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sábado, 24 de setembro de 2022

Literatura Gótica


Gosto imenso de literatura gótica, do macabro, contos repletos de escuridão, masmorras de castelos medievais, bruxas, vampiros, lobisomens, criptas, transumanismo, cyborgs, a morte, a arte fúnebre, pós-morte, druídas, feitiçaria, feitiços, monstros humanos e extraterrestres. Gosto de autores que explorem ambientes sombrios e usem o sobrenatural. Que usem de recursos filosóficos da  mitologia grega, mitologia hindu, mitologia céltica, mitologia dos povos indígenas, mitologia cristã e paleo-cristã, do misticismo, em geral.

No geral a literatura gótica baseia-se na sombra, do mais enigmático da psicologia e na espiritualidade.  Distingue-se da literatura de terror/horror, pois esta baseia-se mais em zombies (mortos-vivos), necrofilia, cenas sanguinárias, casas assombradas, fenómenos paranormais, canibalismo, satanismo, exorcismo, sociopatas, massacres com armas violentas (punhais, machados, serras-eléctricas, etc), visões de crianças inocentes e culto do pavor. No início dos anos 2000, houve uma onda de cinema francês com forte caráter gore e tortura . Dentro dessa tendência sangrenta e descarada, Mártires foi uma joia que não só gerou polémica pelas suas cenas de violência explícita ao extremo, como também levantou bolhas por suas críticas ao fanatismo religioso e à fé.

Faz parte da literatura gótica personagens melodramáticas: donzelas, cavaleiros, seres vis; e uma simbologia repetitiva: mistérios que surgem de tempos passados, manuscritos ocultos, previsões do futuro, imprecações. Algumas obras recorrem igualmente à psicologia do terror – o pavor, a insanidade mental, os abusos da sexualidade, entre outros temas; a esfera transcendental – espíritos, seres demoníacos, monstros alienígenas; meditações sobre a esfera do Poder – sistema colonial, as tarefas que cabem ao feminino, etc. -; debates políticos – monarquia, república, revoluções, estética nazista, estética soviética; tópicos religiosos – Inquisição, Cruzadas, etc.

Origem da palavra Gótico
O primeiro autor a referir-se ao termo gótico relacionado com literatura foi Addison nos seus ensaios. No entanto, utiliza este termo como sinónimo de bárbaro. A obra de Tobias Smollet " The Adventures of Ferdinand Count Phatom" (1753) também possui alguns dos elementos góticos. Mas é só a partir da obra The Castle of Otranto (1764), da autoria de Sir Horace Walpole, que a verdadeira literatura de cariz gótico entra nos círculos literários. Esta obra, apesar de todas as suas inverosimilhanças, teve uma grande influência para os autores que se seguiram. É a partir dela que se começa a utilizar o terror, o sobrenatural e o macabro como possíveis fontes de ficção. O submundo do inconsciente não entrava, porém, nas criações de Walpole. O uso que faz do termo gótico deve-se à sua preocupação em reconstituir o ambiente medieval – logo longínquo – que permitiria o uso da superstição, de ambientes misteriosos e terríficos.

A palavra gótico tem origem numa tribo germânica, os Godos, que por volta do século II a.C. se tinha instalado nas margens do Báltico. Esta palavra entra no vocabulário significando germânico e mais tarde, com o Renascimento e o Iluminismo, medieval. Gótico seria tudo o que dissesse respeito à Idade Média, vista como a Idade das Trevas e associada à brutalidade, às superstições e ao feudalismo. Assim, e até ao século XVIII, a palavra era usada de forma depreciativa.

Em arquitectura, o estilo gótico surge em meados do século XII e prospera até ao século XVI. Este estilo expressava a essência da fé católica, preocupada em criar um ambiente onde se sentisse a presença de Deus, incorporando algum simbolismo pagão – as gárgulas são um bom exemplo disso. A arte e arquitectura góticas tinham por objectivo criar um efeito sobrenatural e mágico no espectador, evocando uma espécie de terror, vulnerabilidade, temor, o sentir-se à mercê de um poder superior – ponto de vista do mundo medieval – e é isso que é recuperado em muitos dos romances gótico. Desta forma, a ligação entre o termo artístico gótico e o termo literário, encontra-se na ênfase que ambos dão às emoções.

No Século XVIII, e ao mesmo tempo que o Romance se estabelecia como forma literária, houve, por parte de alguns autores, um interesse por tradições mais antigas e orais, pelas sagas e baladas islandesas, nórdicas e celtas e pela literatura da Idade Média. Isto seria uma reacção contra algumas das ideias do Iluminismo. Muito do imaginário do que futuramente se denominaria literatura gótica, existia já nos elementos sobrenaturais das baladas e nos excessos dos romances de cavalaria medievais. É na primeira metade desse século que aparece também a Graveyard School of Poets (Os Poetas do Cemitério). Poetas como Thomas Parnell, Thomas Gray e Edward Young, que escreviam longos poemas meditativos sobre a morte e a imortalidade da alma, normalmente passados em cemitérios, lançaram algumas das sementes do movimento gótico. Os principais objectos poéticos destes autores eram os cemitérios, a noite, as ruínas, as almas penadas, a morte, todos eles futuros temas do romance gótico.

O século XVIII foi o século do revivalismo gótico, primeiro na arquitectura e jardinagem e só depois na literatura. O Romantismo, como movimento literário, dava preferência ao esplendor, ao pitoresco, à felicidade dos tempos passados, ao sublime espectáculo da natureza, à paixão e à beleza extraordinária. Era considerado o oposto do clássico. O gótico distinguia-se pelo seu fascínio pelo horrível, pelo repelente, pelo grotesco e sobrenatural, pelas atmosferas de mistério e suspense, pelo medieval. A junção desses elementos faz com que surja o romance gótico.

A escola gótica inglesa demonstrou-se sempre fiel à preocupação didáctica do século XVIII, que justificava o uso da crueldade e da perversidade como forma de glorificar a virtude – que no final sempre triunfava. Na sua essência, este tipo de romance é, primeiramente, um romance sentimental onde intervém o sobrenatural. O seu esquema fundamental implica uma donzela virtuosa, um herói apaixonado e um vilão que não olha a meios para obter os seus fins. A isto acrescentam-se as forças ocultas do sobrenatural e um ambiente tenebroso. Alguns dos elementos que constituem este romance gótico são, entre outros, os seguintes: a existência de um antigo manuscrito; a magia; os fantasmas ou espectros; a loucura e os sonhos proféticos; um castelo antigo ou em ruínas; as obras de arte, armaduras e espadas ferrugentas; os crimes e imenso sangue; a religião católica; a Itália; e a Natureza como leit-motif.

O romance gótico fica estabelecido e muitos autores viram no romance de Walpole uma boa fonte de inspiração, como é o caso de Clara Reeves com o romance The Champion of Virtue. A Gothic Story, publicado em 1777, mais conhecido pelo nome com que é reeditado no ano seguinte: The Old English Baron. 

No século XVIII racionalista, a incongruência do romance gótico encontrava-se na intervenção do sobrenatural. Isto foi resolvido por Ann Radcliffe que, no final dos seus romances, explicava sempre o sobrenatural por elaboradas causas naturais. É com os romances de Radcliffe que o gótico, com os seus elementos de terror e suspense, se assume como uma moda literária. Dos seus seis romances góticos, o mais famoso é, sem dúvida, The Mysteries of Udolpho, de 1794. É também a partir de Ann Radcliffe que as histórias passam a ser góticas, não por serem passadas em tempos distantes e medievais, mas pelo seu cenário. Há uma tentativa de aproximação do romance aos tempos mais próximos.

Se com Radcliffe se concretizou o «terror» gótico, é com Matthew Gregory Lewis e o seu romance The Monk publicado em 1796, que a violência brutal e os pormenores macabros passam para o romance e se concretiza o «horror» gótico. Lewis é o mais alto expoente da influência da escola gótica alemã em Inglaterra. A preocupação com a glória da virtude não existiu nesta escola, deixando espaço para a criação de formas de terror mais violentas por parte de Lewis.

Ernst Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann (Königsberg, 24 de janeiro de 1776 – Berlim, 25 de junho de 1822), mais conhecido por E. T. A. Hoffman, foi um escritor romântico, compositor, desenhista e jurista alemão, sendo sobretudo conhecido como um dos maiores nomes da literatura fantástica mundial.
As suas histórias foram a base da famosa ópera de Jacques Offenbach, Os Contos de Hoffmann, em que Hoffman aparece como personagem. O balé O Quebra-Nozes de Piotr Illitch Tchaikovsky foi baseado no seu conto "O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos", o ballet Coppélia foi baseado em outros contos seus e a Kreisleriana de Robert Schumann é baseada no personagem Johannes Kreisler, criado por Hoffmann.

Este período foi fértil em autores e obras. Nomeadamente: Lord Byron (Horas de Lazer; Poetas Ingleses e Críticos Escoceses; A Peregrinação de Childe Harold; O prisioneiro de Chillon; Manfred; Beppo; Don Juan) e William Blake  (Songs of Innocence; Book of Thel; A Song of Liberty; The Marriage of Haven and Hell; Songs of Experience; The Song of Los; Milton; Everlasting Gospel; Jerusalem)
 
A última grande figura do panorama gótico desse século é, indubitavelmente, Charles Robert Maturin que, com o romance "Melmoth, the Wanderer" (1820), faz com que o gótico atinja altitudes nunca antes vistas, em que o medo sai do reino do convencional e desaba sobre a humanidade. O terror inspirado é ao nível do espírito.

Já no século XIX, o gótico continua a proliferar e os romances góticos, tanto Ingleses, Franceses como Alemães, continuam a aparecer em abundância: Edgar Allan Poe; Charles Baudelaire; Mary Shelley: (Frankenstein ou O Moderno Prometeu),  Lewis Carroll e as suas obras "Alice no País das Maravilhas"; "Alice no País do Espelho"; "Algumas Aventuras de Silvia e Bruno"; "Rimas do país das maravilhas"; "A caça ao Turpente" e Rudyard Kipling ("The Phantom Rickshaw," "The Strange Ride of Morrowbie Jukes," e "The Mark of the Beast" )

No final do séc. XIX surgem expoentes da literatura gótica Brasileira -Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos ("Saudade"; "Eu e Outras Poesias"; "Psicologia de um Vencido"; "Versos íntimos") e Cruz e Souza ("Tropos e Fantasias"; "Missal e Broquéis"; "Evocações"; "Faróis"; "Últimos Sonetos").

Em Portugal alguns poemas de Bocage e no início do séc. XX a grande poetisa Florbela Espanca, em especial:  "Livro de Mágoas"; "Livro de Sóror Saudade"; "Charneca em Flor"; "Juvenília"; "Reliquiae" e "Sonetos Completos".

Nos EUA, Charles Brockden Brown é o responsável pela difusão do gótico, embora tenha transposto a acção dos seus romances para palcos mais familiares aos seus leitores. Em vez de castelos em ruína, usa como palco florestas e longínquas localidades, que, no entanto, possuem o mesmo espírito gótico. Muitos poemas de Emily Dickinson são góticos.

É no teatro que o domínio do «negro» entra mais cedo. Em Inglaterra, já Shakespeare utilizara, nas suas peças, uma parte dos elementos que se encontram na escola gótica, como é o caso do fantasma em Hamlet, as bruxas em Macbeth ou o carácter distorcido de Ricardo III na peça com o mesmo nome. Na Alemanha, o movimento do Sturm und Drang – nome de uma peça de Klinger – difunde um novo género de drama. A sua influência em Shakespeare e suposta liberdade dos padrões clássicos, eram uma revolta contra as convenções e doutrina do classicismo francês. Os dramas eram de índole nacionalista, caracterizados pelo fervor, entusiasmo, retrato de grandes paixões, fortes experiências emocionais e lutas espirituais que irão influenciar o drama gótico. Todavia, as suas convenções foram estabelecidas pela literatura gótica. O efeito da popularidade dos romances góticos fez com que as produções dramáticas fossem em grande número. Robert Jephson foi o primeiro dramaturgo gótico: The Count of Narbonne (1781) é uma dramatização de The Castle of Otranto. Jephson simplificou e reduziu muito do romance, omitindo alguns dos elementos sobrenaturais que teriam sido difíceis de colocar em palco. Joanna Baillie distinguiu-se, com a peça De Monfort (1800), pela representação da mulher no gótico. A sua peça é uma crítica aos vários modos convencionais de dramatizar a mulher. É um thriller psicológico, que utiliza cenários, personagens e atmosferas góticas. 

Porém, a escola gótica tinha-se afundado no absurdo sendo um alvo fácil para a sátira, como o comprova Jane Austen em Northanger Abbey (1817). O romance gótico sucumbe perante a sua própria extravagância mas os mecanismos e imaginário góticos continuam a assombrar a ficção de escritores como Edgar Allen Poe, Oscar Wilde (O Retrato de Dorian Gray; O Fantasma de Canterville; O Filho da Estrela; Rosa Mystica; Flores de Ouro) e Nathanial Hawthorne. Há uma incorporação de alguns elementos góticos em obras posteriores. Um bom exemplo disso é Dracula de Bram Stoker, publicado em 1897.

No século XX, a literatura gótica encontra seguidores. Na primeira metade do século autores como M. R. James, Algernon Blackwood, Shirley Jackson, Edward Plunkett, Howard Phillips Lovecraft, Daphne du Maurier, Marion Zimmer Bradley e William Gerald Golding  são figuras de destaque. Após os anos 80, Anne Rice, Poppy Z. Brite e Patrick McGrath continuam a utilizar alguns dos consagrados elementos góticos. 

Charles Samuel Addams (Westfield, 7 de janeiro de 1912 — Nova Iorque, 29 de setembro de 1988) foi um cartoonista norte-americano conhecido por seus personagens macabros e por seu humor pouco convencional.

Ficou conhecido por ter criado A Família Addams, baseados em alguns personagens recorrentes de suas tirinhas. A família tornou-se famosa nas tirinhas do jornal The New Yorker e ganharam série de TV, musical e filmes para o cinema..
 
Edward Gorey foi um autor plurifacetado e prolífico. Os seus livros "fora da caixa" criaram um culto em torno dele. Essencialmente ilustrador e criador de figurinos para peças teatrais. As principais obras mais conhecidas são "The Doubtful Guest" e "The Gashlycrumb Tinies".

Howard Allen O'Brien, mais conhecida como Anne Rice é também uma excelente representante da literatura gótica. Nos seus livros, invariavelmente apresenta os vampiros como indivíduos com paixões, teorias, sentimentos, defeitos e qualidades, tal como os seres humanos, mas, com a diferença de terem que lutar pela sua sobrevivência por meio do sangue de suas vítimas e sua própria existência que, para alguns deles, é um fardo a ser carregado através das décadas, séculos e até mesmo milénios.

O seu livro de maior sucesso é "Entrevista com o vampiro". Anne relata que escreveu esse livro em apenas uma semana, após a morte de sua filha por leucemia, retratada na personagem Cláudia.

Terence David John Pratchett, OBE (Beaconsfield, Buckinghamshire, 28 de abril de 1948 – Broad Chalke, Wiltshire, 12 de março de 2015) foi um escritor inglês, mais conhecido pelos seus livros da série Discworld.

Terry Pratchett começou a se interessar por literatura de fantasia lendo as obras de J.R.R. Tolkien aos treze anos, na mesma época em que vendeu sua primeira história. Pratchett explica em seu site que com o dinheiro recebido, comprou uma máquina de escrever em segunda mão. A sua primeira novela humorística é "The Carpet people", e o editor Colin Smythe publicou-a em 1971. Após trabalhar em jornalismo e assessoria de imprensa por anos, escrevendo nas horas vagas, ele publicou "A Cor da Magia" em 1983, e o grande sucesso do livro, inaugurando a série Discworld, acabou por levar o autor a uma carreira literária em tempo integral.

Através de um humor cáustico e irónico ele usa histórias ambientadas num mundo de fantasia para trazer à tona incoerências e idiossincrasias bem reais. No entanto, consegue fazer isso sem prejudicar as características mais marcantes das suas obras: o bom humor e o entretenimento inteligente. O seu sucesso há muito que ultrapassou as fronteiras da Inglaterra, tendo os seus livros publicados em 36 idiomas.

William Golding é o meu favorito. São inúmeras as suas obras e reflexões  sobre parapsicologia, linguística, politeísmo, cristianismo, misticismo, o terror psicológico, as lutas espirituais, o absurdo, a obsessão, a monomania. Saliento "A Duas Vozes" e "O Pináculo".

Literatura gótica e ficção científica
Um dos autores mais impressionantes nesta vertente é sem sombra de dúvida William Gerald Golding. Os seus romances são fábulas sobre o mal, e sondam o abismo entre o mundo da ciência/razão e o mundo da verdade espiritual. Apresenta uma visão "verde" da natureza, como um ecossistema renovável, sob a ameaça sempre presente do homem. Conquistou o pódio gótico com o romance Lord of the Flies (1954)- O Senhor das Moscas. A obra recria acontecimentos que decorreriam num futuro próximo, e conta a história de um grupo de crianças, após terem sido evacuadas de Inglaterra por causa de uma guerra nuclear, sobrevivem ao despenhamento do avião em que seguiam, e que mata todos os adultos. Chegando a uma ilha de coral, formam a sua própria sociedade, que começa por ser solidária e justa, para se ir tornando gradualmente numa autêntica anarquia. 

Marion Zimmer Bradley e as suas histórias de ficção científica do ciclo Darkover (um planeta onde os seres humanos, ao contacto com os alienígenas, adquirem poderes extrapsíquicos) continuam a ter numerosos admiradores.

O gótico viu-se envolvido no séc. XX entre a literatura e roteiros para programas e séries da rádio, televisão, cinema e jogos de consola e online.
The Twilight Zone (Além da Imaginação no Brasil e A Quinta Dimensão em Portugal) é sem dúvida uma série marcadamente gótica. Criada por Rod Serling e dirigida por Stuart Rosenberg, apresenta histórias de ficção científica, suspense, fantasia e terror. Mediante o sucesso popular da série, ao longo de sua história foram realizadas diversas temporadas e continuações. Além da imaginação (1959) da CBS, possui 5 temporadas e 156 episódios, enquanto que na década de 1980 foi lançada, ainda pela CBS O Novo Além da imaginação, com três temporadas. Essa primeira continuação foi precedida por um filme, No Limite da Realidade. Já no século XXI, houve a produção, pela UPN, de Além da imaginação (2002) com apenas uma temporada, apresentada por Forest Whitaker.

Em 1 de abril de 2019, foi lançado pela CBS All Access um novo revival "The Twilight Zone (2019)". Inicialmente foi encomendado uma temporada de dez episódios.

O programa The Twilight Zone seguiu a tradição de programas de rádio mais antigos, como The Weird Circle e X Minus One, além dos trabalhos de rádio do dramaturgo Norman Corwin.

Entre 1974 e 1975 é exibida a série Kolchak: The Night Stalke. Conta as investigações do repórter Carl Kolchak, que vai atrás de casos misteriosos, geralmente envolvendo assassinos monstruosos e sobrenaturais. A série foi precedida por 2 filmes pilotos para TV: The Night Stalker (1972) e The Night Strangler (1973).

Christopher Marlon Carter ficou mundialmente conhecido por escrever e dirigir a série /filme X-files, que envolve extraterrestres, teorias da conspiração e ciência.  A série foi exibida originalmente entre 10 de setembro de 1993 e 19 de maio de 2002. 

Mais célebre e multifacetado é William Ford Gibson. Chamado de "profeta noir" do cyberpunk, subgénero da ficção científica, Gibson cunhou o termo "ciberespaço", em seu conto Burning Chrome e posteriormente popularizou o conceito no seu romance de estreia e obra mais conhecida, Neuromancer, de 1984, primeiro volume da aclamada trilogia Sprawl. Prevendo o ciberespaço, Gibson criou uma iconografia para a era da informação antes da omnipresença da internet na década de 1990.Também é creditado a ele a previsão do surgimento da "televisão de realidade/reality show" e de estabelecer as bases conceituais para o rápido crescimento de ambientes virtuais como jogos e internet. Gibson é um dos mais conhecidos escritores de ficção científica norte-americana, festejado pelo The Guardian em 1999 como "provavelmente o mais importante romancista das duas décadas passadas". Ele tem escrito mais de vinte contos e nove romances aclamados pela crítica (um em colaboração), e contribuiu com artigos para várias importantes publicações e colaborou bastante com performances de artistas, cineastas e músicos. Seu pensamento tem sido citado como uma influência em autores de ficção científica, design, académico, cibercultura e tecnologia.

É também roteirista, tendo escrito o roteiro do filme Johnny Mnemonic - O Cyborg do Futuro baseado  num conto escrito por ele em 1981, dois episódios da série de televisão Arquivo X e o primeiro roteiro de Alien 3 que foi posteriormente reescrito e modificado.

Os conceitos e ideias de Gibson influenciaram diretamente a trilogia cinematográfica Matrix, de autoria das Irmãs Wachowski.

George Raymond Richard Martin é um roteirista e escritor de ficção científica, terror e fantasia norte-americano. É mais conhecido por escrever a série de livros de fantasia épica As Crónicas de Gelo e Fogo, que originou a bem sucedida série televisiva Game of Thrones (A Guerra dos Tronos).

Frank Patrick Herbert  foi um escritor de ficção científica e jornalista americano de grande sucesso comercial e de crítica. Ele é mais conhecido pela obra Duna, e os cinco livros subsequentes da série. A saga de Duna trata de temas como sobrevivência humana, evolução, ecologia, e a interação entre religião, política e poder. Arthur C. Clarke escreve que Duna foi "uma obra única de ficção. Não conheço nada comparável a ela exceto O Senhor dos Anéis." 

Em 1986, surge o filme "O Labirinto", realizado e escrito por Jim Henson  e estrelado por David Bowie (actor e música do filme de fantasia)

O medo de fim do mundo assombra a história da humanidade. Desde o início do século XXI, o espectro de uma tecnologia fora de controle, ultrapassando e depois arrasando nossa espécie, persegue os especialistas. Entretanto chegam novidades góticas e de ficção científica em relação ao transumanismo, inteligência artificial e biotecnologia, como os humanos geneticamente modificados.  A inteligência artificial e as próteses digitais prometeriam ao Homo sapiens um destino de Frankenstein. Mas quem difunde essa narrativa e quem ganha com ela? [Ler: O Mito do Transumanismo].

E o gótico continua a fascinar milhões de utilizadores de jogos. The Last of Us lançado em 2013 é disso um bom exemplo. 

Os meus autores favoritos são: Ann Radcliffe,  Anne Rice, Charles Addams, Charles Baudelaire, Charles Brockden Brown,  Charles Robert Maturin, Dan Brown,,Daphne du Maurier, Danilo Kiš,  Edgar Allan Poe, Edgar Gorey, Emil Cioran, Emily Dickinson, Holly Black, Horace Walpole, J.K. Rolling, J. R. R. Tolkien,Lewis Carroll,  Lord Byron, Marion Zimmer Bradley, Mary Shelley, Matthew Lewis, M.R. James, Nikolai Gogol, Oscar Wilde, Peter Watts, Terry Pratchett, Washington Irving, William Beckford, William Blake e William Gerald Golding William Godwin,

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Clonar árvores centenárias para combater as alterações climáticas

A partir de brotos basais foi possível voltar a plantar sequoias. "É como se os dinossauros tivessem voltado a viver", resume fundados da Archangel Ancient Tree Archive
Foto e notícia aqui

Arboristas americanos da organização sem fins lucrativos Archangel Ancient Tree Archive, que divulga as maiores árvores do mundo, estão a clonar sequoias, uma espécie praticamente em vias de extinção da família das Taxodiáceas, segundo o Quartz. Estas árvores centenárias podem ajudar a combater as alterações climáticas.

O processo de clonagem das sequoias já foi considerado impossível, por estas se auto clonarem num círculo à sua volta - o "anel de fada". No entanto, o tempo de vida destas árvores começou a decrescer, impedindo assim que tivessem também tempo para se multiplicarem. Agora, a organização americana descobriu outra forma de replicar esta espécie. Os arboristas notaram que havia brotos basais - material vivo - em redor de sequoias que cresciam em zonas litorais.

A partir desses brotos conseguiram criar "sementes" para plantarem novas árvores. Funcionou. "É como se os dinossauros tivessem voltado a viver", disse David Milarch, o fundador da Archangel Ancient Tree Archive.


Processo de clonagem das sequóias 

© THE ARCHANGEL ANCIENT TREE ARCHIVE

Para além de estar em causa a revitalização da espécie, está ainda em cima da mesa o beneficio para o meio ambiente. Se todas as plantas libertam oxigénio e armazenam dióxido de carbono; as sequóias conseguem retirar grandes emissões de dióxido de carbono da atmosfera - a principal causa da aceleração das alterações climáticas. Chegam a recolher 250 toneladas de dióxido de carbono.

"Estas árvores têm a capacidade de combater as mudanças climáticas e revitalizar as florestas e nossa ecologia de uma forma nunca antes vistas", afirma Milarch.

Através deste processo de clonagem, as sequoias já foram plantadas em bosques no Canadá, em Inglaterra, no País de Gales, em França, na Nova Zelândia e na Austrália.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Descubra os erros científicos e históricos que os filmes exibiram nos últimos anos

Eles capricham no visual e na ação - mas às vezes se esquecem de verificar as informações. Veja aqui alguns dos maiores erros científicos e históricos que os filmes exibiram nos últimos anos. Fonte: Super Abril

10 000 A.C (2008) - Samba do mamute louco
Apesar de parecer, este filme não tem nada de histórico. A começar pelos mamutes ajudando humanos a construírem pirâmides. Ok, homens chegaram a caçar mamutes no período Paleolítico, como é possível ver em pinturas rupestres. Mas adestrá-los e fazê-los trabalhar? "Mamutes não foram domesticados, portanto não podem ter sido usados como mão de obra na construção das pirâmides", alerta Marcelo Rede, professor de História Antiga da USP. Até porque sequer existiam pirâmides naquela época. "As grandes pirâmides, como as famosas Keops, Kefren e Mikerinos, datam de 2600 a 2450 a.C.", explica o historiador. Ou seja, conseguiram errar até no nome do filme.

PLANETA DOS MACACOS (1968, 2011) - Evolução a jacto

Para explicar os erros deste filme, vamos ter de caprichar nos spoilers. O filme original traz um erro que a versão de 2011 tenta reparar. Na versão de 1968, uma expedição espacial passa 18 meses longe da Terra até finalmente cair em um planeta dominado por macacos super-desenvolvidos. No final, descobre-se que o tal planeta era a Terra, 2 mil anos no futuro. Assim, o enredo ficava sem pés nem cabeça: 2 mil anos não é tempo evolutivo suficiente para macacos se tornarem inteligentes. É só comparar com a nossa espécie: o Homo sapiens surgiu há 200 mil anos, mas os primeiros registos de arte ou religião datam de 50 mil anos atrás. E outros milhares se passaram antes de inventarmos a escrita, as cidades e a tecnologia avançada. Por isso, Planeta dos Macacos: A Origem, de 2011, explica que o salto de inteligência não aconteceu sozinho - os macacos teriam sido expostos a um gás que os tornou mutantes. Muito melhor.
1. Apenas 2 mil anos se passaram para que os macacos ficassem inteligentes.
2. Em termos evolutivos, é preciso milhares de anos para que haja um salto de inteligência.

JURASSIC PARK (1993) - ADN com data de validade

Tudo bem um dinossauro usar a maçaneta para abrir uma porta ou derrubar a parede de um banheiro com um salto. Isso é coisa de filme. O difícil é existir um dinossaurio nas condições propostas em Jurassic Park. No longa, os animais são recriados a partir de sangue de dinossauro encontrado em mosquitos preservados no âmbar. Até aí, ok: alguns mosquitos de 230 milhões de anos realmente foram encontrados no âmbar, como mostra um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Por isso, desde a década de 1990, havia um boato de que seria possível recriar dinos dessa forma. O biólogo Michael Bunce, da Universidade de Murdoch, na Austrália, resolveu testar essa possibilidade. Ele estudou o sangue de aves gigantes já extintas e constatou que DNA não é eterno. No caso, as moléculas de DNA não durariam mais de 6,8 milhões de anos, mesmo conservadas em âmbar. "O DNA se deteriora com o passar do tempo, muito antes de ser possível recriar um dinossauro hoje em dia", diz Bruce Whitelaw, professor de biotecnologia do Instituto Roslin, no Reino Unido. Aliás, o próprio nome do Jurassic Park está todo errado. A era Mesozoica, a que viu o surgimento e o desaparecimento dos dinossauros, é dividida em três grandes períodos de tempo: o Triássico, o Jurássico e o Cretáceo. De fato, os dinos apareceram no período Jurássico, mas as espécies que fazem as vezes de actores principais no filme, como o Tiranossauro, o Velociraptor e o Triceratops, surgiram apenas no Cretáceo. Cretaceous Park talvez não tivesse sido tão sonoro. Mas seria mais correcto.

1. O DNA não dura mais do que 6,8 milhões de anos.
2. Os dinos não são do período Jurássico, mas do Cretáceo.
ALIEN - A RESSURREIÇÃO (1997) - DNA desmemoriado
Imagine morrer e ressuscitar em um corpo igualzinho ao seu, carregando toda a memória da vida que passou. Foi o que aconteceu em Alien - A Ressurreição. No final do terceiro filme da saga, a tenente Ripley se lançou ao fogo quando descobriu que era hospedeira da raça alienígena. Já no quarto filme, ela acorda 200 anos depois, clonada e com a mesma memória. O problema é que o DNA não guarda lembranças. A ovelha Dolly não se lembrava dos pastos por onde andou Belinda, a sua matriz. "Um clone é apenas uma cópia do material genético. O ambiente e as experiências de vida é que formam a memória ", diz Bruce Whitelaw, do Instituto Roslin, responsável pela clonagem de Dolly. Logo, se dependesse da ciência, Alien jamais teria uma quarta sequência.

Ler artigo completo aqui

domingo, 27 de novembro de 2011

Relatório da Food & Water Watch sobre os OGM nos EUA

1. A)"Um tomate diz-se transgénico quando se introduz um gene de um outro organismo (planta, animal ou bactéria) e até mesmo um gene de peixe para fazer o tomate resistente à geada.No entanto, os organismos diferentes juntos por um "remendo" genético podem representar riscos para os consumidores que sofrem de alergias aos traços adicionados. Neste caso, os consumidores com alergias aos frutos do mar poderão ser expostos inadvertidamente a um alérgeno no tomate."


B) "Em 2010, mais de 365 milhões de hectares de transgénicos foram cultivados em 29 países - representando 10 por cento da área cultivada global"


C) "Nos Estados Unidos, a clonagem é usada principalmente para produzir touros de rodeio e outros alimentos não-animais, mas também já se acredita que existem no país várias centenas de animais clonados para alimentação."

Clica aqui para descarregares o documento da Food and Water Watch

2. Mais um estudo científico, desta feita durante uma década, comprova os efeitos negativos dos OGM nas rações de animais e nos seres humanos: Animais ficam mais gordos e sofrem alterações a níveis intestinais. Foram identificadas alterações no sistema imunitário do Homem e presença da toxina Bt OGM nos fetos humanos, entre outros efeitos.[estudo aqui]

Informações e mais hiperligações no Dossiê Transgénicos e postagens do BioTerra sobre OGM.

sábado, 7 de abril de 2007

John Zerzan- introdução ao pensador do primitivismo e uma entrevista


1. Biografia Obtida em Wiki
John Zerzan (nascido em 1943) anarquista americano que se destaca na segunda metade da década de 1980 enquanto filosofo e escritor, um dos maiores expoentes do Primitivismo. O seus trabalhos focam o processo de origem as consequências do surgimento da civilização (agrícola) bem como a sua inerente opressão, defendendo assim formas inspiradas no modo de vida das sociedades humanas pré-históricas como modelos de sociedades plenas de liberdade. Algumas de suas críticas mais desafiadoras se estendem ao processo da domesticação, à linguagem, ao pensamento simbólico (como matemática e arte) e à conceituação de tempo. Seus escritos mais conhecidos são Elementos da Rejeição (1988), Futuro Primitivo (1994), Contra a Civilização: Um Leitor (1998) e Correndo no Vazio (2002).

2.Entrevista com John Zerzan – por John Filiss, 09/03/2006
John Zerzan pode bem ser considerado o autor mais radical no planeta. É um tanto irónico que a publicação do Unabomber, Sociedade Industrial e o suas Conseqüências*, tenha trazido os pontos de vista de Zerzan à atenção nacional – irónico porque os seus escritos são muito mais radicais do que os do plantador de bombas que pensavam o ter influenciado. Para Zerzan a queda dos céus da humanidade não teve início com o industrialismo e nem mesmo com a agricultura, mas sim com a aceitação da cultura simbólica, da linguagem, da arte, e o número. A cultura, ao invés de ser vista como nossa maior emancipadora, é uma mediação a qual nos distância de uma aceitação sensual da realidade, de até aonde chega nossa capacidade de compreendermos a nós mesmos dentro do momento. A linguagem é comunicação tornando-se presa ao assunto, arte é um preenchimento de uma realidade infinitamente mais rica, número é a prática de uma semelhança ilusória que consome nosso mundo de interesse. Em seu livro de ensaios reunidos, Elementos de Rejeição e Futuro Primitivo (Elements of Refusal and Future Primitive), mapeia uma crítica primitivista que ele tem buscado no meio social anarquista nas últimas duas décadas. Sua fama recente, tendo início com um artigo publicado no New York Times, e prolongada com entrevistas de rádio e televisão, focou-se imensamente em seu status de ser um dos poucos críticos da tecnologia que não acusou o Unabomber desde o início. Com o advento de um mundo baseado na biotecnologia e na engenharia genética, pode-se colocar Zerzan na tradição dos sábios Taoístas, de Diógenes, e Rousseau como o último dos grandes expoentes do homem selvagem não limitado pelas regras dominantes – ou talvez ele seja o primeiro em uma nova tradição da qual o impacto ainda há que ser visto. * O manifesto do Unabomber veio a público em 19 de setembro de 1995, publicado no jornal Washington Post. Uma crítica a sociedade tecnológica e capitalista, supostamente escrita por Ted. Kaczynski que antes de ser preso, em 1996, enviou - ao longo de 18 anos - 16 bombas pelo correio americano, que deixaram três mortos e 23 feridos.

P: O ambientalismo tem sido sempre um assunto um tanto depressivo para mim. Em contraste, o primitivismo sempre me pareceu confiante em sua luta para reconciliar as tensões entre humanos e o mundo natural. Ao invés de estar em oposição com a natureza, nos procuramos realizar nossos desejos de maneira, que o nosso mundo de televisões e shoppings nunca podem preencher. Quais as comparações você faria entre o ambientalismo tradicional e o primitivismo?

R: Eu gosto da distinção que você faz aqui, e que me parece frutífera. Para mim o primitivismo fornece um respaldo para o ambientalismo. Refere-se, como um princípio ou uma inspiração, para os dois milhões de anos durante os quais o ser humano viveu em harmonia com o meio ambiente, e não como um poder externo exercido sobre ela. O ambientalismo muitas vezes permanece com a perspectiva reformista de relevar somente alguns assuntos que são pertinentes. A percepção duma história de longa duração dos problemas ajuda, visto que, a observação das origens da degradação e da natureza bem como todas as suas facetas estão conectadas .

P: Embora você tenha criticado tais fundamentos da civilização como a arte, linguagem e o número, você até agora absteve-se de uma crítica ao uso de ferramentas. Isto é interessante, pois a maioria das pessoas enxergaria o uso de ferramentas como um percussor direto da nossa sociedade tecnológica. Em que momento você veria o uso das ferramentas culminando em atividade alienada?

R: A constatação é muitas vezes feita de maneira que haja uma suave mudança gradual entre o uso de simples instrumentos e o mundo atual de alta-tecnologia, de que não há distinção qualitativa que possa ser feita em qualquer momento ao longo dessa linha de desenvolvimento, sem um lugar para “desenhar uma linha” separando o positivo do negativo. Mas minha hipótese sobre o trabalho é a que a divisão do processo produtivo marca o momento dessa separação, com conseqüências terríveis que desdobram-se de maneira acelerada ou cumulativa. A especialização divide e estreita o individuo, instaura a hierarquia, e cria a dependência e trabalha contra a autonomia. Especialização que também impulsiona o industrialismo e desde já conduz diretamente para a crise ecológica. Ferramentas ou papéis que envolvem a divisão do trabalho engendram pessoas divididas e dividem a sociedade.

P: Que exemplos o passado oferece a nós, pessoas que renunciaram um dado nível de tecnologia em favor de um estilo de vida mais holístico e natural?

R: Um exemplo Norte Americano de pessoas que renunciaram a uma existência tecnicista e domesticada, é a do colonizador que, “partiu para Croatan.” (Referência aos colonizadores que habitaram a primeira colônia Inglesa em Roanoke, que à abandonaram para viver com uma tribo indígena local. Eles deixaram a inscrição “fomos para Croatan,” referindo-se à tribo). Evidentemente muito poucos Europeus abandonaram os postos avançados civilizados nos séculos 17 e 18 e se uniram as diversas comunidades Nativo Americanas.

P: Os seus escritos parecem sugerir uma Era Dourada para humanidade durante muito ou todo o período Paleolítico. Ainda assim, eu não sinto que suas idéias são contingentes sobre a idéia de um Éden no passado, no mais literal e extremo sentido. A vida um dia pode ter sido muito mais imediata e satisfatória, mas devem ter existido algumas falhas em algum momento para nos trazer ao presente. Eu estou curioso sobre em que grau você se sente anexado à idéia de uma utopia passada (a qual é claramente impossível de provar completamente), como sendo oposta à aplicação de conceitos úteis do passado sobre a base de valores presentes.

R: Eu penso que você esteja certo ao sugerir que nos devíamos evitar a idealização da pré-história, de recusar sugeri-la como um estado de perfeição. De outro ponto de vista, a vida de caçador-coletor parece ter sido marcada, em geral, pela mais longa e mais bem sucedida adaptação à natureza jamais alcançada pelos seres humanos, um alto grau de semelhança entre gênero, a abstenção da violência organizada, tempo livre significante, direitos iguais na divisão dos princípios, e uma saúde livre de doenças. Desta maneira me parece instrutivo e inspirador, mesmo se imperfeito e talvez nunca totalmente conhecido para nós.

P: Umas das questões mais frequentemente perguntadas em relação ao primitivismo, é se os seus adeptos procuram um retorno literal para os estilos de vida primitivos, ou se simplesmente estão escavando o passado à procura de conceitos úteis.

R: (Panfleto anarquista de Detroit) Quinto Estado, na sua crítica parcial a civilização, tem longamente insistido que um retorno a um estado de não-civilização não é o que eles vêem como algo que seja possível ou desejável. Eu não estou convencido de que um “retorno” real deva ser descartado. Se não um retorno literal, então o que? Isto é, eu vejo isso como uma questão aberta.

P: Bem, vamos assumir por agora que um retorno literal a um estado primitivo é desejável. Seus escritos foram até o momento uma crítica a arte, números, até mesmo a linguagem. Como você visualizaria um mundo, digamos, sem linguagem?

R: Pensar em um mundo sem linguagem requer um enorme salto especulativo. De onde estamos agora é extremamente difícil sugerir princípios ou descobrir o significado da vida em um mundo baseada na comunicação não-simbólica, entretanto é claro que alguma dessa forma de comunicação existe mesmo agora. Freud achou que algum tipo de telepatia possuía forte influência antes da linguagem; amantes não precisam de palavras, como diz o ditado. Essas são dicas na direção da comunicação não mediada. Eu tenho certeza que você pode pensar em outros exemplos!

P: Inúmeros críticos têm questionado que sua rejeição a cultura simbólica deixa o radical em potencial sem bases para desafiar a ordem existente.

A: Minha sugestão de posicionamento é a que somente a rejeição da cultura simbólica provém um desafio suficientemente profundo ao que é a parte central daquela cultura. Eu posso estar errado, mas até agora eu não tenho visto argumentos persuasivos para abandonar esse ponto de vista. E mesmo se acontecer de ser um direção errada talvez o debate será frutífero em possibilidades não planejadas.

P: Qual é sua resposta as pessoas que afirmam que o caminho da progressão tecnológica é irreversível?
R: É bem possível que seja irreversível, mas a única maneira de saber é desafiando-o. Se alguém conclui que o caminho do tecno-progresso está provando ser desastroso, então esse alguém é obrigado a pará-lo, a revertê-lo. Isso é uma questão de moralidade básica, é o que me parece.

P: Eu acho que é interessante notar o quão pouco genuína e construtiva é a crítica direcionada a tecnologia, talvez criando a idéia de que seja uma auto-realização irreversível. Em todo lugar alguém pode encontrar críticas de quase qualquer aspecto da sociedade tecnológica, mas raramente alguma que englobe o todo.

R: Como muito se opõem a crítica do todo! Por exemplo, um dos princípios cardeais do ethos pós-moderno reinante é a rejeição da totalidade, rejeição da idéia exata de que podemos compreender o todo. E em geral o sistema nunca recompensou exatamente tais oposições, contra o pensamento geral. A cultura da negação é muito forte – pense em quanto o discurso político domintante é pouco questionado. É muito difícil ser publicado, muito difícil quebrar o monopólio da ignorância imposta. E, contudo a realidade, creio eu, está começando a forçar uma abertura. Nós ouvimos algumas, não muitas, mas algumas vozes que confrontam o quadro geral, seu caráter fundamental.

P: Sua resposta à afirmação habitual de que a tecnologia é neutra.

R: A Tecnologia nunca foi neutra, como uma ferramenta discreta desassociada de seu contexto. Tem sempre participado e expressa os valores básicos do sistema social no qual está embutida. A Tecnologia é a linguagem, a textura, a personificação dos arranjos sociais que ela mantém unida. A idéia de que seja neutra, de que é separável da sociedade, é uma das maiores mentiras existentes. É óbvio porque aqueles que defendem a armadilha mortal high-tech, querem que nós acreditemos que a tecnologia é de alguma maneira neutra.

P: Não deve o abandono gradual da tecnologia ocorrer em uma base mundial, evitando que nos tornemos vulneráveis àqueles que não deixarão cair as rédeas?

R: Sim, realmente parece necessário que o movimento anti-tecnológico torne-se global o mais rapidamente possível, para que consiga obter sucesso. O sistema de tecnologia e capital é global e altamente interdependente, e é somente tão forte quanto sua ligação mais fraca. A esse fato deve ser adicionado o desencanto disseminado com a “promessa” da tecnologia. Os dois são, ou serão, uma potente combinação para o nosso lado.

P: Você acha que a maioria da população é mais desconfiada em relação à tecnologia do que a nossa dita elite política?

R: Todo mundo hoje é bem saturado pela mídia e suas constantes mensagens pró-tecnologia em todos os níveis. Mas aqueles que  o Manifesto do Unabomber  chamam de “excessivamente-socializados” são talvez mais aptos a serem uma elite política de classe média e por essa razão são provavelmente menos desconfiados da canção da sirene tecnológica.  

P: Algum pensador(s) ou teorista(s) que você gostaria de levar à prova por uma falta de entendimento sobre os assuntos relevantes à tecnologia?

R: Ainda existem muitos teoristas que parecem pouco entender a questão da tecnologia. Muitos senão todos pensadores pós-modernos evitam o assunto pela simples razão de que eles não contestam nada, rejeitando a própria idéia de um pensamento opositor. Aceitando tudo em sua maneira cínica e relativista, eles (ex. Baudrillard) certamente não enfrentam a tecnologia ou resistem a ela. Por outro lado, por exemplo, eu recomendo a Tecnologia de Lorenzo Simpson, “Tempo e as Conversações da Modernidade”, no qual demonstra como a tecnologia — com sua contrapartida intelectual, pós-modernista — esvazia a existência social e cria um clima ausente de sentido.

P: Tem havido surpreendentemente pouca oposição à instalação de câmeras de vigilância por todas cidades nos EUA. O que você pensa poder ser a implementação de uma tecnologia a qual pode finalmente provocar uma grave reação? A clonagem de um ser humano? Um computador implantado no cérebro?

R: Muito consentimento a respeito de câmeras de vigilância fora dos interesses pessoais de segurança, aparentemente. Mas sim, uma pessoa pensaria que a clonagem humana ou cérebros biônicos poderiam horrorizar a maioria das pessoas. Ludditas como eu esperam que as novas alturas invasoras de uma tecnologia sempre-colonizadora irão levar as pessoas a questionar toda sua trajetória e lógica. Como Paul Shepard disse sobre o gosto pela cultivo da terra de Gary Snyder, ele esquece que mesmo a horticultura muito simples é nada mais que o primeiro passo na estrada para a engenharia genética. É tudo uma questão de domesticação, em outras palavras. Participar e controlar ou dar nova forma a natureza, é comprometer-se com uma orientação que nos leva em direção a clonagem humana e todo resto.

P: De quais grupos você encontrou um apoio inesperado para uma visão mundial que questione o valor da tecnologia?

R: Um amigo Latino meu, recentemente disse que ele achava que poucas pessoas do terceiro mundo estão agora ansiando pela tecnologia do primeiro mundo. Na medida que isto é verdade, isso demonstraria uma mudança de grande importância. Eu também noto alguns jovens vendo através dos atrativos da tecnologia. Isto é menos surpreendente, eu imagino, e eu não sei quantos garotos estão abertos a maneira de enxergar do “primitivismo”, mas isso é um desenvolvimento vital que está se espalhando, pelo menos em algum grau.

P: Quando foi a primeira vez que você enxergou através dos “atrativos da tecnologia?” Você sempre se sentiu em oposição a ela em algum nível? Existiu algum evento ou campo de estudo que primeiro provocou você a desenvolver semelhante crítica abrangendo tudo?

R: Nos anos setenta lentamente começou a nascer em mim, que o conceito de “revolução,” entre outros, era de alguma maneira muito inadequado. Isto me atormentou durante um período quando eu estava fazendo meu trabalho de graduação sobre história social e trabalhista. O primeiro “avanço” importante para mim foi em termos da Revolução Industrial na Inglaterra. Especialmente, tornou-se claro que o sistema de fábricas foi introduzido em grande parte como uma maneira de controle social. Os artesões dispersados foram destituídos de sua autonomia e levados juntos para as fábricas para serem desqualificados e disciplinados. Isto mostra que a tecnologia não foi de forma alguma “neutra”. Esta descoberta me ajudou a começar a ver como a divisão do trabalho é basicamente uma subtração de poder e alienadora. Qualquer pessoa precisa olhar a tecnologia como um sistema que contêm os valores profundos da ordem social que a personifica. Nunca é uma simples questão de “ferramentas” ou dispositivos.

P: Quais são alguns dos seus próximos projetos que nos podemos esperar com entusiasmo?

R: Estou trabalhando em um ensaio sobre niilismo, e tentando publicar alguns livros também. Tem que haver mais trabalhos anti-tecnológicos, e mesmo anti-civilização disponíveis ao público. Mesmo as maiorias do editores anarquistas, como a AK e a Autonomedia, não compreenderam a importância do projeto, ou o interesse em semelhante pensamento.

P: Eu gostaria de lhe perguntar mais algumas questões a respeito do Unabomber. Quando aSociedade Industrial e o seu Futuro" foi pela primeira vez disponibilizado, você foi reconhecido antecipadamente como uma possível influência dos pontos de vista de FC. Você tem algum comentário sobre o tratado do Unabomber?

R: Eu considero o texto Sociedade Industrial e seu Futuro um texto extremamente importante. Basicamente, ele mostra como a sociedade tecnológica torna impossível alcançar tanto a liberdade como a satisfação. De maneira muito clara, a prosa acessível explica o caminho sem saída que é o industrialismo. Jacques Ellul é claramente uma grande influência, mas eu não tenho nenhum conhecimento de qualquer influência americana contemporânea, anarquista ou de outro aspecto. *No ano de 1995 veio a público o ensaio de "A sociedade industrial e o seu futuro", no qual Kaczynski danava a moderna tecnologia em bloco. A frase inicial já dizia tudo: "A Revolução Industrial e suas conseqüências foram um desastre para a raça humana".

P: Em geral, qual é sua opinião sobre os métodos do Unabomber?

R: Os métodos do Unabomber foram o resultado da frustração. Evidentemente, ele não podia encontrar outros que desejavam confrontar a loucura tecnológica, nem podia ele encontrar um editor para Sociedade Industrial e o seu Futuro, apesar de se esforçar por anos em ambas as frentes.

P: Tendo seus próprios pontos de vistas ligados a alguém que é o tema de uma investigação massiva não é necessariamente uma posição invejável. Ocorreram qualquer incidentes fora do comum antes da prisão de Ted Kaczynsky?

R: No verão de 95, isso é, no ano antes da sua prisão, a minha casa foi invadida. A coisa estranha sobre isto, foi o fato que minha agenda de endereços e alguns tênis esportivos foram levados, enquanto que algumas coisas portáveis e visíveis de algum valor foram deixadas intocadas. Também naquele verão, algumas cartas minhas foram interceptadas em algum lugar ao longo da linha. Em pelo menos três casos que eu verifiquei, cartas foram enviadas mas nunca chegaram ao seu destino.

P: Você se encontrou com Ted Kaczynski em diversas ocasiões, e continua a manter contato com ele. Qual é a sua impressão sobre ele em um nível pessoal?

R: Em minhas visitas com Ted, eu o achei educado, amigável, muito firme e possuindo um senso de humor. Ele certamente não deu quaisquer ares de superioridade e me pareceu uma pessoa bastante paciente e auto-disciplinada. O advogado Tony Serra e eu concordamos: Ted não é louco.

P: Existiram quaisquer irregularidades no julgamento dele que você gostaria de chamar a atenção?

R: Não existiu julgamento. Ele foi coagido a aceitar um acordo de súplica (por prisão perpétua) depois que o juiz negou tanto sua tentativa de despedir e substituir seus advogados de defesa e sua tentativa de defesa própria. Ele foi deixado sem nenhuma outra alternativa senão a do argumento de insanidade que ele sempre rejeitou. O que fica visível é o fato de que o conjunto de instituições legais e políticas mantiveram-se unidas em sua recusa à permitir que ele fosse julgado num tribunal e apresentasse suas idéias. O sistema demonstrou isso deixando claro que a pena de morte foi uma prioridade menor do que negar o direito de Ted de ser escutado. Um tratamento muito bom é o de Bill Finnegan em “Defendendo o Unabomber” escrito no New Yorker em 16 de março, 1998 . Finnegan traz à tona os pontos acima persuasivamente, e é o único escritor a ter feito isso.

P: Se eu tivesse que advinhar, eu diria que muito poucas pessoas apoiaram as ações do Unabomber, mas muitos entenderam o senso de desespero e desamparo que o conduziu. Qual tem sido sua impressão dos sentimentos populares em relação ao Unabomber? Quais reservas, se alguma, tem a maioria de seus colaboradores ?

R: A imprensa cobrindo o caso, especialmente as experiências jurídicas penosas, nunca pareceram tão ansiosas ou satisfeitas em suas reportagens. Eles nunca questionaram uma vez sequer a validade dos constantes escapes do advogado com respeito ao pensamento ilusório de Ted. A principal psiquiatra examinadora prontamente admitiu a Bill Finnegan que ela encontrou o delírio de Kaczynski precisamente na base de suas críticas do sistema tecnológico e seus efeitos sobre as pessoas! Uma descoberta política chocante, sem necessidade de dizer. É pouco surpreendente que o público negou qualquer pensamento independente sobre o tema, provavelmente não se tornou realmente simpáticos a ele. Outro fator é que seu advogado disse àqueles entre nós que queriam tentar organizar o entendimento e o apoio sobre o caso para desistir. Relutantemente, Ted continuou em frente com os conselhos de seus advogados, pessoa confiável que ele era. (Ele confiou neles e eles mentiram para ele, deixando-o despreparado até o tempo em que suas opções se esgotaram, eles estavam de fato fazendo exatamente o que eles disseram não fariam, nomeadamente o retratando como lunático. Tudo isso obviamente, funcionou contra qualquer leitura justa sobre o que ele defendia.

P: As proezas do Unabomber engendraram uma das mais profundas divisões na memória entre anarquistas, primitivistas, e variados eco-radicais. Seus pensamentos sobre a divisão e talvez meios de avançar além dela.

R: Eu não tenho certeza se é uma divisão tão profunda porque eu tenho visto sinais de que ela já tenha se cicatrizado de algum modo. Por exemplo, existia a presença de uma voz pró-Ted no encontro nacional anual do movimento Earth First em Round River Rendezvous. E o mais recente Live Wild or Die  se identificou ativamente com sua causa e sua defesa. Em todo lugar tem havido ressonância entre alguns garotos; eu vejo isso como algo que tem crescido. Eu acho que existe menos antipatia em relação a ele, menos medo de ser identificado com o que o Unabomber representa. Com certeza, a maior razão para a que a divisão fosse reduzida – se é que foi - é que o meio social anarquista parece estar mais estavelmente anti-tecnologico e primitivista, especialmente entre o pessoal mais jovem.

P: Apesar da atual indiferença por muitos anarquistas ao esquerdismo, a crítica do Unabomber ao esquerdismo é mais severa que qualquer outra coisa que eu já vi escrita por anarquistas. Você acha que os anarquistas ainda possuem as capacidades para continuarem a rejeitar todas as formas de autoritarismo mascarado como oposição?

R: O esquerdismo – significando uma orientação trabalhistíca, producionista, e a mentalidade “organizada” — está em declínio em todo lugar. O fracasso dos movimentos Class War in England (Guerra de Classe na Inglaterra) em 97 e o Love and Rage (Amor e Ódio) aqui nos EUA em 98 são claramente sinais disso. O esquerdismo está indo no caminho do “dodô” (pássaro extinto, que era incapaz de voar), entretanto ainda existem alguns remanescentes por ai. A editora AK Press é um exemplo, com seu hábito desagradável por relíquias atrapalhadas como Bookchin e Chomsky.

P: O livro Sociedade Industrial e o seu Futuro, tomou uma abordagem mais explicitamente psicológica (ex. a discussão da atividade substituta, os efeitos da superlotação, realização individual, etc.) do que é comumente vista na literatura que se opõe à dominação tecnológica. Você sente que o Unabomber estava enfatizando uma abordagem muito necessária, porém não notada, por aqueles de nós que questionam a tecnologia e suas consequências?

R: Sim, o livro Sociedade Industrial e o seu Futuro é, eu diria, essencialmente psicológico. Ele enfoca-se no que inevitavelmente está acontecendo ao indivíduo enquanto a tecnologia mantiver sua influência. Este é seu apelo e sua importância, a razão de porque é uma leitura irresistível. Eu acho que seu tipo de abordagem tem sido enormemente despercebida na literatura anti-autoritária, porém é consoante com o que as pessoas estão interessadas. Portanto, apesar de estar sendo uniformemente sucateada, ela ainda consegue se manter, incluindo suas múltiplas traduções ao redor do mundo.

P: Quais efeitos sociais você viu originando-se de todo o caso Unabomber, se é que houve algum?

R: Eu acho que os “efeitos sociais” do caso Unabomber não podem ser vistos isoladamente. Em outras palavras, o Unabomber é só uma parte de um fenômeno maior, a consciência emergente do destino que o sistema tecnológico possui armazenado para nós e o planeta. Este caso espetacular deu abertura vital a assuntos básicos, os quais já estavam começando a destacar-se.

P: Finalmente, seus pensamentos sobre como sairmos de onde estamos agora para chegarmos a um mundo melhor.

R: O agravamento da situação para a biosfera, a sociedade, e o indivíduo – a crise em todos os níveis – é o mais forte ímpeto para o repensar de tantas velhas suposições triviais e instituições. Divisão do trabalho, domesticação, até mesmo os componentes de nossa cultura simbólica e a própria civilização – tudo isso agora encontra-se com pontos de interrogação. Quando a negação começar a desabar, nós bem que poderemos ver um desafio à ordem existente que fará o movimento dos anos 60 parecer muito superficial e sem graça.

3.Ver também
Surplus, a Swedish movie (atmo, 2003) which gives a good amount of time to John Zerzan

4.Obras de John Zerzan na Wiki en



5.Wikimedia Commons com multimedia John Zerzan

6. Ligações
Insurgent Desire – John Zerzan writings and interviews can be read online
Primitivism.com – Writings by Zerzan and other primitivist authors and essayists
Creel Commission – June 2006 conversation with John Zerzan and the UK band

7. Livros de outros autores
2001 Gustavo Bueno, «La nostalgia de la barbarie, como antiglobalización» baseado na obra de John Zerzan

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Eco-Anarquismo- John Zerzan - Há que acabar com tudo isto



Há Que Acabar Com Tudo Isto - John Zerzan (Tradução de Manuel Oliveira do blogue Primitivista)

A atual realidade está formada, como nunca esteve, de imensas penas e de cinismo: uma grande lágrima no coração da humanidade. O quotidiano vê aumentar a sua dose de horrores sem cessar acompanhada por um apocalipse rompante do meio ambiente. A alienação dos espíritos e os poluentes químicos disputam o predomínio na dialética da morte que rege a vida de uma sociedade dividida e gangrenada pela tecnologia. O cancro, desconhecido antes da civilização, transformou-se numa epidemia numa sociedade cada vez mais estéril e literalmente tumorosa.
Repentinamente, todos consumiremos drogas; sejam administradas sob regras ou vendidas sob contrabando, isto apenas é uma distinção formal. A terapia dos transtornos de cuidados oferece outro exemplo da tendência coercitiva da medicamentação da angústia e a agitação generalizada, que gera uma realidade cada vez mais frustrante. A ordem dominante fará, evidentemente, todo o possível por negar a realidade social. A sua tecnopsiquiatria considera o sofrimento humano como de natureza biológica e de origem genética.
Novas patologias, resistentes à medicina industrial estendem-se à escala planetária da mesma forma que o fundamentalismo religioso - sintoma de frustração e de profunda miséria psíquica. E à espiritualidade New Age (a filosofia para uso "dos caranguejos", segundo Adorno), assim como as inumeráveis terapias paralelas deleitam-se em vãs ilusões. Pretender que pode-se estar íntegro, esclarecido e em paz no seio da loucura atual é, de fato, aceitar esta loucura.
O fosso entre ricos e pobres alarga-se, particularmente neste país onde os sem-teto e os presos contam-se por milhões. A cólera aumenta e as mentiras da propaganda que fundamentam a sua sobrevivência não encontram já a mesma credibilidade. Este mundo, onde reina a falsidade, encontra apenas a adesão que merece: a desconfiança em direção às instituições é quase absoluta. Mas a vida social parece congelada, e o sofrimento dos jovens é sem dúvida o mais profundo. A taxa de homicídios entre adolescentes de 15 a 19 anos duplicou entre 1985 e 1991. O suicídio transformou-se em reação de procura de cada vez mais adolescentes, que não encontram forças para alcançar a idade adulta num inferno como este.
A nossa época pós-moderna encontra a sua expressão essencial no consumo e na tecnologia, que dão aos mass media a sua força estupefaciente. Imagens e slogans impactantes e fáceis de digerir impedem de ver o espetáculo terrorífico da dominação que repousa essencialmente sobre a simplicidade das representações. Inclusive os enganos mais flagrantes da sociedade podem servir para esta empresa de hipnose coletiva, como é o caso da violência, fonte de infinitas diversões. Seduzem-nos as representações de comportamentos ameaçantes, pois o aborrecimento é uma tortura maior que o espanto. A natureza, ou o que resta dela, reprova-nos amarguradamente o modo em que a existência atual está pervertida, frígida e adulterada. A morte do mundo natural e a penetração da tecnologia em todas as esferas da vida desenvolve-se a um ritmo cada vez mais rápido. A multidão informaticamente enlaçada, os marginais tecnóides, os ciber-não-importa-quê, a realidade virtual, a inteligência artificial... Até chegar à vida artificial, última ciência pós-moderna. Entretanto, a nossa Era da Computação "pós-industrial", tem com principal conseqüência a nossa transformação acelerada num "apêndice da máquina", como se dizia no século XIX. As estatísticas da administração judicial indicam, todavia, que as empresas, cada vez mais informatizadas, são o teatro de cerca de um milhão de delitos violentos por ano, e que o número de patrões assassinados duplicou nos 10 últimos anos.
O sistema, na sua atroz arrogância, espera que as suas vítimas se conformem votando e reciclando os seus resíduos, fazendo-lhes crer que tudo irá muito bem. O espectador é somente suposto, não tem de saber nada e não merece nada.
A civilização, a tecnologia e as divisões que dilaceram a sociedade, são componentes de um todo indissolúvel. Uma carreira para a morte, fundamentalmente hostil às diferenças qualitativas. A nossa resposta terá de ser qualitativa, sem fazer caso dos eternos paliativos quantitativos que reforçam, de fato, aquilo que queremos abolir.