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quinta-feira, 6 de junho de 2024

A Democracia em risco: o discurso de Maria Ressa em Harvard e os desafios que nos deixa


Num discurso emotivo e clarividente proferido na formatura dos estudantes da Universidade de Harvard, Maria Angelita Ressa , a laureada jornalista, prémio Nobel da Paz em 2021 e cofundadora do site de notícias Rappler, ao denunciar as questões cruciais que afetam o mundo contemporâneo e que nos devem unir, partilhou com a instituição que a convidou, uma enorme coragem nos dias que correm ao clamar por essa união e ao propor defender a verdade como base da democracia, lutar pela agencia e não ter medo. 

No seu discurso passou o testemunho da luta pela democracia aos recém-formados, alertando-os sobre o estado frágil em que as nossas sociedades se encontram a nível global e a necessidade de uma ação imediata e concertada para a salvaguarda da democracia, contra os fascistas que estão, literalmente, a instalar-se. Porque me revejo no seu discurso e nos fazem falta pessoas de coragem como ela, capazes de nos voltar a guiar para o coletivo, deixo-vos aqui algumas ideias-chave da sua intervenção, para que possamos continuar a refletir sobre elas. 

Ressa, ao dar voz aos nossos silêncios e cumplicidades com sistemas vigentes deturpados coloca o dedo na ferida ao expressar que a democracia está sob ataque em várias partes do mundo. A crescente desinformação, a polarização política e a manipulação das redes sociais são apenas alguns dos fatores que contribuem para a erosão dos sistemas democráticos.

Para ela, vivemos em tempos de teste onde a tecnologia acelerou os processos, desumanizou-nos também. A incapacidade dos sistemas e das suas instituições para ouvir é um outro problema crítico apontado. A evocação das alterações climáticas enquanto uma das maiores ameaças à humanidade que exigem sistemas democráticos para a sua superação, uma vez que exigem soluções políticas e ações coordenadas. Em regimes autoritários, a falta de transparência e a repressão dificultam a implementação de políticas ambientais eficazes e inclusivas. 

Para Ressa, numa democracia saudável há maior possibilidade de implementar políticas que promovam a justiça social e ambiental. As vozes das comunidades marginalizadas podem ser ouvidas e as suas necessidades atendidas. 

Face a estes desafios, Ressa propõe-nos três eixos de ação: 
i) uma ação empenhada e comprometida connosco próprios: escolher o nosso melhor eu, sabendo quais são os valores pelos quais vivemos. A integridade da informação e dos factos é crucial. Sem factos, não há verdade, e sem verdade, não há confiança, que são a base da democracia. 
ii) Propõe ainda transformar a crise em oportunidade. O ecossistema informativo tornou-se pobre, a integridade das informações está comprometida, as notícias são cada vez menos confiáveis e a propaganda é cada vez maior. Precisamos de lutar mais fortemente pela agência e pelo pensamento independente. 
iii) O terceiro eixo é ser-se vulnerável para alcançar algo significativo e não ter medo disso.

O seu discurso evidencia a importância de proteger e fortalecer a democracia. Esta é, em última análise, a chave para um futuro mais sustentável e equitativo. Termino com as suas próprias palavras: “Temos de ter coragem para imaginar e criar o mundo como deve ser: mais solidário, mais sustentável e mais equitativo(…). O nosso mundo a arder precisa de ti. Bem-vindos ao campo de batalha; juntem-se a nós!”

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Sobre os cépticos e as alterações climáticas


Vamos lá ver se nos entendemos em relação às alterações climáticas. Há dois tipos de alterações climáticas: as geológicas e as antropogénicas. Quando nada se referir quando falamos de alterações climáticas são as provocadas pelo Homem. A realidade está aí: eventos climáticos extremos, degelo das calotes, ondas de calor em países habitualmente frios (Suíça, p. ex.). São causadas sobretudo pelo uso e abuso de petróleo, gás, carvão e biomassa. Os jactos privados e os cruzeiros contribuem em GT de CO2, aumentando a temperatura global. 1ºC a mais trará consequências desastrosas: secas prolongadas, aumento do nível do mar, etc. 
Os GEE principais são o CO2 e o metano. Entre os GEE, incluir óxidos nitrosos e o insuspeito vapor de água que tem um poder de EE superior aos outros (e que não se pode controlar quando a temperatura atmosférica subir).
Quanto às alterações climáticas geológicas existiram no passado e continuarão a existir, nomeadamente a tectónica de placas e o vulcanismo.
O nosso clima está a mudar e nós somos a causa principal através das nossas emissões de GEE. Os factos sobre as alterações climáticas são essenciais para se compreender o mundo à nossa volta, e para tomarmos decisões informadas sobre o futuro.

Saber mais:
2. Climate Emergency Forum: Adaptação e Mitigação


3. Estudo independente ataca cépticos e confirma que a Terra está mesmo mais quente

Acção Climática Já: mitigação e adptação


A mitigação refere-se aos esforços para reduzir ou prevenir a emissão de gases de efeito estufa. Adaptação é o processo de ajuste aos impactos atuais ou esperados das alterações climáticas. A necessidade de adaptação varia de um local para outro, dependendo do risco para os sistemas humanos ou ecológicos.

Mitigation refers to efforts to reduce or prevent emission of greenhouse gases. Adaptation is the process of adjusting to current or expected impacts of climate change. The need for adaptation varies from one location to another, depending on the risk to human or ecological systems.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

COP será presidida novamente por homem com carreira no petróleo

Mukhtar Babayev

Um homem com carreira no setor do petróleo vai voltar a presidir à conferência do clima da ONU, já que o Azerbaijão nomeou o seu ministro da Ecologia e dos Recursos Naturais como presidente da COP29 de novembro.

“Sua Excelência Mukhtar Babayev foi nomeado presidente designado da 29.ª sessão da conferência das partes” da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações climáticas, segundo informação do ministério enviada hoje à agência France Presse sobre a nomeação do ex-funcionário da petrolífera Socar.

Os Emirados Árabes Unidos tinham escolhido para presidente o sultão Al Jaber, dirigente da empresa nacional Adnoc, para presidir a conferência da ONU do clima, que terminou em dezembro em Dubai com um apelo histórico inédito para uma “transição” afastada dos combustíveis fósseis.

A presidência da COP28 já felicitou Babayev, que representou o Azerbaijão nas negociações do Dubai, através de uma mensagem na rede social X: “Vamos trabalhar com as presidências da COP29 e COP30 (no Brasil), bem como com a ONU para o Clima, para concretizar o sucesso histórico e transformador da COP28 e manter a meta de 1,5°C ”.

O novo presidente da COP tem no seu currículo, entre 1994 a 2003, funções no departamento de relações económicas externas da Socar, a empresa nacional de petróleo e gás, antes de passar para a área de marketing e operações económicas.

Entre 2007 e 2010, foi vice-presidente responsável pela ecologia da empresa de petróleo e gás e é ministro da Ecologia e Recursos Naturais desde 2019.

Historicamente, os presidentes da COP foram ministros ou diplomatas, com exceção do ano passado com Sultan Al Jaber, que é presidente da Adnoc, um dos maiores produtores de gás e petróleo do Golfo, e representou o seu país em várias COP’s e afirmou-se como líder da empresa de energia renovável Masdar.

O governo azeri nomeou o vice-ministro dos Negócios Exteriores, Yalchin Rafiyev, como negociador-chefe da COP29.

O anfitrião anual da COP é escolhido por consenso pelos países da região designada. Em 2023, os países asiáticos designaram os Emirados Árabes Unidos, e este ano, após meses de bloqueios, foi definido o Azerbaijão pelos países da Europa de Leste, que incluem a Rússia.

Este ano será Baku a receber a COP e poderá fazer recordar a edição anterior, já que foi uma das capitais mundiais do petróleo no início do século XX, como apontou à AFP Francis Perrin, especialista em energia do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, “com os interesses russos, da Shell e dos irmãos Nobel da época”.

O país desenvolveu grandes depósitos de petróleo e gás no Mar Cáspio desde a década de 1990, acrescentou.

Atualmente, o gás tornou-se mais importante do que o petróleo para este membro da OPEP+, exportado principalmente para a Europa.

“O país continua hoje muito dependente dos hidrocarbonetos, que representam pouco menos de 50% do seu PIB, pouco mais de 50% das suas receitas orçamentais e pouco mais de 90% das suas receitas de exportação”, analisou Perrin.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

COP28: Clama-se o fim da era fóssil, mas também se deixam alertas



Nas primeiras horas desta quarta-feira, depois de uma longa noite de intensas negociações, a presidência da 28.ª cimeira global do clima (COP28) anunciou que, por fim, se havia chegado a um acordo.

No documento que avalia os progressos feitos até ao momento para combater as alterações climáticas e o que precisa ainda de ser feito, conhecido como Global Stocktake (GST), o texto volta a fazer referências a um eventual fim da produção e consumo de combustíveis fósseis como a melhor forma de manter o aquecimento do planeta abaixo dos 1,5 graus Celsius face a níveis pré-industriais.

Recorde-se que na segunda-feira, a presidência da COP28 tinha divulgado uma proposta de texto que não fazia qualquer menção ao fim do fóssil e apenas apresentava uma série de ações que os Estados podiam, à escolha, tomar para reduzir as suas emissões. Essa versão gerou uma torrente de críticas, que acusavam os Emirados Árabes Unidos, responsáveis pela redação do texto, de ceder aos interesses dos países e empresas da indústria fóssil e de ignorar os inúmeros apelos a uma linguagem forte e clara que declarasse, pela primeira vez, o fim, ainda que progressivo, da produção e uso de todos os combustíveis fósseis.

Aquela que é a versão final do documento reconhece também que, para limitar o aquecimento global a 1,5 graus, “são precisas reduções rápidas e sustentadas das emissões globais de gases com efeito de estufa em 43% até 2030 e 60% até 2035 relativamente ao nível de 2019”, com o objetivo de se alcançar a neutralidade carbónica em 2050.

A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou, em comunicado, que o acordo “manter-nos-á em linha com os objetivos do Acordo de Paris” e permitirá acelerar “a transição para uma economia mais limpa e saudável”.

Wopke Hoekstra, comissário europeu para as alterações climáticas, saudou também o consenso alcançado, afirmando que este é “o início do fim dos combustíveis fósseis”.

Por sua vez, António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas, que lançou apelos sucessivos ao fim progressivo dos combustíveis fósseis, escreveu na rede social Twitter que a declaração aprovada é “um momento decisivo na luta contra as alterações climáticas” e que “pela primeira vez, existe o reconhecimento da necessidade de se fazer uma transição para além dos combustíveis fósseis”.

Contudo, deve atentar-se na expressão “transição para além dos combustíveis fósseis”, ou ‘transitioning away from fossil fuels’ na redação original em inglês, e como surge no texto.

Isto, porque versões anteriores equacionavam uma linguagem muito mais clara e definitiva, como “abandono progressivo”, ou ‘phaseout’.

Reações menos efusivas vieram de vários lados, incluindo do próprio responsável das Nações Unidas para as alterações climáticas, Simon Stiell.

Salientando os “avanços genuínos” alcançados pela cimeira no que toca a triplicar as energias renováveis, a duplicar a eficiência energética e a operacionalizado o Fundo de Perdas e Danos, Stiell diz, no entanto, que “não virámos a página da era dos combustíveis fósseis”, ainda que afirme que “este resultado é o princípio do fim”.

As reações de desilusão vieram também de Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos da América, que escreveu no Twitter que a decisão a que se chegou é “um marco importante”, “mas é também o mínimo indispensável”.

“A influência do Estados petrolíferos continua a ser evidente em metade das medidas e nas lacunas incluídas no acordo final”, afirmou, acrescentando que “se este é um ponto de viragem que verdadeiramente marca o início do fim da era dos combustíveis fósseis depende das ações que venham a ser tomadas e da mobilização financeira necessária para alcançá-las”.

Mary Robinson, presidente da organização Elders, considera que “o acordo da COP28, embora assinale a necessidade de se acabar com a era dos combustíveis fósseis, peca por não se comprometer com um total abandono progressivo”.

Porém, reconhece que esta versão é melhor do que a anterior e saúda os países por terem sido capazes de encontrarem “terreno comum suficiente no Dubai para manter a ação climática em movimento”.

Recorde-se que Mary Robinson esteve envolvida numa troca de palavras duras com o presidente da COP, Al Jaber, quando esse último afirmou que não havia evidências científicas que sustentassem as declarações de que acabar com os combustíveis fósseis permitiria travar as alterações climáticas. Al Jaber veio depois dizer que o que disse foi mal interpretado.

A organização internacional Oxfam é mais dura nas críticas que faz ao desfecho da COP28. Numa declaração divulgada nas redes sociais, Nafkote Dabi, responsável de alterações climáticas, afirma que “a COP28 foi sem dúvida uma desilusão, porque não pôs dinheiro em cima da mesa para ajudar os países em desenvolvimento na transição para as energias renováveis”.

“E uma vez mais os países ricos renegaram as suas obrigações para ajudar as pessoas que estão a ser atingidas pelos piores impactos da degradação climática”, acusou.

Do lado da Greenpeace, Kaisa Kosonen, que liderou a delegação da organização ambientalista na COP28, declara que “esta não é ainda a decisão de que o mundo precisa ou merece, mas há algumas melhorias com o apelo à transição para além dos combustíveis fósseis”.

A responsável destaca que “o sinal que a indústria fóssil temia está aqui: acabar com a era dos combustíveis fósseis, bem como um apelo para escalar massivamente as renováveis e a eficiência nesta década”. Mas alerta que essas medidas estão “enterradas sob muitas distrações perigosas e sem meios suficientes para alcançá-las de forma justa e rápida”.

Do lado de Portugal, também se ouviram já reações. Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, reconhece como positivo o acordo firmado, mas diz que a cimeira terminou com “sabor agridoce”. Num vídeo publicado na rede social Twitter, diz que “a mensagem principal é muito clara: estamos no fim da era dos combustíveis fósseis”.

Ainda assim, alerta que o texto contém “falsas soluções que nos vão distrair deste objetivo do investimento no triplicar das energias renováveis entre 2022 e 2020 e no duplicar da eficiência energética”.

Salienta ainda “necessidades prementes” no que toca ao financiamento climático e à adaptação, outros grandes temas desta cimeira, avisando que “conseguir uma transição justa é um elemento que ficou aquém do desejável”.

Por parte do Governo português, o ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, afirmou à agência Lusa que o acordo a que se chegou “fecha com chave de ouro a participação de Portugal na COP” e “dá-nos também uma perspetiva de esperança, que é muito necessária na política climática”.

O governante considera que “do ponto de vista daquilo que é o texto e a sua ambição”, está “muito mais em linha” com o que diz a ciência, com uma linguagem “do fim dos fósseis”.

domingo, 10 de dezembro de 2023

Grandes lobistas da carne e dos laticínios aparecem em número recorde na COP28

Lobistas de empresas agrícolas industriais e grupos comerciais compareceram em número recorde na Cop28 , com três vezes mais delegados representando a indústria da carne e dos laticínios do que no ano passado.

Estão presentes representantes de algumas das maiores empresas do agronegócio do mundo – como o fornecedor de carne JBS , a gigante de fertilizantes Nutrien, a gigante de alimentos Nestlé e a empresa de pesticidas Bayer – bem como de poderosos grupos de lobby da indústria.

A carne e os laticínios estão particularmente bem representados, com 120 delegados, mas uma análise da lista de delegados feita pelo DeSmog mostra que o número de lobistas que representam os interesses do agronegócio de forma mais ampla mais que dobrou desde 2022, chegando a 340.

Além disso, a análise revela que mais de 100 delegados viajaram para Dubai como parte de delegações de países, o que concede acesso privilegiado às negociações diplomáticas. Este número aumentou de 10 em 2022.

As empresas de carne e laticínios, em particular, estão sob crescente escrutínio devido à poluição proveniente da pecuária, que emite cerca de um terço da produção global de metano, um gás de efeito estufa de curta duração, cuja redução é identificada como o caminho mais rápido para desacelerar o aquecimento global. .

Ben Lilliston, do Instituto de Política Agrícola e Comercial, afirmou: “Com um maior escrutínio sobre as emissões das empresas de carne e laticínios, não é surpreendente que estejam a intensificar o seu jogo para evitar qualquer resultado da Cop que possa prejudicar as suas operações. Mesmo assim, a triplicação do número de delegados é alarmante – demonstra a necessidade urgente de reformas que limitem a influência corporativa nas reuniões da ONU sobre o clima.”

A carne não é a única indústria sob os holofotes. Agricultores, retalhistas e transformadores também geram emissões de gases com efeito de estufa através do desmatamento de árvores, da utilização de fertilizantes sintéticos derivados de combustíveis fósseis e no transporte, embalagem e armazenamento.

Karina Gonçalves David, representante dos pequenos agricultores do Brasil, está preocupada com a presença de empresas poderosas e poluentes. “Se estiverem dentro, têm vantagem. Este lugar trata de soluções para enfrentar a crise climática, mas as empresas estão se apropriando dele para fazer lobby. Eles estão indo na direção oposta.”

Estima-se que as emissões das cinco maiores empresas de carne do mundo sejam significativamente maiores do que as das empresas petrolíferas Shell e BP, enquanto a contribuição de 3,4% da indústria leiteira para as emissões globais induzidas pelo homem é uma percentagem superior à da aviação.

Grupos de lobby da carne também estão no terreno no Dubai, incluindo o North American Meat Institute, que ainda em 2022 afirmava que a extensão do colapso climático provocado pelo homem era “desconhecida”.

Os produtores de pesticidas também compareceram em grande número este ano, um aumento de 30% em comparação com 2022. Juntas, Bayer , Syngenta , BASF e a sua associação comercial, CropLife , que rejeitou as tentativas de promulgar novas medidas climáticas, enviaram 29 delegados.

A indústria de fertilizantes sintéticos também teve um aumento acentuado no número de representantes, com 40 este ano, contra 13 em 2022.

Raj Patel, do grupo de reflexão sobre sustentabilidade IPES-Food, afirmou: “Tal como acontece com o influxo de lobistas do petróleo, as empresas agrícolas industriais estão assustadas. Eles leram a ciência e sabem o quanto os seus negócios impulsionaram a crise climática.”

Os grandes representantes da alimentação e da agricultura estão interessados ​​em desviar as conversas das mudanças alimentares, que estão em discussão na cimeira. No domingo, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura divulgará o primeiro projecto do seu plano para alcançar um sistema alimentar global sustentável, que deverá apelar às nações ricas para que reduzam o consumo de carne.

Isto segue a recomendação da Comissão Eat-Lancet, que sugere que as pessoas não consumam mais do que 15,7 kg por ano. Em 2020, o americano médio consumiu 126kg de carne.

Os pequenos agricultores estão preocupados com a possibilidade de serem marginalizados pelo poder do lobby do agronegócio. Um relatório recente mostrou que os pequenos produtores recebem apenas 0,3% do financiamento público internacional para o clima, apesar de produzirem um terço dos alimentos do mundo.

“Os agricultores familiares já estão a implementar práticas mais diversificadas e amigas da natureza, o que o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU considera necessário”, disse Esther Penunia, secretária-geral da Associação de Agricultores Asiáticos, uma aliança de organizações que representam 13 milhões de famílias. agricultores. “No entanto, as nossas preocupações e as soluções que apresentamos estão a ser abafadas. Lutamos para que as nossas vozes sejam ouvidas acima das vozes daqueles com mais dinheiro e mais poder.”

domingo, 3 de dezembro de 2023

A COP28 conta com 30 patrocinadores: empresas de energia, bancos fósseis e grandes empresas de tecnologia


As cimeiras sobre o clima são uma grande vitrine para empresas e atores interessados ​​(alguns com mais razão do que outros) em princípio comprometidos com a ação climática. E a COP28 , que acontecerá de 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai (Emirados Árabes Unidos), pretende ser o maior de todos os eventos climáticos até o momento , pelo menos em termos de participação. A organização estima que comparecerão 70 mil pessoas, um número muito superior ao da COP27 realizada em Sharm El-Sheikh (Egito), onde se reuniram 49.704 pessoas, o maior até à data.

Em cada edição, a maioria dos patrocinadores tende a ser empresas do próprio país, sejam elas de maior ou menor projeção internacional. Existem também alguns reconhecidos mundialmente. Um dos habituais é o espanhol: Iberdrola . A empresa de energia presidida por Ignacio Sánchez Galán é patrocinadora oficial das cimeiras climáticas desde a COP23 realizada em Bona, na Alemanha, em 2017.

Nesta COP28, a Iberdrola assinou como “Associate Partner” ( Associate Path Partner ). Um patrocínio que lhe permitirá ter a sua marca presente na chamada Zona Verde , um espaço paralelo às negociações da cimeira aberto à sociedade civil. Na Zona Azul (zona azul, reservada a países, jornalistas, organizações e observadores) a Iberdrola não terá estande próprio , mas muitos de seus executivos estarão presentes – entre eles, Galán – para participar de dezenas de eventos organizados, entre outros, pela ONU, pelo Ministério chefiado por Teresa Ribera e pela ONG BirdLife. Irão também reunir-se com a presidência da cimeira e com membros de diferentes instituições , como o Parlamento Europeu ou o Parlamento do Reino Unido.

O objetivo da Iberdrola – uma das empresas que mais contribuiu para o aquecimento global nas últimas décadas em Espanha – é participar na cimeira do clima como uma empresa verde . O seu discurso durante as duas semanas de negociações girará em torno da necessidade de eliminar progressivamente os combustíveis fósseis , triplicar a capacidade renovável até 2030 e duplicar a melhoria anual na eficiência energética durante esta década, além de chegar a um acordo sobre o financiamento do clima para mitigação e adaptação.

De acordo com informações publicadas pela media britânica Sky News em maio, os preços dos patrocínios quase triplicaram desde a cimeira anterior. O pacote de patrocínio mais caro oferecido custa 6,5 ​​milhões de libras (7,5 milhões de euros) e oferece à empresa que paga por ele “a oportunidade de falar em eventos da presidência da COP28” e ser reconhecida com a sua própria placa na parede como membro.

Empresas de energia, bancos fósseis e grandes empresas de tecnologia estarão na COP28
A COP28 conta com cerca de trinta empresas patrocinadoras . A classificação mais alta são os principais parceiros: Abu Dhabi Global Market (um centro financeiro), DEWA (autoridade de eletricidade e água de Dubai), DP World (holding de propriedade do governo de Dubai), e& (grupo de tecnologia dos Emirados), Dubai Holding ( a carteira de investimentos pessoais do governante de Dubai, Sheikh Mohammed bin Rashid al-Maktoum), Masdar (empresa estatal de energia renovável fundada e presidida pelo presidente da COP28, Al Jaber), M42 (empresa dos Emirados focada em tecnologia de saúde), RTA (autoridade de estradas e transportes de Dubai) e Emirates NBD (banco de propriedade do Governo de Dubai).

Depois, há cinco empresas que aparecem como parceiras estratégicas: EY (também conhecida como Ernst & Young, é líder global em serviços de auditoria, impostos, assessoria de transações e consultoria), FAB (First Abu Dhabi Bank, o maior banco dos Emirados Árabes Unidos), o Ministério da Educação dos Emirados Árabes Unidos, Al Futtaim (um conglomerado familiar ativo em diversos setores) e o Governo de Dubai .

Outra fórmula de patrocínio é Industry Pathway Partners . São quatro: Octopus Energy (um comerciante "100% sustentável" e o maior investidor em energia solar na Europa), Bank of America (uma das maiores holdings bancárias dos Estados Unidos), HSBC (um banco britânico e serviços financeiros empresa, conhecida por ser um dos principais financiadores da destruição da Amazónia e por financiar secretamente a exploração de carvão na Alemanha), e o Ministério da Indústria e Tecnologia Avançada dos Emirados Árabes Unidos (cujo ministro é o Sultão Ahmed Al Jaber, presidente da COP28).

Por fim, existem empresas cujo patrocínio consiste em serem “parceiros associados”. Além da Iberdrola, esta categoria inclui Baker Hughes (uma das maiores empresas de serviços petrolíferos do mundo), Mashreq (o banco privado mais antigo dos Emirados Árabes Unidos), IBM (uma empresa multinacional americana de tecnologia), Korea Hydro & Nuclear Power (operadora de centrais nucleares e hidrelétricas na Coreia do Sul), Siemens (conglomerado empresarial alemão, também comum em COPs), Investcorp (fornecedor e gestor líder de produtos de investimento alternativos que atendem clientes privados e institucionais de alto património), Banco Islâmico de Abu Dhabi, Goldwind (fabricante chinês de turbinas eólicas) e Banco Islâmico de Dubai (maior banco islâmico dos Emirados Árabes Unidos).

Até agora são os patrocinadores oficiais que a própria presidência da COP28 tem anunciado através de comunicados de imprensa. No entanto, na secção “parceiros” do seu website há aqueles que chamam de “ inovadores climáticos ”. Nesta seção, a principal empresa patrocinadora é o Barclays , o banco da Europa que mais investiu em combustíveis fósseis desde o Acordo de Paris (2015). Apelidados de “facilitadores” aparecem, entre outros, Amazon Web Services e Microsoft .

Segundo a organização, todas as empresas patrocinadoras se comprometeram a avançar em direção à meta de emissões líquidas zero até 2050 . Para tal, devem ter aderido à aliança Race to Zero da ONU ou outra iniciativa “equivalente”, ou ter assinado o Compromisso de Negócios Sustentáveis ​​dos Emirados Árabes Unidos .

O comitê de patrocínio, composto por sete departamentos internos diferentes da COP28, nomeou a empresa de consultoria EY (também listada como empresa patrocinadora) para “validar compromissos e fornecer consultoria técnica para a COP28”.

Da Climática temos contactado repetidamente o departamento de imprensa da COP28 para saber mais detalhes sobre os patrocínios. No momento da publicação deste artigo eles não haviam respondido.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Economista necro-fóssil

Economista necro-fóssil
Minha arte digital.
Ainda hoje soubemos que as gigantescas Shell e a BP geraram apenas 0,02% e 0,17% da energia proveniente de fontes renováveis em 2022, respectivamente. [The Ecologist].
A alegoria do economista necro-fóssil é para levar a sério. Todos encamisadinhos, bem vestidos são uma trupe fanática do lobismo fóssil. Primeiro eles próprios representam indústrias que fazem o mínimo de investimento em energias renováveis. Outros são cobradores de fraque. Vão aos países pobres pedir satisfações porque o seu produto não está a ter rendimento, quantas refinarias afinal tem o país escravizado? Nós devemos responder-lhes que antes de nos atirar à cara , o que têm feito eles no cumprimento do Acordo de Paris e se já efectuaram algumas das medidas da COP27.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

What the Fossil Fuel Industry Doesn't Want You To Know


Numa palestra emocionante, o Prémio Nobel Al Gore analisa os dois principais obstáculos às soluções climáticas e dá a sua opinião sobre como poderemos realmente resolver a crise ambiental a tempo. Não vai querer perder a sua dura acusação às empresas de combustíveis fósseis por retrocederem nos seus compromissos climáticos - e o seu apelo a uma repensação global dos papéis das indústrias poluentes na política e nas finanças.

Countdown é a iniciativa global do TED para acelerar soluções para a crise climática. O objetivo: construir um futuro melhor, reduzindo para metade as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, na corrida para um mundo com zero emissões de carbono. Envolva-se em  Countdown

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Aquecimento global deve atingir oferta mundial de alimentos antes de 1,5°C, diz especialista da ONU


É provável que o mundo enfrente grandes interrupções no abastecimento de alimentos bem antes que as temperaturas subam a meta de 1,5°C, alertou o presidente da conferência de desertificação da ONU, já que os impactos da crise climática se combinam com a escassez de água e práticas agrícolas inadequadas para ameaçar a agricultura global. .

Alain-Richard Donwahi, ex-ministro da Defesa da Costa do Marfim que liderou a cimeira Cop15 da ONU sobre desertificação no ano passado, disse que os efeitos da seca estão ocorrendo mais rapidamente do que o esperado.

“A mudança climática é uma pandemia que precisamos combater rapidamente. Veja o quão rápido a degradação do clima está indo – acho que está indo ainda mais rápido do que prevíamos”, disse ele. “ Todo mundo está fixado em 1,5 ºC [acima dos níveis pré-industriais], e é uma meta muito importante. Mas, na verdade, algumas coisas muito ruins podem acontecer, em termos de degradação do solo, escassez de água e desertificação, muito antes de 1,5°C.”

Os problemas de aumento das temperaturas, ondas de calor e secas e inundações mais intensas colocam em risco a segurança alimentar em muitas regiões, disse Donwahi. “[Veja] os efeitos das secas na segurança alimentar, os efeitos das secas na migração da população , o efeito das secas na inflação . Poderíamos ter uma aceleração de efeitos negativos, além da temperatura”, disse ele.

As más práticas agrícolas não estavam ajudando, disse ele. “A degradação do solo vem com maus hábitos, e a forma como fazemos nossa agricultura levará à degradação do solo. Quando o solo é afetado, o rendimento é afetado”, disse ele.

Donwahi pediu aos investidores do setor privado que se envolvam e aproveitem as oportunidades para obter lucro. “O setor privado tem interesse na agricultura e no melhor aproveitamento do solo. Estamos falando de [melhorar] os rendimentos. Estamos falando de agrofloresta , que é mais uma forma de o setor privado rentabilizar o investimento”, afirmou. “Temos que ser inovadores, para encontrar novos veículos para o financiamento.”

Governos de todo o mundo assinaram um tratado comprometendo-se a combater a desertificação em 1992, juntamente com a convenção-quadro da ONU sobre mudança climática, que é o tratado pai do acordo climático de Paris de 2015 , e a convenção da ONU sobre biodiversidade, que visa salvaguardar a abundância de espécies.

Mas o tratado de desertificação recebe menos atenção, e a Cop15 do ano passado sobre desertificação passou despercebida em comparação com a Cop27 do clima e a Cop15 da biodiversidade em dezembro passado. Os Cops da Desertificação são realizados com menos frequência do que as cimeiras do clima: a próxima conferência sobre a desertificação será realizada em Riad em dezembro de 2024, enquanto a próxima cimeira do clima, Cop28, será em Dubai no final de novembro .

Donwahi disse que o mundo não pode se dar ao luxo de ignorar a desertificação. “Precisamos resolver todos os problemas juntos. A desertificação e a seca levam à mudança climática, levam à perda de biodiversidade. E quando você tem alterações climáticas, você tem secas, inundações, tempestades.

“Não são apenas os países pobres, todos estão no mesmo barco [sobre a segurança alimentar]. Mudanças climáticas, secas, tempestades, inundações não conhecem fronteiras, não precisam de visto para entrar num país.”

domingo, 2 de julho de 2023

Contradição- A Noruega aprovou 19 novos projetos de petróleo e gás nas suas águas


A Noruega aprovou 19 novos projetos de petróleo e gás nas suas águas. O ministro norueguês do Petróleo e da Energia, Terje Aasland, afirmou que a luz verde para estes projectos contribuirá para a segurança energética da Europa e assegurará uma nova produção a partir da segunda metade da década de 2020. Há contradições claras entre a política interna e a política externa da Noruega, uma vez que esta decisão acontece seis meses depois de o governo norueguês ter insistido, sem sucesso, nas conversações sobre o clima da COP27, num acordo para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis não consumidos e seis meses antes da COP28, onde é provável que volte a tentar. A Noruega é a sétima nação mais rica do mundo e a continuação da sua produção de combustíveis fósseis será utilizada pelos apoiantes da produção de combustíveis fósseis nos países mais pobres para minar a oposição aos seus projetos. Recorde-se que em 2021, a Agência Internacional de Energia recomendou que não fossem abertos novos campos de petróleo e gás, numa tentativa de atingir a neutralidade carbónica até meados do século. Fontes: Energy Voice, Climate Home News e AFP.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Os lobistas das grandes petrolíferas deveriam ser banidos das cimeiras do clima

COP27 no Egipto

À medida que incêndios, inundações e danos climáticos extremos continuam se acumulando, a grande questão é como sair da era dos combustíveis fósseis com justiça?

Enquanto as negociações climáticas preparatórias da ONU continuam em Bonn esta semana, uma nova pesquisa do Corporate Europe Observatory (CEO) e Corporate Accountability revela que as 5 grandes empresas de petróleo e gás trouxeram mais de 400 lobistas para as negociações climáticas da ONU desde que o Acordo de Paris foi assinado em 2015.

Embora a COP28 nos Emirados Árabes Unidos no final deste ano precise anunciar de uma vez por todas a eliminação justa de todos os combustíveis fósseis, a presença contínua de lobistas de petróleo e gás nessas cúpulas é um perigo claro e presente para atingir esse objetivo.

A nova medida antecipada da ONU pedindo a todos os participantes que divulguem publicamente para quem trabalham é um primeiro passo bem-vindo, mas precisa ir muito além.

Durante décadas, Shell, BP, TotalEnergies, ExxonMobil e Chevron - também conhecidas como as 5 grandes empresas de petróleo e gás - atrasaram, enfraqueceram e sabotaram a ação climática.

Apesar de sua lavagem verde pró-clima, cada um pretende expandir sua produção de combustíveis fósseis para impulsionar os balanços já volumosos.

Até 2025, seus planos combinados aumentariam as emissões em 6.674 milhões de toneladas de CO2, mais de duas vezes e meia as emissões da UE em 2021 — sem falar em dizimar ecossistemas e comunidades.

Eles estão colocando seus próprios lucros diretamente contra a meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura em 1,5 grau centígrado e proteger o planeta.

No ano passado, esses cinco gigantes obtiveram lucros recordes de quase US$ 200 biliões, com a BP posteriormente decidindo reduzir suas metas climáticas para se concentrar em ganhar dinheiro com o aumento da produção de gás.

É por isso que campanhas como Kick Big Polluters Out , que inclui mais de 450 grupos de todo o mundo representando milhões de pessoas, estão pressionando por negociações climáticas livres de fósseis e uma Estrutura de Responsabilidade mais ampla para proteger a formulação de políticas climáticas da influência indevida de todas as emissões. indústrias intensivas.

Eliminar essa influência é essencial se quisermos remover a maior barreira para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.

Já temos algo semelhante para o tratado de tabaco da ONU, porque aceitamos que não devemos perguntar à indústria do tabaco como fazer as pessoas pararem de fumar.

Há um conflito de interesses flagrante
Portanto, vamos parar de perguntar à indústria de petróleo e gás como acabar com o vício em combustíveis fósseis.

Como primeiro passo, a divulgação pública dos interesses dos participantes é importante porque o público tem o direito de saber quem está na mesa de negociações.

Esta semana foi revelado que a TotalEnergies havia pago uma pseudo-ONG para trazer anonimamente vários delegados para a COP26 e 27.

Este ano, o diretor de gases de efeito estufa e mudanças climáticas da Exxon, Michael Gerard Cousins, entrou nas negociações em Bonn sem declarar para quem trabalhava.

Os participantes também devem ser obrigados a declarar quem está financiando sua participação nos processos climáticos da ONU.

Aqui em Bonn, a presença da Shell, Chevron e ExxonMobil aumenta a ótica existente da COP28 sendo administrada pela indústria de combustíveis fósseis.

Al Jaber, o novo presidente da COP28, também é o CEO da ADNOC, empresa estatal de petróleo e gás dos Emirados Árabes Unidos.

A influência da empresa de combustíveis fósseis sobre a presidência foi amplamente divulgada.

Ter um executivo do petróleo como presidente da COP é totalmente inaceitável, mas Al Jaber é apenas a ponta de um iceberg muito oleoso quando se trata de capturar a indústria das negociações sobre o clima.

Outros, como os EUA e a UE, passaram décadas promovendo os interesses da indústria de combustíveis fósseis em sua diplomacia climática e estão fazendo isso agora em Bonn.

Numa reunião com um negociador europeu, eles continuaram a argumentar que os lobistas dos combustíveis fósseis deveriam ter permissão para participar das negociações, apesar de admitirem que não tinham intenção de reduzir a produção de combustíveis fósseis.

Máquina de lobby
A nova pesquisa também expõe como as Big 5 também construíram máquinas de lobby impressionantes nos EUA e na UE desde a COP21, declarando um total combinado de quase 2.000 lobistas e mais de US$ 300 milhões investidos no referido lobby.

Naquela época, o CEO da ExxonMobil, Rex Tillerson, também se tornou secretário de Estado dos EUA, enquanto Shell, BP e TotalEnergies foram assessores importantes da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante a atual crise de energia, pressionando com sucesso por mais gás fóssil.

Soluções reais para a crise climática exigem ações ousadas para conter a obstrução da indústria de combustíveis fósseis nas negociações climáticas.

Os apelos do povo foram repetidos por mais de 130 legisladores de ambos os lados do Atlântico e de ambos os lados do corredor em uma carta recente ao presidente dos EUA, Joe Biden, von der Leyen, e ao secretário executivo da UNFCCC, Simon Stiell, também pedindo o fim da interferência dos combustíveis fósseis 

A luta para resolver os conflitos de interesse dos poluidores tem sido longa, mas para qualquer hipótese de a COP28 anunciar uma eliminação justa de todos os combustíveis fósseis, precisamos remover o maior obstáculo ao progresso: a influência da indústria de combustíveis fósseis.

A divulgação pública obrigatória é um primeiro passo decente, mas precisamos de uma estrutura robusta de conflito de interesses se quisermos expulsar os grandes poluidores.

Saber mais:

domingo, 4 de junho de 2023

Onde param os biliões investidos por países ricos no combate às alterações climáticas?


Países ricos prometeram 100 mil milhões de dólares por ano para ajudar a reduzir os efeitos do aquecimento global. Mas grandes valores estão a ser canalizados para projetos que incluem uma central de carvão, um hotel e lojas de chocolate.
A Reuters publicou um "relatório especial" que examina a forma como o financiamento internacional do clima pelos países desenvolvidos está a ser gasto em todo o mundo. Começa por dizer: "Os países desenvolvidos comunicaram mais de 40.000 contribuições diretas para o objetivo de financiamento, totalizando mais de 182 mil milhões de dólares, de 2015 a 2020. Para compreender como esse dinheiro está a ser gasto, repórteres da Reuters e do Big Local News, um programa de jornalismo da Universidade de Stanford, examinaram milhares de registos que os países apresentaram à ONU para documentar as contribuições. A falta de transparência do sistema tornou impossível saber quanto dinheiro está a ser aplicado em projetos que realmente ajudam a reduzir o aquecimento global e o seu impacto.
Os países não são obrigados a comunicar os pormenores dos projetos. As descrições que divulgam são muitas vezes vagas ou inexistentes - de tal forma que, em milhares de casos, nem sequer identificam o país para onde foi o dinheiro. Mesmo os países beneficiários que constam dos relatórios por vezes não sabem dizer como é que o dinheiro foi gasto". E continua: "A Reuters e a Big Local News pediram a 27 nações pormenores sobre o financiamento que comunicaram à ONU, examinaram documentos públicos e falaram com ONGs e outras pessoas envolvidas nos projetos comunicados. (...) Descobriu-se que pelo menos 3 mil milhões de dólares não foram gastos em painéis solares ou parques eólicos, mas sim em centrais eléctricas a carvão, aeroportos, combate ao crime ou outros programas que pouco ou nada fazem para atenuar os efeitos das alterações climáticas.
Exemplos de embustes:
1. Um investimento italiano de 4,7 milhões de dólares ajudou a Venchi, uma cadeia italiana de chocolates e gelados, a abrir dezenas de novas lojas no Japão, na China, na Indonésia e noutros países asiáticos, contou com a ajuda da SIMEST, uma empresa público-privada que ajuda as empresas italianas a expandir-se no estrangeiro.
2. Os EUA ofereceram um empréstimo 19,5 milhões de dólares para a expansão de de hotéis Marriott em Cap-Haitien, no Haiti. Os planos previam a melhoria do Habitation Jouissant com mais quartos, uma piscina infinita, um restaurante no telhado e melhores instalações de ginásio. O promotor, Fatima Group, diz agora que está a redesenhar o projeto, que se tornará uma propriedade Courtyard by Marriott. O hotel tem vista para o mar, mas a sua posição numa encosta significa que não está ameaçado pela subida do nível do mar ou por inundações, e não sofreu quaisquer danos causados por tempestades. O Fatima Group tenciona, no entanto, construir "infra-estruturas resistentes ao clima". Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que o empréstimo para o hotel contava como financiamento climático porque o projeto incluía medidas de controlo das águas pluviais e de proteção contra furacões. Além disso, os EUA comunicaram a cobertura de seguro no valor de 7 milhões de dólares para um projeto hidroelétrico na África do Sul que nunca se concretizou.
3. A Bélgica apoiou o filme "La Tierra Roja", uma história de amor passada na floresta tropical argentina. Conta a história de um antigo jogador de raguebi que trabalha para uma empresa que abate florestas para fazer papel na Argentina. Apaixona-se por uma ativista ambiental que protesta contra os produtos químicos tóxicos que poluem a água, utilizados pelo fabricante de papel. Nicolas Fierens Gevaert, porta-voz do Departamento de Negócios Estrangeiros, Comércio e Desenvolvimento da Bélgica, diz que a Bélgica considerou a sua contribuição de 8.226 dólares como financiamento climático porque o filme aborda a desflorestação, um fator de alterações climáticas.
4. A França comunicou um empréstimo de 118,1 milhões de dólares a um banco chinês para iniciativas ambientais, bem como empréstimos no valor total de 267,5 milhões de dólares para a modernização de um sistema de metro no México e 107,6 milhões de dólares para melhorias portuárias no Quénia. De acordo com a Agência Francesa de Desenvolvimento, cada projeto foi posteriormente cancelado e os fundos não foram pagos.
5. O Japão está a financiar uma nova central de carvão no Bangladesh ($2.4 biliões) e a expansão do aeroporto Borg El Arab, no Egito ($776.3 milhões). O objetivo a curto prazo do projeto de 1,5 milhões de passageiros adicionais aumentaria as emissões dos voos de saída em cerca de 50% em relação aos níveis de 2013. Os documentos consideram o Borg El Arab um "Aeroporto Ecológico" e referem os painéis solares economizadores de energia, o ar condicionado de alta eficiência e as lâmpadas LED do edifício do terminal planeado. Pelo menos 28 milhões de dólares foram orçamentados para a construção que incorporasse tais características. Mas a JICA planeou gastar outros 40 milhões de dólares em custos não relacionados com o clima, incluindo um novo parque de estacionamento, estradas e serviços de consultoria. Quando o Japão ajudou o Bangladesh a planear o projeto Matarbari, há mais de uma década, o sistema elétrico do Bangladesh tinha um défice diário de energia de 2.000 megawatts, mais de um terço da sua procura. Esta situação levou a falhas de energia longas e frequentes que provocaram protestos e prejudicaram o crescimento económico. A nova central ajudará a eliminar a actual escassez de energia. A central irá adicionar 6,8 milhões de toneladas de CO2 à atmosfera todos os anos, de acordo com documentos da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), que ajudou a planear e a financiar o projecto. É mais do que a cidade de São Francisco registou em termos de emissões durante todo o ano de 2019. Para além de financiar a central de carvão do Bangladesh, o Japão concedeu empréstimos a projetos de carvão no valor de, pelo menos, mais 3,6 mil milhões de dólares, um no Vietname e dois na Indonésia, e 3 mil milhões de dólares a projetos que dependem do gás natural. O financiamento de grandes projetos como o Matarbari ajudou o Japão a afirmar-se como o maior financiador do financiamento climático. O país comunicou 59 mil milhões de dólares em subvenções, empréstimos e investimentos de capital entre 2015 e 2020 e a intenção de manter níveis de financiamento semelhantes até 2025. São mais 14 mil milhões de dólares do que a Alemanha, o segundo maior financiador.
Apesar de uma central de carvão, um hotel, lojas de chocolate, um filme e a expansão de um aeroporto não parecerem esforços para combater o aquecimento global, nada impediu os governos que os financiaram de os declararem como tal às Nações Unidas e de os contabilizarem no seu total de donativos. Ao fazê-lo, não infringiram nenhuma regra. Isto porque o compromisso não foi acompanhado de directrizes oficiais sobre as atividades que contam como financiamento climático. Embora algumas organizações tenham desenvolvido as suas próprias normas, a falta de um sistema uniforme de responsabilização permitiu que os países criassem as suas próprias normas. Cabe aos próprios países decidir se querem impor normas uniformes.
Os negociadores climáticos dos países ricos que se opõem a regras mais rigorosas afirmam que mais restrições sobre a forma como os fundos são gastos podem limitar a autonomia dos países em vias de desenvolvimento no combate às alterações climáticas, restringir o fluxo de dinheiro e impedir a flexibilidade necessária para acompanhar o ritmo da crise em rápida evolução e as tecnologias necessárias para a resolver.
Gabriela Blatter, principal assessora política da Suíça para o financiamento internacional do meio ambiente, afirma que os países desenvolvidos não estão a resistir a uma definição para que possam reivindicar "qualquer coisa sob o sol" como financiamento climático. Em vez disso, eles querem permanecer fiéis ao Acordo de Paris, que visa respeitar o direito de cada país de definir seu próprio caminho na luta contra os efeitos das alterações climáticas.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Seis organizações cristãs criticam inação do G7


Seis organizações cristãs expressaram publicamente, no dia 23 de maio, o seu “enorme desapontamento com o facto do comunicado final dos líderes do G7” reunidos na recente Cimeira de Hiroxima “descrever como ‘apropriado’ o investimento público em combustíveis fósseis” e de nele “os líderes pedirem uma expansão do setor de gás e bloquearam os esforços para se comprometerem com a data de eliminação do carvão doméstico em 2030”.

A Green Anglicans, a GreenFaith, o Islamic Relief Worldwide, o Laudato Si’ Movement, a Soka Gakkai International e o Conselho Mundial das Igrejas assinaram a declaração em representação dos seus mais de 600 milhões de membros espalhados por mais de 190 países. O Reverendo Kenneth Mtata, do Conselho Mundial de Igrejas, afirmou que o Conselho aderiu à declaração porque “o amor de Cristo implica uma solidariedade profunda e uma busca de justiça para aqueles que menos contribuíram para esta emergência climática” e são “os combustíveis fósseis que mais contribuem hoje, de longe, para as alterações climáticas”. Por seu turno, o diretor executivo da GreenFaith, o Reverendo Fletcher Harper, chamou a atenção para o facto de que “a maioria das pessoas deslocadas por causa das alterações climáticas são mulheres, que, ​​como refugiadas, são particularmente vulneráveis” e as nossas religiões “ensinam que a sociedade deve honrar as mulheres não criando condições para que sejam violadas.”

segunda-feira, 20 de março de 2023

IPCC entrega ao planeta um “guia de sobrevivência para a humanidade”

“As nossas escolhas e acções durante esta década terão impactos agora e durante milhares de anos”, diz relatório síntese do IPCC, que reforça apelo ao investimento na adaptação e justiça climática.


Até 2030, é necessário acelerar a acção para as sociedades humanas se adaptarem às alterações climáticas causadas pelas emissões de gases com efeito de estufa, se queremos ter alguma oportunidade de limitar o aquecimento global a 1,5 graus acima dos valores anteriores à Revolução Industrial – uma meta ainda possível, mas que se torna cada vez mais distante.

Isto é o que se conclui ao ler o Relatório Síntese do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) divulgado nesta segunda-feira, na Suíça, que faz um resumo de todos os relatórios do 6º Ciclo de Avaliação que foram publicados entre 2018 e 2023, produzidos por um enorme grupo internacional de cientistas que trabalham sob a égide das Nações Unidas para avaliar as marcas das mudanças do clima.

O relatório baseia-se no conteúdo de seis outros: um baseado na Física das Alterações Climáticas, outro nos Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, um terceiro na Mitigação das Alterações Climáticas. Há também três relatórios especiais: sobre os efeitos de um aquecimento global de 1,5 graus, os Solos e os Oceanos e a Criosfera.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que este relatório era um “guia de sobrevivência para a humanidade”. E acrescentou: “Este relatório é um apelo claro à intensificação de esforços climáticos de cada país e de cada sector e em qualquer período de tempo. O nosso mundo precisa de acção climática em todas as frentes: tudo, em todo o lado, tudo ao mesmo tempo”, disse, fazendo menção ao título do filme que venceu os Óscares este ano.
PÚBLICO -

O resumo do relatório para os decisores políticos coloca nas nossas mãos a responsabilidade sobre o que já é o nosso presente e o nosso futuro: “As nossas escolhas e acções durante esta década terão impactos agora e durante milhares de anos”, lê-se.

“Manter o aquecimento em 1,5 graus Celsius acima dos valores pré-industriais exige reduções rápidas, profundas e sustentadas em todos os sectores. As emissões deviam estar já a reduzir-se e terão de ser cortadas em cerca de metade até 2030, se queremos limitar o aquecimento até 1,5 graus”, lê-se no relatório. É preciso cortar 43% nas nossas emissões de gases com efeito de estufa até 2030, em comparação com os valore de 2019.

Temos de correr em vez de andar
“Estamos a andar, quando devíamos estar a correr”, disse Hoesong Lee, presidente do IPCC, na conferência de imprensa transmitida online em que foi apresentado o documento.

O relatório apresenta as tendências, que não são animadoras. “As reduções até 2030 de gases com efeito de estufa que se deduzem das contribuições determinadas nacionalmente [NDC, a sigla em inglês, os compromissos de cada país para reduzir as suas emissões] anunciadas até Outubro de 2021 tornam provável que o aquecimento exceda 1,5 graus durante o século XXI e tornam mais difícil que o aquecimento fique abaixo de dois graus Celsius”, diz o relatório, que é assinado por 93 cientistas. “Sem um reforço das políticas projecta-se um aquecimento global de 3,2 graus até 2100 (previsão de média confiança)”, acrescentam.

“Há lacunas entre as emissões projectadas a partir das políticas postas em prática e as relatadas nos NDC, e os fluxos financeiros ficam aquém dos níveis necessários para cumprir os objectivos climáticos em todos os sectores e regiões”, escrevem os cientistas, numa avaliação a que é conferido um nível de elevada confiança.

Porém, o documento deixa uma mensagem de esperança: “Há múltiplas opções, eficazes e exequíveis, para reduzir as emissões de gases com efeito de estuda e adaptarmo-nos às alterações climáticas motivadas pela actividade humana, e estão disponíveis já”.

PÚBLICO -

O relatório dá exemplos dessas medidas de adaptação, que podem ser por exemplo conservação dos solos, gestão dos recursos hídricos, diversificação na agricultura, aumentar a presença de espaços verdes nas cidades, restauro de zonas húmidas.

A questão é conseguir aplicar estas soluções com a rapidez e extensão necessárias para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, sublinhou Hoesong Lee. Para isso é preciso aumentar o financiamento da adaptação e mitigação, sobretudo dos países e comunidades mais vulneráveis. Os modelos usados pelo IPCC mostram que seria preciso aumentar três a seis vezes o nível actual de financiamento (público, privado, nacional e internacional) para limitar o aquecimento a 1,5 ou dois graus, em todos os sectores e regiões.

“O acesso ao financiamento permitiria acelerar a acção climática”, diz o relatório. “Pode funcionar como um catalisador para acelerar adaptação e mitigação e permitir o desenvolvimento com resiliência ao clima”, dizem os cientistas.

“Há liquidez e capital global suficiente, dadas as dimensões do sistema financeiro global, mas há barreiras à redirecção do capital para a acção climática, “tanto no sector financeiro como no contexto das vulnerabilidades económicas e da dívida que enfrentam os países em desenvolvimento”, realçam. Reduzir estas barreiras é uma tarefa para os Governos, sublinha o relatório do IPCC.

Actualmente, há mais financiamento a fluir para os combustíveis fósseis do que para adaptação e mitigação (redução de emissões) climática”, refere ainda o documento aprovado este fim-de-semana que é divulgado esta segunda-feira. E, embora a mitigação receba muito mais dinheiro do que a adaptação, ainda assim é muito menos financiamento do que seria necessário.

Proteger os mais pobres
Se já não há dúvida de que a actividade humana está a causar as alterações climáticas, o relatório do IPCC diz-nos que chegou a altura de pagar o preço pelos efeitos que o clima alterado está a ter na nossa vida e na vida da Terra– mais e mais intensas tempestades, cheias, secas, por exemplo?

Temos as provas mais sólidas de sempre que as perdas e danos das alterações climáticas estão a acontecer em todas as regiões, respondeu a uma pergunta do PÚBLICO na conferência de imprensa a partir de Interlaken, na Suíça, o cientista sul-africano Christopher Trisos. “Mas também de que os grupos de mais baixos rendimentos sofrem as maiores lacunas de adaptação”, sublinhou.

Por isso o relatório põe a tónica na necessidade de haver justiça climática, de não serem deixados para trás nos esforços de mitigação e adaptação às alterações climáticas os mais pobres, sejam eles países em desenvolvimento com uma grande dívida externa ou os grupos mais vulneráveis numa sociedade. “Temos um nível alto de confiança nos dados que mostram que há maiores ganhos de bem estar social, sobretudo em áreas urbanas, se dermos prioridade a reduzir os riscos climáticos que atingem os indivíduos de rendimentos mais baixos ou marginalizados”, frisou Christopher Trisos.

A chave é a “a resiliência” climática. “O desenvolvimento resiliente do clima torna-se um desafio cada vez maior com cada incremento do aquecimento. É por isso que as escolhas feitas nos próximos anos desempenharão um papel crucial na decisão do nosso futuro e o das gerações vindouras", sublinha o comunicado de imprensa sobre o relatório.

Para serem eficazes, as escolhas que temos de fazer têm de estar enraizadas nos nossos diversos valores, visões de mundo e conhecimentos, incluindo o conhecimento científico, o conhecimento indígena e o conhecimento local, destaca o comunicado. “Esta abordagem irá facilitar o desenvolvimento resiliente do clima e permitir soluções localmente apropriadas e socialmente aceitáveis", diz o comunicado.

Perdas e danos
"A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para as alterações climáticas estão a ser desproporcionadamente afectados", disse Aditi Mukherji, uma cientista que está entre os 93 autores deste Relatório de Síntese. A factura a pagar pela crise climática tem sido um dos temas mais polémicos do debate sobre a crise climática.

O relatório traz para o centro das atenções a questão das perdas e danos “que já estamos a sofrer e continuaremos a sofrer no futuro, atingindo os mais pessoas vulneráveis e ecossistemas”, refere o comunicado de imprensa, sublinhando, no entanto, que "tomar agora a acção certa poderia resultar na mudança transformacional essencial para um mundo sustentável e equitativo".

Na cimeira do clima da ONU (COP27) que se realizou no ano passado no Egipto foi, finalmente, aprovada a criação de um mecanismo sobre "perdas e danos" que visa compensar os países mais frágeis. No entanto, o fundo ainda não está criado e há muitas coisas ainda a definir, como quem paga o quê e quem recebe o quê.

"O que precisamos é de vontade política e dos cidadãos, apoio público para que se tomem acções imediatas", sublinhou Hoesong Lee, na conferência de imprensa. Este relatório será a base da avaliação global do ponto em que estamos do cumprimento do Acordo de Paris, que será feita na Cimeira do Clima das Nações Unidas deste ano, a COP28, nos Emirados Árabes Unidos.

Ainda há espaço para alguma esperança no mais recente relatório do IPCC. Mas os avisos soam a verdadeiros ultimatos. Parece que o tempo de perguntar "agora ou nunca" acabou. A acção tem de ser imediata, não há escolha.

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Devemos abolir os jatos privados?


Para ativistas a resposta é sim. A começar pelo facto de uma viagem de jato privado emitir 10 vezes mais gases com efeito de estufa por pessoa que um voo comercial.

Este janeiro soube-se que a desigualdade de emissões entre classes é maior que entre países. Uma viagem de jato privado emite, por pessoa, 10 vezes mais gases com efeito de estufa que um voo comercial. Menos de 0.1% das pessoas alguma vez puseram pés num.

Aos ouvidos de uma criança, razão suficiente para os abolir não falta, falta sim bom senso. E este brota abundantemente no movimento pela justiça climática.

Não bastava a aviação privada ser a indústria de transporte mais desigual, é também a mais poluente: as emissões causadas por um voo de jato privado entre Londres e Nova Iorque são superiores às que uma família portuguesa média fará num ano inteiro da sua vida.

Não nos acanhemos de apontar responsáveis. Segundo o Emissions Gap Report de 2020, da ONU, este minúsculo grupo (<1%) é responsável por mais de 97% das emissões e tem de as cortar na mesma proporção para que o mundo fique abaixo dos limites definidos pela ciência para prevenir o colapso climático.

Se os jatos privados já são o meio de transporte mais poluente e injusto em plena crise climática, porque continuam a existir e estão aliás em proliferação? Em todas as cimeiras do clima se pergunta: porque vão os governantes para lá de jato?

Os jatos privados são o cúmulo da hipocrisia e da inação climática, o sintoma perfeito da razão pela qual vivemos em crise. Quem governa, ou quem rege quem governa, é efetivamente responsável pela crise climática. E se historicamente todas as grandes mudanças sociais exigiram resistência ativa à injustiça, a maior crise que já enfrentámos não será diferente.

Nos anos 80 populações no norte de Portugal tiveram de arrancar ilegalmente 200 hectares de eucaliptos para a serra parar de arder, face a um estado e mercado ossificados. Terão de ser as pessoas normais a colocar mais uma vez a vida acima do luxo, desta vez perante um planeta em chamas.

Internacionalmente, esta é a tendência. No aeroporto de Schiphol, nos Países Baixos, um grupo de 300 pessoas invadiu a pista e impediu descolagens, cortando durante essas horas mais emissões da aviação do que o governo português planeia cortar esta década.

Em Portugal lançou-se a campanha Abolir Jatos Privados, focada em ações diretas e sem precedentes, tomando as crises do clima e da desigualdade com a seriedade que merecem.

Se nem nos conseguimos livrar das emissões absurdamente desnecessárias, como vamos chegar ao zero? Se é preciso cortar emissões comece-se pelas que só aos culpados fazem falta.