lítio

As tecnologias desenvolvidas pela NASA não se restringem às missões espaciais e vem sendo usadas para desenvolver outros importantes setores, entre eles a aviação. O carbono proveniente das viagens aéreas equivale a cerca de 2% de todas as emissões globais de gases com efeito de estufa e a busca por combustíveis mais sustentáveis e baterias elétricas que possam substituir motores à combustão é um dos desafios da indústria.


A NASA tem uma divisão que trabalha justamente com pesquisa e desenvolvimento de baterias e está a trabalhar em projetos de baterias mais leves e seguras – e muito mais potentes do que as baterias de íões de lítio, usadas hoje nos veículos elétricos.

As baterias de íons de lítio, o atual padrão da indústria automóvel, contêm líquidos que as tornam vulneráveis ​​ao superaquecimento, incêndio e perda de carga ao longo do tempo. Por outro lado, o projeto SABERS (Baterias de Arquitetura de Estado Sólido para Maior Recargabilidade e Segurança) da NASA está desenvolvendo baterias experimentais de estado sólido que não têm estas desvantagens. Além disso, as baterias Até agora, testadas pela equipe conseguiram alimentar objetos a 500 watts-hora por quilograma – o dobro de um carro elétrico.

Dentro da bateria, células de enxofre e selénio empilhadas diretamente umas sobre as outras, sem invólucros, eliminando peso das baterias. Juntamente com as próprias células, múltiplas baterias podem ser empilhadas sem qualquer separação entre elas.

“Este design elimina até 40% por cento do peso da bateria e nos permite duplicar ou mesmo triplicar a energia que pode ser armazenada, excedendo em muito as capacidades das baterias de íons de lítio”, disse Rocco Viggiano, investigador principal do SABERS no Glenn Research Center da NASA em Cleveland.

Armazenar mais energia e diminuir o peso das baterias são dois requisitos básicos para a aviação. No entanto, a quantidade de energia que uma bateria pode armazenar é apenas um lado da equação. Uma bateria também deve descarregar essa energia a uma taxa suficiente para alimentar grandes componentes eletrónicos, como uma aeronave elétrica ou um veículo aéreo não tripulado.

O site da NASA traz uma explicação didática sobre esta questão: “uma bateria poderia ser descrita como um balde. A energia (ou capacidade) de uma bateria é a quantidade que o balde pode conter, enquanto a sua potência é a rapidez com que o balde pode ser esvaziado. Para alimentar uma aeronave elétrica, a bateria deve descarregar a sua energia, ou esvaziar o seu balde, a um ritmo extraordinariamente rápido”.

Para garantir maior potência, novos testes estão a ser realizados com materiais que ainda não foram usados em baterias, mas que que produziram um progresso significativo na descarga de energia. E esses novos materiais vão permitir ainda mais ajustes no design dos equipamentos.

Segurança
A segurança é outro requisito fundamental para o uso de baterias em aeronaves elétricas. Ao contrário das baterias líquidas, as baterias de estado sólido não pegam fogo quando apresentam mau funcionamento e ainda podem funcionar quando danificadas.

Para avaliar a segurança, os pesquisadores testaram as baterias sob diferentes pressões e temperaturas e descobriram que ela pode operar em temperaturas quase duas vezes mais altas que as baterias de lítio, sem tanta tecnologia de resfriamento. A equipe continua testando-o em condições ainda mais quentes.

Segundo a NASA, o principal objetivo do SABERS para este ano é mostrar que as propriedades da bateria atendem às suas metas de energia e segurança, ao mesmo tempo que demonstra que ela pode operar com segurança em condições realistas e com potência máxima.

Em parceria com a Georgia Tech, o projeto SABERS conseguiu utilizar diferentes metodologias. “A Georgia Tech tem um grande foco na micromecânica de como a célula muda durante a operação. Isso nos ajudou a observar as pressões dentro da bateria, o que nos ajudou a melhorar ainda mais os equipamentos”, disse Viggiano. “Isso também nos levou a entender do ponto de vista prático como fabricar uma célula como essa e a algumas outras configurações de design aprimoradas”.

Apesar de ainda estarem em fase de testes, as baterias desenvolvidas pela NASA trazem esperança de uma eletrificação mais sustentável, não apenas para a indústria aeronáutica, mas também para a automotiva. Vale lembrar que a mineração necessária para a fabricação de baterias de lítio e os processos de reciclagem destes equipamentos ainda são um desafio.

Com informações da NASA

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terça-feira, 1 de agosto de 2023

A arquitectura do palco da Jornada Mundial da Juventude Católica não é original

A arquitetura do melga- palco da Jornada Mundial da Juventude Católica não é original. A duna que o identifica é semelhante a uma das dunas do edifício da sede da empresa Bee'ha, em Sharaf, Emirados Árabes Unidos e inaugurado em 30 de Março de 2022.
Sublinho a contradição de um Estado laico ao canalizar uma grande fatia de meios financeiros para um evento de foro meramente privado, apesar de religioso. Uma Igreja Católica riquíssima, que tem um património construído muito valioso, um parque escolar e académico cujas mensalidades são bem caras e finalmente as receitas inesgotáveis, anuais e mensais, que tem a partir do turismo de Fátima, das beatificações e das visitas a casas-museu de muito(a)s santo(a)s.


Bee'ah HQ, Sharjah, UAE from Zaha Hadid Architects on Vimeo

Inspirados na paisagem desértica que envolve a nova sede da empresa ambiental e de gestão de resíduos Bee'ha em Sharjah, os diferentes elementos do edifício – átrio, auditório, centro e galeria de visitantes, escritórios e cafetaria – organizam-se em duas dunas separadas por um pátio central. A forma do edifício – com área total de 7.000 m² em um terreno de 90.000 m² – foi otimizada para responder aos ventos predominantes e à intensa incidência solar. Com o objetivo de criar um edifício que se possa tornar um modelo de construção sustentável, o atelier optou pela utilização de energias renováveis, materiais de construção reciclados e implementou estratégias de poupança energética, tanto ativa como passiva. A fachada é operável para permitir a ventilação natural durante o meses mais quentes e minimizando a necessidade de infra-estrutura de refrigeração. Os acabamentos exteriores da envolvente do edifício foram concebidos para refletir os raios solares e reduzir o consumo de energia. As duas ‘dunas’ se cruzam e se conectam através de um pátio central que forma um oásis dentro do edifício, e que melhora a ventilação natural e maximiza a luz solar indireta no interior, tanto nos espaços públicos quanto nos administrativos. 

sábado, 22 de julho de 2023

Rita Matias disse que ia distribuir estudo do IPCC que afinal não existe com conclusão que também não existe

Não seja mentirosa, Rita Matias. Primeiro não existe um relatório IPCC em 1989. Depois, há de facto aquecimento global e o lóbi da indústria petrolífera faz todos os possíveis para o contestar. A Ciência desdiz o que disse.


"A senhora deputada vai sempre encontrar uma referência qualquer científica, mas eu queria-lhe explicar o que é o painel do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas): tem 195 membros, países. É um contributo internacional alargadíssimo. Existe desde 1988, faz parte das Nações Unidas. Não é um contributo de uma pessoa, como a senhora deputada cita, são 195 membros. Não é uma coisa que se rebate com um cientista, é um consenso generalizado do ponto de vista científico que tem um trabalho de décadas e que nos diz quais são as consequências do impacto das alterações climáticas. Ignorar isto é muito arriscado", desafiou o ministro do Ambiente.

Pouco depois, Rita Matias alertava o presidente daquela Comissão Parlamentar, Tiago Brandão Rodrigues, deputado do PS, de que o seu partido iria fazer chegar aos serviços um "relatório do IPCC de 1989 que dizia que algumas nações poderiam estar submergidas nos anos 2000. Pasmem-se, chegamos a 2023 e nenhuma das nações foi submersa (sic). Este relatório foi feito pelos 195 membros, pelo orgão enaltecido pelo ministro. Às vezes as predições falham".

Na terceira e última parte daquela audição, Tiago Brandão Rodrigues avisou que o documento já tinha sido distribuído, mas fez questão de confrontar Rita Matias com a natureza do suposto "relatório": "Senhora deputada, quero dizer-lhe uma coisa, na dialética parlamentar não serve tudo. A senhora deputada disse que ia distribuir um relatório do IPCC, que era importante para entender um conjunto de questões sobre a posição do IPCC em relação às alterações climáticas, mas fez-nos distribuir uma notícia, sem fonte ou data, praticamente não se consegue ler. Não pode dizer que vai distribuir uma coisa e distribuir outra completamente diferente. Parecia que trazia um livro que era quase uma obra mundial e depois traz um livro do 'Tio Patinhas'. Só queria saber onde está o relatório do IPCC."

O relatório de 1989 não existe e Matias acaba por confirmá-lo já no fim da audição ao ministro do Ambiente: "A referência que eu fiz era à UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). A notícia que divulguei tinha aquilo que referi, a questão de estar predito que algumas zonas estariam inundadas à data de hoje, que é uma questão que não existe."


"The Oshkosh Northwestern". É este o nome do jornal onde consta a peça partilhada por Rita Matias, na sua edição de 30 de junho de 1989. A notícia, distribuída pela Associated Press (AP) um dia antes, tem por base uma entrevista o diretor da sede de Nova York do UNEP. O primeiro parágrafo dizia: "Alto funcionário ambiental da ONU diz que nações inteiras podem ser apagadas da face da Terra por causa do aumento do nível do mar se a tendência do aquecimento global não for revertida até ao ano 2000."

Este funcionário da ONU era Noel Brown, na altura diretor regional do UNEP, que, alerta-se, não era cientista. Embora reconhecidamente alarmistas, as declarações deste alto funcionário da ONU foram muitas vezes distorcidas, nomeadamente por Rita Matias, que sugeriu que a declaração de Brown significava que as nações estariam submersas no ano 2000. Na verdade, Brown empurrava a consequência para um futuro mais distante. Isto, "se a tendência do aquecimento global não for revertida até 2000." Os cenários nos artigos citados pela AP descreveram projeções que mencionavam inclusivamente o ano 2100.

No final da década de 1980, mais precisamente em novembro de 1988, o UNEP e a Organização Meteorológica Mundial criaram o IPCC e "direcionaram-no para avaliar a ciência, os impactos e as possíveis respostas às alterações climáticas globais". Como parte dessa criação, foi realizada uma conferência em Miami que se prolongou de 27 de novembro a 1º de dezembro de 1989  e que "focou nas implicações do aumento do nível do mar para a África Ocidental, as Américas, a Bacia do Mediterrâneo e o resto da Europa".

Brown, o funcionário do UNEP, parece ter feito referência a declarações feitas em artigos preparados para esta conferência, como um relatório da EPA publicado em maio de 1990 e intitulado "Mudança do Clima e da Costa: Respostas Adaptativas e as suas Implicações Económicas, Ambientais e Institucionais". Este artigo incluía projeções futuras para inundações em países de baixa elevação. Apesar disso, nenhum destes artigos científicos assegurou que isso aconteceria até 2000.

Gráfico mostrando a elevação exponencial das emissões globais de carbono entre 1800 e 2007 dos setores do petróleo, gás natural, carvão, produção de cimento e desperdício. A escala é na ordem de biliões de toneladas anuais. Em 2007  aproximou-se dos dez biliões.

Fonte: aqui e aqui

domingo, 18 de junho de 2023

Memorial das Vítimas de Pedrógão - Parolo e com a água mais cara do País!

Memorial- foto de Franziska Schmidt, 11/02/2023

Quando o verdadeiro memorial seria um Projecto Piloto de Floresta em Pedrógão, o embuste político cumpriu mais uma vez este seu esperado papel, para agora, a mais pura incompetência se voltar a revelar, num simples obelisco parolo e caro.

Um pouco da "estória"
O memorial de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017 só foi inaugurado, 45 meses depois do anúncio da sua construção.

A 17 de junho de 2019, perante as então três mais importantes figuras do Estado - Marcelo Rebelo de Sousa, Eduardo Ferro Rodrigues e António Costa -, Nádia Piazza, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), anunciava a construção de um memorial de homenagem às vítimas dos incêndios que, precisamente dois anos antes, tinham provocado 66 mortos e cerca de 250 feridos. Na mesma sessão de evocação da tragédia e tributo às vítimas, realizado em Castanheira de Pera (um dos três concelhos mais atingidos pelas chamas), Nádia Piazza explicou em que é que consistia o projeto do memorial, concebido gratuitamente pelo arquitecto Eduardo Souto de Moura.

O concurso público foi lançado em 10 de fevereiro de 2021. Orçada em 1.794.761,91 euros, a obra foi iniciada em 13 de setembro do mesmo ano e tinha um prazo de execução de 300 dias, que terminava no dia 10 de junho de 2022.

Em junho do ano passado, a Infraestruturas de Portugal justificou o atraso da conclusão da empreitada com a falta de materiais.

Já em fevereiro último, a empresa esclareceu que as últimas tarefas a realizar, que incluíam plantações e sementeiras, só podiam ser realizadas na primavera, pelo que à data os trabalhos estavam suspensos, indicando-se a conclusão dos trabalhos neste segundo trimestre.

Concluindo
O memorial de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, relembro, da autoria do arquiteto Souto Moura, foi aberto ao público na quinta-feira (15.06.2023), sem cerimónia oficial de inauguração.
Além disso parece-me de uma coisa mórbida o memorial estar rodeado por um eucaliptal! O mesmo tipo de árvore que causou e potenciou toda aquela desgraça.

sábado, 17 de junho de 2023

Mundo negro. Planeta negro.

Mais aktual que nunca. Nojo de PCP que desde o 1º dia, continua firme, a justificar uma invasão terrorista e genocida de um estado independente!. Nojo pelas vítimas de Pedrógão. Memorial que custou 1.794.761,91 euros. O memorial da autoria do arquiteto Souto Moura, foi aberto ao público na quinta-feira, sem cerimónia oficial de inauguração. Um nojo tudo isto. Acho bem que os jovens se levantem e ponham tudo isto em tribunais. Têm o meu apoio.

Exoplaneta 55 Cancri, a  41 anos-luz de distância do nosso planeta Terra [fonte


Saber mais:
  1. Porque arde Portugal?
  2. IPCC entrega ao planeta um “guia de sobrevivência para a humanidade”

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Rio Douro está a ser “privatizado” e transformado num “parque temático”, criticam moradores de Gaia


Os 80 moradores do Edifício Destilaria Residence, situado no Cais do Cavaco, em Gaia, estão frontalmente contra a construção do terminal fluvial que consta da proposta apresentada pela Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) no passado dia 3 de maio.

Esta oposição “deve-se ao reduzido envolvimento da sociedade civil ao longo de todo o processo, que resulta do acordo prévio entre a Câmara Municipal de Gaia e a APDL relativamente a este projeto, o que transformou a consulta pública num mero pró-forma”, revela o comunicado dos moradores.

Os habitantes consideram que esta é “mais uma medida de privatização do rio Douro” que está a ser transformado num “parque temático”. E deixam críticas à forma como a APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo e a autarquia de Gaia estão a conduzir o processo.

“A despreocupação com o rio Douro e com a qualidade da sua água e ecossistemas é visível nas projeções para o crescimento turístico na Via Navegável do Douro: a APDL estima que em 2035 exista uma frota de 37 navios-hotel no Douro e um total de 125.500 passageiros anuais – aumentos de 48% e 26% face aos números mais recentes, respetivamente”, refere ainda o comunicado.

Ao mesmo tempo, “questionam a ausência de avaliação de sustentabilidade do rio, perante o objetivo de colocar 37 navios-hotel e 125 mil passageiros na Via Navegável do Douro até 2035”.

“A preservação das condições únicas do Douro é do interesse do país e do município. Ao aceitar estes números, a APDL assume, implicitamente, que não se deve estudar, previamente, o limiar da sustentabilidade e a capacidade de assimilação turística do Douro”.

O morador Paulo Leal, citado em comunicado, indica que “não se encontra, em nenhum documento disponibilizado na consulta pública, nenhuma razão que sustente a necessidade de um projeto desta envergadura e neste local específico”. “Os argumentos utilizados, meramente económicos, levam-nos a interpretar que este projeto é mais um passo dos operadores em privatizar o rio Douro, transformando-o num parque temático, afogado num turismo de massas descontrolado, assente numa procura de maximizar os lucros de terceiros sem considerar as preocupações das associações ambientais e da população local. Basta olharmos para exemplos de cidades europeias, como Veneza, que está a recuar neste tipo de atividade, para percebermos que há limites a este crescimento”, acrescenta.

O comunicado recorda as preocupações que vários académicos e especialistas têm levantado nos últimos dias sobre o projeto e assegura que os moradores afirmam que a APDL falhou em responder à totalidade dos seus impactos ambientais, “não apresentando, por exemplo, cálculos e medidas de minimização dos riscos de derrame de combustíveis”.

O grupo de moradores tem solicitado reuniões com decisores e entidades envolvidas no processo, como a Câmara Municipal de Gaia e a APDL, sendo que a porta do autarca Eduardo Vítor Rodrigues permanece fechada. “Até agora a única entidade que nos recebeu foi a APDL, que remeteu tudo para o processo de consulta pública e mostrou pouca preocupação com o bem-estar dos gaienses que aqui vivem todos os dias, mostrando valorizar mais um crescimento turístico descontrolado de pessoas que vêm cá uma vez e nunca mais voltam”, segundo outro morador, José Filipe Mesquita.

Os moradores destacam que a consulta pública do processo – que “resulta do acordo prévio entre a câmara municipal de Gaia e a APDL” – teve um “reduzido envolvimento da sociedade civil”, o que “transformou a consulta pública num mero pró-forma, desconsiderando por completo as preocupações dos gaienses e dos moradores daquela zona ribeirinha”.

Mas os moradores deixam mais críticas, notando que, face ao aumento da frota, “a preservação das condições únicas do Douro é do interesse do país e do município. Ao aceitar estes números, a APDL assume, implicitamente, que não se deve estudar, previamente, o limiar da sustentabilidade e a capacidade de assimilação turística do Douro”.

Os moradores estão “indignados” pelo ““desrespeito pela preservação do rio Douro, que chega ao absurdo de a APDL considerar que uma dragagem de 23 mil m3 e a extorsão de nove mil m2 de margem de Rio acabam por produzir, e cito, impactos “positivos, irreversíveis, de elevada significância”, quer ao nível do ordenamento do território, quer ao nível do uso do solo”.

Somado aos impactos sobre o leito do rio, decorrentes da construção da estrutura de 6.200m2 e 10 metros de altura diretamente sobre o Douro, os moradores consideram “importante alertar para a desfiguração da margem do Douro, sobre a encosta histórica de Vila Nova de Gaia.

“Os moradores do Edifício Destilaria Residence mostram-se ainda revoltados pela escassa consideração pelos impactos negativos nas suas vidas, nas suas famílias e no seu dia a dia, o que a APDL considera, no Resumo Não Técnico do projeto, como “pouco significativos, e, portanto, com reduzido potencial para configurarem situações de desconforto”.

Para terminar, os moradores pedem uma” verdadeira discussão pública, estudos mais aprofundados e um maior escrutínio no processo de tomada de decisão. Tendo sido apenas contactados pela primeira vez em agosto de 2022, mais de dois anos depois do início do estudo do projeto e sem que lhes tenha sido fornecida informação suficiente sobre o mesmo, os moradores vão levar a sua contestação a todas as instâncias, inclusive para lá do processo de consulta pública, que hoje termina”.


O Edifício Destilaria Residence é um edifício histórico do final do século XIX situado no Cais do Cavaco e projetado por um colaborador de Gustave Eiffel como fábrica da Destilaria do Álcool, segundo o comunicado que salienta que “após vários anos ao abandono, este imóvel foi reconvertido para fins residenciais em 2008”.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Portugal diminuiu emissões de gases com efeito de estufa, mas falhou nos resíduos

Os dados da Pordata mostram também uma grande dependência da energia fóssil e que Portugal tem vindo a ter temperaturas cada vez mais altas.

Portugal é dos países da União Europeia (UE) que mais diminuiu as emissões de gases com efeito de estufa mas foi incapaz de lidar com os resíduos, estando neste caso muito abaixo da média europeia.

Os números fazem parte de um retrato estatístico da situação ambiental em Portugal, divulgado no Dia Mundial do Ambiente pela base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a Pordata, em colaboração com a Agência Portuguesa do Ambiente.

Se os dados mostram que desde 2005 Portugal reduziu 35% das emissões de gases com efeito de estufa (média da UE é 24%), mostram também uma grande dependência ainda da energia fóssil, e mostram que o país tem vindo a ter temperaturas cada vez mais altas, e que produz cada vez mais resíduos.

Energia e transportes produzem metade das emissões de gases em Portugal
A Pordata nota na análise que face a 2005, e apesar das oscilações, as emissões de GEE têm baixado na generalidade dos setores, em Portugal e na UE, com exceção da agricultura em Portugal, cujas emissões de GEE aumentaram 4,7%.

Na área da energia, apesar dos ganhos nas renováveis, a energia fóssil representa 65% do cabaz (repartição pelas diferentes fontes da energia aprovisionada), com 40,6% vinda do petróleo e 23,6% do gás natural, em 2021. Face a 2000 o peso do carvão baixou de 15% para menos de 1% e o petróleo caiu mais de 20 pontos percentuais, com crescimento do gás natural e das renováveis.

Positivo é o peso das energias renováveis na produção de energia elétrica. Em 2021 64,9% da produção vinha de fontes renováveis. Desde 2018, destaca o Pordata, mais de metade da produção elétrica tem como fonte as energias renováveis.

Economia portuguesa é das que mais recursos naturais consome
Segundo os dados da Pordata, em 2021, Portugal consumiu cerca de 174 milhões de toneladas de materiais (segundo o Eurostat, o INE indica 163,9 milhões), o equivalente a 16,9 toneladas por habitante, quando o valor da média europeia não vai além das 14,1 toneladas por habitante.

A Pordata explica que os minerais não metálicos, muito usados na construção, são os mais consumidos em Portugal, representando 63% do total em 2021.

"Em Portugal, o consumo interno de materiais aumentou 65% entre 1995 e 2008, ano em que atingiu o seu valor máximo com 242 milhões de toneladas. A trajetória posterior foi de forte redução durante o período da crise económica, tendo-se seguido uma quase estabilização em torno de 164 milhões de toneladas", explica a análise, a que a Lusa teve acesso.

De acordo com os números, no balanço entre crescimento económico e consumo de materiais, Portugal atingiu em 2013 uma melhoria de 23% na produtividade dos recursos (quociente entre o PIB e o Consumo Interno de Materiais), face a 1995.

Desde então, apesar de manter sempre a produtividade acima de 1995, nunca mais atingiu o mesmo valor. Em 2021 foi de 14%.

Na área dos resíduos os números mostram que em 2020 cada pessoa produziu em média 1,4 quilos de lixo por dia. Desde 1995 que a produção de resíduos "per capita" tem aumentado, um aumento que desde então foi de 46%, quando a média europeia não passou dos 12%.

Outro fator negativo é o da deposição de resíduos em aterro, metade dos resíduos portugueses tiveram esse destino em 2021, o dobro da média europeia (23%).

A Pordata nota que o ponto de partida de Portugal foi diferente, porque em 1995 cerca de 90% dos resíduos urbanos em Portugal iam para aterro, contra 65% da média europeia.

Um ponto de partida também diferente na reciclagem. No mesmo ano de 1995 Portugal reciclava 1% e a média europeia já era de 12%. Assim, em 2021, o principal destino dos resíduos urbanos na UE era a reciclagem (30%) mas em Portugal atingia-se apenas os 13%.

Hoje, Dia Mundial do Ambiente
O Dia Mundial do Ambiente celebra-se anualmente a 05 de junho desde 1974. Este ano, tendo como países anfitriões a Costa do Marfim e os Países Baixos, debate soluções para a poluição plástica.

Nos últimos 50 anos tem sido um pretexto para sensibilizar a população mundial para as questões ambientais.

Para assinalar a data, os desafios a emergência climática serão debatidos num debate na Central Tejo, em Lisboa, numa iniciativa das entidades gestoras de resíduos, Novo Verde e ERP Portugal, em parceria com a Fundação EDP.

O dia é também assinalado com outras iniciativas, quer em Lisboa quer em cidades como Guimarães ou Coimbra, Braga, Guarda ou Funchal, sobretudo com conferências.

A propósito da efeméride a empresa Prosegur apresenta uma lista do que considera os principais crimes ambientais, na qual inclui a pesca irregular, não declarada e não regulamentada, a posse e o comércio ilegal de espécies, a caça ilegal ou furtiva, a exploração ilegal e o tráfico de madeira, a extração ilegal de recursos minerais e a gestão ilegal de resíduos.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Árvores de má sorte


Os tubos de proteção estão vazios; as árvores morreram; sobrou lixo plástico a salpicar a paisagem. As plantações de árvores autóctones falham sistematicamente. Porquê?
Há sempre a hipótese das proveniências, mas a principal causa talvez não ande por aqui ...
A vala e cômoro foi a técnica mais usada nos grandes projetos de arborização pública do séc. XX: espreite-se o GoogleEarth: até parece que as montanhas do norte e centro foram cardadas pelo pente de um gigante. Estas arborizações tiveram como ponto de partida (condição inicial) montes cobertos por um mosaico de arbustos e pastagens graminoides perenes e anuais, estabilizado pela combinação de pastoreio e fogo pastoril – herbivoria pírica assim se diz agora. No tempo zero, o stock de carbono orgânico do solo atingira um máximo em equilíbrio com o macroclima. As arborizações de pinheiro-bravo a vala e cômoro prosperaram graças à "formação de solo" (sobretudo nos xistos), à concentração da água na vala, ao controlo da vegetação natural (os diásporos e propágulos foram arrojados para o fundo da cova), e à disponibilização de nutrientes através da mineralização da matéria orgânica do solo. Não fosse o fogo ...
Nas atuais plantações ao covacho com baixas densidades em solos martirizados por fogos severos (que consomem a matéria orgânica do solo), as árvores sofrem, ainda num estado precoce do desenvolvimento, as investidas da vegetação natural e passam sede e fome – falta-lhes, sobretudo, o azoto reduzido e o boro. Nestas condições, inevitável, o sucesso das plantações depende da fertilização química da terra e da contenção da progressão sucessional, através do controlo mecânico da vegetação ou do herbicida. O fogo controlado entra em seguida. A não perturbação do solo e esta insistência de que a floresta não precisa de ser fertilizada podem, afinal, ser contraproducentes.
Para serem eficazes e eficientes nos seus propósitos, a agricultura e a silvicultura enfrentam restrições biofísicas cuja mitigação/solução não está nas micorrizas, nos extratos de algas, nas misturas de aminoácidos, no imprinting epigenético, ou nas laudas desconexas aos benefícios da flora infestante ou de um microbioma que ninguém sabe como é, por exemplo. Os princípios fundamentais há que os procurar nas velhas agronomia e silvicultura. E, acrescento, convém que os ecólogos agrícolas e florestais entendam os mecanismos básicos da produção agrícola e florestal para que os ganhos sociais e ambientais dos atuais projetos de investigação no tema sejam reais. Por outras palavras, aproveita aprender umas coisas das engenharias agronómica e silvícola.