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terça-feira, 21 de maio de 2024

Colapso dos peixes migratórios ameaça alimentação de milhões de pessoas


O colapso das populações de peixes migratórios ameaça a segurança alimentar de milhões de pessoas e os ecossistemas críticos de água doce, indica um relatório ontem divulgado.

Em vésperas do Dia Mundial da Migração de Peixes, no próximo sábado, 24 de Maio, o documento salienta que desde 1970 se registou um declínio de 81% das populações de peixes migradores, sendo as quedas mais acentuadas na América Latina (91%), Caraíbas (91%) e Europa (75%).

No entanto a diminuição dos peixes de água doce regista-se em todo o mundo, o que põe em risco a segurança alimentar e os meios de subsistência de milhões de pessoas, a sobrevivência de muitas outras espécies, e a saúde a resiliência dos rios, lagos e zonas húmidas.

Os alertas fazem parte de um novo relatório do Índice Planeta Vivo, sobre peixes migratórios de água doce, publicado pela organização “World Fish Migration Foudation” e outras entidades, incluindo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e a “World Wide Fund for Nature” (WWF).

O Índice Planeta Vivo é um indicador global sobre o estado da biodiversidade, administrado pela Sociedade Zoológica de Londres em cooperação com a WWF.

No documento explica-se que metade das ameaças aos peixes migradores se relaciona com a degradação dos habitats, incluindo a construção de barragens e de outras barreiras nos rios, e a conversão das zonas húmidas para a agricultura. A sobre-exploração, o aumento da poluição e o agravamento dos impactos das alterações climáticas, estão também a diminuir as espécies de peixes migradores.

“O declínio catastrófico das populações de peixes migratórios é uma chamada de atenção para o mundo. Temos de atuar agora para salvar estas espécies fundamentais e os seus rios”, afirmou, citado num comunicado sobre o relatório, Herman Wanningen, da “World Fish Migration Foudation”.

O especialista considera que os peixes migratórios “são fundamentais para as culturas de muitos povos indígenas, alimentam milhões de pessoas em todo o mundo e sustentam uma vasta rede de espécies e ecossistemas”, alertando que não se pode “continuar a deixar que eles escapem silenciosamente”.

Os autores do documento salientam também que os peixes migratórios de água doce são vitais para a alimentação de milhões de pessoas, especialmente na Ásia, África e América Latina, e que são meio de subsistência para dezenas de milhões através da pesca local, comércio, indústria e pesca recreativa.

E destacam pela positiva que um terço das espécies monitorizadas aumentou, nomeadamente por melhor gestão de recursos, recuperação de habitats e remoção de barragens.

Na Europa e nos Estados Unidos já foram removidas milhares de barragens, diques, açudes e outras barreiras fluviais. No ano passado a Europa removeu um recorde de 487 barreiras, um aumento de 50 % em relação ao máximo anterior de 2022.

Os decisores de todo o mundo devem acelerar os esforços para proteger e restaurar os caudais dos rios, investindo em alternativas sustentáveis às barragens hidroelétricas que estão planeadas. E lembram os objetivos saídos da cimeira mundial sobre a biodiversidade Kunming-Montreal, no Canadá no final de 2022, de recuperação de 300.000 quilómetros de rios degradados.

A “World Fish Migration Foudation” promove desde 2014 o Dia Mundial da Migração de Peixes, para aumentar a consciencialização sobre os peixes migratórios. Este ano celebra os rios livres e já conta com mais de 65 países participantes.

sábado, 18 de maio de 2024

Como surge a chuva ácida?


A chuva ácida  é consequência da poluição atmosférica. A queima de combustíveis fósseis –principalmente por motores movidos a diesel e centrais térmicas– liberta muito dióxido de azoto, NO2, para a atmosfera. Algumas atividades industriais – principalmente produção de aço, de alumínio, baterias, borracha e fertilizantes– libertam uma quantidade absurda de dióxido de enxofre, SO2, para a atmosfera.

Já em forma de gases, esses elementos formam moléculas polares com alta solubilidade em água. Assim, reagem rapidamente com a água em vapor na atmosfera e formam dois ácidos corrosivos e tóxicos: o ácido sulfúrico, H2SO4, e o ácido nítrico, HNO3.
SO3 + H2O → H2SO4
NO2 + H2O → HNO3

Essas substâncias voltam para a terra em forma de chuva ácida com desastrosas consequências ambientais:
– alteram o PH do solo, geralmente abaixo do valor 5,6 e essa acidificação mata a microbiota;
– alteram o PH de córregos, rios, lagos e mananciais, acidificando a água, desequilibrando o ambiente e causando a morte de peixes e outros seres aquáticos;
– causam patologias em vegetais e animais;
– destroem extensas áreas florestais e lavouras;
– danos à saúde humano, com agravamento de problemas respiratórios e oculares;
– corroem metais, pedras, rochas calcárias, madeira (ação desidratante);
– desgastam construções.

A chuva ácida é um dentro de tantos outros problemas causados pela emissão excessiva e descontrolada de gases do efeito estufa, como o aquecimento global, as secas prolongadas, as enchentes violentas cada vez mais frequentes e tantos eventos climáticos extremos.

Saiba mais:
Chuva ácida - Prepara ENEM
Aulão ENEM 2020 - Professor Paulo Jubilut

terça-feira, 14 de maio de 2024

Cientistas descobrem a chave para a criação de plantas “devoradoras de carbono” com grande apetite

As cianobactérias apresentam diversos formatos e podem realizar fotossíntese


A descoberta do funcionamento de uma enzima crítica “escondida na planta da natureza” lança uma nova luz sobre a forma como as células controlam os processos-chave na fixação do carbono, um processo fundamental para a vida na Terra.

A descoberta, feita por cientistas da Universidade Nacional Australiana (ANU) e da Universidade de Newcastle (UoN), poderá ajudar a conceber culturas resistentes ao clima, capazes de sugar o dióxido de carbono da atmosfera de forma mais eficiente, ajudando a produzir mais alimentos no processo.

A investigação, publicada na revista Science Advances, demonstra uma função anteriormente desconhecida de uma enzima chamada anidrase carboxissomal carbónica (CsoSCA), que se encontra nas cianobactérias – também chamadas algas azuis-verdes – para maximizar a capacidade dos microrganismos de extrair dióxido de carbono da atmosfera.

As cianobactérias são vulgarmente conhecidas pelas suas florescências tóxicas em lagos e rios. Mas estes pequenos insetos azul-esverdeados estão espalhados por todo o mundo, vivendo também nos oceanos.

Embora possam constituir um perigo para o ambiente, os investigadores descrevem-nas como “pequenos super-heróis do carbono”. Através do processo de fotossíntese, desempenham um papel importante na captura de cerca de 12% do dióxido de carbono do mundo todos os anos.

O primeiro autor e investigador de doutoramento Sacha Pulsford, da ANU, descreve a eficiência notável destes microrganismos na captura de carbono.

“Ao contrário das plantas, as cianobactérias têm um sistema chamado mecanismo de concentração de dióxido de carbono (CCM), que lhes permite fixar o carbono da atmosfera e transformá-lo em açúcares a um ritmo significativamente mais rápido do que as plantas normais e as espécies cultivadas”, diz Pulsford.

No centro do CCM estão grandes compartimentos proteicos chamados carboxissomas. Estas estruturas são responsáveis pelo sequestro de dióxido de carbono, abrigando a CsoSCA e outra enzima chamada Rubisco.

As enzimas CsoSCA e Rubisco trabalham em uníssono, demonstrando a natureza altamente eficiente da CCM. A CsoSCA trabalha para criar uma elevada concentração local de dióxido de carbono no interior do carboxissoma, que a Rubisco pode depois engolir e transformar em açúcares para a célula comer.

O autor principal, Ben Long, da UoN, afirmou: “Até agora, os cientistas não tinham a certeza de como a enzima CsoSCA é controlada. O nosso estudo centrou-se em desvendar este mistério, particularmente num grupo importante de cianobactérias que se encontram em todo o mundo. O que encontrámos foi completamente inesperado”.

“A enzima CsoSCA dança ao som de uma outra molécula chamada RuBP, que a ativa como um interrutor”, acrescentou.

“Pense na fotossíntese como se estivesse a fazer uma sanduíche. O dióxido de carbono do ar é o recheio, mas uma célula fotossintética precisa de fornecer o pão. Essa é a RuBP”, revela, sublinhando que, “tal como é necessário pão para fazer uma sandes, a taxa de transformação do dióxido de carbono em açúcar depende da rapidez com que a RuBP é fornecida”.

O autor explica ainda que “a rapidez com que a enzima CsoSCA fornece dióxido de carbono à Rubisco depende da quantidade de RuBP presente. Quando há suficiente, a enzima é ativada. Mas se a célula ficar sem RuBP, a enzima desliga-se, tornando o sistema altamente sintonizado e eficiente”.

“Surpreendentemente, a enzima CsoSCA tem estado sempre incorporada no projeto da natureza, à espera de ser descoberta”, acrescenta.

Os cientistas afirmam que a engenharia de culturas mais eficientes na captura e utilização de dióxido de carbono daria um enorme impulso à indústria agrícola, melhorando consideravelmente o rendimento das culturas e reduzindo a procura de fertilizantes azotados e de sistemas de irrigação.

Asseguraria também que os sistemas alimentares mundiais fossem mais resistentes às alterações climáticas.

Pulsford afirmou: “Compreender como funciona a CCM não só enriquece o nosso conhecimento dos processos naturais fundamentais para a biogeoquímica da Terra, como também nos pode orientar na criação de soluções sustentáveis para alguns dos maiores desafios ambientais que o mundo enfrenta”.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Organizações ambientalistas reivindicam 15 medidas urgentes pela água


Mais de 70 organizações de seis movimentos ambientalistas, de norte a sul do país, apresentaram esta quinta-feira um manifesto reivindicativo que apela aos partidos políticos para que olhem para 15 medidas consideradas urgentes para proteção dos rios e da água.

"Aquilo que se pretende é efetivamente pôr na agenda política as questões da gestão da água e do uso eficiente da água, por forma a que esse recurso, que é finito, seja bem usado e para aquilo que é efetivamente necessário", disse à Lusa Paulo Constantino, porta-voz do Movimento pelo Tejo -- proTEJO, com sede em Vila Nova da Barquinha (Santarém).

Segundo alertou o dirigente, "as práticas que se vislumbram e que têm vindo a ser propostas conduzirão ao seu esgotamento e a uma escassez contínua por um excessivo consumo".

Entre as 15 reivindicações apresentadas, a poucas semanas das eleições legislativas de 10 de março, estão, por exemplo, medidas de combate à seca, de proteção de rios e águas subterrâneas, ou contra os transvases e construção de novas barragens, açudes e dessalinizadoras.

"Não pode haver ofertas ilimitadas de água", afirmou Constantino, tendo defendido a importância de "gerir as necessidades e as disponibilidades de água em cada bacia hidrográfica, satisfazendo as necessidades humanas e as necessidades ecológicas".

'Não aos transvases entre bacias hidrográficas' é a primeira reivindicação que consta num documento que os signatários enviaram na quarta-feira aos partidos políticos com assento parlamentar na Assembleia da República e a que a Lusa teve acesso.

Na lista de 15 reivindicações apresentadas, divididas entre o sim e o não, do lado a combater, segundo os signatários, está o "não aos transvases entre bacias hidrográficas, ao desperdício de água, aos projetos sustentados num aumento do consumo de água (dessalinizadoras, barragens), à construção da dessalinizadora do Algarve, e "à proliferação de barragens e açudes".

Do lado positivo elencam o "sim à proteção das águas subterrâneas, ao cumprimento integral e urgente da legislação comunitária e nacional (Diretiva Quadro da Água, Lei da Água) e à implementação urgente das medidas previstas nos Planos de Bacia Hidrográfica (PGRH), à definição e implementação rigorosa de regimes de caudais ecológicos", e à "implementação de processos de recuperação ecológica".

Ainda do lado positivo está o "sim ao efetivo controlo físico-químico e biológico dos efluentes libertados nos meios hídricos", à redução dos valores limite de emissão dos efluentes libertados pelas estações de tratamento, à definição de políticas eficazes no sentido de regulamentar a proliferação de monoculturas, à disseminação da informação 'online' de acesso livre, a uma estratégia de desenvolvimento conduzida por planos nacionais de restauro fluvial, de eliminação de barreiras transversais, de erradicação de invasoras e de eficiência hídrica a par do "desenvolvimento de programas que de uma forma massiva combatam a iliteracia ecológica".

Os movimentos ambientalistas pedem a "introdução destas questões na campanha eleitoral", e a "observação de um discurso com pensamento estratégico que represente um projeto viável de ação coletiva e individual responsável e com sentido de justiça intergeracional".

As 15 reivindicações pelos rios e pela água são subscritas por mais de 70 organizações nacionais e locais - que incluem Organizações Não Governamentais (ONG, ONGA, associações e municípios -, bem como cidadãos a título individual que fazem parte de seis movimentos com representatividade nas principais bacias hidrográficas do país (AMORA, Mondego Vivo, #MovRioDouro, MUNDA, PAS e proTEJO).

"(...) Chegámos à situação que nos coloca no limiar da sobrevivência face à rapidez das alterações climáticas e, em particular, face à degradação da quantidade e qualidade das águas superficiais e subterrâneas e respetivos ecossistemas", alertam os movimentos subscritores, num documento em que pedem aos decisores políticos para se "agir prioritariamente sobre as causas como forma de combater os efeitos".
Fonte: DN

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

UE ameaça Portugal com sanções por não cumprir acórdão sobre conservação ambiental


A Comissão Europeia abriu hoje dois processos contra Portugal no Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) por incumprimento de um acórdão sobre conservação de sítios de importância comunitária e ameaçou com sanções.

Em comunicado, o executivo comunitário anunciou a decisão de instaurar uma ação contra Portugal no TJUE por incumprimento de um acórdão do 05 de dezembro que instava o país a designar 61 “sítios de importância comunitária” como locais “especiais de conservação”, como exige a diretiva europeia para conservação de habitats.

O tribunal declarou igualmente que Portugal não adotou as medidas de conservação necessárias para esses sítios.

Na sequência do acórdão, Portugal designou formalmente os 61 sítios em causa como zonas especiais de conservação mediante a adoção de um decreto específico, mas esta designação não é suficiente para cumprir o acórdão, porque Portugal também necessita de adotar objetivos e medidas de conservação, diz a Comissão.

Por isso, o executivo de Ursula von der Leyen “decidiu remeter novamente a questão” para o TJUE.
Como é a segunda ação instaurada no tribunal sobre o mesmo assunto para Portugal “poderá resultar na aplicação de sanções financeiras pelo tempo decorrido após a data do primeiro acórdão até se verificar a conformidade”.

Noutro comunicado, Bruxelas anunciou também que Portugal está entre um grupo de países, incluindo Espanha, Irlanda, Bulgária, Malta e Eslováquia, alvo de uma ação no TJUE por incumprimento da revisão dos planos de gestão das bacias hidrográficas.

A diretiva em questão, advogou a Comissão, “centra-se na garantia de uma boa saúde qualitativa e quantitativa das massas de água europeias, como os rios e os lagos”, e tem o propósito de eliminar a poluição, “bem como garantir a disponibilidade de água suficiente para satisfazer simultaneamente as necessidades humanas e a vida selvagem”.

Os países em questão “continuam a não cumprir as obrigações que lhes incumbem por força das diretivas” e os esforços feitos pelas autoridades portuguesas até hoje “foram insuficientes”.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Poesia da Semana - "Os rios acodem", de Pablo Neruda


Os rios acodem

"Amada dos rios, combatida
por água azul e gotas transparentes,
uma árvore de veias é teu espectro
de deusa escura que morde maçãs:
então ao acordares despida
eras tatuada pelos rios,
e nas alturas molhadas a tua cabeça
enchia o mundo de novos orvalhos.
A água te estremecia na cintura.
Eras de mananciais construída
e lagos te brilhavam na fronte.

De tua floresta mãe recolhias
a água como lágrimas vitais,
e arrastavas as torrentes às areias
- através da noite planetária,
cruzando ásperas pedras dilatadas,
quebrando no caminho
todo o sal da geologia,
cortando bosques de compactos muros,
separando os músculos do quartzo."

Pablo Neruda, in "Canto Geral" (1950)

Foto: Um dos rios de Qimper (Bretanha- França)

Tese de Mestrado: "Memória e literatura no canto geral de Pablo Neruda: reinvenção do outro e de si mesmo" de Rahissa Oliveira de Lima

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Limpar, dessalinizar, reciclar: há mais água a chegar aos europeus


Com o aumento da procura e as alterações climáticas, a Europa está a investir em novas formas de reaproveitar um dos recursos mais valiosos do mundo: a água.

A vida na Terra depende da água doce, um recurso sob pressão. A explosão da procura global e as alterações climáticas estão a torná-la cada vez mais preciosa. Mesmo na Europa, onde inundações e secas são cada vez mais brutais e estão a afetar a vida de milhões de pessoas.

Também corremos o risco de os químicos presentes no nosso quotidiano estarem a passar para o que bebemos e persistirem no ciclo da água.

Mas, por outro lado, a qualidade dos cursos de água está a melhorar, em geral, e o acesso à água potável é elevado, indo ao encontro da nova diretiva europeia sobre a água potável visa garantir o acesso de todos a uma água de qualidade.




O maior reservatório de água potável da Europa

O Lago de Constança, na região alemã de Baden-Württemberg, é o maior reservatório de água potável da Europa, bebida por milhões de pessoas. Orgulho da cidade, rege-se por um princípio simples: quanto menos poluída for a água, menos terá de ser limpa.

Marie Launay, uma cientista francesa radicada na Alemanha, trabalha na região, à frente de uma unidade dedicada à luta contra os micropoluentes, nocivos para os peixes, os ecossistemas e seguramente para os seres humanos.

"Estamos a usar cada vez mais químicos em casa, nos produtos domésticos. Estamos a usar mais medicamentos e também mais pesticidas. E estas substâncias, quando são persistentes, também persistem no ambiente. Por isso, é importante poder eliminá-las para preservar a qualidade da água”, afirma.

Parte da solução está nas estações de tratamento de águas residuais que tratam a água que usamos, antes de a devolver à natureza.

Várias estações deste estado federal alemão foram equipadas com um tratamento adicional, por ozono, em que os poluentes são decompostos.

A tecnologia deverá ser desenvolvida noutros locais, numa altura em que a regulamentação europeia sobre as águas residuais está a mudar e é provável que a lista de poluentes a eliminar aumente.

"Existem planos para eliminar os micropoluentes das grandes estações e das regiões sensíveis a nível da União Europeia. Está previsto que as indústrias farmacêutica e cosmética paguem o financiamento destas instalações de proteção ambiental.

Espanha aposta na rega com água do mar

Espanha, o nível das reservas de água é preocupante, sobretudo em algumas regiões como Valência, regularmente afetada pela seca.

Para fazer face a esta situação, o país criou instalações de dessalinização, que produzem água doce a partir da água do mar e são responsáveis por cerca de 9% da água doce consumida a nível interno.

Trata-se de uma tecnologia cara e que consome muita energia, mas necessária,

José Luis Zaplana, diretor da fábrica de dessalinização Cadagua, na zona industrial valenciana. explica que, por exemplo, a sua central "permite que a água do rio Jucar seja devolvida a outras populações que não dispõem deste recurso".

"Pode pensar-se que dessalinizar a água do mar é caro, mas é melhor do que não ter água", defende.

Também Mariola Dura, responsável pelas operações da companhia de saneamento Acuamed, reconhece as vantagens da tecnologia.

"Ajuda muito o motor económico, o turismo, a agricultura, neste caso a indústria. Não temos de nos preocupar tanto se chove, ou não".

Águas residuais contribuem para bebida local

Espanha é também campeã europeia na reutilização de águas residuais. Sobretudo para a agricultura, que capta muitos recursos.

Da horta, uma grande zona agrícola perto do centro da cidade de Valência, saem regularmente produtos frescos para os habitantes, por vezes regados na totalidade com águas recicladas na estação de tratamento de águas residuais.

A prática será incentivada e regulada através de novas regras europeias, que vão entrar em vigor este verão.

Mas as vantagens destas fábricas de reciclagem de água, lembra Juan Ángel Conca, diretor da Companhia Pública de Saneamento de Águas Residuais da Comunidade Valenciana (EPSAR), não se ficam apenas pela água para rega.

"Há lugares no mundo onde a água que sai das estações de tratamento de águas residuais pode ser bebida! Tudo isto, que parece uma fábrica, é uma fábrica de recursos. É uma fonte de água limpa para a agricultura, de água limpa para o ambiente, mas também de lamas, que são utilizadas para fazer fertilizantes para a agricultura. E, finalmente, uma fonte de energia, porque produzimos biogás que usamos nas nossas instalações".

A água é usada para regar diferentes frutas e legumes e em muitos casos, chufa, tubérculo típico de Valência, usado como principal ingrediente da orchata, a bebida local.

Enrique Aguilar é agricultor e lembra-se de como, no início, as águas tratadas deixavam os produtores de pé atrás. “No início, os agricultores tinham dúvidas. Mas já usamos esta água há mais de 25 anos e o resultado é muito positivo.

E será que com água reciclada a chufa sabe ao mesmo? Enrique não hesita na resposta: “Água é água. Ela tem todas as qualidades necessárias. Regamos com água reciclada há muitos anos e nunca ninguém notou nada".

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Remoção de barreiras fluviais obsoletas bate novos recordes em 2022 – relatório


Pelo menos 325 barreiras fluviais obsoletas foram removidas na Europa em 2022, um novo recorde, segundo um relatório da organização “Dam Removal Europe”.

A remoção de 325 barreiras desnecessárias e prejudiciais à natureza representou um aumento de 36% em relação ao recorde do ano anterior, indica a organização, uma coligação de sete organizações internacionais.

As barreiras foram removidas em 16 países europeus, na maior parte dos casos represas, quase sempre antigas e obsoletas e sem a remoção representar grandes custos.

A organização atribui o grande número de remoções a novas oportunidades de financiamento disponíveis, como o “Open Rivers Programme”, os esforços coordenados de autoridades públicas para divulgar a informação e uma maior sensibilização para o problema.

Espanha é o país europeu que mais barragens removeu, seguindo-se a Suécia e a França. O Luxemburgo registou a primeira remoção de barragens. Portugal não tem expressão nesta matéria.

Os responsáveis da organização referem a proposta da Comissão Europeia para uma lei da Restauração da Natureza para afirmar que é importante continuar a destacar a remoção de barragens como uma ferramenta crucial para a restauração de ecossistemas. A Estratégia para a Biodiversidade 2030 quer libertar pelo menos 25.000 quilómetros de rios europeus.

A remoção de barreiras também contribui para o Desafio Global da Água Doce, de restaurar 300.000 quilómetros de rios degradados até 2030, um objetivo lançado na Conferência das Nações Unidas sobre a Água, realizada em Nova Iorque em março passado.

Os ecossistemas de água doce enfrentam problemas de poluição, degradação de habitats, exploração excessiva de recursos naturais e também de excesso de obstáculos, como barragens e açudes, que prejudicam a biodiversidade mas também as comunidades que dependem dos cursos de água.

Mais de 1,2 milhões de barreiras fragmentam os rios europeus, sendo muitas delas estruturas abandonadas (pelo menos 150.000 segundo a organização internacional WWF). Essas barreiras impedem as migrações de peixes de água doce, cujas populações sofreram na Europa um declínio de 93% (76% a nível mundial).

A “Dam Removal Europe” junta as organizações “World Wide Fund for Nature” (WWF), “The Rivers Trust”, “The Nature Conservancy”, “The European Rivers Network”, “Rewilding Europe”, “Wetlands International”, e “World Fish Migration Foundation”.

Na semana passada o ministro do Ambiente disse que o programa de recuperação da rede hidrográfica vai incluir um plano nacional de remoção de barreiras obsoletas nos rios portugueses, contando com a colaboração das organizações não-governamentais na identificação das prioridades.

Duarte Cordeiro falava numa sessão que decorreu na margem do rio Alviela, em Vaqueiros, no concelho e distrito de Santarém, que se seguiu à remoção de um antigo açude que impedia o curso livre do rio, no âmbito de um projeto da organização não-governamental (ONG) Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), financiado pela fundação suíça MAVA.

A responsável pelo projeto “Rios Livres”, do GEOTA, Catarina Miranda, afirmou na altura que se estima em cerca de 30.000 as barreiras à conectividade fluvial em Portugal, muitas delas obsoletas, apelando para que, a exemplo do que acontece em outros países da Europa e do mundo, Portugal inicie um programa de remoção de pequenos açudes a grandes barragens “que já não têm nenhum papel atual, nem económico, nem social, nem cultural”.

Em março, a associação ambientalista ANP/WWF lançou uma petição pública para pedir ao Governo prioridade na remoção de barreiras desnecessárias em rios e atenção ao restauro fluvial.

Na altura a associação procedeu à primeira remoção de uma barreira fluvial obsoleta, o açude de Galaxes, no concelho de Alcoutim.

O relatório da “Dam Removal Europe” do ano passado indicava que em 2021 foram removidas 239 barragens em 17 países europeus.

quarta-feira, 22 de março de 2023

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

O fósforo salvou nosso modo de vida - e agora ameaça acabar com ele


A agricultura convencional depende do fósforo mineral, cuja metade das reservas estão no Saara Ocidental sob controlo de Marrocos e que sabemos hoje estar em decréscimo de produção.  
China, EUA, Russia, Austrália e alguns países sul-americanos têm pequenas fracções das restantes reservas, que vão reter para si.
A Europa não tem quaisquer reservas mas envia diáriamente milhares de toneladas de fósforo recuperável pelo esgoto abaixo. 
A dura realidade é que a Europa está tão vulnerável por falta de inputs agrícolas como por falta de combustíveis fósseis e só consegue mitigar isso adoptando práticas agrícolas que promovam circularidade do que chamamos resíduos orgânicos.
Enquanto produtores em Modo de Produção Biológico todos os dias contribuímos para a melhoria dos solos, para a eliminação de resíduos nos aterros e para a eliminação de importações de fósforo e produtos agrícolas.
Reportagem New Yorker
Scientists warn of ‘phosphogeddon’ as critical fertiliser shortages loom

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Ambientalistas contra passadiço que poderá causar “debandada” de aves


O Paul do Taipal, uma Zona de Protecção Especial para a Avifauna (isto é, as aves que ocorrem na região), está em vias de ter um passadiço, mas as obras de construção pararam esta semana. O motivo: o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) não permite que decorram durante o período de nidificação dessa mesma avifauna (entre o início de Fevereiro e o final de Junho).

Alguns ambientalistas estão a aproveitar o momento para voltarem a contestar o projecto, uma iniciativa da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho (CMMV) que, argumentam, poderá provocar uma “debandada brutal” das espécies de aves aquáticas que o paul alberga.

​“O passadiço vai passar, num dos seus sectores, muito perto da água. O Paul do Taipal, que é [reconhecido como sendo] uma zona húmida de importância internacional [Sítio Ramsar 2001], acolhe aves aquáticas que, quando virem a aproximação humana, vão fugir”, diz ao PÚBLICO David Rodrigues, professor e investigador da Escola Superior Agrária de Coimbra e um dos principais opositores.

Esta luta não é de hoje. Associações ambientalistas como a Milvoz, organização não-governamental (ONG) dedicada à preservação do património natural de Coimbra (distrito a que o Paul do Taipal pertence), andam a alertar para os possíveis perigos do passadiço há bastante tempo.

“O problema é que [ele] passa mesmo junto à margem dos lagos que constituem o refúgio mais importante, particularmente para a comunidade de anatídeos [família de animais que inclui cisnes, gansos e patos]”, disse ao PÚBLICO Manuel Malva, presidente da Milvoz, no final de 2021. “Isto é querer colocar as pessoas a verem os animais quase como se estivessem num zoológico, mas as aves não vão tolerar isso”, acrescentou então.

Agora, novamente ouvido pelo PÚBLICO, o biólogo retoma a conversa. “O Paul do Taipal, sendo uma zona pouco fragmentada ou perturbada, acolhe espécies que são de relevância nacional e internacional, por terem um estatuto de conservação pouco favorável. É justamente devido à ausência de perturbação humana que estas espécies estão lá”, frisa, dizendo que estes animais têm “distâncias de fuga bastante largas”.

A distância de fuga de uma ave é a distância a partir da qual ela levanta voo perante a aproximação de uma pessoa, por sentir que é uma ameaça. Muitas das aves que o Paul do Taipal acolhe são espécies com “elevada sensibilidade à figura humana”, diz Manuel Malva, afirmando que, no sector mais “crítico” do passadiço, as distâncias de fuga “não são minimamente respeitadas”.

“Inevitavelmente, algumas daquelas espécies mais vulneráveis abandonarão a área. Será uma debandada brutal”, afirma. Tanto Manuel Malva como David Rodrigues alegam que, com as obras, há um declínio populacional já em curso.

Faltou fazer análise de incidências ambientais, acusa Milvoz

Em Julho de 2022, a Milvoz e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) tentaram acabar imediatamente com a construção do passadiço, através da interposição de uma providência cautelar. “Inicialmente, o tribunal concedeu mérito a essa acção”, o que levou a uma interrupção momentânea dos trabalhos, mas depois “a sentença não deu provimento à providência cautelar”. Porquê? As ONG não terão conseguido demonstrar que a continuação das obras levaria a “consequências graves” para a fauna do paul, explica a Milvoz num comunicado de imprensa enviado ao PÚBLICO.

“Na prática, o tribunal considerou que a SPEA e a Milvoz teriam de provar cabalmente as consequências irreversíveis, algo que só pode ser feito” com uma “análise de incidências ambientais”, pode ler-se no mesmo comunicado.

Manuel Malva afirma que cabia ou à CMMV, enquanto responsável pelo projecto, ou ao ICNF, enquanto instituto responsável pela conservação da natureza a nível nacional, fazer uma análise de incidências ambientais. Era não só sua responsabilidade, como sua “obrigação”, “sendo o paul uma área classificada”, refere.

Ouvido pelo PÚBLICO, o ICNF diz que, na sua actual redacção, a lei estabelece a necessidade de fazer esta análise quando se trata de “acções ou projectos susceptíveis de afectar significativamente um Sítio da Rede Natura 2000” — coisa que o Paul do Taipal é, por ser uma Zona de Protecção Especial para a Avifauna.

O ICNF “emitiu parecer favorável condicionado” ao projecto por considerar que este “não é susceptível de afectar o Paul do Taipal de forma significativa”, graças às “medidas de minimização dos efeitos negativos” que o projecto prevê e às “condicionantes” estabelecidas pelo ICNF no seu parecer.

O instituto refere ser “importante sublinhar” que: as obras são executadas fora do período de nidificação da avifauna; “serão instalados painéis informativos ‘avisadores’”, que darão conta das regras de acesso e normas de conduta dos visitantes; a entrada dos mesmos será monitorizada, através da instalação de um “sistema para contagem de acessos em tempo real”; e, ainda, “a concepção do traçado do percurso permite, sempre que necessário, o seu seccionamento e a interdição do acesso a zonas mais sensíveis e/ou em determinadas épocas do ano”.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Zonas húmidas: O que são e por que razão é tão importante protegê-las


As zonas húmidas, como o próprio nome indica, são áreas alagadas, permanentes ou sazonais, em que a água é o elemento central no funcionamento dos ecossistemas. Lagos, rios, pauis, charcos, pântanos, estuários e turfeiras são apenas algumas das tipologias de zonas húmidas.

Esta quinta-feira, dia 2 de fevereiro, assinala-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, uma efeméride das Nações Unidas desde o ano passado e que pretende alertar para a urgência e importância de proteger, restaurar e conservar estas áreas de grande relevância para a biodiversidade, para a regulação do clima, para o ciclo da água e para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

Apesar de cobrirem apenas cerca de 6% da superfície do planeta, as zonas húmidas albergam 40% de todas as espécies de plantas e animais, que aí se fixam para viver e para se reproduzirem. Além disso, de acordo com o Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais (NRDC), uma organização ambientalista nos Estados Unidos, as zonas húmidas armazenam nos seus solos uma quantidade de carbono equivalente às emissões geradas todos os anos por cerca de 189 milhões de carros.

Há mesmo quem lhes chame ‘Rins da Terra’. Só as turfeiras, por exemplo, absorvem duas vezes mais dióxido de carbono do que todas as florestas do mundo juntas. Contudo, as turfeiras, bem como “outras zonas húmidas com pouca representatividade à escala nacional, mas que albergam flora e fauna ameaçadas, estão fortemente pressionadas pela drenagem, pelo sobrepastoreio, pela extração excessiva de recursos hídricos”, contou à ‘Green Savers’ Nuno Forner da associação ambientalista Zero.

“Se tivermos em atenção todos estes serviços, podemos ter a noção de como a conservação das zonas húmidas e da biodiversidade associada é fundamental para as sociedades humanas serem resilientes às alterações climáticas”, explicou-nos também Ana Antão-Geraldes, Professora Auxiliar da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança.

Por sua vez, Nuno Gomes Oliveira, Presidente da Direção da FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, apontou que “há muito” que se sabe que as zonas húmidas desempenham um papel de relevo, por exemplo, na mitigação das cheias e na modelação do clima, além de serem ‘hotspots’ de biodiversidade.

“Sendo as zonas húmidas dos ecossistemas com maior biodiversidade e com maior concentração, por exemplo, de aves migratórias, a sua conservação é fundamental”, avisou o dirigente associativo, além de que “enquanto paisagens privilegiadas, dão dinheiro a ganhar às economias locais e nacional”.

Por isso, a sua degradação ou destruição terá consequências devastadoras para todo o planeta, incluindo para nós, humanos, e corremos o risco de transformar ‘cemitérios de carbono’ em fontes de grandes emissões.

Lamentavelmente, estima-se que entre 1700 e 2000 aproximadamente 80% de todas as zonas húmidas a nível global tenham desaparecido, e que cerca de 35% se tenham perdido só nos últimos 30 anos.

Entre as principais ameaças, disse-nos Ana Antão-Geraldes, está um “conjunto grande de causas interrelacionadas”, como a poluição, “o desordenamento territorial, a ineficiência hídrica (urbana, agrícola e industrial), o consumismo, as alterações climáticas”. E salientou que, acima de tudo, falta “conhecimento sobre a importância destes ecossistemas para a sobrevivência da humanidade” e que estão a desaparecer três vezes mais rápido do que as florestas, colocando em risco milhares de espécies de plantas e animais, incluindo nós.

Para inverter essa tendência de acentuado declínio das zonas húmidas, Ana Antão-Geraldes afirmou que é preciso “cumprir a legislação e as convenções que protegem estes ecossistemas”, mas acredita que o mais importante será mesmo “mudar mentalidades e consciencializar a população para a importância destes ecossistemas”.

“Sim, educar e informar é sem sombra de dúvida o mais importante”, defendeu.

A organização Geota reconhece que “é necessário manter o desenvolvimento económico e social”, mas tal pode ser feito de forma a “reduzir os impactos negativos da atividade humana nas zonas húmidas, recuperando a biodiversidade e as funções dos ecossistemas e melhorando o bem-estar humano e a resiliência face aos fenómenos de alterações climáticas”.

É por essa razão que considera que “urge uma mudança de paradigma face às alterações climáticas, à perda de biodiversidade (enfrentamos a sexta extinção em massa, e a primeira causada pelo Homem – o Homem é o cometa) e ao aumento da frequência dos desastres naturais”.

A Convenção de Ramsar sobre as Zonas Húmidas

Foi a consciência dessa importância incontornável para a saúde e sustentabilidade da Terra, e de todas as formas de vida que nela habitam, que levou os líderes mundiais no dia 2 de fevereiro de 1971, reunidos em Ramsar, no Irão, a adotarem a ‘Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas’, que tem como principal objetivo conservar as zonas húmidas e promover o seu uso adequado.

No artigo 2.º da Convenção, os Estados signatários são obrigados a indicar pelo menos uma zona húmida no seu território para que seja incluída no que ficou conhecido como a ‘Lista de Ramsar’.

Essa lista passou a ser uma espécie de repositório de zonas húmidas escolhidas, pelos Estados, pela “sua importância internacional em termos ecológicos, botânicos, zoológicos, limnológicos ou hidrológicos”, sendo que a prioridade foi dada às “zonas húmidas de importância internacional para as aves aquáticas em qualquer estação do ano”.

Atualmente, mais de 2.500 zonas húmidas em todo o mundo fazem parte da ‘Lista de Ramsar’, com uma área total conjunta superior a 2,5 milhões de quilómetros quadrados, quase 27 vezes a área de Portugal continental. E os países continuam a indicar novas áreas, uma vez que a lista é aberta e dinâmica.

Ana Antão-Geraldes considera que a Convenção de Ramsar “é extremamente importante”, tendo começado por ser “um tratado para a conservação dos habitats das aves aquáticas e, com o tempo, passou a ser muito mais abrangente”. Sem essa convenção, o estado de conservação das zonas húmidas seria “bem pior”, disse-nos a docente universitária.

Zonas húmidas em Portugal
Portugal assinou a Convenção de Ramsar em setembro de 1980, pelo Decreto n.º 101/80, entrando em vigor a 24 de março do ano seguinte, e tem atualmente listadas 31 zonas húmidas, 79% de todas essas áreas que existem a nível nacional, num total combinado de 132.487 hectares: uma na região Norte, 6 na região Centro, 7 na região de Lisboa e Vale do Tejo, 4 na região Sul e 13 no arquipélago dos Açores. O Estuário do Tejo e a Ria Formosa foram as primeiras zonas húmidas portuguesas a entrar na Lista de Ramsar.

No entanto, Ana Antão-Geraldes, do Instituto Politécnico de Bragança, disse-nos que, à semelhança do que vemos no resto do mundo, as zonas húmidas em Portugal “são dos ecossistemas mais ameaçados e degradados”.

Mais de 40 anos depois de a Convenção de Ramsar ter entrado em vigor em Portugal, a avaliação feita pelos especialistas não é positiva.

“Quando se chega ao ponto de pensar em construir aeroportos e outras infraestruturas em zonas húmidas, quando se chega ao ponto de canalizar rios e construir barragens desnecessárias, e quando a comunicação social não consegue ligar inundações catastróficas à degradação e destruição de zonas húmidas, vemos que ainda há muito para fazer em termos de educação e ordenamento territorial para que estes ecossistemas possam ser alvo de medidas de conservação efetivas”, salientou Ana Antão-Geraldes.

Nuno Gomes Oliveira, do FAPAS, acredita mesmo que o estado de conservação das zonas húmidas em Portugal é “uma miséria”, apontando que “as pequenas zonas húmidas não têm qualquer tipo de proteção, e mesmo as grandes, com excecional valor paisagístico, turístico e para a biodiversidade, como a Ria de Aveiro, a Pateira de Fermentelos ou a Barrinha de Esmoriz, estão ao abandono, sujeitas à pressão imobiliária e outras atrocidades ambientais”.

No país, “as principais ameaças às zonas húmidas ocorreram no passado, quando se drenaram imensas e inúmeras zonas húmidas” e sublinha que “hoje essa drenagem continua, como é o caso das Alagoas Brancas, no município ironicamente designado ‘Lagoa’ e cujo nome irá mudar para ‘ex-Lagoa’”. Esta é uma referência a um projeto de desenvolvimento imobiliário no concelho de Lagoa que, de acordo com as organizações de defesa do ambiente, coloca em risco a zona húmida de Alagoas Brancas, uma das últimas de água doce da região algarvia, bem como diversas espécies de animais e de plantas que ocorrem nessa área.

“Outra das ameaças é a construção de passadiços que, supostamente valorizariam as zonas húmidas, mas só as degradam, como a aconteceu, por exemplo, na Barrinha de Esmoriz e no Paul do Taipal”, contou-nos o ambientalista, acrescentando que, apesar de Portugal ter 31 zonas húmidas na Lista de Ramsar “não se notam os resultados”, uma vez que no Estuário do Tejo, um desses locais, “até queriam fazer um aeroporto” e que “todo os pauis e o Sapal de Castro Marim estão muito perto do abandono e à pequena Reserva Natural do Paul do Boquilobo acertaram-lhe com o TVG em cima, com tanto espaço que havia ao lado”.

Para ele, “falha totalmente a gestão dos habitats e a fiscalização (e punição) dos usos impróprios e proibidos, falta promover a conservação da natureza, e não apenas desenhar áreas protegidas nas cartas geográficas”. A agravar tudo isso, relata-nos que “falta cultura aos decisores e vontade política para darem mais importância ao futuro do que aos favores do presente” e que os tribunais deveriam ser “mais atuantes, apesar, neste particular, das boas notícias dos últimos tempos”.

Nuno Forner, da Zero, disse que também “a extração desproporcionada de caudais”, em especial no Sul de Portugal, “a construção de barragens e outros aproveitamentos hidráulicos que promovem uma drástica alteração dos regimes naturais, a rutura na continuidade dos habitats fluviais, bem como a alteração dos fluxos de sedimentos, a poluição e proliferação de espécies exóticas invasoras são alguns dos exemplos de ameaças que que hoje afetam as zonas húmidas e, consequentemente, o fornecimento de serviços de ecossistemas”.

Embora “as massas de água artificializadas”, tais como as barragens, sejam consideradas zonas húmidas e representem 27% das zonas húmidas portuguesas na Lista de Ramsar, “o seu valor ecológico é diminuto e não compensa a perda de zonas húmidas naturais”, acrescentou. Apesar de essas zonas estarem legalmente protegidas, “os dados comunicados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas à Comissão Europeia (no âmbito do Relatório dos Estados Membros sobre o estado de conservação de espécies e de habitats referente ao período 2013-2018) são preocupantes”.

Isto, porque se estima que “77% dos habitats relacionados com as zonas húmidas de Portugal e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira se encontram degradados”, e que as turfeiras e habitats de água doce “estão em mau estado de conservação, o que demonstra que o Estado português tem falhado por inação na conservação de zonas húmidas, não bastando conferir uma figura legal de proteção a um determinado local”, pois isso “nem sempre significa uma garantia de conservação ou do seu uso sustentável”.

Por isso, devemos olhar para o futuro “com muita apreensão”, disse Nuno Forner, pois “as ameaças e pressão humana sobre estas áreas continuam a fazer-se sentir de forma muito acutilante”. O ambientalista disse-nos que “as zonas húmidas devem ser parte integrante do planeamento e gestão criteriosos dos recursos hídricos por parte das autoridades públicas” e devem ser contempladas no planeamento do território e das atividades económicas.

Dessa forma, “é urgente” que o Governo crie “planos que efetivamente salvaguardem estes espaços com programa de uso e restauro de zonas húmidas”, atribua “financiamento adequado” a projetos que pretendam “manter e restaurar zonas húmidas contribuindo para a melhoria do seu estado de conservação” e que defina “uma verba anual em cada orçamento do Fundo Ambiental para iniciar um programa de aquisição de áreas naturais importantes para a conservação, incluindo zonas húmidas”.

A Geota recordou-nos que “o Mediterrâneo perdeu aproximadamente 50% da área de zonas húmidas ao longo do século XX”, uma tendência que tem vindo a agravar-se. Em Portugal, “muitas espécies de água doce estão criticamente ameaçadas”, principalmente devido “à perda e fragmentação de habitat por ações humanas”.

Essa organização destacou “a grande pressão para a expansão da monocultura intensiva de regadio”, como uma das grandes ameaças às zonas húmidas, “incluindo por exemplo a recente decisão de construção da Barragem do Pisão”. E frequentemente, “a construção de reservatórios de água não compensa a degradação dos habitats, o declínio da biodiversidade, e a perda de serviços de ecossistemas assegurados por estas zonas húmidas”, disse-nos a Geota, lamentando que “não se pensa seriamente em alternativas”.

Quanto às zonas húmidas integradas por Portugal na Lista de Ramsar, a organização ambientalista acredita que “pouco adianta submeter no papel para proteção quando na prática, no terreno, as pressões e os interesses económicos se sobrepõem à proteção destas áreas naturais”.

A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), a este respeito, defende que para combater as ameaças às zonas húmidas em Portugal, que “têm em comum o facto de as estarmos a tentar travar há décadas, ainda sem os resultados desejados”, é preciso “melhorar a gestão territorial e gerir de forma sustentável as águas ao nível das bacias hidrográficas”. E essa é uma luta que tem de ser travada “em várias frentes”: na educação e sensibilização, na conservação e monitorização, na gestão e na fiscalização, e, quando necessário e possível, na punição dos “responsáveis pela degradação e destruição, obrigando-os ao seu restauro ecológico”.

A organização avisa que “atingimos um ponto em que o que nos resta não é suficiente” e que, de facto, é “tempo de promover a renaturalização e a recuperação ambiental das zonas húmidas e áreas circundantes, envolvendo as comunidades locais nessas ações”.

Embora os país seja parte da Convenção de Ramsar, as zonas húmidas por cá são “um assunto preocupante”, pois “muitas áreas ainda enfrentam desafios significativos”.

A LPN avança que “as zonas húmidas em Portugal estão a perder área devido ao desenvolvimento imobiliário, à construção de barragens e a outras atividades humanas” e as suas águas “continuam a ser poluídas e estão a sofrer com a pressão turística, como é o caso do que estamos a observar no Paúl do Taipal, com a implementação de projetos mal concebidos que exercem um impacto significativo e injustificável sobre as espécies nativas que nelas encontram refúgio”.

“Embora Portugal tenha ratificado a Convenção de Ramsar há mais de 40 anos, ainda existem algumas falhas na sua implementação, que dificultam a efetiva proteção e conservação das zonas húmidas em Portugal. É preciso investir mais esforço”, referiu a LPN.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

1,9 biliões de pessoas estão em risco de escassez de água


O abastecimento de água doce do mundo está em grave perigo, de acordo com um estudo recente de 32 cientistas publicado na Nature. Eles analisaram o Water Tower Index, que classifica as torres de água totalmente naturais das cadeias montanhosas mais altas do mundo.

Com cada torre, a equipa avaliou as áreas de dependência a jusante dos ecossistemas e da sociedade. Eles analisaram o stress hídrico, as mudanças socioeconómicas, os climas futuros e as tensões hidropolíticas. Estas torres abastecem um número substancial de pessoas de todo o mundo.

Nas suas descobertas, eles concluíram que um quarto da população mundial está em risco. Aproximadamente, 1,6 biliões de pessoas nas serras e outros 0,3 biliões de pessoas podem ser afetadas a jusante, colocando o total de pessoas em risco em 1,9 bilião. Os glaciares e os níveis de neve estão a diminuir em altitudes mais altas em todo o mundo, como resultado direto do aumento das temperaturas globais.

Eles consideraram o Indo como a torre de água mais importante e vulnerável. Esta área de cordilheiras inclui as montanhas Karakoram, Hindu Kush, Ladakh e Himalaias. Estes fluem rio abaixo para as áreas densamente povoadas do Paquistão, Índia, China e Afeganistão. As pessoas aqui dependem muito desse abastecimento de água para a irrigação das plantações.

O Indo é a “torre de água” mais importante e vulnerável, de acordo com o primeiro inventário de fontes de água de alta altitude

Com o esperado aumento da população junto com o aumento das temperaturas globais, os cientistas concluíram que o planeta não consegue sustentar esse ritmo. Eles consideram que uma ação imediata é necessária para tentar impedir que a temperatura suba para os 1,9°C projetados.

Bethan Davies, da Royal Holloway University, um dos autores do estudo, comenta: “Isso não está acontecendo apenas nos Himalaias, mas também na Europa e nos Estados Unidos, lugares que geralmente não dependem das montanhas para as pessoas ou para a economia.”

O aumento das temperaturas globais está a afetar essas elevações mais rapidamente, fazendo com que os glaciares e a neve derretam e desapareçam.

“As alterações climáticas ameaçam todo o ecossistema montanhoso”, conclui o relatório. “É necessária uma ação imediata para salvaguardar o futuro das torres de água mais importantes e vulneráveis do mundo.”

Os cientistas disseram que a melhor maneira de ajudar nessa situação é reduzirmos as emissões de carbono. Se conseguirmos manter o aquecimento global dentro de 1,5°C, seremos capazes de reter 75% da neve das montanhas. Se falharmos em fazer isso e continuarmos a destruir o planeta, eles preveem que 80% serão perdidos até 2100.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Cidades-esponja. O que são e como podem ser resposta às cheias e secas em meio urbano

Parque Urbano da Várzea, Setúbal

Enquanto ainda se fazem contas ao prejuízo causado pelas duas vagas de cheias que afetaram várias zonas do país, com a Área Metropolitana de Lisboa à cabeça, há uma certeza de que ninguém duvida: o cenário de catástrofe provocado por fenómenos climáticos extremos vai repetir-se. E, apontam os especialistas, com uma intensidade e frequência cada vez maiores. Importa, por isso, alterar o comportamento reativo para uma atitude progressivamente mais preventiva. "Estamos num processo de perdas pós-enchentes, somos reativos. Há uma crise e reagimos, não fazemos planeamento", lamenta José Carlos Ferreira, doutorado em Ambiente e Sustentabilidade.

Ultrapassadas as dificuldades do momento, o professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-Nova) afirma que facilmente "nos esquecemos que estes fenómenos existem e que se estão a intensificar".

Responsável pela coordenação dos temas relacionados com a água na Associação Natureza Portugal (ANP/WWF), Ruben Rocha concorda com a ideia de que, ao nível da sociedade e dos decisores políticos, falta "capacidade de resposta a longo prazo", o que alimenta a continuação de um ciclo de eventos climáticos extremos, como os incêndios, a seca ou as chuvas intensas. "Falaremos novamente de seca quando começarmos a chegar a níveis muito baixos de água nas barragens", critica, enquanto pede uma mudança de paradigma no que à prevenção diz respeito.

Situações de inundações como as vividas nas últimas duas semanas "não são completamente novas", diz Pedro Nunes, que defende que "não podemos justificar tudo com base nas alterações climáticas". O ambientalista da Associação ZERO fala na necessidade de adotar uma visão holística dos desafios climáticos, que obrigam à implementação de políticas públicas desde o ordenamento do território à adaptação das infraestruturas urbanas para que se tornem mais resilientes.

Um dos fatores a considerar passa por incentivar uma ocupação mais equilibrada do país, revertendo os números anunciados pelo Censos 2021. De acordo com os dados definitivos divulgados em novembro, 20% da população portuguesa concentra-se em apenas 1,1% do território, sobretudo na zona litoral. "Isso acaba por ser um fator que contribui para que estas situações sejam mais graves, porque são, normalmente, zonas urbanas mais impermeabilizadas", justifica Pedro Nunes.

Os efeitos das alterações climáticas, que vêm agravar a intensidade e frequência de eventos extremos, não são facilmente reversíveis. Esses impactos podem ser mitigados através da descarbonização, mas os resultados só serão visíveis a longo prazo. "Mesmo que transformássemos a nossa vida de um dia para o outro, os efeitos continuariam cá. Mais do que mitigar, é preciso adaptar. Porque ou nos adaptamos ou sofremos", reforça João Carlos Ferreira.

O coordenador do mestrado em Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território da FCT-Nova acredita que a resposta está na alteração do modelo de desenvolvimento das cidades e na concretização de soluções que "transformem o território, ocupando-o de forma ecológica". Este caminho passa, sobretudo, pela alteração dos planos diretores municipais (PDM), para que evitem a construção em zonas de perigo, como em leito de cheias, mas também que integrem estratégias relacionadas com o conceito de cidade-esponja.

O termo foi cunhado pelo arquiteto paisagista e urbanista chinês Kongjian Yu e refere-se, essencialmente, a cidades ambientalmente adaptáveis que apostam em planos de gestão integrada da água. As soluções adotadas variam consoante a realidade hidrográfica das zonas urbanas e a sua configuração, mas podem incluir pavimentos permeáveis, jardins biodiversos e edifícios com coberturas verdes. É uma forma de "incorporar, de forma plena e holística, o ciclo da água no ordenamento dos espaços urbanos", explica Rafael Marques Santos.

O professor e investigador da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa detalha que o urbanismo sustentável permite "intervenções cirúrgicas" em áreas com "grandes erros estruturais", sempre com o objetivo de reduzir os impactos, por exemplo, em cheias. Umas são mais fáceis, outras mais complexas e dispendiosas, como demolições pontuais em zonas particularmente perigosas.

"Não vamos conseguir retirar toda a urbanização de Alcântara ou de Algés", aponta. Mas a criação de elementos de contenção é uma opção, desde logo com bacias de retenção nos pontos mais altos das cidades que "atrasem" a chegada da água, a grande velocidade, às partes baixas. O essencial, esclarece, é "olhar de forma muito atenta para a água numa perspetiva de todo o ciclo" e implementar medidas que cumpram dois objetivos de uma só vez - prevenir os riscos de momentos em que existe água em excesso, assim como atenuar situações de seca.

"Os edifícios podem ter espaços de cisterna para acumulação de água que podem ser úteis", afiança. Se em tempo de chuva intensa os edifícios conseguem guardar alguma dessa água e evitar que seja escoada para a rua, noutros momentos esse recurso pode ser usado para regas, lavagens e outros fins.

O mesmo poderá ser feito em estruturas municipais e há bons exemplos de como isso pode ser feito. Em Roterdão, nos Países Baixos, a Waterplein Benthemplein Waterplein Benthemplein é uma praça de betão usada durante todo o ano para atividades de lazer dos habitantes, mas é pensada para que em época de chuva intensa possa inundar e evitar a sobrecarga dos sistemas de escoamento da cidade.

Outra ferramenta complementar é a criação de jardins alagáveis, biodiversos e compostos por plantas com capacidade de absorção da água. Estes locais podem inundar e continuar a servir como espaço de recreio, bem como ajudar a refrescar as cidades durante o verão - exemplo disso são cidades como Taizhou, na China, ou Nova Iorque, nos EUA.

Em Setúbal, refere João Carlos Ferreira, o Parque Urbano da Várzea foi "muito eficaz nestas cheias", apesar de aquela cidade piscatória ter tido 30% mais chuva do que Lisboa. "Foi todo redesenhado para ser uma grande bacia de retenção e não inundar a Baixa de Setúbal. Esteve no limite, mas está a funcionar e a cumprir o seu propósito", atesta.

Ambientalistas, arquitetos e urbanistas concordam ser preciso agir, revendo os planos de ordenamento, criando estruturas verdes e multiusos nas cidades, mas, acima de tudo, implementando estratégias de longo prazo diversas e adaptadas à realidade de cada local. "Estes momentos de crise também servem para as adaptações necessárias", remata Rafael Marques Santos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Cartoon Gargalo- Poluição plástica nos oceanos


Waste is a human concept - Nature doesn't do waste

Os nossos oceanos estão lentamente a se transformar numa sopa de plástico e os efeitos na vida oceânica são assustadores. O plástico (sacos, canudos, garrafas, balões), vidro ou metais, vistos e recolhidos em várias das nossas viagens, são uma grande ameaça para a biodiversidade e para os nossos oceanos. O lixo plástico é um dos maiores problemas dos nossos oceanos. Ele pode enredar animais marinhos, ou eles podem confundi-lo com comida, desde o minúsculo zooplâncton até as baleias.

O plástico está a entrar em todos os níveis da cadeia alimentar oceânica e até mesmo nos frutos do mar em nossos pratos.

Até 2015, apenas cerca de 9% do plástico foi reciclado, 12% foi incinerado (poluindo o ar com gases tóxicos) e os 79% restantes permanecem em aterros ou no meio ambiente. Se as tendências atuais de produção e gerenciamento de resíduos continuarem, até 2050, a quantidade de plástico no mar superará a quantidade de peixes e haverá 12 biliões de toneladas de plástico em ambientes naturais. Esse é o peso de 100 milhões de baleias azuis, admitindo que as baleias azuis pesem entre 80 e 150 toneladas.

Estima-se que “mais de 8 milhões de toneladas de plástico são despejadas em nossos oceanos todos os anos” e mais de 13.000 objetos de plástico estão em cada quilômetro quadrado de oceano. 640.000 toneladas de redes de pesca são descartadas ou perdidas no mar todos os anos, com impactos devastadores na vida marinha, pois podem durar 600 anos no oceano. Estima-se que essas “redes fantasmas” capturem e matem 136.000 focas, leões-marinhos, tartarugas e grandes baleias todos os anos.

Hoje em dia, estas estimativas são alarmantes e é fundamental cuidarmos dos nossos oceanos, que albergam uma enorme diversidade de espécies, mas também do nosso planeta Terra.

Mas o que é o plástico?
O plástico é o tipo mais comum de detritos marinhos encontrados em nosso oceano e nos Grandes Lagos. Os plásticos não são biodegradáveis. Além disso, os plásticos contêm aditivos químicos e adsorvem eficientemente vários contaminantes ambientais, representando assim uma fonte potencial de exposição a tais compostos após a ingestão. Os detritos de plástico decompõem-se em pedaços menores chamados microplásticos. São pequenos pedaços de plástico, com menos de cinco milímetros de comprimento, que podem ser prejudiciais ao nosso oceano e à vida aquática. Eles podem ser ingeridos pela vida marinha, e acredita-se que uma quantidade significativa afunde no fundo do mar. Mas muito disso apenas flutua.

Os microplásticos vêm de uma variedade de fontes, incluindo detritos plásticos maiores que se degradam em pedaços cada vez menores. Além disso, as microesferas, um tipo de microplástico, são pedaços muito pequenos de plástico polietileno fabricado que são adicionados como esfoliantes a produtos de saúde e beleza, como alguns produtos de limpeza e cremes dentais. Essas minúsculas partículas passam facilmente pelos sistemas de filtragem de água e acabam nos oceanos e nos Grandes Lagos, representando uma ameaça potencial à vida aquática.

A pesquisa mais recente mostra que muitos microplásticos são encontrados até mesmo no ar que respiramos. Devido ao seu tamanho minúsculo, os microplásticos podem ser inalados e induzir uma grande variedade de doenças, incluindo respiratórias, cardiovasculares e até cancro. Os efeitos dos microplásticos que entram no sistema respiratório ainda não foram totalmente analisados, mas a pesquisa provou que a ameaça à saúde humana é de alto risco.

Em dezembro de 2017, as Nações Unidas assinaram uma resolução para interromper o fluxo de lixo plástico para os oceanos. Seu próximo desafio, talvez ainda maior, é persuadir os Estados-Membros a assinar uma nova resolução para impedir o fluxo de resíduos plásticos para o ar.

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domingo, 13 de novembro de 2022

Música do BioTerra: Neil Young with Crazy Horse - Love Earth

Neil Young! Fez ontem anos (nasceu a 12 de novembro de 1945). Lançou este tema muito bonito há cerca de um mês. Além do seu activismo bem conhecido entre nós, foi considerado o 17º melhor guitarrista do mundo, pela revista Rolling Stone.


Love Earth
And your love comes back to you
Love Earth
Such an easy thing to do
Love Earth
Till the water and the air is pure
From the birds in the sky
To the fishes deep in the sea

Love Earth

The place where all the children can live
(Love Earth)
Really nothing better to give
(Love Earth)
And your love comes back to you
So I’m calling out
So I’m calling out to you

Love Earth

The sky was blue and the air so clean
The water crystal clear
We lived by the sun and have it all
We were living in a dream

Love Earth

We can bring the seasons back
(Love Earth)
Can you imagine that
(Love Earth)
Your love comes back to you

So I’m calling out
So I’m calling out to you
Love Earth
The sky was blue and the ear so clean
The water crystal clear
We lived by the sun and have it all
We were living in a dream
Love Earth

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Diversas espécies de aves em Portugal estão em declínio


Relatório mostra que várias aves estão numa situação preocupante, mas é possível reverter esta tendência se houver vontade política, diz o director da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

O declínio de várias espécies de aves é destacado no relatório divulgado esta quinta-feira sobre O Estado das Aves em Portugal 2022, no qual se apela a que se faça mais pela sua conservação e habitats.

O relatório da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) reúne os resultados recentes de 11 programas de monitorização, “das populações nidificantes, migradoras e invernantes de aves”, e de dez censos dirigidos, além de dar a conhecer “duas plataformas para registo de observações de aves, que são também ferramentas de monitorização”.

No caso das aves associadas a ambientes agro-florestais, estão a diminuir em Portugal as populações de picanço-barreteiro e da rola-brava. Entre as espécies típicas de ambientes agrícolas, a andorinha-das-chaminés, a milheirinha, o pintassilgo e o pardal apresentam uma tendência decrescente.

O picanço-barreteiro está em declínio

Em relação às aves nocturnas, estão em declínio algumas espécies comuns e também associadas aos habitats agrícolas, como a coruja-das-torres e o mocho-galego, “espécies que vivem próximo das pessoas nos meios rurais e que têm um papel ecológico fundamental no controlo de ratos e insectos”, adianta o relatório.

“No período invernal, é substancial o declínio de espécies habituais nas pastagens e campos de agricultura extensiva, como é o caso do sisão, do abibe e da gralha-de-nuca-cinzenta, mas também de espécies mais comuns ou de distribuição mais generalizada, como a perdiz ou o peneireiro”, indica o relatório. Dentro do grupo das aves associadas aos ambientes agrícolas, 30% das espécies estão em declínio, um terço apresenta uma tendência estável e 17% revelam uma tendência positiva.

Das florestas aos estuários

Em declínio estão igualmente algumas das espécies que fazem ninho nos ambientes florestais, como o chapim-real e o cuco, enquanto no caso das populações de aves que se estabelecem em Portugal durante o Inverno verifica-se uma tendência negativa na população da toutinegra-de-barrete e do tordo-comum. Em sentido inverso, o relatório refere que a tendência é positiva para o pombo-torcaz, no primeiro caso, e para as populações de cegonha e de pega, no segundo.

“Nas zonas húmidas, algumas espécies nidificantes têm tido crescimentos populacionais substanciais, como a íbis-preta e o corvo-marinho, mas espécies como o carraceiro (ou garça-boieira) tiveram um declínio acentuado”, adianta. A garça-boieira é a espécie mais abundante nas colónias de aves aquáticas, mas o seu número diminuiu cerca de 75% em sete anos (2014-2021), segundo o programa de monitorização das aves aquáticas. As “populações invernantes nacionais de pato-colhereiro e borrelho-grande-de-coleira” têm uma tendência demográfica positiva.

A coruja-das-torres é uma ave predadora que ajuda a controlar mamíferos roedores.  

De acordo com o relatório, “no estuário do Tejo, as contagens de aves aquáticas apontam para o declínio do alfaiate e da marrequinha, enquanto os números de flamingos e íbis-preta têm tido uma tendência de crescimento”.

Na orla costeira do Continente e das ilhas registou-se “um enorme aumento da população nidificante de gaivotas”, mas no caso do borrelho “há um preocupante decréscimo da sua população nidificante a nível nacional”. A diminuir estão igualmente as rolas-do-mar e os borrelhos-de-coleira-interrompida, enquanto se mantêm estáveis os números relativos ao pilrito-das-praias e ao maçarico-galego.

“No ambiente marinho, o alcaide, a gaivota-de-cabeça-preta ou o garajau-de-bico-preto apresentam tendências negativas, assim como a pardela-balear, uma espécie criticamente ameaçada”, mas o crescimento da população nidificante de gaivota-de-audouin na ria Formosa tem sido positivo e este “é actualmente o maior núcleo reprodutor desta espécie globalmente ameaçada”, adianta o documento.

A situação das populações dos grifos e dos britangos, espécies que costumam fazer os ninhos em rochas, também é distinta, enquanto “o britango apresenta um decréscimo de 10% da população nidificante, o grifo aumentou os seus números cinco vezes, relativamente aos censos nacionais realizados há cerca de 20 anos”.

As populações de íbis-preta estão a aumentar Luiz Lapa/SPEA

“Para muitas espécies, o estado das suas populações em Portugal é preocupante, mas em muitos casos ainda reversível”, diz Domingos Leitão, director executivo da SPEA, num comunicado desta entidade. “Temos provas de que a conservação resulta, e ainda vamos a tempo, se houver vontade política para passar da exploração desmesurada à gestão sustentável.”

Tendência europeia

A SPEA considera que Portugal pode e deve fazer mais pela conservação das aves e dos seus habitats, incluindo a sua monitorização. “Temos a responsabilidade de ser a casa de muitas espécies únicas (por exemplo, o priolo, a freira-da-madeira, o painho-de-monteiro)” e é nas águas portuguesas que “a ave marinha mais ameaçada da Europa, a pardela-balear, vem procurar alimento durante a migração e pós-reprodução”, assinala o relatório, adiantando que nas ilhas de Portugal se podem “encontrar populações nidificantes de espécies ameaçadas na Europa, como o calca-mar ou a gaivota-de-audouin”.

De acordo com a Lista Vermelha das Aves da Europa 2021, divulgada em Outubro do ano passado, uma em cada cinco espécies de aves do continente está ameaçada de extinção. O relatório, que foi publicado pela associação internacional de defesa das aves BirdLife International, que junta associações de todo o mundo, incluindo a SPEA, avalia o risco de extinção de 544 espécies de aves em mais de 50 países e territórios da Europa.

O garçote também está em decrescimento Joaquim Grave/SPEA

As “avaliações do risco de extinção e de tendências populacionais à escala europeia”, importantes para se compreender “a situação das espécies a uma escala de maior dimensão, não eram possíveis sem a monitorização das espécies que ocorre em cada país”, lembra a SPEA no estudo divulgado agora.

Em Portugal, esta vigilância e acompanhamento “depende do esforço e dedicação de inúmeros voluntários e colaboradores”, contributo que a organização não-governamental de ambiente classifica de “inestimável”, sem esquecer o das “entidades que organizam os censos e programas de monitorização”, como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Universidades e várias organizações não-governamentais, além da SPEA.


Saber mais:
Relatório: 49% de todas as espécies de aves estão em declínio [aqui]