segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Curiosamente apenas poucos países no mundo consomem os tremoços.


Digam se eu estiver errado mas que eu lembre, além de Portugal,  Espanha e Itália creio que nunca vi tremoços em outros países. Os espanhóis introduziram o hábito de comer tremoços em alguns países da América Latina. 
Em Portugal, o nome deriva do árabe al-turmus revelando a longa tradição do seu consumo entre nós, ao contrário de muitos outros países ocidentais onde é um ilustre desconhecido à mesa. 
O tremoço é a semente contida na vagem do fruto de uma planta, chamada “tremoceiro” do género Lupinus, cujas flores apresentam corola papilionácea, podendo ser azuis, róseas, roxas, brancas, amarelas (a que origina o nosso conhecido tremoço), vermelhas ou ter mesmo várias cores. A floração ocorre na primavera e verão.
O tremoço, à semelhança de outras leguminosas, como o grão, o feijão, a lentilha, a fava ou a ervilha apresenta diversas propriedades nutricionais muito interessantes para a saúde. Contudo, o tremoço em natureza apresenta um aminoácido e alcaloides neurotóxicos. 
Estes são eliminados depois de cozidos e cobertos com água que deve ser mudada com frequência durante vários dias até perderem o seu amargo original, com a eliminação dos alcalóides. A partir desse momento tornam-se no excelente alimento que todos apreciamos.

sábado, 28 de setembro de 2024

Centre for Functional Ecology | Promotional video


O “Centre for Functional Ecology - Science for People & the Planet” (CFE) reúne investigadores de todos os domínios da ecologia, das ciências do ambiente e do território, das ciências sociais e das humanidades. A dimensão multidisciplinar do CFE corresponde aos desafios societais contemporâneos em interação com a complexidade do compromisso global para a sustentabilidade.

Integra conhecimento desde os genes aos biomas, com o objetivo de estudar os mecanismos responsáveis pela conservação da biodiversidade e pela composição, estrutura e funcionamento das comunidades biológicas e ecossistemas, considerando a diversidade disciplinar indispensável à compreensão da relação entre as Pessoas e o Planeta, os territórios e as comunidades.

O CFE apresenta um forte compromisso com a transferência de conhecimento para o público em geral e para o setor produtivo, com ênfase na sustentabilidade dos territórios e bem-estar das comunidades locais.

Desde a sua criação em 2009, o CFE da Universidade de Coimbra apresenta um notável crescimento em dimensão, alcance e impacto. Atualmente, o CFE é composto por 126 investigadores doutorados integrados e um total de cerca de 400 investigadores organizados em 10 grupos de investigação estratégicos:

1. Biodiversidade, Conservação e Capital Natural

2. Ecossistemas Terrestres e Alterações Globais

3. Recursos Marinhos, Conservação e Tecnologia

4. Saúde do Solo

5. Sociedades e Sustentabilidade Ambiental

6. História, Território e Comunidades

7. Uma Só Saúde

8. Antropologia Forense e Paleobiologia

9. Bioeletrónica e Bioenergia

10. Ecologia e Ecotoxicologia Aquáticas

Cada um desses grupos apresenta os seus próprios objetivos claros de I&D, mas com colaborações muito fortes e fluidas entre todos os grupos de investigação, um marco do CFE desde a sua criação. O CFE apresenta também duas linhas temáticas transversais: Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável e a Ciência Aberta.

A estratégia do CFE passa pela consolidação da trajetória altamente positiva no plano científico e formativo. A vibrante dinâmica de investigação alcançada nos últimos 5 anos, a incorporação de investigadores altamente qualificados e com forte dimensão internacional, o número e a qualidade dos artigos publicados e dos projetos aprovados, as sinergias estabelecidas com o setor privado e a participação de investigadores do CFE-UC em redes internacionais, incluindo no apoio na tomada de decisões, sustentam uma maior afirmação do CFE-UC a nível nacional e internacional.

O CFE, tendo a ecologia na sua matriz científica, produz conhecimento nas áreas das alterações globais, da gestão dos recursos hídricos e dos bens alimentares, da proteção dos oceanos, da biodiversidade, dos serviços dos ecossistemas, do património e das comunidades, e assumirá um maior compromisso pela sustentabilidade, numa visão concertada, transdisciplinar, transnacional e translacional, apoiada na partilha do conhecimento e na ciência aberta, e incorporando plenamente a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, com os investigadores estimulados a dar prioridade ao pensamento sistémico com relevância ao nível local, nacional e internacional.

Em respeito pelos princípios orientadores da promoção de uma ciência aberta e socialmente responsável, o CFE-UC aposta em fortalecer algumas áreas prioritárias específicas, principalmente: agroambiental, fitossanidade, dieta mediterrânica, silvicultura, alterações globais, conservação da natureza, segurança alimentar, avaliação do risco ambiental, economia azul, ecossistemas marinhos e costeiros, economia circular, território, comunidades e desenvolvimento sustentável.

A formação avançada e a incorporação de estudantes no início e o desenvolvimento de ideias e projetos, é outra pedra angular da estratégia do CFE, sendo aposta uma forte afirmação no campo da formação técnica especializada e formação avançada, e na cooperação académica internacional, através do envolvimento em programas de Mestrado e Doutoramento internacionais, bem como a promoção do emprego científico.

Além disso, através da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável, as relações com os países de língua portuguesa continuarão a ser fortemente incentivadas. A longa história partilhada com esses países exige e privilegia tais colaborações, com um foco especial na conservação da biodiversidade e nas coleções biológicas, orientação e partilha de conhecimento.

Assim, a missão do CFE-UC é continuar a impulsionar os limites do conhecimento em todas as áreas da Ecologia e suas interfaces com a tecnologia e a sociedade, num compromisso permanente de produzir uma verdadeira Ciência para as Pessoas e para o Planeta.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Curta-Metragem: O Outro Par - The Other Pair


O filme egípcio “O Outro Par”, com duração de apenas 4 minutos, ganhou o prémio de melhor curta-metragem no festival de cinema egípcio. Sarah Rozik, a diretora, tem 20 anos e foi baseada na história de Gandhi. Fala sobre a Lei do Karma "Faça pelos outros o que você gostaria que eles fizessem por você".

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

No Topo da Montanha


No silêncio alto, sob o céu imenso,
Onde o vento dança, leve e intenso,
Eu sou pequeno, frente ao vasto horizonte,
Mas meu espírito cresce, como a luz de um monte.

Abaixo, o mundo se perde em fragmentos,
Rios serpenteiam como longos pensamentos,
E as árvores, verdes, tocam o firmamento,
Enquanto a montanha guarda seu lento alento.

O ar é puro, o tempo é brando,
Aqui, sou parte do todo, me expandindo e voando,
A alma flutua, leve como a brisa,
No cume do mundo, onde o silêncio avisa:

Que há paz na altura, no vazio encontrado,
Que no topo do mundo, não há mais passado,
Só o agora, vasto e eterno,
Onde o espírito toca o céu moderno.

João Soares, 22/09/2024

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Protesto cívico | O país Arde. Temos de acordar | Domingo, 22


No próximo domingo, 22 de setembro, entre as 17 e as 19 horas, estão a ser organizadas ações de protesto decorrentes dos incêndios florestais que neste dias assolam o país. A Iris apoia estas iniciativas cívicas. Assim, convidamos-vos a participar localmente nas mesmas.
Este é um problema de todos. Nos incêndios florestais, as chamas ferem-nos e matam-nos no curto prazo, mas os fumos adoecem-nos e matam-nos a médio prazo. Quem detém e se aproveita das árvores tem responsabilidades para com os demais cidadãos. Exigimos responsabilidades!
Apareçam!

O eucaliptal mata a biodiversidade


quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Monoculturas em colapso: a urgência de um novo futuro florestal


O esforço de limpeza das florestas, aliado à relativa calma dos últimos anos, criou a ilusão de que o problema dos incêndios estava resolvido e que a devastação de 2017 não se repetiria. Essa confiança desviou a atenção da verdadeira prioridade: a reforma estrutural da floresta portuguesa. Os acontecimentos recentes expuseram a fragilidade das alterações implementadas, as quais são obviamente insuficientes para a magnitude do problema. A reforma é hoje ainda mais crítica e é preciso determinação e ousadia para a intervenção estrutural que a floresta portuguesa exige.

No centro do atual fracasso estão décadas de negligência na gestão florestal. Planeamento deficiente, reflorestação inadequada e falta de manutenção, criaram as condições perfeitas para os incêndios devastadores que enfrentamos. Embora a limpeza da vegetação em torno das habitações possa retardar o avanço das chamas, não resolve os problemas estruturais subjacentes. A crescente dependência das monoculturas de eucalipto, altamente inflamáveis, só agravou a situação. Para reverter este cenário, Portugal deve adotar um novo paradigma florestal, baseado na reflorestação biodiversa e em políticas agroflorestais, que possam criar ecossistemas mais resilientes.

Do ponto de vista económico, o quadro é preocupante. São investidos milhões de euros em ações de combate a incêndios, enquanto a prevenção recebe apenas uma pequena fração desse financiamento. Todos os estudos demonstram que investir na prevenção não só poupa recursos, como também salva vidas. Os custos ambientais são igualmente alarmantes: incêndios sucessivos empobrecem os solos, destroem a biodiversidade e aumentam as emissões de carbono. Em vez de sumidouros de carbono, as nossas florestas estão a comprometer os objetivos climáticos do país.

As alterações climáticas vêm intensificar os riscos. O aumento das temperaturas, as secas prolongadas e os padrões climáticos irregulares, ampliaram a probabilidade de incêndios devastadores. A estratégia dominante, centrada na limpeza das florestas, é insuficiente para enfrentar essas novas ameaças. Precisamos de soluções mais robustas e resilientes às alterações climáticas, como a introdução de espécies de árvores resistentes ao fogo, o uso inteligente do solo e um planeamento ambiental proativo.

Portugal pode olhar para países que mudaram o foco do combate reativo a incêndios para a resiliência proativa das comunidades e o planeamento estratégico do uso do solo. Esses países perceberam que confiar apenas no combate a incêndios é um beco sem saída. As queimadas controladas, por exemplo, são rotineiramente usadas para remover material inflamável, enquanto a educação da comunidade sobre prevenção de incêndios florestais tornou-se parte integrante de sua estratégia.

Igualmente relevante é a falta de coordenação entre o governo nacional e as autoridades locais. As operações de combate a incêndios de grande visibilidade, como as missões aéreas, recebem destaque e financiamento, enquanto as medidas de prevenção a longo prazo são subfinanciadas e ignoradas. É urgente estabelecer políticas claras e criar incentivos nacionais que promovam a silvicultura sustentável, a reflorestação biodiversa, os sistemas agroflorestais e infraestruturas resistentes ao fogo. Sem isso, será difícil envolver os principais atores no esforço para reduzir o risco de incêndios florestais.

Finalmente, há barreiras culturais e psicológicas profundamente enraizadas e difíceis ultrapassar. O combate a incêndios é muitas vezes exaltado como heroico, enquanto a prevenção – apesar da sua eficácia comprovada a longo prazo – é tratada como secundária. A educação pública deve desempenhar um papel central na mudança desta mentalidade.  A prevenção não é inação, mas a escolha inteligente que deve ser priorizada.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Incêndios: o país é o mesmo enquanto o clima piora


«A tragédia não foi maior porque estamos, no que toca ao combate aos fogos, melhores do que em 2017, quando houve um sobressalto nacional que permitiu que algumas medidas, muito menos do que as necessárias, avançassem. Apesar do que melhorou nos últimos anos, continuamos a ver falhas inaceitáveis, bem evidentes em tantos vídeos de pessoas a atravessar o fogo em estadas fundamentais e autoestradas. Não se repetiram algumas desgraças de 2017 por milagre. A comunicação preventiva à população também foi muito fraca, apesar dos avisos prévios, com dias, do IPMA e da Proteção Civil.

Estes fogos não chegaram a ser um tema propriamente político. De tal forma, que o governo se deu ao luxo de fazer um briefing do Conselho de Ministros sem direito a perguntas – um estilo que parece agradar a uma comunicação social anestesiada por um dever de “estado de graça” – e a ministra da Administração Interna desapareceu. Ao contrário do que vimos em 2017, a cobertura do Presidente foi total, ao ponto de ter presidido a um Conselho de Ministros, coisa que costuma ser reservada a momentos meramente simbólicos.

Talvez a ausência de aproveitamento político, no meio dos fogos, deva ser o normal. Mas ela só não se repete porque o ambiente político é muito diferente do dos quatro anos da “geringonça”, em que tivemos uma oposição de uma agressividade poucas vezes vista na nossa democracia constitucional. Que contrasta, aliás, com as exigências de moderação e sensatez que os seus principais atores fazem ao Partido Socialista.

Do abandono ao eucalipto
Voltando ao que interessa, o que ficou por fazer nestes anos é o essencial: a gestão florestal. Somos um país com grande parte do território abandonado e envelhecido, onde não é possível cuidar da floresta, dar-lhe rendimento e garantir a prevenção. Onde pessoas que detêm pequenas parcelas de terra vivem no local e outras não, sabem que as têm e outras não. Onde o Estado quase não tem floresta e a que tem é mal gerida. Onde não há ordenamento território e, portanto, não há ordenamento florestal. E a floresta, como é hoje gerida, não garante financiamento à sua preservação e à gestão de combustíveis finos.

Para além do minifúndio e da ausência de gestão florestal, sobra o eucalipto por todo o lado. Uma árvore que não fazia parte da nossa tradição e clima é hoje a prevalecente. A área plantada de eucalipto é superior à de todos os outros países europeus juntos. 81% da área reflorestada depois de 2017, ano em que se disse que iríamos ter de aprender com os erros, são desta espécie. Se fizermos a justaposição dos mapas dos incêndios destes dois dias e da área de eucaliptal veremos uma coincidência quase absoluta.

É verdade que os eucaliptos são dos produtos economicamente mais sustentáveis na nossa floresta. Mas também são dos piores para incêndios. Com ventos 30 quilómetros hora, as folhas incineradas desta árvore são autênticas bolas de fogo que atravessam autoestradas e causam novas ignições e novas frentes.

Aparentemente, ainda não chega. O CEO da Navigator, António Redondo, defendeu, há muito pouco tempo, o aumento da área para a plantação de eucalipto em Portugal, de forma a garantir a sustentabilidade da empresa. Tratou-se de uma crítica às alterações à lei que tinha liberalizado a plantação de eucaliptos. Lei que fora da autoria do ex-secretário de Estado das Florestas, Francisco Gomes da Silva, que posteriormente se tornou diretor-geral da CELPA, que reúne os gigantes das celuloses em Portugal.

As alterações climáticas são agora
Nos cursos mediáticos intensivos destes períodos – e sobre fogos temos tido, infelizmente, muitas oportunidades para os frequentar –, aprendemos a regra dos três 30: temperatura superior a 30º, humidade inferior a 30% e vento superior a 30km/hora, a que podemos acrescentar 30 dias sem chover, é receita para o desastre. E a verdade é que esta combinação atingiu, em várias regiões do país, o primeiro lugar desde 2001. Não é preciso muito para verificar os efeitos das alterações climáticas. Um relatório conjunto da Organização Meteorológica Mundial e do Serviço de Alterações Climáticas da União Europeia concluiu que o verão de 2023 foi o mais quente de que há registo na Europa. O centro da Europa está a viver das cheias mais brutais deste século. Uma semana antes, tivemos cheias dignas das monções no deserto do Sahara.

A Europa aqueceu mais rapidamente do que qualquer outra região nos últimos 30 anos. O relatório mostra que as temperaturas aumentaram, no continente, mais do dobro da média global nos últimos 30 anos – a um ritmo de cerca de 0,5 graus celsius por década. Pior: o que está a conduzir essa subida é o sul, como se percebe pela falta de água que se pode tornar comum no Algarve ou o anunciado fim da pastorícia na Sicília.

Como já escrevi várias vezes, nada disto é uma herança que deixaremos aos nossos netos. Já está a acontecer. São campos agrícolas destruídos, populações perdem casas e haveres, migrações forçadas, mortes prematuras, sistemas de saúde sobrecarregados.

Podemos reduzir risco da perda de vidas e de bens materiais, em condições cada vez piores. Não há como preparar territórios e forças de combate para este novo tempo. Algumas das florestas mais bem cuidadas do mundo, nos parques nacionais da Califórnia, já perderam, este ano, 4046 quilómetros quadrados em consequência dos fogos florestais. É isto todos os anos, nos EUA ou Austrália, com fogos que ficam ativos semanas a fio.

O crime não explica
De tantos temas, o que o primeiro-ministro preferiu tratar, por saber que é o mais popular e desvia do governo qualquer responsabilidade, foi o do crime de fogo posto. E fê-lo da forma mais populista possível, falando de interesses que sobrevoam o crime, com insinuações não concretizadas, impensáveis em quem lidera o governo. E dizendo que ia perseguir os criminosos, tarefa que cabe às forças policiais e à justiça. Confirma-se: Montenegro está sempre em campanha.

Claro que há fogo posto. Sempre houve. Mas Portugal reduziu em três quartos o número de ignições (temos um número de ignições semelhantes ao de Inglaterra). Apenas 1% das ignições são responsáveis por 90% da área ardida. Como disse o arquiteto paisagista Henrique Pereira dos Santos, na SIC Notícias, “o problema não é como o incêndio começa, é porque é que ele não para”.

O que é desesperante nestes debates é o empenho de tanta gente em desligar a causa da consequência. Lembro-me de, em 2017, ser trucidado por falar de alterações climáticas, como se fosse uma desculpabilização do governo. Se não falamos delas quando sentimos de forma mais dramática os seus efeitos, falamos quando? São, aliás, os mesmos que recusam a causa a serem mais vocais na responsabilização política pelas consequências.

Acontece o mesmo nos debates sobre a imigração: ela irá aumentar por causa das alterações climáticas e os que maior partido político tiram deste fenómeno são os que negam uma das suas causas. A razão para resistência é simples: é mais fácil responsabilizar os poderes públicos por não estarem preparados para as consequências do que participar numa mobilização geral para reduzir a pressão das causas.»

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Curta-metragem: Life after fire (Vida após incêndios)


Animated short of the article "What is the value of biotic seed dispersal in post-fire forest regeneration?", published in Conservation Letters.  
This research results from work developed with the "Life After Fire" project, which was created after the 2017 fires in Portugal with the aim of understanding the importance of seed dispersal in the recovery of forests after a fire.

sábado, 14 de setembro de 2024

Malditas Conyza


Os agricultores detestam as Conyza ... e os botânicos também. São tão variáveis, as correlações de caracteres tão frágeis que a Flora Ibérica arrumou tudo em duas espécies, quando outros autores reconhecem 5 e mais.
A C. canadensis não levanta dúvidas (capítulos glabros, pequeninos). Bem, a C. bonariensis sensu FI é um saco de gatos. A planta em anexo cumpre os critérios de C. bonariensis s.str. (plantas ramificadas desde a base, de crescimento simpodial, folhas estreitas, capítulos granditos, brácteas involucrais tintas de vermelho na extremidade distal estreitando para a base, e papilho branco). Sim, a entidade C. sumatrensis existe – são plantas bem grandes, frequentemente unicaules, de folhas mais largas (na base e no caule), monopodiais (com uma panícula de flores na extremidade), capítulos mais pequenos que os de C. bonariensis, brácteas involucrais verdes, papilho cor de palha, e brácteas mais largas no terço basal. O problema é quando as sumatrenses são cortadas e se ramificam ... ou os papilhos das bonarienses se enchem de pó e ficam amarelados. Enquanto a C. canadensis e a C. bonariensis abundam em ambiente urbano (entulhos, passeios mal-tratados, terrenos de construção, muito cão e muito gato), a C. sumatrensis entra em ambientes menos ruderalizados, em força nos campos de cultura.
E são resistentes ao glifosato. Virtude ou defeito?

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Documentário: História da Permacultura


After compiling a little film about Bill Mollison, there was a large call to expand on it and the origins of permaculture, giving some other pioneers their dues. So, here I have focused on some of the people who influenced me heavily when I first became interested in permaculture. It includes clips from David Holmgren, Masanobu Fukuoka, Sepp Holzer, Robert Hart, Emilia Hazelip, Allan Savory, Vandana Shiva, Dr. Elaine Ingham and Geoff Lawton. I realise that there are many more who could be listed but due to the nature of this being a video, I focused mostly on people who had amassed a large library of footage to choose from.

domingo, 8 de setembro de 2024

"Resta" por Rubem Alves


Lembro-me da festa de aniversário para o meu pai, quando ele completou 60. Pelas aparências ele estava feliz: ele comia, bebia, ria, falava. Em silêncio eu o observava e pensava: “Como está velho…” Vieram-me à memória os versos de T. S. Eliot: “E eles dirão: ‘Seu cabelo, como está ralo!’ Meu casaco distinto, meu colarinho impecável, minha gravata elegante e discreta, confirmada por um alfinete solitário – mas eles dirão: ‘Seu braços e pernas, que finos que estão!'” Compreenderei se pessoas olharem para mim e pensarem pensamentos parecidos aos que pensei ao olhar o meu pai.
Comovo-me ao recordar-me do poema do Vinícius “O Haver”. É um poema crepuscular. Ele contempla o horizonte avermelhado, volta-se para trás e faz um inventário do que sobrou. Fiquei com vontade de fazer algo parecido, sabendo que não sou Vinícius, não sou poeta, nada sei sobre métrica e rimas. E eu começaria cada parágrafo com a mesma palavra com que ele começou suas estrofes: Resta…
Resta a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de beleza e tristeza. Antes que ele comece ao fim do dia o crepúsculo começa na gente. O Miguelim menino já sentia assim: “O tempo não cabia. De manhã já era noite…” Assim eu me sinto, um ser crepuscular. Um verso de Rilke me conta a verdade sobre a vida: “Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um ar de despedida em tudo o que fazemos?”
Restam os amigos. Quando tudo foi perdido, os amigos permanecem. Lembro-me da antiga canção de Carole King “You got a friend”: “Se você está triste, no fundo do abismo e tudo está dando errado, precisando de alguém que o ajude – feche os olhos e pense em mim. Logo logo estarei ao seu lado para iluminar a noite escura. Basta que você chame o meu nome… Você sabe que eu virei correndo pra ver você de novo. Inverno, primavera, verão ou outono, basta chamar que eu estarei ao seu lado. Você tem um amigo…” Eu tenho muitos amigos que continuam a gostar de mim a despeito de me conhecerem. E tenho também muitos amigos que nunca vi.
Resta a experiência de um tempo que passa cada vez mais depressa. “Tempus Fugit”. “Quando se vê já são seis horas. Quando se vê já é sexta-feira. Quando se vê já é Natal. Quando se vê já terminou o ano. Quando se vê não sabemos por onde andam nossos amigos. Quando se vê já passaram cinqüenta anos… ( Mario Quintana)
Resta um amor por nossa Terra, nossa morada, tão maltratada por pessoas que não a amam. Meu deus mora nas fontes, nos rios, nos mares, nas matas. Mora nos bichos grandes e nos bichos pequenos. Mora no vento, nas nuvens, na chuva. Eu poderia ter sido um jardineiro… Como não fui, tento fazer jardinagem como educador, ensinando às crianças, minhas amigas. o encanto pela natureza.
Resta um Rubem por vezes áspero, com quem luto permanentemente e que, freqüentemente, burlando a minha guarda, aflora no meu rosto e nas minhas palavras, machucando aqueles que amo.
Resta uma catedral em ruínas onde outrora moravam meus deuses. Agora ela está vazia. Meus deuses morreram. Suas cinzas, então, voaram ao vento.
Resta, na catedral vazia, a luz dos vitrais coloridos, o silêncio, o repicar dos sinos, o Canto Gregoriano, a música de Bach, de Beethoven, de Brahms, de Rachmaninoff, de Faure, de Ravel…
Resta ainda, nos pátios da catedral arruinada, a música do Jobim, do Chico, de Piazzola…
Resta uma pergunta para a qual não tenho resposta. Perguntaram-me se acredito em Deus. Respondi com versos do Chico: “Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu.” Qual é a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que vai voltar Ou a que arruma o quarto para o filho que não vai voltar? Sou um construtor de altares. É o meu jeito de arrumar o quarto. Construo meus altares à beira de um abismo escuro e silencioso. Eu os construo com poesia e música. Os fogos que neles acendo iluminam o meu rosto e me aquecem. Mas o abismo permanece escuro e silencioso.”
Resta uma criança que mora nesse corpo de velho e procura companheiros para brincar. De que é que a alma tem sede? “De qualquer coisa como tudo que foi a nossa infância. Dos brinquedos mortos, das tias idas. Essas coisas é que são a realidade, embora já morressem. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança” ( Bernardo Soares )
Resta um palhaço… Na véspera de minha volta ao Brasil a jovem ruiva sardenda entrou na minha sala e me disse: “Sonhei com você. Sonhei que você era um palhaço”. E sorriu. Tenho prazer em fazer os outros rirem com minhas palhacices. O que escrevo, freqüentemente, é um espetáculo de circo. Pois a vida não é um circo?
Resta uma ternura por tudo o que é fraco, do pássaro ao velho. Fui um adolescente fraco e amedrontado. Apanhei sem reagir. Cresceu então dentro de mim uma fera que dorme. Mas toda vez que vejo uma pessoa humilde e indefesa sendo humilhada por uma pessoa enfatuada, que se julga grande coisa, a fera acorda e ruge. Tenho medo dela.
Resta a minha fidelidade às minhas opiniões que teimo em tornar públicas, o que me tem valido muitas tristezas e sucessivos exílios. Mas sei que minhas opiniões, todas as opiniões, não passam de opiniões. Não são a verdade. Ninguém sabe o que é a verdade. Meu passado está cheio de certezas absolutas que ruíram com os meus deuses. Todas as pessoas que se julgam possuidoras da verdade se tornam inquisidoras. Por isso é preciso tolerância.
Resta uma tristeza de morrer. A vida é tão bonita. Não é medo. É tristeza mesmo. Lembro-me dos versos da Cecília que sentia a mesma coisa. “E fico a meditar se depois de muito navegar a algum lugar enfim de chegar. O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas e nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias. De longe o horizonte avisto, aproxima e sem recurso. Que pena a vida ser só isso…”
Resta um medo do morrer – aquelas coisas que vêm antes que ela chegue. Eu acho que as pessoas deveriam ter o direito, se quisessem, de dizer: “É hora de partir…” E partissem. Se Deus existe e se Deus é bondade não posso crer que Ele ( ou Ela ) nos tenha condenado ao sofrimento, como última frase da nossa sonata. A última frase deve ser bela.
Resta, quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tic-tac… Só posso dizer: “Carpe Diem” – colha o dia como um fruto saboroso. É o que tento fazer.

Rubem Alves, "Pimentas: para provocar um incêndio não é preciso fogo"

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Seja produtor de sementes para o Parque Natural da Serra da Estrela

A associação Guardiões da Serra da Estrela , com o nosso apoio, procura proprietários/as no território da serra da Estrela dispostos a dar o seu contributo, para a reflorestação e reconversão da paisagem da área protegida.

👉 Interessa que tenham nas suas propriedades, árvores da lista (abaixo), e das quais se possam obter sementes, para a certificação exigida por lei e necessária à plantação em área protegida:

✅ Amieiro (Alnus glutinosa Gaertn)
✅ Bidoeiro (Betula pubescens e Betula pubescens subsp. celtiberica)
✅ Castanheiro (Castanea sativa Mill.)
✅ Freixo-nacional (Fraxinus angustifolia Vahl.)
✅ Pinheiro-manso (Pinus pinea L.)
✅ Pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris L.)
✅ Cerejeira-brava (Prunus avium L.)
✅ Azinheira (Quercus ilex ou Quercus rotundifolia L.)
✅ Carvalho-alvarinho (Quercus robur L.)
✅ Sobreiro (Quercus suber L.)

🔗Informe-se sobre requisitos adicionais e inscreva-se para ser contactado/a: https://forms.gle/1VwpGz41xmxU6cqg6

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O Reino Unido é o maior facilitador mundial de abusos fiscais transfronteiriços


Juntamente com a sua rede de dependências da coroa e territórios ultramarinos, o Reino Unido é o maior facilitador mundial de abusos fiscais transfronteiriços. Na verdade, a "teia de aranha" do Reino Unido, como é frequentemente conhecida, foi desenvolvida como um sistema global de extração económica durante a retirada do seu império colonial formal. Um novo documento entregue ao Comité para a Eliminação da Discriminação Racial expõe os impactos profundamente racializados desta injustiça, que prejudica os países maioritariamente não brancos do Sul Global, e o papel pernicioso que o Reino Unido está a desempenhar na tentativa de impedir os esforços de uma reforma significativa. O Reino Unido emergiu como um dos principais bloqueadores nas negociações sobre uma nova Convenção-Quadro sobre Cooperação Fiscal Internacional nas Nações Unidas, uma iniciativa apresentada pelo Grupo de África num esforço para resolver a pilhagem histórica e contínua das suas economias devido aos níveis maciços de abuso fiscal internacional. Fonte

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Captura de gases libertados por inaladores exige plantar 1,3 milhões de árvores em Portugal


Um artigo hoje divulgado estima que seria necessário plantar anualmente em Portugal mais de 1,3 milhões de árvores para capturar os gases libertados na atmosfera pelos inaladores pressurizados, usados no tratamento de doenças respiratórias como a asma.

O artigo, com coassinatura do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, é divulgado na Acta Médica Portuguesa, publicação da Ordem dos Médicos, e refere que "com o aumento do volume de vendas dos inaladores pressurizados tradicionais", que utilizam gases fluorados com efeito de estufa, responsáveis pelo aquecimento global, "aumenta também o seu impacto ambiental".

Segundo o artigo, que tem como referência dados de 2022, a pegada carbónica dos inaladores pressurizados tradicionais prescritos em Portugal foi estimada em 30.236 toneladas de dióxido de carbono (CO2), o equivalente a cerca de 0,84% das emissões totais do setor da saúde no país e a aproximadamente 95% do total de emissões dos inaladores.

"O impacto carbónico destes dispositivos equivale à pegada de 150 viagens transatlânticas entre Londres e Nova Iorque, e seria necessário plantar anualmente mais de 1,3 milhões de árvores para capturar estes gases da atmosfera", salienta o texto.

Por definição, a pegada carbónica corresponde ao volume total de gases com efeito estufa gerado pelas atividades económicas e quotidianas, sendo expressa em toneladas de CO2 emitidas para a atmosfera.

No artigo, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente e várias sociedades médicas listam uma série de recomendações para reduzir o impacto ambiental dos inaladores em Portugal, incluindo a prescrição de inaladores de pó seco, a aplicação de estratégias de incentivo à devolução de dispositivos usados nas farmácias e ao seu reaproveitamento e a introdução nas plataformas de prescrição de um mecanismo de alerta sobre a pegada ecológica de cada inalador, com um sistema de cores.
A lista de recomendações engloba também a promoção da literacia ecológica de doentes e público em geral, a divulgação de boas práticas de sustentabilidade ambiental na saúde e a aplicação de critérios de emissões líquidas de gases com efeito de estufa tendencialmente nulas nas compras, contratações e adjudicações públicas.

Um inquérito realizado para este artigo a 348 médicos revelou que mais de 70% não têm em conta os aspetos ambientais no ato da prescrição de inaladores, embora metade assuma conhecer a pegada ambiental dos dispositivos.

O texto sublinha, a este propósito, que "os profissionais de saúde têm o dever ético de participar ativamente na luta contra as alterações climáticas e a degradação ambiental, e pela redução da pegada ecológica do setor da saúde, não só como cuidadores, mas também como 'defensores' dos doentes".

O artigo teve o contributo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, da Sociedade Portuguesa de Pediatria, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e da associação de doentes Respira.

Criado em 2022, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente é uma organização não-governamental que visa, nomeadamente, "defender a necessidade do setor da saúde de reduzir a sua pegada ecológica".

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O suficiente para uma vida digna


Quase todos os dias assistimos ao drama associado à migração de pessoas em busca de melhores condições de vida. Bem perto de nós, sucedem-se os naufrágios no Mediterrâneo, e apesar de interpelados pela tragédia e pelo desespero de homens, mulheres e crianças, não conseguimos pôr termo a tanto sofrimento e consensualizar uma solução. Por outro lado, numa contradição em que a humanidade parece ser pródiga, nunca a economia mundial gerou tanta riqueza, mas a sua distribuição não é uniforme e a desigualdade continua a prosperar. De acordo com a informação publicada por organismos internacionais dedicados, cerca de metade da riqueza mundial está na posse de cerca de 1.1% dos mais ricos, enquanto os 55% mais pobres do mundo – mais de 4 mil milhões de pessoas – detêm apenas 1,3% da riqueza global. Esta disparidade não seria tão chocante se aqueles que ficam com uma pequena parte tivessem o suficiente para viver uma vida digna. Infelizmente, sabemos que não é assim; cerca de 10% da população mundial vive em condições de extrema pobreza. 

À pobreza e carência de recursos que esta condição significa, acrescenta-se a falta de poder e influência. Invariavelmente e à escala universal, as taxas de pobreza são mais elevadas entre os jovens ou idosos, não brancos, mulheres, e aqueles que têm níveis mais baixos de educação. Por outro lado, muita riqueza garante a influência sobre a maioria das decisões, o que se traduz numa situação em que, por exemplo, os principais partidos políticos de um país são financiados pelos mais ricos e pelas empresas que existem para gerar lucros para distribuir por indivíduos maioritariamente ricos. 

É neste contexto de profunda desigualdade económica e social, que o mundo enfrenta agora uma crise planetária, destacando-se o impacto das alterações climáticas, da desflorestação, da perda de biodiversidade ou da escassez de água doce. A crise social agrava a crise planetária. Quando analisamos a problemática das alterações climáticas, verificamos que 10% das economias mais ricas emitem cerca de 50% das emissões de gases com efeito de estufa, enquanto os 50% mais pobres geram apenas 7% das emissões. Ou seja, os países mais afetados pelas alterações climáticas são os que menos fizeram para as causar. Importa ter consciência que as alterações climáticas estão já a matar pessoas, desde logo, pelo impacto na saúde e pela perda da produtividade agrícola e menor acesso a bens alimentares. 

É tempo de afrontar um sistema económico absurdo e injusto, baseado no crescimento medido em Produto Interno Bruto (PIB). Quando nos concentramos no PIB, omitimos o essencial: a construção de uma economia que funciona para as pessoas e para o planeta. Como Robert F. Kennedy muito bem expressou em 1968, o PIB “mede tudo (...) exceto o que faz a vida valer a pena”. 

Continuar a fazer crescer a economia através de uma insana delapidação de recursos, esperando que a riqueza verta para os cidadãos mais pobres, não alivia a pobreza e convida ao colapso ambiental. Se estamos a transgredir as fronteiras planetárias agora, como pode o planeta sustentar uma economia que será quatro vezes maior em menos de 5 décadas? Precisamos de uma economia capaz de dar resposta às pessoas e respeitar os limites do planeta, reduzindo a pegada material. Precisamos de abandonar o PIB como a principal medida de prosperidade e começar a medir as coisas que importam, construindo um mundo sem pobreza e sem indústrias nocivas para o planeta e para as pessoas. Para resolver a crise planetária, temos que priorizar as pessoas e criar uma sociedade mais igual e mais justa, e não permitir que o excesso de riqueza resulte num poder absurdo e desproporcionado.