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quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Necear
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terça-feira, 21 de maio de 2024
Margaret Atwood - Pelas mulheres, pelos jovens
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segunda-feira, 20 de maio de 2024
Encontros Improváveis: João Soares e Cecília Meireles
Lua. 19 de maio, cerca das 21.30 |
Lua Adversa
"Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."
Cecília Meireles, in 'Vaga Música'
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domingo, 19 de maio de 2024
Duas coisas devem ser completamente evitadas
Meghan Spielman - Dynamic Hand Woven Textiles |
Duas coisas devem ser completamente evitadas durante o treino de ocultismo. Nunca devemos prejudicar ninguém através de atos, pensamentos ou palavras intencionalmente ou não. Em segundo lugar, o sentimento de ódio deve desaparecer em nós, caso contrário ele reaparece como um sentimento de medo; pois o medo é suprimido pelo ódio. Devemos transformar o ódio num sentimento de amor, o amor pela sabedoria.
Fonte: Rudolf Steiner – GA 266 – Lições esotéricas 1: Número 44 – Kassel, 26 de fevereiro de 1909
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terça-feira, 7 de maio de 2024
A guerra nunca partiu, de Mia Couto
"A guerra nunca partiu, filho. As guerras são como as estações do ano: ficam suspensas, a amadurecer no ódio da gente miúda."- Mia Couto in "O Último Voo do Flamingo"
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domingo, 5 de maio de 2024
O cavalo preto, por Clarice Lispector
“Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem – pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela – apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez."
Clarice Lispector
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sexta-feira, 3 de maio de 2024
As virtudes da lentidão
Estou a começar a ter aulas de Tai-Chi desde Janeiro deste ano. Estou a adorar.
O nosso Presidente da República não podia estar mais certo quando afirmou que os orientais são lentos.
Siddhartha Gautama (o Buda) meditou durante seis meses (segundo alguns relatos) antes de descobrir as suas Quatro Nobres Verdades.
Na filosofia Taoísta apenas o lento e deliberado pode ser considerado Virtuoso ou Sábio.
Na estética japonesa "Ma" é o espaço vazio.
Na fotografia os espaços negativos (vazio) são importantíssimos para o sujeito "respirar".
Na escrita, a mesma tarefa. A lentidão contribui para a imaginação e vêm novas ideias. Acreditem.
Na actualidade ocidental com o nervosismo e stress das pessoas sempre ligadas a algo ou alguém distante, com os smatphones ligados na cabeceira da cama, no banho e ao lado dos talheres disputando a atenção, sinto-me grato pela aprendizagem diária desta arte de "lentidão oriental".
Ser lento é ser livre, evito respostas brutas e agressivas, degusto melhor (a slow-food é uma boa resposta) e prefiro falar do que teclar.
Acredito que chegámos a um ponto onde para evoluir é preciso regredir, reaprender com os antepassados e os bons exemplos asiáticos e também os africanos. E a sabedoria dos povos indígenas do Globo.
Adenda: Comentário de António Cerveira Pinto
Na China é uma prática comum, normalmente solitária. Vêem-se homens e mulheres, quase sempre de meia idade ou idosos, nos jardim d alamedas de Pequim realizando Tai Chi. Mas reparei também, corria o ano de 2007, nos avós que passeavam netos e netas, enquanto os pais trabalhavam. E ainda pequenos grupos de homens que escreviam caracteres no passeio, com água. Seria poesia, ou algum jogo? Não sei. Nos Estados Unidos há uma outra forma de escapismo (o que eu fui escrever!) muito em moda. Chama-se TM, ou Meditação Transcendental. Eu prefiro passear e filosofar, sozinho ou acompanhado. As ruas falam comigo, as casas falam comigo, as árvores reduzem-me à insignificância, as flores ensinam-me arte, os pequenos insectos atarefados explicar-me o que é uma vida de trabalho, e os corvos de Bruxelas, como os de Tóquio, ou da catedral de Évora, fazem de mim um irmão franciscano. Só vivemos uma vez.
P.S. De acordo com o Budismo, Siddhartha Gautama viveu várias reencarnações e relatou-as nos chamados contos de Jatakas.
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quinta-feira, 18 de abril de 2024
Encontros Improváveis: Charles Baudelaire e Fraunhofer Diffraction
Mark Twain - Life is short
“Life is short, break the rules, forgive quickly, kiss slowly, love truly, laugh uncontrollably, and never regret anything that made you smile.”
― Mark Twain
segunda-feira, 15 de abril de 2024
Teresa Horta - Ser Rebelde
Sou tanto assim:
“A teimar eu na liberdade e em privilegiar o pensamento e os versos, na tentativa de dominar e comandar o corpo que inutilmente me esforço por enganar nas suas exigências naturais, ao reconhecer o grande sossego que a frieza e a razão sempre trazem consigo, em detrimento do meu coração que na inquietude se esmera.”
― Maria Teresa Horta, As Luzes de Leonor
“I persist in freedom and in privileging thought and verse, in an attempt to dominate and command the body that I uselessly strive to deceive in its natural demands, in recognizing the great tranquility that coldness and reason always bring with them, in to the detriment of my heart, which strives in its restlessness.”
domingo, 31 de março de 2024
Kyrie, de José Carlos Ary dos Santos
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!
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sexta-feira, 29 de março de 2024
Encontros Improváveis: Miguel Torga e Bach
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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
Relembrar Teófilo Braga - Presidente da República que disse não ao automóvel
O Centenário da morte de Teófilo Braga (24.2.1843 - 28.1.1924) passou despercebido. Era açoriano e foi presidente da República durante dois mandatos, entre 1910 e 1915. Recusou automóvel oficial, considerando que isso seria um símbolo de ostentação e de distanciamento do povo. Ao tomar posse, recusou o automóvel oficial que lhe foi oferecido, preferindo usar o transporte público ou andar a pé, para poder estar mais próximo das pessoas. Excerto de um discurso de Teófilo Braga, em que ele explica a sua recusa do automóvel oficial: "Não quero automóvel. Não quero automóvel porque sou pobre. Não quero automóvel porque sou um homem do povo. Não quero automóvel porque não quero que me vejam como um aristocrata ou um monarca. Quero que me vejam como um companheiro, como um amigo, como um irmão."
A obra literária de Teófilo Braga é imensa e portanto impossível de a enumerar exaustivamente num documento resumo, como este pretende ser. Não queremos é deixar de mencionar alguns exemplos, quanto mais não seja para ilustrar a diversidade das áreas sobre que se debruçou. Assim, Folhas Verdes, de 1859, Stella Matutína, de 1863, Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras, de 1864, A Ondina do Lago, de 1866, Torrentes, em 1869, Miragens Seculares de 1884, representam incursões no campo da poesia. Ainda neste campo escreve a História da Poesia Popular Portuguesa, em 1867, abrangendo o Romanceiro Geral e Cancioneiro Popular e A Floresta de Vários Romances de 1868.
Como investigador das origens dos povos, seguiu a linha da análise dos elementos tradicionais desde os mitos, passando pelos costumes e terminando nos contos de tradição oral, que lhe permitiram escrever obras como Os Contos Tradicionais do Povo Português, de 1883, O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, em 1885, e História da Poesia Portuguesa, que lhe levou anos a escrever, procurando as suas origens através das várias épocas e escolas.
As áreas restantes das suas 360 obras, abrangem campos tão diversos como o da História Universal, História do Direito, da Universidade de Coimbra, do Teatro Português, da influência de Gil Vicente naquela forma de manifestação artística, da Literatura Portuguesa, das Novelas Portuguesas de Cavalaria, do Romantismo em Portugal, das Ideias Republicanas em Portugal, passando pelos folhetos de polémica literária e política e ensaios biográficos, como o que respeita a Filinto Elísio.
Além desta verdadeira enxurrada literária, nem sempre abordada com o rigor exigido, o que lhe valeu várias críticas dos meios literários da época, não se pode esquecer o seu contributo para a coordenação das obras de Camões, Bocage, João de Deus e Garrett, os prefácios para tantas obras dos escritores mais representativos e um sem-número de artigos escritos para os jornais do seu tempo.
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terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Universitários leem mais nas redes sociais do que nos sites noticiosos
Uma equipa de investigadores levou a cabo um projeto que pretendia conhecer os "Hábitos de Leitura dos Estudantes do Ensino Superior", mas num universo de quase 180 mil alunos de universidades e institutos politécnicos portugueses, responderam apenas 1.982 estudantes de nove universidades.
"Estes resultados não são representativos dos hábitos de leitura", salientou Filomena Oliveira, sub-diretora geral da Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC), explicando que o estudo apresentado esta terça-feira na Fundação Calouste Gulbenkian acaba por ser apenas um "exercício piloto", apelando a "um maior envolvimento das Instituições de Ensino Superior" (IES) nos próximos estudos.
Apesar de não se poder extrapolar, mais de 90% dos inquiridos disseram ter hábitos de leitura sem fins académicos, lendo livros, jornais, revistas ou textos online.
"Entre as quatro modalidades de leitura possível, os textos online são os mais lidos (74%) e as revistas as menos escolhidas" (33%), contou Filomena Oliveira, acrescentando que os alunos usam sobretudo meios digitais (mais de 70%), sendo o papel a opção mais apontada para querem ler um livro.
É nas redes sociais que os alunos mais procuram textos online para ler (81%) mas também procuram informação em sites noticiosos (78%).
Entre as redes sociais, o estudo aponta o Instagram como a mais procurada (82%), seguindo-se o X (ex-Twitter) e o Facebook, acrescentou a diretora-geral da DGEEC.
Metade dos alunos disse ler jornais, mas os sinais dos tempos mostram que a maioria (61%) já prefere o formato digital e apenas 7% ainda prefere o papel.
O inquérito quis saber também se os alunos liam as bibliografias académicas e concluiu que 29% leva as recomendações a sério, mas muitos (23%) ignoram as sugestões dos professores e nunca leram qualquer bibliografia.
Entre os obstáculos à leitura das bibliografias, aparece a falta de tempo mas também "o nível de dificuldade dos textos", sublinhou Filomena Oliveira.
As bibliotecas das instituições são espaços poucos usados, com menos de 30% dos alunos a usá-las e, na maioria dos casos, apenas para fazer trabalhos ou estudar ".
A apresentação do estudo contou com a presença da comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, do secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, e da coordenadora do estudo e professora da Universidade de Coimbra, Cristina Robalo, que também criticou a dedicação das IES neste projeto, salientando apenas "honrosas exceções".
Além do pouco interesse mostrado pelas IES, Cristina Robalo apontou também os efeitos da pandemia e o tema do inquérito - focado nos "hábitos de leitura" - como motivos para dificultar a recolha de dados.
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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024
Filme de culto - Decoder (1984)
Decoder é um filme dramático de vigilância burocrática, proto-cyberpunk e bizarro da Alemanha Ocidental, apresentando FM Einheit da banda industrial alemã Einstürzende Neubauten como um jovem fanático por barulho com ambições de hacker empregado numa lanchonete. Ele descobre que substituir o Muzak (música de fundo tocada em lojas e elevadores) imposto pelo governo por ruído industrial alterará o comportamento das pessoas. Inspirado por um encontro com um sumo sacerdote pirata barulhento (interpretado por Genesis P-Orridge dos pioneiros industriais Throbbing Gristle), ele se rebela contra o governo por usar a música como arma de controle mental corporativo e sedação ambiental levando ao consumismo e à massificação. Ele então toca sua mixagem parcialmente composta pelo balido distorcido de um sapo gritando, apenas para se transformar no terrorista barulhento mais procurado do país por incitar tumultos.
Decoder é inspirado na Revolução Eletrónica (1970) de William S. Burroughs, que aparece no filme, tem uma forte mensagem anticonsumista, citações sobre Lady Di (Diana), metáforas bíblicas usando sapos como símbolos para a vagina.
O filme também é notável por não estrelar atores reais: Bill Rice (artista de vanguarda do East Village) é Jaeger, um homem de empresa obcecado por peep-shows encarregado de estrelar monitores de vigilância nevados o dia todo, é designado para pôr fim ao F.M. operação. Christian F. interpreta a namorada de FM, uma funcionária punk de um peepshow que prefere a companhia de seus sapos de estimação aos humanos.
Decoder (Descodificador) de Muscha é um clássico cult e uma obra-prima criminosamente subestimada da estranheza alemã, antes da Internet e da guerra cibernética, filmada em 16 mm, salpicada de tons brilhantes de rosa, azul e verde com trabalho de câmera da vienense / nova-iorquina Hannah Heer.
Deve ser considerado obrigatório para quem ama os clássicos cyberpunks de Shinya Tsukamoto, Electric Dragon 80.000 V de Sogo Ishii e filmes como They Live, Vortex (1982) e Liquid Sky.
O filme é retalhado e golpeado pela cultura industrial/eletrónica dos anos 80 com uma trilha sonora intensa de nomes como Einsturzende Neubauten, Soft Cell, The The e Psychic Tv.
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sábado, 6 de janeiro de 2024
Sobre os meus hábitos de leitura
Leio compulsivamente. Adoro ler. Seguramente já li cerca de 4.500 obras. Desde literatura gótica, russa, germânica, inglesa, nórdica, portuguesa, francesa, ibero-americana, contos, peças de teatro, ficção-científica, autobiografias (uma paixão), pedagogos, filosóficos, divulgação científica, infanto-juvenis, poetas então nem se fala. Leio autores anarquistas, de esquerda e de direita. Gosto de política e ver como e porquê eles pensam sobre as suas escolhas e doutrinas.
Fico com pena que certos autores tenham morrido cedo. Questiono que outras obras magníficas estariam eles disponíveis a escrever e avançar na Humanidade. Por exemplo Jaroslav Hašek, que nos deixou um livro incrível: Bom Soldado Švejk.
Por outro lado temos o filósofo esloveno Slavoj Žižek, que já conta com mais de 600 livros e é humanamente impossível lê-los todos.
Sou de mente aberta. Leio autores LGBTI. O amor não tem género nem orientação sexual ou o raio que isso é. Tive, ao longo da minha carreira docente, 4 casos de alunos que estavam na transição transexual. Vi o sofrimento deles e delas nesse questionamento e orientação sexual. Ajudei-os e à família a ultrapassar muitas barreiras e bullying. Mais uma vez a literatura ajudou-me bastante.
Hoje partilho convosco uma frase muito enigmática e tão actual do romance "O Bolor" de Augusto Abelaira. Diz ele a certa altura (estava a falar do trio amoroso, infidelidade):
"O nós é elástico, percebes?, como um balão, pode ganhar a amplitude que quisermos, que lhe soubermos dar, ser cheio de vento ou cheio de sentido, de riqueza concreta, efectiva, humana…É a medida da nossa generosidade, afinal. Ou do nosso egoísmo. Um nós em que cabem todos os deserdados da Terra é um nós onde eu não caibo."
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domingo, 31 de dezembro de 2023
Livro para o último dia do ano: Jojo Meyes - As Mensageiras da Esperança
Determinação, coragem, alfabetizar os mais pobres e abrir os horizontes através dos livros e do gosto pela leitura é a conclusão geral quando terminei a leitura deste livro. Kentucky, à época da Grande Depressão, não era um estado fácil.
Esta leitura fez-me lembrar especialmente a série netflix «When Calls the Heart», a crise mineira, os inícios do século XX, as mulheres corajosas que têm de enfrentar tudo no mundo, muitas sozinhas, viúvas, cheias de filhos, fome e pobreza, solteironas e mulheres "diferentes", párias da sociedade.
Empregos, vidas, situações que é simples para um homem e tido como garantido, é extremamente difícil para uma mulher conseguir, que é tida como pertença do homem, mera máquina de ter filhos, de arrumar e lavar, e ai da mulher que se atreva a ser diferente ou a desafiar as pressões sociais, tais como a obrigatoriedade de ser casada e de ter filhos, caso contrário, se não se casar é uma rejeitada da sociedade, ou mesmo galdéria, e se não tem filhos não vale nada como mulher...
E o que mais me deliciou nesta leitura foi a irmandade das bibliotecárias a cavalo, amizade verdadeira, com as respectivas discussões, alegrias e tristezas, sem falsidades, os livros mencionados e o drama destas pequenas comunidades, pobres, incultas e muitos analfabetos, extremamente religiosos - a roçar o fanático - que olhavam para todos os livros que não fossem a Bíblia com desconfiança. Também me encantou a coragem destas mulheres de não só a percorrerem quilómetros sem fim, fizesse chuva ou sol, a cavalo, por trilhos muito perigosos, para irem aos locais remotos onde vivam os mais pobres para lhes levar livros, muitas vezes sendo maltratadas, ofendidas, mal recebidas, lidarem com a desconfiança e conseguirem dar a volta a estas pessoas para darem uma oportunidade à literatura, especialmente conseguirem a autorização dos pais para que os seus filhos pudessem ler livros, aprenderem a ler e incentivar a deixar os filhos irem à escola, é fabuloso, verdadeiramente mulheres com M grande!
Conheça a história verdadeira do Pack Horse Library Project
E uma inspiração para o novo ano.
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sábado, 9 de dezembro de 2023
Bob Dylan
Bod Dylan tem muito mais poemas, assim, quase aforismos. Cada estrofe um tratado filosófico. Um letrista e poeta como poucos. E ainda por cima talentoso na voz e guitarra.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
Sobre a Literatura
Ler um livro não é só passar um tempo lúdico e prazeroso. Se é verdade que muitas vezes, como diz Pessoa, acabo de viver outra vida dentro de minha vida, a literatura vai mais além. A literatura, os romances, os livros modificam-nos mesmo. As escolhas que tomámos, dão-nos um novo olhar, mais tolerância, mais abertura de mundos, novas e intrigantes personalidades, que nos agitam, confrontam os nosso preconceitos. A literatura (a boa literatura) ajuda-nos a amar mais!
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
Urbano Tavares Rodrigues – 100.º aniversário do nascimento
Marcha pela Paz, Lisboa, 1983: José Saramago, Piteira Santos, Maria Rosa Colaço, Lopes Graça, Manuel da Fonseca, José Cardoso Pires e Urbano Tavares Rodrigues. |
Urbano Tavares Rodrigues – 100.º aniversário do nascimento de um homem bom, antifascista e muito culto – 6 de dezembro de 1923.
"Não quer dizer que não haja coisas boas na União Soviética, porque há, mas os mandantes estão um bocado fossilizados."
Estavam. Agora é aquele canalha do Putin. Um bandido da pior espécie. Um miserável do KGB.
O Amolecimento pela Sociedade de Consumo
Nos países subdesenvolvidos, a arte (literatura, pintura, escultura) entra quase sempre em conflito com as classes possidentes, com o poder instituído, com as normas de vida estabelecidas. Em revolta aberta, o artista, originário por via de regra da média e da pequena burguesia ou mais raramente das classes proletárias, contesta o status quo, propõe soluções revolucionárias ou, quando estas não podem sequer divisar-se, limita-se a derruir (ou a tentar fazê-lo pela crítica, violenta ou irónica) o baluarte dos preconceitos, das defesas que os beneficiários do sistema de produção ergueram contra as aspirações da maioria. Nas sociedades industriais mais adiantadas, o artista pode permanecer numa atitude idêntica de inconformismo; porém, os resultados da sua actividade de criação e reflexão tornam-se matéria vendável e, nalguns casos, matéria integrável.
O consumo do objecto artístico, seja ele o livro, o quadro ou o disco, quando feito sob uma tutela de opinião, que os meios de comunicação de massa, em escala larguíssima , exercem, torna-se, senão totalmente inócuo, pelo menos parcialmente esvaziado do seu conteúdo crítico. Despotencializa-se. Amolece. É o que se verifica, por exemplo, em boa parte, nos Estados Unidos. A ideologia repressiva da liberdade no mundo capitalista monopolista torna-se tanto mais perigosa quanto aborve, ou procura absorver, as próprias formas políticas de exercício das liberdades ditas essenciais, quando aceita no seu seio o escritor, acusador iconoclasta por natureza, recuperando-o em banho asséptico, limando-lhe os dentes. Mas, entendamo-nos, nem sempre o artista se dá conta dessa operação, até porque nem sempre, de facto, é ele próprio o paciente da operação que lhe reduz a perigosidade, senão que o é, sim, a sua obra, a qual, pelo poder diminutivo de uma dada comercialização, se rectifica.
Urbano Tavares Rodrigues, in "Ensaios de Escreviver"
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