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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Sudão: "A guerra mais esquecida do nosso tempo"

Os novos combates no centro do Sudão obrigaram 300.000 pessoas a fugir

No extremo leste do Chade, mulheres com roupas coloridas tentam cozinhar numa fogueira improvisada, em frente às tendas dos refugiados. Fazem parte das famílias da região de Darfur, no oeste do Sudão, que conseguiram fugir para o outro lado da fronteira, em direção ao Chade. Estão vivas, mas ficaram sem nada:

"Eu e o meu marido temos quatro filhos. A vida é muito difícil. Aqui recebemos um saco de 10 quilos de comida todos os meses, mas isso não chega. A comida simplesmente não é suficiente", contou à DW uma testemunha que não quer ser identificada.

As organizações internacionais de ajuda humanitária não têm fundos para fazer face à catástrofe humanitária. Só no Chade vivem pelo menos 800.000 refugiados do Sudão, diz Pierre Honnorat, do Programa Alimentar Mundial.

"Precisamos urgentemente de financiamento para esta crise. É urgente porque primeiro temos de comprar os alimentos e trazê-los para o Chade e depois transportá-los até aqui, para a fronteira, para que as pessoas aqui recebam pelo menos uma refeição por dia."

Sete milhões de refugiados
No Sudão, os dois homens mais poderosos do país estão em conflito desde abril passado. De um lado está Abdelfaftah al-Burhan, o chefe do Exército e presidente do Conselho Soberano do Sudão, do outro, o seu antigo adjunto, Mohamed Hamdan Dagalo, que comanda as chamadas Forças de Apoio Rápido.

Os combates alastraram-se a todo o país, afetando até zonas residenciais. A situação no Sudão não podia ser pior, disse recentemente Jan Egeland, diretor do Conselho Norueguês para os Refugiados, numa entrevista à emissora alemã ARD.

"Entristece-me que o mundo esteja a ignorar um dos maiores desastres humanitários da nossa geração. Sim, há a guerra na Ucrânia, a crise em Gaza. Mas como é que o mundo pode esquecer, em apenas alguns meses, que mais seis milhões de pessoas tiveram de fugir daqui? As mulheres estão a ser violadas, os hospitais estão a ser bombardeados, os campos de refugiados estão a ser bombardeados!"

Segundo os relatos, a situação é particularmente difícil na região de Darfur, no extremo oeste do Sudão. As milícias das Forças de Apoio Rápido voltam a ser acusadas de crimes brutais contra os direitos humanos. Vinte anos depois, a crise vivida no Darfur em 2003 parece estar a repetir-se, lembra Jan Egeland.

"O Darfur está atualmente a sofrer uma limpeza étnica maciça", começou por explicar o diretor do Conselho Norueguês para os Refugiados, que trabalha nas Nações Unidas há 20 anos.

"O Darfur era uma questão importante, o então Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush e o primeiro-ministro britânico Tony Blair estavam determinados a ajudar a população. Hoje, está a acontecer novamente o mesmo em Darfur - centenas de milhares de pessoas estão a ser deslocadas, milhares já foram massacradas - e ninguém parece ter consciência disso."

Comunidade internacional ignora Sudão?
A crise parece não ter fim à vista: até agora, todos os esforços de mediação internacional para um cessar-fogo falharam. Diz-se mesmo que algumas potências estarão a alimentar o conflito no Sudão, que é rico em matérias-primas - as milícias controlam várias minas de ouro no país.

As relações entre o Governo sudanês e as Nações Unidas são cada vez mais tensas. O enviado especial alemão Volker Perthes foi declarado "persona non grata" e demitiu-se. E o Sudão apelou à ONU para encerrar a missão de estabilização no país.

"Uma civilização inteira foi destruída, 24 milhões de pessoas precisam de ajuda. Se o que está a acontecer no Sudão estivesse a acontecer noutro lugar e não em África, estaria no topo da agenda política. É a guerra mais esquecida do nosso tempo."

Desde abril, a guerra entre o exército e as RSF já causou pelo menos 12 mil mortos e mais de sete milhões de deslocados no Sudão

domingo, 16 de outubro de 2022

Dia Mundial da Alimentação promove cuidado com todos para evitar fome



“Não deixe ninguém para trás” é o tema desde ano após preocupações com guerras e desafios para segurança alimentar global; papa Francisco e Guterres enviaram mensagens a evento de comemorações em Roma, sede da FAO.

As Nações Unidas marcam neste 16 de outubro o Dia Mundial da Alimentação. Em 2022, o tema é “não deixe ninguém para trás”.

Para líderes internacionais e chefes de agências da ONU, o momento é de alerta com uma crise global de segurança alimentar e um recorde de pessoas em grave risco de fome na Ásia e na África.

Esperança e ação

O Dia da Alimentação é celebrado em mais de 150 países em locais icónicos como a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, as Cataratas de Niágara, na América do Norte, e a praça Piccadilly Circus, de Londres, também acolhem atividades.

Em Roma, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, realizou um evento, nesta sexta-feira, com mensagens do secretário-geral da ONU, António Guterres, do papa Francisco e do presidente italiano Sergio Mattarella.

Guterres ressaltou que o mundo vive um período desafiador para a segurança alimentar.

Na mensagem para este ano, o líder das Nações Unidas exorta as partes interessadas a cooperarem para passar do desespero à esperança e à ação.

O diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, disse que diante de uma iminente crise alimentar global, é preciso aproveitar a solidariedade e o impulso coletivo para construir um futuro melhor. Nessa realidade, todos devem ter acesso regular a alimentos nutritivos suficientes.

Soluções justas e duradouras

Em sua mensagem, o papa Francisco listou os desafios desse momento de guerra.

O chefe da Igreja Católica lembrou que a FAO celebra 77 anos e que foi criada para responder as necessidades das vítimas da miséria e da fome no contexto da Segunda Guerra Mundial.

O apelo é que não se perca de vista que as pessoas “não são apenas números, dado um fluxo interminável de estatísticas”.

O papa Francisco pediu ainda que os projetos e intervenções da agência não se limitem a carências circunstanciais ou apelos feitos em contextos de emergência, mas para oferecer soluções justas e duradouras.

Ele destacou que é necessário ressaltar a urgência de enfrentar o problema da pobreza, que está intimamente ligado à falta de nutrição adequada, em conjunto e em todos os níveis.

Para o presidente italiano, Sergio Mattarella, “sem igualdade de acesso à alimentação, milhares de pessoas principalmente aquelas que vivem nos países mais pobres, não podem ter uma vida saudável, educação de qualidade e oportunidades de crescimento social e económico”.

Crise alimentar global sem precedentes

A ONU estima que além das 970 mil pessoas em risco de fome no Afeganistão, na Etiópia, na Somália, no Sudão do Sul e no Iémen, o número de pessoas que passam fome em todo o mundo está aumentando.

Somente em 2021, 828 milhões viviam nessa situação, segundo o relatório Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo. Cerca de 3,1 biliões de pessoas ainda não podem ter uma alimentação saudável.

Na cerimónia, o diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos, PMA, afirmou que a maior preocupação é o que está por vir.

Crises contínuas

David Beasley listou a crise de disponibilidade de alimentos, relembrando que os efeitos de conflitos e das mudanças climáticas ameaçam prejudicar a produção global de alimentos nos próximos meses.

O chefe do PMA destacou que o mundo deve abrir os olhos para a atual crise alimentar global sem precedentes e agir de imediato para impedir que a situação saia do controle.

O presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Álvaro Lario, informou que, este ano, mais do que nunca, o Dia Mundial da Alimentação deve ser um apelo para intensificar as ações de ajuda aos pequenos agricultores do meio rural.

Ele ressaltou que estes produtores fornecem alimentos para suas comunidades e países em crises sucessivas, apesar da desigualdade, da vulnerabilidade e da pobreza.

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