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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Trump e o fim de uma era dourada que nunca o foi


Por Ricardo Paes Mamede
A vitória de Trump nas eleições presidenciais americanas foi recebida com preocupação generalizada e há boas razões para isso. Trump tem um modo de fazer política que degrada a democracia e põe em causa o regular funcionamento do Estado de direito. A sua mensagem é contrária à coesão social e à dignidade da pessoa humana, estimulando o ódio, a intolerância e o desprezo pelo ambiente, pela ciência e pelos factos. Ao nível económico, promete uma redução de impostos que agrava as desigualdades e uma política comercial agressiva que desestabiliza as relações internacionais. Pior ainda, o regresso vitorioso de Trump é um estímulo acrescido a todos os partidos e movimentos que, em diferentes países (Portugal incluído), seguem a mesma linha política. Nada de positivo pode vir daqui.
À boleia das críticas a Trump surge muitas vezes o lamento sobre o fim de uma era de globalização supostamente feliz. O anunciado regresso do proteccionismo americano contrastaria com várias décadas de relações comerciais assentes em regras, que teriam contribuído para um bem-estar alargado à escala global.
Esta narrativa tem dois problemas. Primeiro, ignora que a globalização económica contemporânea, com as suas regras e lógicas de funcionamento, criou um conjunto de problemas sérios nas economias e nas sociedades. Segundo, é incapaz de perceber que o sucesso de Trump — e de outros movimentos políticos semelhantes — é mais consequência do que causa dos problemas decorrentes das relações económicas internacionais.
A forte expansão do comércio internacional e dos fluxos financeiros é um dos traços mais marcantes da economia global contemporânea. Sob a promessa de prosperidade generalizada, as fronteiras comerciais foram desmanteladas, abrindo espaço a uma mobilidade sem precedentes de capital, bens e serviços. Países de rendimentos baixos especializaram-se na produção intensiva de bens de consumo a baixo custo, enquanto as nações mais ricas se concentraram em sectores de alta tecnologia e serviços financeiros. Este processo resultou na criação de cadeias de valor globais, fazendo emergir uma interdependência entre economias que foi por muitos recebida como uma promessa de paz e estabilidade. Na verdade, este modelo trouxe um conjunto de distorções e desequilíbrios que colocam em causa a viabilidade de uma economia mundial integrada nos moldes actuais.
A emergência da China como superpotência industrial, assente na instalação em massa naquele país de fábricas das empresas dos países ricos a partir da década de 1980, foi um dos principais factores que contribuíram para agravar os desequilíbrios globais. A deslocalização da capacidade produtiva para a China pretendia tirar partido dos seus baixos custos de produção e aceder a um mercado potencial de grandes dimensões.
Os resultados foram, por um lado, a acumulação de enormes excedentes comerciais e de capacidades tecnológicas pela economia chinesa; por outro lado, a desindustrialização de muitos países ocidentais, com impactos nefastos nas suas estruturas sociais e no seu endividamento externo. Os poucos países que resistiram à desindustrialização daí decorrente foram aqueles que produziam os bens de que a China necessitava para o seu desenvolvimento económico. Como exemplo mais ilustrativo, a economia alemã, tendo um perÆl de especialização assente em máquinas e equipamentos de produção e transporte, viu crescer as suas exportações como poucos, à boleia da procura chinesa. Tal como a China, a Alemanha seguiu uma política de contenção da procura interna (por via de políticas salariais e orçamentais restritivas), traduzindo-se na acumulação de excedentes comerciais signifcativos face aos seus parceiros.
Assim, a par do crescimento exponencial dos movimentos de bens e capitais, a globalização contemporânea caracterizou-se por enormes desequilíbrios nas contas externas, com efeitos negativos na estabilidade financeira internacional. Os países com elevados superavits comerciais reciclaram os seus excedentes financiando os deficits dos países com contas externas negativas. Isto permitiu aos últimos continuar a consumir, mas à custa de um endividamento crescente.
Estes desequilíbrios têm estado na origem das centenas de crises financeiras e recessões económicas ocorridas nas últimas quatro décadas em diversos pontos do globo (incluindo a crise do euro, que arrastou Portugal entre 2010 e 2013). O excesso de crédito e a especulação financeira dão lugar a bolhas no preço dos activos que, ao rebentar, originam recessões profundas. A pandemia e a guerra na Ucrânia vieram acrescentar à lista de efeitos nefastos da globalização os riscos associados a um excesso de interdependência entre países no fornecimento de bens essenciais.
Longe de ser uma era dourada, a globalização económica contemporânea tem estado assim associada a fenómenos de instabilidade social, financeira e económica. Pelo caminho, milhões de trabalhadores nos países desenvolvidos viram os seus empregos desaparecer, os salários estagnar, a precariedade e as desigualdades aumentar. A capacidade dos Estados para fazer face a estes problemas fragilizou-se. Era difícil que isto não se traduzisse em instabilidade política.
Quem lamenta o fim da globalização como a conhecemos até há pouco não se limita a ignorar os aspectos nefastos das regras em vigor. Parece também confundir as vantagens inerentes às trocas comerciais entre países com uma economia global em que “regulação” significa pouco mais do que impor a cada Estado a abertura descontrolada das suas economias à concorrência internacional.
Não haja dúvidas de que o proteccionismo de Trump é simplista e perigoso. O aumento acentuado das taxas aduaneiras, acompanhado de uma atitude de confronto nas relações entre países, poderá resultar numa guerra comercial generalizada, com consequências graves para a economia global.
A solução para os desequilíbrios resultantes da globalização económica deveria, ao invés, passar por uma regulação mais robusta dos sistemas financeiros e por uma coordenação internacional das políticas cambiais e comerciais que permitisse ajustar as contas externas distribuindo as responsabilidades entre os países com excedentes e os países deficitários — na linha do que Keynes propôs há 80 anos, com pouco sucesso, no âmbito das negociações de Bretton Woods.
Na ausência de tais mecanismos de coordenação, não é de espantar que os países recorram aos instrumentos que têm à sua disposição. A solução não é boa. Desmantelar as fronteiras económicas nacionais e esperar que tudo corra pelo melhor, como em larga medida se fez nas últimas décadas, ainda o é menos.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Inteligência artificial vai criar muito desemprego

A rede X anda muito silenciosa com a nova revolução tecnológica: a IA. O nosso patrão Elon Musk vai muito à frente e investe puro e duro na IA. Aqui vai um cartoon, para refletirmos. 
"- Que fazia antes de se encontrar desempregada? 
- Ocupava o seu emprego!"

domingo, 14 de janeiro de 2024

Quando os pobres votam na direita


«O historiador Thomas Frank tem, na edição dos seus livros em francês, duas obras traduzidas com títulos provocadores. Uma sobre a razão por que os pobres votariam na direita e a outra sobre os motivos por que os ricos passaram a votar à esquerda. Nestes textos, muito baseados na situação dos EUA, relata-se o abandono das classes populares por parte dos partidos da esquerda moderada em troca de agendas menos ligadas aos direitos sociais e mais conectadas com os direitos individuais e as múltiplas agendas identitárias.

Num estudo coordenado por Thomas Piketty sobre a relação entre as desigualdades sociais e os resultados eleitorais em 50 países “democráticos” (Clivagens Políticas e Desigualdades Sociais) verifica-se que há em muitos países desenvolvidos uma evolução: antigamente, as classes trabalhadoras tendiam a votar à esquerda e os patrões, ricos e licenciados à direita. Hoje, verifica-se que os licenciados votam à esquerda e que parte das classes trabalhadoras já não vota, ou não o faz à esquerda. Isso coincidiria com várias circunstâncias: o abandono por parte da esquerda do terreno popular e da defesa das classes trabalhadoras e a passagem de reivindicações “materiais” para “pós-materiais”, enquanto se multiplicam novas lutas de caráter identitário que tornam invisível o conflito de classes. Como alguém dizia, “a classe social não foi morta, ela foi enterrada viva”.

Obviamente que é necessário fazer uma política que tenha em conta as identidades, mas isso não significa reduzir a política a uma soma de identidades cada vez mais próxima da individualidade.

Este processo de individualização e perda de referentes coletivos tem a ver com uma alteração da realidade económica e social: a desindustrialização do mundo desenvolvido, a criação de empregos por plataformas, em que dezenas de milhares de pessoas, a fazer a mesma coisa, parecem todas isoladas, em que todos têm laços cada vez menos estáveis, em que há uma certa liquidificação da sociedade.

Mas tudo isto também foi fruto de uma vitória ideológica. Num célebre artigo em 1939, Friedrich Hayek defende que se deveria entregar a condução da política monetária a uma organização supranacional. Propõe a criação de instituições supranacionais como forma de, na prática, retirar ao controlo democrático o funcionamento da economia.

Na altura, esta vontade era amplamente minoritária mesmo no seio da social-democracia e da direita moderada, em que o pensamento keynesiano era dominante. Mas até aos anos 70 os pensadores neoliberais e as classes proprietárias, interessadas em reduzir a força dos sindicatos e dos trabalhadores na distribuição do rendimento, construíram uma nova hegemonia. Como afirmava um dos seus defensores mais conhecidos, Milton Friedman, fizeram com que o politicamente impossível se tornasse o politicamente inevitável.

Este processo de dissociação total entre economia e democracia, através da globalização e da integração europeia, da democracia e da economia, provocou, desde o final dos anos 70, um lento apodrecer das instituições democráticas e uma ideia de impotência da democracia para resolver os problemas das pessoas. Independentemente de em quem votem, as decisões económicas são sempre as mesmas e servem, preferencialmente, determinadas elites políticas e económicas.

Perante este vazio, numa sociedade cada vez mais deslaçada em que impera o isolamento e a insegurança em relação ao futuro - as novas gerações vão viver pior do que as anteriores -, o populismo de extrema-direita veio tentar ocupar o vazio através de um redesenhar do território da política.

De um lado, teríamos as supostas elites, todas confundidas e misturadas, políticos e intelectuais, os imigrantes e as pessoas que não são “da nossa cultura e raça”, e, do outro lado, o povo de bem.

Este mapa da política deixa de lado, naturalmente, as diferenças entre patrões e trabalhadores. Nega a existência de uma luta de classes e substitui-a por uma suposta guerra de civilizações. Aquele que trabalha e é roubado por uma economia que enriquece bilionários não olha para eles e concentra o seu ódio no imigrante que trabalha por metade do preço. Como se essas situações não fossem ditadas pelo capitalismo financeiro globalizado. André Ventura faz esse movimento de prestidigitação, retirando da vista os empresários milionários que dão dinheiro ao Chega, fazendo ainda um ajuste de contas histórico. Quer fazer-nos crer que a culpa da nossa situação de miséria está na democracia, e não na economia. Ao mesmo tempo, faz uma lavagem do fascismo e do colonialismo, como se eles não tivessem sido uma das razões, a par da política neoliberal, do nosso atraso e da falta de condições de vida em que se encontra a maioria das pessoas que vivem em Portugal. Para dizer claramente, não foi quem combateu a ditadura e o colonialismo que traiu as pessoas que vivem em Portugal, foi quem defende esse regime fascista que tem as culpas do sofrimento, miséria e falta de liberdade em que viveram gerações.

O Chega é o braço armado dos ricos, que lhe pagam, a fingir que quer apoiar quem trabalha. Tudo isso disfarçado com discursos sobre segurança, ideologia de género, falsa teoria da substituição dos portugueses pelos imigrantes e o alegado combate à corrupção, que deixaria os maiores corruptos a salvo.

Para impedir o crescimento da extrema-direita é preciso sair de um conflito em que a extrema-direita fala às entranhas das pessoas, enquanto do outro lado só há uma esquerda moderada que fala com o Excel.

O drama é que populismos e fundamentalismos têm sido contestados por bons motivos mas com más respostas. Como escrevia William Butler Yeats n’O Segundo Advento, “aos melhores falta convicção e aos piores sobeja apaixonada intensidade”. Talvez fosse melhor desenterrar a luta de classes e reivindicar a parte intensa de um conflito social com coordenadas verdadeiras.»

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Cartoon - As alterações climáticas são causadas por duas coisas: atividade humana...e inação humana


Não votem na Iniciativa Liberal, nem no Partido Chega. São cépticos climáticos e vendidos ao lóbi das petrolíferas.
Dr Friederike Otto, of Imperial College London said: “The science of climate change has been clear for decades: we need to stop burning fossil fuels. A failure to phase out fossil fuels at Cop28 will put several millions more vulnerable people in the firing line of climate change. This would be a terrible legacy for Cop28.”

The Global Carbon Project, an international collaboration of scientists, estimates that worldwide carbon dioxide emissions from burning fossil fuels will rise 1.1% this year over 2022, to 36.8 billion metric tons. That’s a new peak and 1.4% higher than the level in 2019, prior to the Covid-19 pandemic. [Bloomberg

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Global Wave of Climate Action


15.000 scientists:

We are venturing into uncharted climate territory
20 of the 35 vital signs are now showing record extremes
Such anomalies may become more frequent and could have increasingly catastrophic impacts

Energy:
Fossil fuels remain dominant
Carbon emissions have continued soaring
Annual coal consumption reaching a near all-time high

Forests:
Global tree cover loss rate declined 9.7%
Humanity is not on track to end and reverse deforestation by 2030
Forests are increasingly threatened by powerful climate feedback loops

Global mean greenhouse gases and temperature:
CO2 is now at 420 ppm (Far above the save limit of 350 ppm)
Carbon dioxide, methane, and nitrous oxide—are all at record levels
2023 is on track to be one of the hottest years on record

Oceans and ice:
Ocean acidity, glacier thickness, and Greenland ice mass all fell to record lows
Sea level rise and ocean heat content rose to record highs
Atlantic meridional overturning circulation could pass a tipping point and start to collapse this century

Climate impacts and extreme weather:
Deadly flash floods in northern India
Record-breaking heat waves in the United States
Exceptionally intense Mediterranean storm that killed thousands of people
China experienced its heaviest rainfall in at least 140 years

Economics:
Economic growth, as it is conventionally pursued, is unlikely to allow us to achieve our social, climate, and biodiversity goals
Technological advancements often fall short in mitigating the overall ecological footprint of economic activities

Stopping warming: efforts must be directed toward
Eliminating emissions from fossil fuels and land-use change
Increasing carbon sequestration with nature-based climate solutions
We should not rely on unproven carbon removal techniques

Stopping coal consumption:
Global coal consumption is near record levels
Coal usage in China has accelerated rapidly in the past decades

Food security and undernourishment:
Undernourishment is now on the rise
735 million people faced chronic hunger
Hunger could escalate in the absence of immediate climate action
Risks of synchronized harvest failures caused by increased waviness of the jet stream
Efforts are needed to improve crop resilience and resistance to heat, drought, and other climate stressors
A shift toward plant-based diets could improve global food security and help mitigate climate change

Justice:
Impacts of climate change are already catastrophic for many
They disproportionately affect the world's most impoverished individuals
Strive for a convergence in per capita resource and energy consumption

Conclusions:
The truth is that we are shocked by the ferocity of the extreme weather events in 2023
We are afraid of the uncharted territory that we have now entered
This is our moment to make a profound difference for all life on Earth
Possibilities such as a worldwide societal breakdown are feasible and dangerously underexplored
By 2100 an estimated 3 to 6 billion individuals might find themselves confined beyond the livable region
Climate emergency is systemic, existential threat
Challenge the prevailing notion of endless growth and overconsumption
Advocate for reducing resource overconsumption
Transformation of the global economy to prioritize human well-being
Every further 0.1°C increase in future global heating cannot be overstated
Rather than focusing only on carbon reduction and climate change, addressing the underlying issue of ecological overshoot will give us our best shot at surviving

Relatório do estado do clima em 2023. Entrar em território desconhecido

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Mercados - esses amigos do Povo, do Estado Social e do Planeta

A questão é quase tão antiga quanto as montanhas. Mas a resposta contemporânea é paralisantemente estreita. Vestida com a roupagem do capitalismo tardio, a prosperidade foi capturada pela ideologia do “crescimento eterno”: um mantra que insiste que mais é sempre melhor. Apesar das provas esmagadoras de que a expansão implacável está a minar a natureza e a conduzir-nos para uma emergência climática devastadora, o mito do crescimento ainda reina supremo.

Enquanto escrevemos, a cidade de Nova Iorque foi paralisada por inundações, uma cúpula de calor sobre a Colômbia Britânica levou a temperaturas 10-20°C acima das médias sazonais, e a Europa e o Reino Unido sofreram inundações repentinas. Esses eventos matam. As mortes súbitas aumentaram quase 200% durante a onda de calor na Colúmbia Britânica. Estão a ser movidas ações judiciais contra as grandes empresas petrolíferas que sabiam da possibilidade das alterações climáticas há quarenta anos. Mas o preço será demasiado elevado, mesmo para os gigantes ricos em petróleo pagarem.

O dano planetário causado por este zelo expansionista é agravado por outro custo muito humano. O capitalismo precisa de consumidores egoístas e insaciáveis para alcançar as suas ambições de crescimento. Portanto, incentiva esse tipo de comportamento. Ele homenageia aqueles que se destacam nisso. Simultaneamente, subvaloriza as tarefas que mais importam para a sociedade – o trabalho de prestação de cuidados, por exemplo – e denigre aqueles que nela trabalham. O capitalismo “iluminou-nos” para que aceitássemos uma visão contaminada de nós mesmos e um substituto espalhafatoso para a realização humana.

Se quisermos ter alguma hipótese de viver bem dentro dos limites do planeta, temos de destronar os mitos que assombram a economia – vê-los pelo que são, em vez das “verdades” obstinadas que afirmam ser. Para recuperar a nossa própria humanidade, devemos procurar noutro lado as nossas metáforas de governo.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Cartoon - Plastic



Pode haver menos plástico no oceano do que os cientistas pensavam anteriormente, mas o que existe pode persistir por muito tempo, de acordo com um novo estudo realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Utrecht, na Holanda.

Cientistas baseados na Holanda e na Alemanha realizaram modelagem computacional 3D usando extensos dados observacionais e medições feitas em águas superficiais, praias e oceanos profundos de 1980 a 2020.

O estudo de modelagem estimou que pedaços de plástico com mais de 25 milímetros (uma polegada) representam mais de 95% do plástico flutuando no oceano. Embora a maioria das partículas de plástico no oceano seja muito pequena, a massa total desses microplásticos – definida como menos de cinco milímetros (0,2 polegadas) – é relativamente baixa.

“ A maior parte da massa plástica está contida nos grandes itens de plástico (>25 mm) ”, que flutuam com mais facilidade, disseram os autores do estudo .

Comentando os resultados, recentemente publicados na Nature Geoscience [ 1 ] , os pesquisadores disseram que a preponderância de pedaços flutuantes maiores sugere que a quantidade total de plástico no oceano é " muito menor " do que se pensava anteriormente. Mas o estudo também mostrou que a quantidade total de plástico na superfície do oceano – cerca de 3,2 milhões de toneladas – é muito maior do que inicialmente estimado.

No entanto, o modelo também descobriu que menos plástico novo chega ao oceano todos os anos do que se pensava anteriormente – cerca de meio milhão de toneladas em vez de quatro a 12 milhões de toneladas – decorrente principalmente das costas e da atividade pesqueira.
Uma situação de preocupação

O fato de o plástico estar flutuando em pedaços grandes pode ajudar nos esforços de limpeza. " Pedaços grandes e flutuantes na superfície são mais fáceis de limpar do que os microplásticos ", disse o coautor do estudo Erik van Sebille, da Universidade de Utrecht , na Holanda, em comunicado.

No entanto, a combinação de mais plástico de superfície e menos plástico novo sugere que " demorará mais tempo até que os efeitos das medidas para combater o desperdício de plástico sejam visíveis " , disse o líder do estudo , Mikael Kaandorp . " Se não agirmos agora, os efeitos serão sentidos por muito mais tempo ", acrescentou.

E a quantidade de poluição plástica nos oceanos do mundo ainda está crescendo. Sem mais mitigação e limpeza, o lixo plástico remanescente pode dobrar em duas décadas, de acordo com os autores do estudo.

Negociações internacionais
A preocupação com o impacto dos plásticos no meio ambiente e no bem-estar humano aumentou nos últimos anos. Estima-se que detritos de plástico matem mais de um milhão de aves marinhas e 100.000 mamíferos marinhos a cada ano, de acordo com o Programa Ambiental das Nações Unidas.

O novo estudo surge enquanto o mundo aguarda o primeiro rascunho de um tratado internacional altamente antecipado da ONU para combater a poluição plástica , previsto para novembro.


[ 1 ] Kaandorp, MLA, Lobelle, D., Kehl, C. et al. "Massa global de plásticos marinhos flutuantes dominados por grandes detritos de vida longa", Nature Geoscience 16, 689-694 (2023). 

segunda-feira, 10 de julho de 2023