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domingo, 15 de dezembro de 2024

Tire as mãos da terra do Tibete


Os projectos de desenvolvimento em grande escala da China no Tibete, incluindo barragens, auto-estradas e operações mineiras, ameaçam o ambiente, o património cultural da região e a vida do povo tibetano. Estes projectos servem os interesses estratégicos da China no controlo dos recursos e nas reivindicações territoriais, mas têm efeitos devastadores no ecossistema do Tibete, nos locais culturais antigos e nos direitos dos seus habitantes.

Entretanto, o Ocidente estabeleceu uma parceria com a China para benefício económico mútuo, ignorando ao mesmo tempo a ocupação do Tibete, a exploração dos seus recursos naturais e os danos ambientais irreversíveis infligidos à região. Os interesses ocidentais e chineses na transição para a Energia Verde continuam a violar os direitos dos Tibetanos às suas terras e recursos sem o seu consentimento, resultando na detenção, prisão e tortura de manifestantes tibetanos.

Assina e divulga a petição

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Trump e o fim de uma era dourada que nunca o foi


Por Ricardo Paes Mamede
A vitória de Trump nas eleições presidenciais americanas foi recebida com preocupação generalizada e há boas razões para isso. Trump tem um modo de fazer política que degrada a democracia e põe em causa o regular funcionamento do Estado de direito. A sua mensagem é contrária à coesão social e à dignidade da pessoa humana, estimulando o ódio, a intolerância e o desprezo pelo ambiente, pela ciência e pelos factos. Ao nível económico, promete uma redução de impostos que agrava as desigualdades e uma política comercial agressiva que desestabiliza as relações internacionais. Pior ainda, o regresso vitorioso de Trump é um estímulo acrescido a todos os partidos e movimentos que, em diferentes países (Portugal incluído), seguem a mesma linha política. Nada de positivo pode vir daqui.
À boleia das críticas a Trump surge muitas vezes o lamento sobre o fim de uma era de globalização supostamente feliz. O anunciado regresso do proteccionismo americano contrastaria com várias décadas de relações comerciais assentes em regras, que teriam contribuído para um bem-estar alargado à escala global.
Esta narrativa tem dois problemas. Primeiro, ignora que a globalização económica contemporânea, com as suas regras e lógicas de funcionamento, criou um conjunto de problemas sérios nas economias e nas sociedades. Segundo, é incapaz de perceber que o sucesso de Trump — e de outros movimentos políticos semelhantes — é mais consequência do que causa dos problemas decorrentes das relações económicas internacionais.
A forte expansão do comércio internacional e dos fluxos financeiros é um dos traços mais marcantes da economia global contemporânea. Sob a promessa de prosperidade generalizada, as fronteiras comerciais foram desmanteladas, abrindo espaço a uma mobilidade sem precedentes de capital, bens e serviços. Países de rendimentos baixos especializaram-se na produção intensiva de bens de consumo a baixo custo, enquanto as nações mais ricas se concentraram em sectores de alta tecnologia e serviços financeiros. Este processo resultou na criação de cadeias de valor globais, fazendo emergir uma interdependência entre economias que foi por muitos recebida como uma promessa de paz e estabilidade. Na verdade, este modelo trouxe um conjunto de distorções e desequilíbrios que colocam em causa a viabilidade de uma economia mundial integrada nos moldes actuais.
A emergência da China como superpotência industrial, assente na instalação em massa naquele país de fábricas das empresas dos países ricos a partir da década de 1980, foi um dos principais factores que contribuíram para agravar os desequilíbrios globais. A deslocalização da capacidade produtiva para a China pretendia tirar partido dos seus baixos custos de produção e aceder a um mercado potencial de grandes dimensões.
Os resultados foram, por um lado, a acumulação de enormes excedentes comerciais e de capacidades tecnológicas pela economia chinesa; por outro lado, a desindustrialização de muitos países ocidentais, com impactos nefastos nas suas estruturas sociais e no seu endividamento externo. Os poucos países que resistiram à desindustrialização daí decorrente foram aqueles que produziam os bens de que a China necessitava para o seu desenvolvimento económico. Como exemplo mais ilustrativo, a economia alemã, tendo um perÆl de especialização assente em máquinas e equipamentos de produção e transporte, viu crescer as suas exportações como poucos, à boleia da procura chinesa. Tal como a China, a Alemanha seguiu uma política de contenção da procura interna (por via de políticas salariais e orçamentais restritivas), traduzindo-se na acumulação de excedentes comerciais signifcativos face aos seus parceiros.
Assim, a par do crescimento exponencial dos movimentos de bens e capitais, a globalização contemporânea caracterizou-se por enormes desequilíbrios nas contas externas, com efeitos negativos na estabilidade financeira internacional. Os países com elevados superavits comerciais reciclaram os seus excedentes financiando os deficits dos países com contas externas negativas. Isto permitiu aos últimos continuar a consumir, mas à custa de um endividamento crescente.
Estes desequilíbrios têm estado na origem das centenas de crises financeiras e recessões económicas ocorridas nas últimas quatro décadas em diversos pontos do globo (incluindo a crise do euro, que arrastou Portugal entre 2010 e 2013). O excesso de crédito e a especulação financeira dão lugar a bolhas no preço dos activos que, ao rebentar, originam recessões profundas. A pandemia e a guerra na Ucrânia vieram acrescentar à lista de efeitos nefastos da globalização os riscos associados a um excesso de interdependência entre países no fornecimento de bens essenciais.
Longe de ser uma era dourada, a globalização económica contemporânea tem estado assim associada a fenómenos de instabilidade social, financeira e económica. Pelo caminho, milhões de trabalhadores nos países desenvolvidos viram os seus empregos desaparecer, os salários estagnar, a precariedade e as desigualdades aumentar. A capacidade dos Estados para fazer face a estes problemas fragilizou-se. Era difícil que isto não se traduzisse em instabilidade política.
Quem lamenta o fim da globalização como a conhecemos até há pouco não se limita a ignorar os aspectos nefastos das regras em vigor. Parece também confundir as vantagens inerentes às trocas comerciais entre países com uma economia global em que “regulação” significa pouco mais do que impor a cada Estado a abertura descontrolada das suas economias à concorrência internacional.
Não haja dúvidas de que o proteccionismo de Trump é simplista e perigoso. O aumento acentuado das taxas aduaneiras, acompanhado de uma atitude de confronto nas relações entre países, poderá resultar numa guerra comercial generalizada, com consequências graves para a economia global.
A solução para os desequilíbrios resultantes da globalização económica deveria, ao invés, passar por uma regulação mais robusta dos sistemas financeiros e por uma coordenação internacional das políticas cambiais e comerciais que permitisse ajustar as contas externas distribuindo as responsabilidades entre os países com excedentes e os países deficitários — na linha do que Keynes propôs há 80 anos, com pouco sucesso, no âmbito das negociações de Bretton Woods.
Na ausência de tais mecanismos de coordenação, não é de espantar que os países recorram aos instrumentos que têm à sua disposição. A solução não é boa. Desmantelar as fronteiras económicas nacionais e esperar que tudo corra pelo melhor, como em larga medida se fez nas últimas décadas, ainda o é menos.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Tufão Gaemi afeta mais de 600.000 pessoas na China após causar cinco mortes em Taiwan

Taiwan na rota de um dos tufões mais violentos dos últimos anos

Cerca de 630.000 pessoas foram afetadas, no sudeste da China, pela chegada do tufão Gaemi, que desencadeou o primeiro alerta vermelho do ano no país, após ter causado cinco mortos e quase 700 feridos em Taiwan.

Segundo a agência de notícias oficial Xinhua, 290.000 habitantes tiveram de ser temporariamente deslocados devido à tempestade, que atingiu a província de Fujian, no sudeste do país, por volta das 19:50 locais (12:50, em Lisboa) de quinta-feira, com ventos máximos de 118,8 quilómetros por hora.

Entre a manhã de quarta-feira e a manhã desta sexta-feira, dezenas de localidades de Fujian registaram precipitações superiores a 250 milímetros (mm), atingindo, em alguns casos, 512,8 mm.

Prevê-se que o tufão se desloque para noroeste a cerca de 20 quilómetros por hora e perca força até chegar à província vizinha de Jiangxi, na tarde de sexta-feira. De acordo com o portal de acompanhamento de tempestades Zoom.earth, o Gaemi já tinha descido para o nível de tempestade tropical, com ventos de 75 quilómetros por hora, às 12:30 locais (05:30, em Lisboa).

Em vésperas da época dos tufões e das inundações, que se verifica normalmente nas últimas semanas de julho e nas primeiras semanas de agosto, as autoridades chinesas apelaram a uma intensificação dos esforços de prevenção e de salvamento.

Preveem-se inundações ao longo das principais bacias hidrográficas, como o rio Amarelo e o Yangtsé e deslizamentos de terras nas zonas montanhosas.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Organização Meteorológica Mundial alerta para impacto humano nas poeiras da atmosfera


A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou hoje para o impacto das atividades humanas na libertação de poeiras na atmosfera, cujas concentrações aumentaram em 2023 em certas zonas do planeta, como China e Mongólia.

“Necessitamos de estar vigilantes face à contínua degradação ambiental e às alterações climáticas. Provas científicas demonstram que as atividades humanas estão a ter impacto nas tempestades de areia e poeiras. Por exemplo, temperaturas mais elevadas, secas e maior evaporação levam a uma menor humidade do solo, que, combinada com a má gestão da terra, conduz a mais tempestades de areia e poeiras”, advertiu, citada em comunicado, a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.

Segundo a OMM, que hoje divulgou o relatório anual sobre poeiras, no Dia Internacional de Combate às Tempestades de Areia e Poeiras, todos os anos “cerca de dois mil milhões de toneladas de poeiras entram na atmosfera, escurecendo os céus e prejudicando a qualidade do ar em regiões que podem estar a milhares de quilómetros de distância, afetando economias, ecossistemas, tempo e clima”.

Em grande parte, tal deve-se a “uma má gestão da água e da terra”, assinala a OMM, agência da ONU, organização liderada pelo português António Guterres que estima que pelo menos 25% das emissões globais de poeiras têm origem em atividades humanas.

De acordo com o relatório hoje publicado, as concentrações médias de poeiras aumentaram em 2023 no oeste da Ásia Central, no centro-norte da China e no Sul da Mongólia face a 2022.

No ano passado, a tempestade de areia mais severa ocorreu em março na Mongólia, atingindo uma área de mais de quatro milhões de metros quadrados, incluindo 20 províncias da China.

No hemisfério sul, as concentrações de poeiras alcançaram o seu nível mais alto em partes da Austrália Central e na costa oeste da África do Sul.

De acordo com a OMM, as regiões mais vulneráveis ao transporte de poeiras de longa distância são o norte do oceano Atlântico tropical, entre a África Ocidental e as Caraíbas, a América do Sul, o mar Mediterrâneo, o mar Arábico, a baía de Bengala e o Centro-Leste da China.

Em 2023, o pico anual estimado para a concentração média de poeiras registou-se em algumas áreas do Chade, país no Centro-Norte de África abrangido pelo deserto do Sara.

No ano passado, em agosto, uma nuvem de poeiras do norte de África afetou a qualidade do ar em Portugal continental.

As poeiras com origem nesta região do globo voltaram em 2024 a afetar Portugal, e com mais frequência, nos meses de março, abril e junho.

Mas nem tudo é mau, segundo a Organização Meteorológica Mundial, que, citando um novo estudo, realça que a deposição de poeiras do Sara nas águas do Atlântico favorece o crescimento de fitoplâncton (algas microscópicas e cianobactérias), de que se alimentam peixes como o atum-bonito, cuja captura aumentou entre as décadas de 1950 e 2020.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Oito mortos no centro da China na sequência de fortes chuvas


Oito pessoas morreram num deslizamento de terras em Douxi, na província de Hunan, no centro da China, após fortes chuvas na região, avançou hoje a agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

As fortes chuvas afetaram sobretudo as províncias de Hunan, Anhui (leste) e Guizhou (centro) e exigiram a retirada no domingo de milhares de vítimas das inundações, detalhou a Xinhua.

As autoridades meteorológicas chinesas advertiram que a chuva persistente e os aguaceiros torrenciais vão continuar no norte e centro de Hunan esta semana, com riscos de mais inundações, riscos geológicos e alagamentos em áreas urbanas.

Em Anhui, chuvas generalizadas atingiram áreas a sul da capital, Hefei, entre sábado e domingo, levando à retirada de cerca de 30 mil residentes e ao resgate de quatro mil pessoas que ficaram presas.

Em Guizhou, as fortes chuvas registadas desde sexta-feira levaram à retirada de sete mil pessoas e afetaram outras 213.300.

Na semana passada, pelo menos 38 pessoas morreram devido às fortes chuvas na província de Guangdong, no sudeste do país.

Devido à influência de fenómenos como o El Niño, prevê-se que a China venha a registar inundações e secas até agosto, período durante o qual os principais rios do país poderão extravasar os leitos, informou recentemente o Ministério dos Recursos Hídricos da China.

Nos últimos verões, os fenómenos meteorológicos extremos causaram estragos no país asiático: o verão de 2023 foi marcado por inundações em Pequim que causaram a morte de mais de 30 pessoas, enquanto em 2022 várias ondas de calor extremo e secas atingiram o centro e o leste da China.

Em julho de 2021, chuvas de uma intensidade que não se via há décadas fizeram cerca de 400 mortos na província de Henan, no centro do país, que o Governo chinês atribuiu a uma “falta de preparação e de perceção dos riscos” por parte das autoridades locais.

terça-feira, 21 de maio de 2024

Como conter enchentes, segundo criador das 'cidades-esponja': 'Barragens estão fadadas ao fracasso'

Eventos atmosféricos extremos com períodos prolongados de fortes chuvas e inundações, como as ocorridas no Rio Grande do Sul nas últimas semanas, se tornarão cada vez mais comuns e intensos, segundo os cientistas.

Mas o que as cidades podem fazer para evitar ou mitigar esse tipo de tragédia?

Para o criador do conceito de cidades-esponja, o arquiteto chinês Kongjian Yu, a resposta está em parar de "lutar contra a água" e investir em soluções duradouras e baseadas na natureza.

"Temos uma escolha a fazer: investir em grandes barragens e diques que estão fadados a fracassar ou apostar em algo que é duradouro, sustentável e ainda bonito e produtivo", questionou o decano da faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim em entrevista à BBC News Brasil.

Para Yu, as soluções tradicionais baseadas em barragens de cimento e tubulações impermeáveis já se mostraram incapazes de acompanhar os efeitos das mudanças climáticas, já que as chuvas são cada vez mais intensas e o nível da água de rios e mares não para de subir.

Como alternativa, o arquiteto propõe adotar uma infraestrutura verde, baseada em um balanço hídrico artificial que seja o mais parecido possível com o natural e dê espaço e tempo para que a água seja absorvida pelo solo.

Em outras palavras, criar espaços e infraestruturas capazes de absorver, reter e liberar a chuva de forma que ela retorne ao ciclo natural da água sem causar estragos.

O conceito já foi aplicado pela equipe de Yu em diversas cidades na China e também na Tailândia, Indonésia e Rússia — e por outros arquitetos em todo o mundo.

Segundo o chinês, ele pode ser reproduzido em qualquer lugar, inclusive no Brasil.

"Funciona em qualquer lugar. As cidades-esponja são uma solução para climas extremos, onde quer que eles estejam", diz.

"E o Brasil pode se dar muito bem com elas, porque tem muitas áreas naturais, o que dá mais espaço para a água escoar."

De acordo com o arquiteto, além de impedir inundações, o modelo também pode ser útil durante os períodos de seca, já que a água armazenada pode ser utilizada para irrigação e para manter as árvores e plantas da cidade em boas condições.

Além das fortes chuvas, períodos mais prolongados de seca também são efeitos das mudanças climáticas.

Antes de sofrerem com as inundações, muitos produtores gaúchos já haviam sido castigados pela falta de água no ano safra de 2021/22.

Mas para que o conceito das cidades-esponja funcione, ele deve se basear em três grandes estratégias, segundo Kongjian Yu.

1. Contenção da água
O primeiro princípio adotado nos projetos do chinês é reter a água assim que ela toca o solo. Segundo Yu, isso pode ser alcançado por meio de grandes áreas permeáveis e porosas, não pavimentadas.

Da mesma forma que uma esponja com muitos orifícios, a cidade deve conter a chuva com lagos artificiais e áreas de açude alimentados naturalmente ou por canos que ajudam a escoar a água de rios e represas.

Telhados e fachadas verdes, assim como valas com áreas verdes com camadas de solo permeáveis ​​por baixo também são usadas para esse propósito.

Kongjian Yu explica que, em áreas cultiváveis, reservar 20% do terreno para operar como um sistema de açude é suficiente para impedir que o restante do lote seja inundado. Essa área pode ainda ser adaptada para colheitas resistentes à umidade e para posteriormente abastecer o restante das plantações em épocas de seca.

Apesar de ser algo recente, a base teórica na qual as cidades-esponja resgata as antigas tradições chinesas da agricultura e da gestão da água.

"Temos que aprender com a aquacultura como fazer essa terra fértil, quais culturas podem sobreviver e usar essas áreas para isso", diz. "O arroz é um exemplo de uma plantação que pode funcionar."

2. Redução da velocidade
Em seguida, o arquiteto aconselha pensar no manejo da água coletada. Isto é, desacelerar o fluxo d'água.

Em vez de tentar canalizar a água rapidamente para longe em linhas retas, rios tortuosos com vegetação ou várzeas reduzem a velocidade da água.

Eles oferecem mais um benefício, que é a criação de áreas verdes, parques e habitats para animais, purificando a água escoada na superfície com plantas que removem toxinas poluentes e nutrientes.

Yu conta que se interessou pelo tema da urbanização e da contenção das águas após vivenciar uma experiência com inundações durante a infância.

Na época com apenas 10 anos, o chinês vivia em uma fazenda na Província de Zhejiang, perto de Hangzhou. Durante um período de fortes chuvas, o córrego da região inundou os campos de arroz da comunidade agrícola e Yu foi pego pelas águas, carregado pela enchente.

Mas as plantas, troncos e salgueiros ao longo do córrego reduziram a velocidade do fluxo do rio, permitindo que ele se agarrasse à vegetação e saísse das águas.

"Se o rio fosse como muitos são hoje, nivelados com paredes de concreto, certamente eu teria me afogado", contou Yu à BBC.

As técnicas usadas pelo arquiteto em seus projetos atuam da mesma forma que a vegetação no córrego na fazenda de Yu, desacelerando a água.

3. Escoamento e absorção
A terceira estratégia é adaptar as cidades para que elas tenham áreas alagáveis, para onde a água possa escorrer sem causar destruição.

"Em vez de construir barragens e ir acumulando a água em áreas de cimento, precisamos nos adaptar à água, deixa a cidade lidar com a água de forma saudável", diz Yu.

A principal forma de fazer isso é criar grandes estruturas naturais alagáveis para que a água possa ser contida por um tempo e, depois, absorvida pelo lençol freático.

Yu defende que essas áreas alagáveis permaneçam desocupadas, evitando-se construções nas áreas baixas.

Nos casos de infiltração, podem ser feitas caixas infiltrantes, que facilitam a entrada da água no solo.

Algumas cidades usam "jardins de chuva" que armazenam o excesso de chuva em tanques subterrâneos e túneis. A água só é descartada nos rios depois que os níveis diminuem.

Plantas que absorvem água também podem ser usadas para dar conta do alto volume de chuvas.

"A natureza se adapta. O conceito de cidade-esponja é baseado no princípio de que a natureza regula a água", diz o arquiteto. "Não é apenas a natureza em si. Sistemas feitos pelo homem devem ser certamente usados, mas a natureza deve ser dominante."

Yu afirma ainda que, para conter as grandes inundações previstas para os próximos anos, é preciso expandir essa estratégia por várias regiões e criar um "planeta-esponja" onde a força das águas possa ser dissipada e desacelerada aos poucos.

Ainda na visão do chinês, além de parques adaptados e áreas cultiváveis capazes de absorver mais água, lagoas e pântanos podem coexistir com rodovias e arranha-céus.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Música do BioTerra: Joe Strummer - Forbidden City



Okay, dream of freedom
Under the moon in the dragon room
Inside the mind of a soul confined
Don't talk about soon in the dragon room
Under the scream of a jet machine
Who knows in the hills
Who knows when she will

[Refrão] 4x
When all the hidden pity in the Forbidden City comes out

Gold silk in a loom in the dragon room
That silk that will be for the flag of the free
Who knows in the hills
Who knows when she will

[Refrão]

Yeah, China
Whoa, oh, China
Yeah, China

[Refrão]

Oh, China

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Dezenas de milhões de pessoas neste país bebem água contaminada com arsénico. A situação pode piorar muito


Incolor, insípido e inodoro. O arsénio é um assassino furtivo, naturalmente abundante nas rochas e no solo da Terra. É muito tóxico na sua forma inorgânica, sendo encontrado nos níveis elevados das águas subterrâneas. Há vários países onde se verificam contaminações por arsénico

Começou com pontos espalhados pelo peito e costas das pessoas. Manchas duras invulgares na pele das palmas das mãos e nas solas dos pés. Para alguns, um escurecimento dos dedos dos pés.

Médicos e investigadores começaram a observar pacientes no Bangladesh que apresentavam este tipo de sintomas na década de 1980. Rapidamente se tornou claro o que estavam a ver: sinais clássicos de envenenamento por arsénico.

Numa trágica ironia, a razão acabou por ser atribuída a um programa de saúde pública de enorme sucesso.

Na década de 1970, as crianças do Bangladesh morriam em grande número devido a doenças como a disenteria e a cólera, depois de beberem água suja dos rios, lagos e ribeiros. Em resposta, o governo do Bangladesh, juntamente com agências de ajuda lideradas pela UNICEF, lançou um enorme esforço para obter água mais limpa no subsolo.

Ao longo das duas décadas seguintes, milhões de poços tubulares - tubos estreitos perfurados a profundidades relativamente pequenas - foram enterrados na terra. "No espaço de uma geração, mudaram o comportamento da água potável de toda uma população", disse Seth Frisbie, químico e professor emérito da Universidade de Norwich, que passou décadas a investigar a contaminação por arsénico.

Os números de crianças a morrer diminuíram significativamente. Ainda assim, nos anos 90, tornou-se claro que o projeto tinha falhado a ter em conta um problema enorme e mortal: grande parte das águas subterrâneas continha níveis elevadíssimos de arsénico, um conhecido agente cancerígeno ligado a uma série de outros impactos negativos para a saúde.

Os especialistas em saúde classificaram-no como o "pior envenenamento em massa" de uma população na história - com dezenas de milhões de pessoas afetadas. Embora o governo, a UNICEF e outras agências de ajuda humanitária se tenham esforçado por combater a contaminação, os impactos do envenenamento continuam a ser generalizados. Estima-se que 43.000 pessoas morrem todos os anos devido a doenças relacionadas com o arsénico no Bangladesh, de acordo com um estudo.

Agora, numa reviravolta cruel, a situação pode estar a piorar. Novas evidências sugerem que os impactos da crise climática causada pelo homem - incluindo as inundações e o aumento do nível do mar - estão a alterar a química da água no subsolo e a aumentar ainda mais os níveis de arsénico.


O problema estende-se muito para além do Bangladesh.
Um número crescente de estudos realizados noutros países, incluindo os Estados Unidos, sugere que o aquecimento global pode estar a superalimentar o problema da água contaminada com arsénico em todo o mundo.

"Afeta todos os órgãos do corpo"
O arsénico é naturalmente abundante nas rochas e no solo da Terra. É muito tóxico na sua forma inorgânica, sendo encontrado nos níveis elevados das águas subterrâneas, não só no Bangladesh, mas também em países como a Índia, China, Taiwan, Vietname, Argentina, Chile, México, partes da Europa, Austrália e EUA.

Enquanto as águas superficiais poluídas adoecem rapidamente as pessoas, o arsénico é um assassino furtivo.

É incolor, insípido e inodoro. Não há forma de o detetar sem testes e os seus impactos tendem a surgir ao fim de muitos anos.

A exposição crónica pode revelar-se através da pele endurecida das mãos e dos pés, chamada queratose, do aparecimento de manchas pigmentadas na pele e até da "doença do pé negro", uma doença vascular que pode causar gangrena - tecido morto causado pela falta de fluxo sanguíneo.

Os seus efeitos nocivos continuam no interior do corpo das pessoas, onde aumenta o risco de cancro da pele, do fígado, dos pulmões e da bexiga, bem como de doenças cardíacas e diabetes. O arsénico também tem sido associado à perda da gravidez, a atrasos no desenvolvimento das crianças e a doenças respiratórias.

"Afeta todos os órgãos do corpo", afirma Rubhana Raqib, cientista sénior do Centro Internacional de Investigação sobre Doenças Diarreicas no Bangladesh (ICDDR,B - na sigla original).

Alguns peritos sugeriram que a escala do envenenamento no Bangladesh ultrapassa largamente a de outras catástrofes mais conhecidas causadas pelo homem, como o desastre nuclear de Chernobyl. Mas o número exato de mortos é quase impossível de calcular, em parte devido às dificuldades em desvendar as causas do cancro.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 140 milhões de pessoas em pelo menos 70 países têm bebido água contaminada com arsénico a níveis que excedem o limite recomendado de 10 microgramas por litro.

No Bangladesh, onde as diretrizes do governo estão fixadas numas menos restritivas 50 microgramas, acredita-se que milhões de pessoas terão sido afetadas.

Um enorme estudo de análise de poços realizado pelo British Geological Survey, que teve início em 1998 e abrangeu a maior parte do Bangladesh, revelou que 27% dos poços tubulares menos profundos excediam as diretrizes do país, afetando cerca de 35 milhões de pessoas. Cerca de 57 milhões de pessoas foram expostas a níveis que violavam as indicações de 10 microgramas da OMS, de acordo com o estudo - aproximadamente 45% da população.

Frisbie, que passou algum tempo no Bangladesh a produzir mapas da água potável afetada pelo arsénico, disse que o número era evidente.

"Percorri aldeias onde ninguém tinha mais de 30 anos", disse à CNN.

Mesmo as normas mais rigorosas em matéria de arsénico recomendadas pela OMS e adotadas por países como os EUA não proporcionam proteção suficiente, afirmou. "O arsénico é extremamente tóxico. Só porque está a um determinado nível que o governo diz ser seguro... não significa que seja seguro, não significa que as pessoas não vão morrer."

O aquecimento global pode aumentar os riscos
Os riscos são cada vez maiores à medida que os seres humanos continuam a queimar combustíveis fósseis que aquecem o planeta.

Os impactos cada vez mais graves das alterações climáticas podem mudar a química das águas subterrâneas, de acordo com um estudo recente de que Frisbie é coautor.

Isto significa mais problemas para o Bangladesh, que está firmemente na linha da frente da crise climática. Baixa e densamente povoada e com uma longa costa, enfrenta uma imensidão de ameaças, desde a subida do nível do mar até às inundações - todos os anos, cerca de 20% do país fica submerso.

As inundações podem impedir que o oxigénio da atmosfera penetre nas águas subterrâneas, de acordo com a investigação, o que, por sua vez, pode aumentar a libertação de arsénico dos sólidos e sedimentos para a água - um processo designado por "redução".

A subida do nível do mar representa outro desafio, provocando a infiltração de água salgada nas fontes de água subterrâneas. Isto não só faz com que a água tenha um sabor mais salgado, como a presença de sal pode também aumentar as concentrações de arsénico, fazendo com que este se dissolva na água através de um fenómeno chamado "efeito salino".

domingo, 24 de março de 2024

Ponto de situação da Energia Nuclear no Mundo


Europa, EUA e China
Numa cimeira internacional sobre energia nuclear que decorreu durante um dia em Bruxelas, na Bélgica, 34 nações apoiaram uma declaração de apoio à energia nuclear. Os países apelam aos reguladores para que desbloqueiem totalmente o potencial da energia nuclear, numa declaração que tinha como principal objetivo atrair o apoio dos bancos de desenvolvimento para financiar a sua instalação e manutenção. Além de se comprometerem com a construção de novas centrais nucleares em geral, a declaração também defende a rápida implantação de reatores avançados, incluindo pequenos reatores modulares, em todo o mundo. No entanto, acrescenta que, na Europa, ainda existem alguns países, como a Alemanha e a Áustria, que se opõem ao nuclear e querem que o investimento em energia com baixo teor de carbono se concentre nas energias renováveis. Fontes: AP, Euronews e Reuters.

Alemanha
Um estudo encomendado pelo Serviço Federal Alemão para a Segurança da Gestão dos Resíduos Nucleares, examinou os vários tipos de reatores nucleares em desenvolvimento no mundo, analisando a sua economia, segurança e potencial de resíduos radioativos e conclui que os problemas conhecidos da tecnologia nuclear não são susceptíveis de serem resolvidos pelos novos tipos de reatores. No entanto, políticos dos partidos União Democrata-Cristã da Alemanha (CDU) e Partido Democrata Livre (FDP) propuseram recentemente o relançamento da energia nuclear. Martin Schlak, Der Spiegel.

Austrália
O Dr. Alan Finkel, presidente do Centro de Excelência ARC para a Biotecnologia Quântica da Universidade de Queensland e antigo cientista-chefe da Austrália, explica que, apesar das recentes posturas políticas na Austrália, o país não está prestes a assistir a um aumento dramático da energia nuclear. "Embora a energia nuclear possa ressurgir a nível mundial e vir a ter um papel na Austrália, neste momento, por muita intenção que haja de ativar uma indústria de energia nuclear, é difícil de prever antes de 2040", afirma. Finkel atribui esta situação aos custos elevados e aos prazos longos, salientando que a Austrália é a única nação do G20 a ter uma proibição legislativa da energia nuclear, que teria de ser levantada antes de se poderem construir reatores. A nação também estaria a começar do zero e é "improvável que a Austrália passe de retardatária a líder", salienta. Finkel afirma que a energia eólica e solar devem ser a prioridade na Austrália e que "qualquer apelo para passar diretamente do carvão para o nuclear é efetivamente um apelo para atrasar a descarbonização do nosso sistema de eletricidade em 20 anos".

sexta-feira, 22 de março de 2024

A Revolution in American Foreign Policy


A sad fact about the politics of Washington is that some of the most important issues facing the United States and the world are rarely debated in a serious manner. Nowhere is that more true than in the area of foreign policy. For many decades, there has been a “bipartisan consensus” on foreign affairs. Tragically, that consensus has almost always been wrong. Whether it has been the wars in Vietnam, Afghanistan, and Iraq, the overthrow of democratic governments throughout the world, or disastrous moves on trade, such as entering the North American Free Trade Agreement and establishing permanent normal trade relations with China, the results have often damaged the United States’ standing in the world, undermined the country’s professed values, and been disastrous for the American working class.

This pattern continues today. After spending billions of dollars to support the Israeli military, the United States, virtually alone in the world, is defending Prime Minister Benjamin Netanyahu’s right-wing extremist government, which is waging a campaign of total war and destruction against the Palestinian people, resulting in the deaths of tens of thousands—including thousands of children—and the starvation of hundreds of thousands more in the Gaza Strip. Meanwhile, in fear-mongering around the threat posed by China and in the continued growth of the military industrial complex, it’s easy to see that the rhetoric and decisions of leaders in both major parties are frequently guided not by respect for democracy or human rights but militarism, groupthink, and the greed and power of corporate interests. As a result, the United States is increasingly isolated not just from poorer countries in the developing world but from many of its long-standing allies in the industrialized world, as well.

Given these failures, it is long past time to fundamentally reorient American foreign policy. Doing so starts with acknowledging the failures of the post–World War II bipartisan consensus and charting a new vision that centers human rights, multilateralism, and global solidarity.

A shameful track record 
Dating back to the Cold War, politicians in both major parties have used fear and outright lies to entangle the United States in disastrous and unwinnable foreign military conflicts. Presidents Johnson and Nixon sent nearly three million Americans to Vietnam to prop up an anticommunist dictator in a Vietnamese civil war under the so-called domino theory—the idea that if one country fell to communism the surrounding countries would fall as well. The theory was wrong, and the war was an abject failure. Up to three million Vietnamese were killed, as were 58,000 American troops.

The destruction of Vietnam was not quite enough for Nixon and his Secretary of State Henry Kissinger. They expanded the war into Cambodia with an immense bombing campaign that killed hundreds of thousands more people and fueled the rise of the dictator Pol Pot, whose subsequent genocide killed up to two million Cambodians. In the end, despite suffering enormous casualties and spending huge amounts of money, the United States lost a war that never should have been fought. In the process, the country severely damaged its credibility abroad and at home.

Washington’s record in the rest of the world was not much better during this era. In the name of combating communism and the Soviet Union, the U.S. government supported military coups in Iran, Guatemala, the Democratic Republic of Congo, the Dominican Republic, Brazil, Chile, and other countries. These interventions were often in support of authoritarian regimes that brutally repressed their own people and exacerbated corruption, violence, and poverty. Washington is still dealing with the fallout from such meddling today, confronting deep suspicion and hostility in many of these countries, which complicates U.S. foreign policy and undermines American interests.

A generation later, after the 9/11 terrorist attacks in 2001, Washington repeated many of these same mistakes. President George W. Bush committed nearly two million U.S. troops and over $8 trillion to a “global war on terror” and catastrophic wars in Afghanistan and Iraq. The Iraq war, much like Vietnam, was built on an outright lie. “We cannot wait for the final proof—the smoking gun that could come in the form of a mushroom cloud,” Bush infamously warned. But there was no mushroom cloud and there was no smoking gun, because the Iraqi dictator Saddam Hussein didn’t have any weapons of mass destruction. The war was opposed by many U.S. allies, and the Bush administration’s unilateral, go-it-alone approach in the run-up to the war severely undermined American credibility and eroded trust in Washington around the world. Despite this, supermajorities in both chambers of Congress voted to authorize the 2003 invasion.

The Iraq war was not an aberration. In the name of the global war on terror, the United States carried out torture, illegal detention, and “extraordinary renditions,” snatching suspects around the world and holding them for long periods at the Guantánamo Bay prison in Cuba and CIA “black sites” around the world. The U.S. government implemented the Patriot Act, which resulted in mass surveillance domestically and internationally. The two decades of fighting in Afghanistan left thousands of U.S. troops dead or wounded and caused many hundreds of thousands of Afghan civilian casualties. Today, despite all that suffering and expenditure, the Taliban is back in power.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Ilustração gerada por IA de rato com pénis gigante é publicada em revista científica


Pesquisadores tiveram de retirar do ar um trabalho científico publicado na revista Frontiers in Cell Development and Biology na última semana. O motivo foi a presença de uma ilustração gerada por Inteligência Artificial (IA) de um rato com um pênis gigante.

Na imagem publicada no periódico científico, o membro parecia ter o dobro do tamanho do roedor. Os responsáveis pelo trabalho explicaram no conteúdo que o serviço de inteligência artifical MidJourney gerou algumas das imagens para a pesquisa.

Na última sexta-feira (16), os responsáveis pela revista até pediram desculpas pelo ocorrido. Contudo, chama a atenção o fato do artigo ter passado por todos os processos de revisão até ser publicado, como costuma acontecer em periódicos como esse.

A pesquisa publicada era sobre células-tronco e foi produzida por três cientistas da China. Um pesquisador da Índia editou o material, que ainda foi revisto por duas pessoas, dos Estados Unidos e da Índia. Porém, a ilustração grotesca não foi retirada.

Em nota publicada pela empresa de media Frontiers, os responsáveis pela revista explicaram que um dos revisores até levantou uma dúvida sobre a ilustração e até pediu que os autores verificassem o assunto, mas não tiveram resposta e o material foi publicado.

Vale citar que o regulamento da revista Frontiers in Cell Development and Biology não proíbe o uso de ferramentas baseadas em IA generativa, desde que os autores responsáveis deixem claro isso no projeto e verifiquem o que foi desenvolvido via software.

Mais Info: Vice

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

A riqueza em África e o falso nacionalismo


Porque razão África é apetecível, maltratada, dizimada, colonizada, destruída e sem Paz e não nos dá Paz. A razão dos refugiados e imigrantes para a Europa tem culpados. O maior deles é China. Não sejamos puristas, nem nacionalistas e o raio que vos parta. Não sejamos hipócritas!

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Tic tac. Estamos a 90 segundos do fim, continua a marcar Relógio do Apocalipse



O Relógio do Apocalipse diz, de novo, que estamos a 90 segundos da meia-noite, o que significa a destruição da humanidade.

Os especialistas da revista Bulletin of Atomic Scientist acertaram esta terça-feira os ponteiros e, tal como no ano passado, continuamos bem perto do dia do "juízo final", ou seja a 90 segundos da meia-noite, que é como quem diz para a auto-destruição da humanidade.

Pela 77ª vez, o Dooms Day Clock é acertado e representa um alerta que a comunidade científica faz à humanidade, uma chamada de atenção para o dia em que tudo termina.

"A humanidade continua a enfrentar um nível de perigo sem precedentes", refere a Bulletin of Atomic Scientist, responsável por acertar o relógio, que mantém-se a 90 segundos da meia-noite, tal como em 2023, ano em que a proximidade da humanidade ao dia da auto destruição foi justificada pela guerra na Ucrânia, mais concretamente a ameaça nuclear proveniente da Rússia.

Este ano, os ponteiros do relógio voltaram a ser acertados, mas mantemo-nos a 90 segundos, apenas um minuto e meio, da meia-noite. O que não significa estagnação. "A nossa decisão não deve ser tomada como um sinal de que a situação da segurança internacional se atenuou. Em vez disso, os líderes e os cidadãos de todo o mundo devem encarar esta declaração como um aviso severo e reagir com urgência, como se hoje fosse o momento mais perigoso da história moderna. Porque pode muito bem ser", alerta o Conselho de Ciência e Segurança do Boletim.

Aliás, o mundo enfrenta mais uma guerra, agora no Médio Oriente, entre Israel e o grupo extremista palestiniano Hamas.

Além da guerra na Ucrânia, o mundo enfrenta a ameaça das armas nucleares, com a deterioração dos acordos de redução deste tipo de armamento, as alterações climáticas, que levaram a que 2023 fosse considerado como o ano mais quente já registado. Os avanços nas tecnologias de engenharia genética, bem como os registados na área da Inteligência Artificial também preocupam.

"Não se deixem enganar: acertar o relógio a 90 segundos para a meia-noite não é uma indicação de que o mundo está estável. Muito pelo contrário. É urgente que os governos e as comunidades em todo o mundo ajam. E o Boletim continua esperançoso – e inspirado – em ver as gerações mais jovens liderar a luta”, refere Rachel Bronson, presidente e diretora executiva do Bulletin of Atomic Scientist, em comunicado.

Para Jerry Brown, presidente executivo do Boletim, é como se os líderes mundiais "estivessem no Titanic". Afinal, "estão a conduzir o mundo para a catástrofe – mais bombas nucleares, grandes emissões de carbono, patógenos perigosos e inteligência artificial". "Só as grandes potências como a China, a América e a Rússia podem fazer-nos recuar. Apesar dos antagonismos profundos, eles devem cooperar – ou estaremos condenados", conclui o responsável.

Fundado em 1945 por Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer e cientistas da Universidade de Chicago que ajudaram a desenvolver as primeiras armas atómicas no âmbito do Projeto Manhattan, o Bulletin of the Atomic Scientists criou o Relógio do Apocalipse dois anos mais tarde, em 1947, "um indicador universalmente reconhecido da vulnerabilidade do mundo a catástrofes globais causadas por tecnologias criadas pelo homem".

Saber mais:

sábado, 20 de janeiro de 2024

Documentário: Cobalto - O Reverso do Sonho Elétrico


O carro elétrico promete uma transição ecológica limpa. O mercado automóvel global concentra esforços numa produção competitiva cuja chave é a exploração do ouro azul: o cobalto. O minério necessário para as baterias é encontrado principalmente no Congo. Mas a que preço?

“Uma Apple para ajudar. » É nestes termos que um coro de mineiros congoleses apela à comunidade internacional. Também lista os nomes de outros grandes grupos industriais ávidos por baterias eléctricas e, portanto, ávidos por cobalto, como Nokia, Samsung, Huawei, Tesla, BMW e General Motors. Essa música abre o documentário dirigido por Quentin Noirfalise e Arnaud Zajtman. Ele também fecha, dizendo: “Temos medo das suas baterias. »

Entretanto, o documentário leva-nos aos bastidores da mineração de cobalto. O lado negro do carro verde. Na verdade, este mineral azul é a chave para conduzir sem poluir. São necessários quase 10 quilos por bateria. No entanto, no meio de uma crise climática, o carro eléctrico traz a promessa de uma transição ecológica e está a tornar-se uma questão importante para os fabricantes de automóveis. Todos querem garantir o seu fornecimento dos chamados metais “estratégicos”, incluindo o cobalto. Sabendo que o subsolo da República Democrática do Congo (RDC) detém a maior parte.

Os administradores mostram-nos que esta riqueza, aumentada pelo aumento dos preços do cobalto, não beneficia a população congolesa. Com testemunhos de ONG internacionais e activistas locais, lançam luz sobre o custo ambiental e humano desta extracção mineira. Vamos com um “escavador” às profundezas das chamadas minas “artesanais”; ele fala do seu medo de uma tarefa perigosa e mal remunerada. Estas minas não oficiais foram apontadas pela Amnistia Internacional por utilizarem trabalho infantil. Uma investigação que causou alvoroço quando foi publicada.

Poluição e corrupção
Outros depoimentos vêm de agricultores cujos campos foram afetados pela poluição das águas dos rios, carregadas de resíduos de extração. Contaminação que afeta a saúde das populações. Finalmente, o documentário fala-nos sobre a corrupção que cercou a atribuição das ricas jazidas do país a grandes grupos mineiros internacionais, em detrimento das finanças da RDC.

Perante esta situação e o risco de dependência, a Europa tenta encontrar formas de aumentar a sua soberania. Uma fábrica de reciclagem belga colocou metais infinitamente recicláveis ​​de volta no circuito industrial. Uma mina finlandesa seria reiniciada para explorar um veio de cobalto – mas ONG denunciam as falhas do grupo mineiro, já condenado em 2012 a encerrar o local após poluição das águas circundantes. A soberania europeia também envolveu a construção de gigafábricas de baterias face à hegemonia chinesa. Uma abordagem ilustrada pelo projecto Northvolt na Suécia .

Depois de assistir a este documentário bastante completo, o espectador terá uma nova visão do carro elétrico.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Juntos somos um Só(nho)


Tenho amigos casados com japonesas, outros com vietnamitas, muitos casados com pessoas dos países da CPLP. Os meus vizinhos são uma família de brasileiros. Tive na minha carreira docente turmas multiculturais. Dei-me bem. Ucranianos, russos, sírios, judeus, afrodescendentes, japoneses, chineses, alemães, belgas, franceses e brasileiros. Era uma festa!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Inédito - Cientistas conseguem manipular microbioma das plantas para aumentar proteção das plantas contra bactérias


Pela primeira vez, os investigadores da Universidade de Southampton conseguiram manipular o microbioma das plantas para melhorar a saúde das culturas, aumentando a presença de bactérias boas nas plantas. Os resultados do estudo, publicado na revista Nature Communications, poderão reduzir a necessidade e a dependência de pesticidas que são normalmente prejudiciais para o ambiente.

Os microbiomas do intestino humano influenciam o sistema imunitário, que luta contra os organismos causadores de doenças. Nas plantas, microbiomas como bactérias, fungos, vírus e outros microorganismos presentes nas raízes, caules e folhas afectam a vulnerabilidade das plantas a várias doenças.

A equipa de investigação descobriu que a sobreexpressão de um gene específico encontrado no cluster de biossíntese de lignina da planta de arroz aumentava as bactérias benéficas no microbioma da planta. Os resultados mostraram que as plantas modificadas são mais resistentes à praga bacteriana nas culturas de arroz, uma causa comum de perdas de rendimento nos países asiáticos.

“Pela primeira vez, conseguimos alterar a composição do microbioma de uma planta de uma forma direcionada, aumentando o número de bactérias benéficas que podem proteger a planta de outras bactérias nocivas”, afirmou Tomislav Cernava, coautor do artigo e Professor Associado da Universidade de Southampton. Atualmente, os investigadores estão a explorar a presença de outros micróbios benéficos para melhorar ainda mais a saúde das plantas. 

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Computação quântica e criptografia


Um artigo altamente recomendado da Reuters, “ EUA e China correm para proteger os segredos dos computadores quânticos ” , explora a corrida entre a China e os Estados Unidos para poder começar a usar a computação quântica para quebrar sistemas de criptografia criptográfica, pelo poder de forma praticamente ilimitada e, inversamente, considerando como proteger os seus repositórios de informação estratégica de tecnologias capazes de decifrá-la.

O artigo e o infográfico que o acompanha são abertos e vão um pouco além da simplicidade com que muitos usam o argumento de que “assim que chegarem os computadores quânticos, a criptografia será inútil e todos poderemos acessar toda a informação”. na realidade, a chamada criptografia quântica não é tão simples nem tão imediata como alguns tentam propor, não se reduz simplesmente a um suposto ataque de força bruta com poder ilimitado, e claro, o avanço da tecnologia já propõe modelos de pós -computação quântica capaz de resistir a este tipo de desenvolvimentos (que, por outro lado, ainda estão longe de serem estáveis ​​ou de poderem ser utilizados de forma sistemática).

Estamos a falar de uma disciplina da qual o seu proponente mais representativo, Richard Feynman , chegou ao ponto de dizer "Acho que posso dizer com segurança que ninguém entende a mecânica quântica", uma afirmação que provavelmente ainda é verdadeira hoje, trinta e seis anos depois. após sua morte. . É claro que veremos avanços nesta área e tempos como o atual, em que as superpotências tentam acessar todo tipo de informação criptografada com a ideia, sobretudo, de poder armazená-la para descriptografá-la quando os computadores quânticos e as metodologias para isso estão suficientemente desenvolvidos. Alguns afirmam, de facto, que tudo o que circula nas redes é encriptado – uma percentagem crescente de todo o tráfego, dada a popularização do protocolo HTTPS com atores como Let’s Encrypt , que permitem que até o tráfego gerado por esta humilde página seja encriptado – pode em algum momento será decifrado, o que leva alguns a ficarem obcecados em capturar tudo para quando esse dia chegar. Será por causa do trânsito!

Porém, devemos propor uma visão dinâmica da tecnologia, e entender que assim que a criptografia quântica atingir uma certa maturidade, veremos a implementação, por tudo que a justifique, da criptografia pós-quântica. O chamado Dia Q é frequentemente referido como o dia do advento da quebra de código através da computação quântica e alguns, de facto, situam-no em algum momento entre o próximo ano e meados do século , mas o desenvolvimento de metodologias capazes é normalmente ignorado para resistir ao tipo de ataque imposto pela computação quântica , uma área em que já existem numerosos desenvolvimentos que não são implementados, simplesmente porque representam uma mudança complexa e ainda não são considerados necessários.

Já há alguns anos, sempre que menciono algo relacionado à criptografia, tenho que responder à pergunta sobre o que acontecerá quando a computação quântica atingir a maturidade, e minha resposta sempre foi a mesma: as tecnologias não amadurecem da noite para o dia muito menos – e, quando o fazem, por sua vez, permitem-nos confiar no seu desenvolvimento para fazer avançar todas as disciplinas relacionadas. A objeção, portanto, não é tão simples nem tão imediata. Ainda temos criptografia por um tempo.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Perovskite - a energia do futuro?

O silício tem sido o cavalo de batalha para o fabrico de painéis fotovoltaicos e a China tem o quase monopólio do seu fabrico, como aprendi numa viagem relâmpago a Hong Kong, no âmbito da Quimonda Solar.

A partir do silício fabricam-se as “wafers” que na sua maioria utilizam a tecnologia monocristalina. Mas as coisas podem estar a mudar.

Porque como sempre, vão aparecer alternativas. Uma delas são as células solares de perovskite. Um nome difícil de pronunciar. Perovskite é uma classe de minerais com estruturas cristalinas em cubo e diamante que foram descobertos há 170 anos nos Montes Urais. Verificou-se que é relativamente fácil de sintetizar perovskite a partir de elementos químicos comuns.

Uma das suas utilizações é para o fabrico de células fotovoltaicas. Em 10 anos a eficiência das células solares de perovskite subiu de 2,5% para 25%. Um avanço muito mais rápido do que o que se tinha verificado com as células de silício. Estas células têm várias vantagens: utilizam materiais baratos e abundantes, não precisam de terras raras e o fabrico exige pouca energia, que é recuperada em poucos meses de funcionamento.

Até há pouco tempo a sua utilização comercial não era viável, em virtude da sua baixa estabilidade, que lhes permitia pouco tempo de funcionamento. Mas agora começam a aparecer os primeiros produtos comerciais.

Uma das empresas que se está a evidenciar neste campo é a “Oxford PV”, que aposta na colocação de uma camada de perovskite sobre um célula clássica de silício. Estas células em “tandem” conseguem eficiências na ordem dos 30%, o que é perto do limite teórico de uma célula de silício.

Este aumento de eficiência é relevante sobretudo em aplicações onde o espaço é escasso, como é frequentemente o caso das instalações em telhados para autoconsumo. Mas a tecnologia ainda tem desafios pela frente, entre eles assegurar a sua longevidade.

Uma dúzia de outras empresas seguem o mesmo caminho do que a “Oxford PV”. Várias trabalham em projetos financiados pela União Europeia, que procura a forma de recuperar a tecnologia solar que perdeu para a China.

Cada vez mais estou convencido a energia fotovoltaica vai ser determinante para a transição energética. É já a tecnologia que produz a energia a menor custo, e o custo continua a descer. Para lá disso tecnologias como a perovskite permitirão fabricar células finas e flexíveis que poderão ser instaladas em qualquer superfície.

Se não forem as células de perovskite serão outras, porque a inovação não vai parar e a transição energética não vai interromper por falta de materiais.

A energia solar poderá permitir um Mundo com abundância de energia, o que a verificar-se nos vai obrigar a repensar a forma como irão funcionar no futuro os Sistemas Elétrico, que cada vez mais serão distribuídos com princípios de controlo próximos dos da Internet.

São temas que é importante seguir de perto porque nos esperam mudanças rápidas de paradigmas.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Saudades do Pedro Baptista

«O Oriente!
Haverá nome que melhor tenha soado aos ouvidos dos portugueses?
Não há, e com razão». Jaime do Inso (1932)

Hoje deu-me saudades do grande amigo meu, Pedro Baptista. Conhecemo-nos como colegas na Escola Secundária Garcia de Orta, no Porto. A empatia foi natural. Professor e doutorado em filosofia, cedo me contou a sua juventude. Antigo militante da extrema-esquerda, foi dirigente estudantil no Porto entre 1968 e 1971, cofundador do jornal “Grito do Povo” de oposição ao Estado Novo, preso político em 1973 e deportado para Angola, regressando a 1 de maio de 1974.
o Pedro fundou o único partido político que a cidade do Porto viu nascer até hoje. Chamou-o O Grito do Povo, marca que gravava em título de jornal a indignação de milhões de portugueses, esgotados de um regime ditatorial que esmagou o país.
Além de autor de obras como "Pessoas, Animais e Outros que Tais", "O Cavaleiro Azul" e "Ao Encontro do Halley", foi sempre politicamente ativo. Foi deputado à Assembleia da República, eleito pelo Porto, entre 1995 e 1999, pelo PS. Foi candidato do Partido Democrático do Atlântico (PDA), em 2011, pelo círculo do Porto. Ultimamente era deputado da Assembleia Municipal, eleito pelo movimento independente do presidente Rui Moreira.
Estudou profundamente um filósofo português antifascista e que se exilou no Brasil: Lúcio Alberto Pinheiro dos Santos (1889-1950), apresentado à Europa pelo filósofo e epistemólogo francês Gaston Bachelard (1884-1962). Foi o fundador da ritmanálise. O ritmo é a própria energia de existência em todas as escalas e assim o princípio unificador da física, da biologia e da psicologia. Tanto o universo como a própria vida assentam em sistemas rítmicos interactivos, desde as frequências regulares da radiação, passando pelo pulsar vital, até às oscilações do psiquismo humano, que esta nova forma de actividade criadora procura compreender e orientar. Entre 1923-26 Luís Pinheiro foi o Chefe dos Serviços de Educação da Índia Portuguesa. 
Amava a China. Muito falava da sua paixão por este País. Longas conversas tivemos sobre o orientalismo Português: Luís de Camões, Fernão Mendes Pinto, Camilo Pessanha, Marina Ondina Braga, os Jesuítas e o Japão. Creio que viveu um ou dois anos em Macau. Felizmente em vida concretizou o seu sonho de visitar a China. Fiquei muito feliz, por ele. Era um prazer estar com ele. Muito reservado em sua vida privada, não sei se deixou filhos.
Admirava-o muito também em como ele era um defensor acérrimo do património urbanístico e paisagístico onde (quase) sempre viveu, Nevogilde. Caramba, fazes falta!