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sexta-feira, 9 de agosto de 2024

O manto da Terra pode revelar as origens da vida


Investigadores descobriram a amostra mais profunda de rocha marinha alguma vez extraída do manto terrestre que poderá ajudar a revelar as condições no início da vida.

O fragmento de rocha foi extraído da Crista Média Atlântica por uma equipa internacional no navio de perfuração JOIDES Resolution e está a ser analisado pelo Professor Gordon Southam da Universidade de Queensland.

”A amostra foi recolhida durante uma expedição do Projeto Internacional Ocean Discovery que conseguiu, pela primeira vez, perfurar 1.268 metros abaixo do fundo do mar em rochas do manto”, disse o Professor Southam.

“É um trabalho incrível, uma vez que as perfurações anteriores neste tipo específico de rocha – peridotito oceânico – só tinham atingido uma profundidade máxima de 201 metros”, sublinhou.

“Estas amostras ajudarão a melhorar a nossa compreensão das ligações entre a geologia da Terra, a química da água, os gases e a microbiologia”, revelou, explicando que “sempre que os perfuradores recuperavam outra secção do núcleo profundo, recolhíamos amostras para cultivar bactérias”.

“Utilizaremos estas amostras para investigar os limites da vida neste ecossistema marinho de subsuperfície profunda, melhorando a nossa compreensão das suas origens e ajudando a definir o potencial de vida para além da Terra”, acrescentou.

Para compreender o percurso da vida na Terra, os investigadores vão analisar a forma como a olivina, um mineral abundante nas rochas do manto, reage com a água do mar, conduzindo a uma série de reacções químicas que produzem hidrogénio e outras moléculas que podem alimentar a vida.

A equipa prepara-se agora para analisar o teor de níquel do núcleo.

“O níquel é necessário para a hidrogenase, a enzima chave que permite que estas bactérias antigas utilizem o hidrogénio nestes ambientes extremos, pelo que estamos atualmente a seguir o seu percurso através da rocha do manto”, disse o Professor Southam.

Os minerais descobertos serão examinados utilizando microscópios eletrónicos no Centro de Microscopia e Microanálise da UQ e o Microscópio Fluorescente de Raios X da ANSTO no Sincrotrão Australiano, para melhor compreender o efeito da circulação da água do mar na carbonatação dos minerais.

Esta investigação é essencial para o trabalho do Professor Southam como líder do Grupo de Geomicrobiologia da UQ.

“Estamos a investigar o papel da microbiologia na transformação do dióxido de carbono em minerais de carbonato estáveis e a forma como podemos reduzir as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera”, explicou.

Para além de analisar a vida primitiva e melhores formas de sequestrar carbono, os resultados da expedição poderão também ter implicações importantes para a compreensão da formação do magma e do vulcanismo.

“Há descobertas espantosas ainda por descobrir nas profundezas da Terra e os dados desta expedição são apenas o começo”, disse o Professor Southam.

“Os resultados serão tornados públicos, pelo que esperamos que outros cientistas e entusiastas possam contribuir com as suas descobertas sobre o funcionamento do nosso mundo”, concluiu.

A investigação foi publicada na revista Science.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Lavagem verde da multinacional Dentsu


A empresa de publicidade Dentsu mostrou uma solução para limpar o ar. Para tal instalou um mural na Euston Road, um dos pontos mais poluídos de Londres. O mural mostrava uma mulher cor-de-rosa e roxa a apanhar os fumos numa rede. O molho secreto: uma tinta supostamente capaz de converter os poluentes do ar em "sais inofensivos". Acontece que, nos últimos cinco anos, a holding multinacional japonesa e as suas subsidiárias, celebraram pelo menos 27 contratos de relações públicas, publicidade e campanhas de marketing para 25 produtores de combustíveis fósseis diferentes, incluindo a Shell, a ExxonMobil e a BP. Em maio, os ativistas da Clean Creatives atribuíram à Dentsu um prémio satírico de "Excelência em Ficção Científica" pelo seu trabalho de promoção de projetos controversos de captura de carbono em nome da Chevron. Fonte.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Cientistas descobrem a chave para a criação de plantas “devoradoras de carbono” com grande apetite

As cianobactérias apresentam diversos formatos e podem realizar fotossíntese


A descoberta do funcionamento de uma enzima crítica “escondida na planta da natureza” lança uma nova luz sobre a forma como as células controlam os processos-chave na fixação do carbono, um processo fundamental para a vida na Terra.

A descoberta, feita por cientistas da Universidade Nacional Australiana (ANU) e da Universidade de Newcastle (UoN), poderá ajudar a conceber culturas resistentes ao clima, capazes de sugar o dióxido de carbono da atmosfera de forma mais eficiente, ajudando a produzir mais alimentos no processo.

A investigação, publicada na revista Science Advances, demonstra uma função anteriormente desconhecida de uma enzima chamada anidrase carboxissomal carbónica (CsoSCA), que se encontra nas cianobactérias – também chamadas algas azuis-verdes – para maximizar a capacidade dos microrganismos de extrair dióxido de carbono da atmosfera.

As cianobactérias são vulgarmente conhecidas pelas suas florescências tóxicas em lagos e rios. Mas estes pequenos insetos azul-esverdeados estão espalhados por todo o mundo, vivendo também nos oceanos.

Embora possam constituir um perigo para o ambiente, os investigadores descrevem-nas como “pequenos super-heróis do carbono”. Através do processo de fotossíntese, desempenham um papel importante na captura de cerca de 12% do dióxido de carbono do mundo todos os anos.

O primeiro autor e investigador de doutoramento Sacha Pulsford, da ANU, descreve a eficiência notável destes microrganismos na captura de carbono.

“Ao contrário das plantas, as cianobactérias têm um sistema chamado mecanismo de concentração de dióxido de carbono (CCM), que lhes permite fixar o carbono da atmosfera e transformá-lo em açúcares a um ritmo significativamente mais rápido do que as plantas normais e as espécies cultivadas”, diz Pulsford.

No centro do CCM estão grandes compartimentos proteicos chamados carboxissomas. Estas estruturas são responsáveis pelo sequestro de dióxido de carbono, abrigando a CsoSCA e outra enzima chamada Rubisco.

As enzimas CsoSCA e Rubisco trabalham em uníssono, demonstrando a natureza altamente eficiente da CCM. A CsoSCA trabalha para criar uma elevada concentração local de dióxido de carbono no interior do carboxissoma, que a Rubisco pode depois engolir e transformar em açúcares para a célula comer.

O autor principal, Ben Long, da UoN, afirmou: “Até agora, os cientistas não tinham a certeza de como a enzima CsoSCA é controlada. O nosso estudo centrou-se em desvendar este mistério, particularmente num grupo importante de cianobactérias que se encontram em todo o mundo. O que encontrámos foi completamente inesperado”.

“A enzima CsoSCA dança ao som de uma outra molécula chamada RuBP, que a ativa como um interrutor”, acrescentou.

“Pense na fotossíntese como se estivesse a fazer uma sanduíche. O dióxido de carbono do ar é o recheio, mas uma célula fotossintética precisa de fornecer o pão. Essa é a RuBP”, revela, sublinhando que, “tal como é necessário pão para fazer uma sandes, a taxa de transformação do dióxido de carbono em açúcar depende da rapidez com que a RuBP é fornecida”.

O autor explica ainda que “a rapidez com que a enzima CsoSCA fornece dióxido de carbono à Rubisco depende da quantidade de RuBP presente. Quando há suficiente, a enzima é ativada. Mas se a célula ficar sem RuBP, a enzima desliga-se, tornando o sistema altamente sintonizado e eficiente”.

“Surpreendentemente, a enzima CsoSCA tem estado sempre incorporada no projeto da natureza, à espera de ser descoberta”, acrescenta.

Os cientistas afirmam que a engenharia de culturas mais eficientes na captura e utilização de dióxido de carbono daria um enorme impulso à indústria agrícola, melhorando consideravelmente o rendimento das culturas e reduzindo a procura de fertilizantes azotados e de sistemas de irrigação.

Asseguraria também que os sistemas alimentares mundiais fossem mais resistentes às alterações climáticas.

Pulsford afirmou: “Compreender como funciona a CCM não só enriquece o nosso conhecimento dos processos naturais fundamentais para a biogeoquímica da Terra, como também nos pode orientar na criação de soluções sustentáveis para alguns dos maiores desafios ambientais que o mundo enfrenta”.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Que Fazer Com as Árvores – Madeira ou Créditos de Carbono?


A procura de créditos de carbono tornou as florestas mais atrativas para os investidores. Os gestores de investimentos que adquiriram terrenos florestais estão a analisar árvore a árvore para saber se devem ser abatidas para a produção de madeira ou mantidas para a produção de créditos de carbono.

A procura crescente de créditos significa que o investimento em florestas não se resume à produção de madeira, mas pode ser necessário muito trabalho para determinar o papel que cada árvore deve desempenhar numa carteira, bem como para garantir que está a cumprir os benefícios ambientais prometidos se for mantida de pé. Quando se investe numa floresta, a pergunta que fazemos é: "Como é que se gerem os produtos de madeira versus o carbono?", diz Brian Kernohan, diretor de sustentabilidade, mercados privados, na Manulife Investment Management. "A resposta para nós é: 'O que é que os nossos clientes querem?

A Manulife, que tem 5,4 milhões de acres de floresta na sua carteira de investimentos, calcula o valor de cada árvore para informar a sua estratégia de colheita. Cada árvore de uma floresta tem de ser avaliada com base nas taxas de crescimento das espécies e no valor do produto. Se o valor do crédito de carbono for suficientemente elevado, a árvore mantém-se, mesmo que seja apenas por mais alguns anos. Se não for, é cortada para a produção de madeira. As árvores de folha larga, por exemplo, são melhores para o sequestro de carbono, mas demoram mais tempo a crescer, criando até 500 a 600 créditos por hectare, mas levando mais de 100 anos a atingir a maturidade. As árvores coníferas, por outro lado, criam metade do número de créditos por hectare, mas demoram apenas 35 a 40 anos a atingir a maturidade, o que as pode tornar mais úteis para atingir mais rapidamente as emissões líquidas nulas.

Kernohan afirma que, até há pouco tempo, os terrenos florestais não eram suficientemente valiosos para se considerar que valia a pena investir apenas no sequestro de carbono. "Agora podemos perceber esse valor", diz ele.

O mercado voluntário de créditos de carbono poderá valer 40 mil milhões de dólares até 2030, contra 2 mil milhões de dólares em 2021, de acordo com um relatório do Boston Consulting Group e da Shell. Este mercado oferece uma forma de as empresas ajudarem a anular as emissões de carbono que produzem nas suas operações e pode ser especialmente útil para as empresas de sectores difíceis de eliminar, como a produção de energia e a indústria pesada.

A procura de créditos de carbono tem crescido rapidamente, tanto nos EUA como no estrangeiro, mas nos últimos anos começou a abrandar depois de terem sido levantadas questões sobre se os projetos estão a cumprir o que prometem. Uma investigação levada a cabo em 2023 pelo jornal britânico The Guardian, pelo semanário alemão Die Zeit e pela Source Material, uma organização jornalística sem fins lucrativos, revelou que muitos dos créditos de carbono certificados que são comprados e vendidos não representam, de facto, reduções genuínas das emissões de carbono.

"O problema de todo o mercado é a diversidade dos tipos de créditos e das metodologias utilizadas para os calcular", afirma Tom Frith, gestor de investimentos da JustCarbon, uma empresa de financiamento de projetos de créditos de carbono. "Para uma empresa, é muito mais fácil pensar na compra de créditos de carbono como um investimento num projeto individual do que num produto uniforme".

Há diferentes tipos de créditos de carbono. Os créditos de remoção, por exemplo, são gerados pela quantidade de dióxido de carbono que uma empresa remove da atmosfera e são vistos como mais valiosos porque a tonelagem de carbono pode ser calculada mais facilmente. Entretanto, os créditos de evitação podem ser mais difíceis de calcular com precisão, uma vez que são gerados através de uma atividade que não se realiza - por exemplo, não cortar uma árvore. As iniciativas de plantação de árvores também geram créditos de remoção porque removem carbono através da fotossíntese.

Fonte: WSJ

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Encontros Improváveis - Sylvia Earle e João Soares


Quando observo o oceano, esse vasto mundo, questiono-me com Sylvia Earle:

"Temos de mudar a nossa mentalidade. Quando olhamos para a vida selvagem, em terra, pensamos que a temos de proteger, mas quando olhamos para o mar vemos produtos. Começámos a mudar em relação às baleias ou às tartarugas, mas temos de fazer o mesmo para todos os seres vivos. Os camarões ou as lagostas são animais selvagens, como os leões ou os tigres. Os tubarões ou os atuns são os seus equivalentes, grandes predadores que fazem parte da química planetária, do ciclo do carbono e hidrogénio, parte da janela de oportunidade que mantém a terra habitável. Pode soar um pouco nerd, mas é tão básico. Sabemos que as árvores geram oxigénio e capturam o carbono, por isso sabemos que as devemos proteger, mas no mar o plâncton tem vindo a diminuir nos últimos anos, tal como os recifes de corais, as florestas de algas, as pradarias marinhas. E capturam mais dióxido de carbono e produzem mais oxigénio do que todas as florestas terrestres. Eu assisti a tudo isto, sou uma testemunha."

"Os peixes têm caras, personalidade, famílias e protegem as crias tão vigorosamente como a maior parte das criaturas que adoramos em terra. Não é aceitável explorar a vida selvagem, nem em terra nem no mar."

Os oceanos produzem mais de metade do oxigénio, são o maior reservatório de dióxido de carbono e o maior regulador do clima e da temperatura. Todos os 8 mil milhões de habitantes da Terra, quer vivam perto ou longe do mar, dependem diretamente dos oceanos para a sua sobrevivência, mas os oceanos não são água. São vida, e esta está (também) seriamente em perigo.

Sobre esta temática, Extinção e Ecocídio, está disponível na rtp1 e rtpplay uma série de documentários muitíssimo interessante, Ressuscitar o Éden - Ajuda Humana Para a Resiliência da Natureza que recomendo a todos, biólogos, professores, estudantes, políticos, gestores ambientais, economistas...
A nossa pegada ecológica é tremenda e, por vezes, não temos noção do quão longe demais já fomos e como podemos ainda reverter isso... 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

COP28: Afinal, o que é isto do ‘unabated’?



Na 28.ª cimeira climática global das Nações Unidas (COP28), o fim dos combustíveis fósseis é reivindicado por muitos, não apenas por movimentos e organizações ambientalistas, mas também por povos indígenas e alguns países, sobretudo os mais vulneráveis aos efeitos devastadores das alterações climáticas.

Estima-se que, atualmente, mais de 100 países de África, das Caraíbas, do Pacífico e da União Europeia tenham já publicamente defendido o fim progressivo de todos os combustíveis fósseis, mas outros, como a Rússia, a Arábia Saudita e a China, posicionam-se do outro lado da barricada.

As negociações ainda decorrem e muita água há ainda para correr debaixo da ponte, mas é importante perceber o que está em causa. Alguns governos defendem o fim, mesmo que progressivo, de todos os combustíveis fósseis, outros pedem o abandono dos combustíveis fósseis cujas emissões não possam ser neutralizadas, por exemplo, por tecnologias de captura de carbono, outros pedem apenas uma redução do uso dessa energia e há ainda os que querem que tudo fique como está.

Na discussão, um termo que muito tem sido debatido é o ‘unabated’. Esta expressão refere-se, no jargão climático, às emissões de gases com efeito de estufa, não apenas o dióxido de carbono, mas também o metano, que não podem ser capturadas e armazenadas e, por isso, são libertadas na atmosfera e agravam as alterações climáticas.

Embora seja usada prolificamente num sem-número de documentos relativos a negociações e compromissos climáticos, a definição do que é essa neutralização, ou ‘abatement’, frequentemente não gera consenso. Contudo, num relatório deste ano do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), uma nota de rodapé explica que isso poderá ser definido como “as intervenções humanas que reduzem a quantidade de gases com efeito de estufa que é libertada para a atmosfera a partir de infraestruturas de combustíveis fósseis”.

Adicionalmente, outra nota de rodapé aponta que combustíveis fósseis ‘unabated’ são aqueles “produzidos e usados sem intervenções que reduzam substancialmente a quantidade de [gases com efeito de estufa] emitidos ao longo do seu ciclo de vida”.

Numa altura em que o fim dos combustíveis fósseis está em cima da mesa na COP28, a indefinição do que é ‘unabated’ poderá gerar ainda mais dissensos no âmbito dos trabalhos de negociação climática.

Na ausência de uma definição clara, a palavra ‘unabated’ poderá, por exemplo, permitir a continuação de emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, pois há espaço para argumentar que capturar 50% dessas emissões é neutralizar parte delas.

Outro debate acontece em torno do ‘phaseout’, ou abandono progressivo, e do ‘phasedown’, ou redução progressiva. Embora nenhum país defenda o fim dos combustíveis fósseis de um dia para o outro, a opção mais amplamente aceite é ‘phaseout’, permitindo uma transição energética justa que cause os menores impactos negativos sobre as sociedades e economias.

O ‘phaseout’ implica um abandono progressivo com vista ao seu eventual fim definitivo.

Contudo, há países que defendem o ‘phasedown’, sobretudo aqueles cujas economias dependem mais fortemente dos combustíveis fósseis, em que existiria uma redução faseada do uso de combustíveis fósseis, mas não o seu fim.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Esgotamento de oxigénio. Um cisne negro?


1. Nos últimos 20 anos, a quantidade de oxigénio na atmosfera da Terra tem diminuído. Embora a queda possa parecer pequena agora, não temos a certeza de como esta tendência poderá evoluir no futuro.

2. A investigação sugere que este declínio no oxigénio pode acelerar ao longo do tempo. 

3. Se esta tendência continuar, os humanos poderão sobreviver na atmosfera atual por mais cerca de 3.600 anos.

4. A redução do oxigénio é apenas uma das muitas mudanças ambientais. Também estamos a ver mais dióxido de carbono no ar, aumento das temperaturas, padrões climáticos imprevisíveis e degelo das calotas polares. Todas estas mudanças estão interligadas e podem ter consequências graves para o nosso futuro.

5. As alterações na nossa atmosfera, incluindo a diminuição dos níveis de oxigénio, são sinais de que precisamos de estar mais conscientes das nossas ações.

Segundo o estudo, conclui que se nada fizermos, o futuro dos humanos na Terra poderá estar em risco.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Capitalismo ou Humanidade



Por Jorge Bateira, 15 de Março de 2021
Durante milénios, as sociedades humanas mantiveram sistemas produtivos cujo impacto na biosfera tinha uma escala compatível com os seus mecanismos regeneradores. Porém, com o advento e a expansão do capitalismo, ocorreu uma ruptura Histórica em diferentes domínios. Karl Polanyi, um nome incontornável da Economia Política do século XX, explicou-nos o essencial: ao transformar (em larga medida) o trabalho, a moeda e a natureza em mercadorias, o capitalismo criou um enorme potencial de crescimento económico. A riqueza produzida cresceu exponencialmente, o que permitiu a alguns países alcançar, em poucas décadas, um nível de bem-estar inédito na História. Porém, tal sucesso teve custos que não podem ser ignorados. A exploração dos seres humanos destruiu milhões de vidas, da escravatura às guerras, criou pobreza em larga escala e de ordem estrutural, gerou desigualdades chocantes e lutas de classes que dilaceram sociedades, promoveu guerras locais e empurrou milhões de pessoas para a emigração intercontinental. A criação de moeda pelos bancos, e a sua aplicação em activos para uso especulativo, produziu sucessivas crises financeiras de consequências devastadoras para as sociedades. O crescimento industrial, alimentado pelo consumo de massa – ele mesmo objecto da manipulação pelo marketing –, foi sustentado pela extracção desenfreada de combustíveis fósseis, pela transformação do solo agrícola e da floresta em agro-negócio global, e pela degradação dos solos e da água com a utilização de produtos químicos, para além da acumulação de gases, resíduos tóxicos e produtos não recicláveis.

A lógica do lucro comanda o capitalismo e o motor da sua expansão é o continuado crescimento do consumo. Porém, este permanente crescimento económico colide com a finitude dos recursos naturais que até agora o sustentou e, ao mesmo tempo, colide com a capacidade do planeta para absorver os desequilíbrios que lhe são infligidos. Há quem defenda que o capitalismo pode adaptar-se e continuar a crescer, sobretudo através dos serviços, utilizando proporcionalmente menos recursos materiais. Contudo, a investigação mais recente não sustenta esta tese e conclui que o “crescimento verde” é uma ilusão.[1]

Na realidade, o que temos pela frente é uma trajectória que, se nada de radical for feito, conduzirá ao colapso das condições de vida na Terra. A comunidade científica tem vindo a produzir documentos de alerta sobre a gravidade da situação em que nos encontramos, com destaque para as consequências calamitosas de um aumento da temperatura média global do planeta que ultrapasse os 2 ºC por comparação com a do início da Revolução Industrial. Isto implica uma travagem drástica das emissões de gases com efeito de estufa, ou seja, emissões nulas ou mesmo negativas (por recurso a diversas formas de captura do carbono) até ao final do século XXI. Em 2017, mais de 15 000 cientistas de 184 países produziram um sério aviso à Humanidade. Face à predação dos recursos do planeta, a comunidade científica afirmou que estamos a caminho de “miséria em larga escala e de uma catastrófica perda de biodiversidade.” Um aspecto poucas vezes mencionado é a natureza cumulativa das emissões de carbono. O que determinará a futura temperatura global, e as decorrentes alterações climáticas do planeta, é a acumulação das emissões passadas, das presentes, e as dos próximos anos. Portanto, não basta neutralizar as emissões de carbono dos países ditos desenvolvidos, é preciso travá-las à escala global, o que coloca o gravíssimo problema da reconversão dos modelos de desenvolvimento industrial nos países ‘emergentes’, e noutros que legitimamente pretendem alcançar melhores condições de vida.

Apesar da gravidade do que está em causa, os avisos dos cientistas ainda são formulados numa retórica de grande contenção para evitar questionar os fundamentos do sistema económico que, sendo a causa dos males do planeta, também lhes financia a investigação e o emprego. Nos documentos oficiais, as análises são quase sempre sujeitas a uma ‘edição’ que suaviza os termos mais fortes e procura preservar a teoria económica dominante que fundamenta as políticas económicas do capitalismo.[2]

Contudo, a devastação produzida pelo ciclone Idai em África (Moçambique, Zimbabwe e Malawi), as inundações com perdas da produção agrícola na Guatemala, Honduras e El Salvador, assim como a recente onda de calor na Europa, seguida do degelo na Gronelândia, os fogos na Rússia e no Ártico, e os furacões devastadores nos EUA – apenas alguns episódios de uma lista que poderia ser muito longa –, constituem fenómenos com impacto relevante para questionar políticas ambientais que não incomodam o sistema económico-financeiro predador do planeta.

Face à gravidade da situação, seria de esperar que os media ocupassem uma parte significativa do seu tempo a discutir as causas das alterações climáticas, a eficácia e o grau de cumprimento dos acordos internacionais, e a escala das mudanças a realizar na produção e na logística das actividades económicas, assim como o nível e a estrutura do consumo actual, incluindo o turismo por via aérea. Porém, a comunicação social de grande alcance, a dos canais de televisão, apenas responde ao que dá rendimento publicitário. O tema das alterações climáticas não é comercialmente interessante, e até pode ser incómodo para alguns anunciantes que contribuem significativamente para o problema que enfrentamos. Exibe-se a tragédia humanitária mas silencia-se a discussão séria das causas estruturais dos desastres ambientais.

Se pensarmos bem, não é difícil perceber o interesse das grandes empresas na manutenção do caminho para o abismo que estamos a percorrer. A cotação das suas acções na bolsa depende em boa parte das expectativas de crescimento da economia, sendo este em larga medida sustentado pelo crescimento do consumo, o que exige a exploração dos recursos finitos e a degradação do planeta. Há aqui um conflito de interesses e uma real ameaça à democracia. Os decisores políticos estão sujeitos a uma enorme pressão das empresas no sentido de manterem uma política de mudanças leves que não ponham em causa o status quo. Como alguns cidadãos já perceberam, este crescimento económico e financeiro só pode ser mantido através de uma poderosa rede comunicacional que seja eficaz na alienação das populações através do entretenimento vazio, e alimente a ilusão de que, através de alguns investimentos em energias renováveis, temos boas perspectivas para uma trajectória sustentável. Difundem um cenário de resolução do problema pela via do mercado das emissões e pela inovação tecnológica que está em curso. Através de um ‘crescimento verde’, o capitalismo reinventar-se-ia e a crise ambiental desapareceria.

Na verdade, apenas uma transformação profunda deste sistema económico pode evitar o colapso da Humanidade. Isso implica grandes mudanças nos padrões de consumo, grandes mudanças nos sistemas agrícolas, grandes mudanças no sentido da desglobalização comercial (os transportes aéreo e marítimo são uma grande fonte de emissões) e, ainda mais importante, uma mudança no que entendemos por desenvolvimento. Para além de um dado limiar de consumo frugal, as políticas públicas deverão promover a busca do sentido da vida através da criação de tempo/espaço favorável a relacionamentos humanos de qualidade, uso de serviços e equipamentos públicos, fruição da natureza, investimento pessoal na organização e nas actividades da comunidade a que pertencemos, intervenção em diferentes níveis de debate e decisão no quadro de uma democracia participativa, em complemento de uma renovada democracia representativa, etc. Uma nova macroeconomia focada no pleno emprego, no desenvolvimento regional e local, na justiça social, e no respeito pelos limites e equilíbrios do planeta terá de informar as políticas económicas.

De facto, confrontados com um enorme risco de sobrevivência da Humanidade, bloqueados pelos interesses instalados que insistem no caminho para o desastre, enfrentando o silêncio cúmplice dos media que anestesiam os cidadãos, só nos restam a mobilização através dos media alternativos, e a realização no espaço público de acções mediáticas que abram caminho a novas iniciativas políticas. Por imperativo moral, o silêncio não é uma opção. A ideologia e o sistema de interesses que comandam as nossas vidas obrigam-nos a escolher: ou o Capitalismo, ou a Humanidade.
 
[1]Schroder, E. e Storm, S. (2018), Why “Green Growth” Is an Illusion

[2]Anderson, K. (2015), On the duality of climate scientists. Disponível em: 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Rochas fosfatadas na Noruega


A Norwegian miner has completed the exploration of a phosphate deposit that it claims is large enough to meet phosphorous demand for batteries and solar panels for the next 100 years.

Norge Mining, which will develop the site, says that it has discovered up to 70 billion tonnes of the mineral.

Around 90% of mined phosphate is used to produce fertiliser for the agriculture industry. Phosphorous is also used to produce lithium-ion phosphate batteries used in green technologies and batteries. The mineral is in high demand but currently faces significant supply issues.

According to the US Geological Survey, proven phosphate reserves equal 71 billion tonnes globally, only slightly larger than the total discovered in Norway.

Prior to this discovery, the largest phosphate deposit was located in the western Sahara region of Morocco, equalling around 50 billion tonnes. This is followed by China with 3.2 billion tonnes, Egypt with 2.8 billion tonnes and Algeria with 2.2 billion tonnes, according to US Geological Survey estimates.

Phosphorous appears on the EU’s list of strategic raw minerals. The bloc is almost entirely reliant on imports of phosphate and is concerned about its supply.

“The discovery is indeed great news, which would contribute to the objectives of the Commission’s proposal on the Critical Raw Material Act,” a spokesperson for the EU executive told Euractiv.

A polluting refining processes
Phosphorus refining is a highly carbon-intensive process. “This is part of the reason why there is no more production of this critical raw material in Europe; there was some production in the Netherlands many years ago, but they stopped it because of the heavy pollution,” Michael Wurmser, founder of Norge Mining told Euractiv.

Wurmser told reporters that Norge Mining will use carbon capture and storage to reduce the carbon emissions of the refining process.

“Europe is in an excellent position: we can use our advantage in clean tech innovation and skills development to turn the industry into a powerhouse of innovation and change and, in doing so, achieve the highest social and environmental standards,” said Bernd Schäfer, managing director of the European Raw Materials Alliance, earlier this year.

The discovery was initially made by Norge Mining in 2018 using information provided by the Norwegian Geological Survey. However, a drilling programme conducted by the company has found that ore reserves extend much deeper than initially estimated.

The deposit also contains vanadium and titanium, which are also classified as critical raw minerals by the EU. Vanadium is used to produce liquid batteries required by power companies.

Norge Mining is currently awaiting a permit from the EU and the Norwegian Government. Norwegian ministers have been supportive of the project and are treating it as a high priority, according to Norge Mining.

domingo, 2 de julho de 2023

Is Healthy Soil the Most Effective Tool to Fight Climate Change?

Jaggi Vasudev, known by the honorific title Sadhguru, an Indian yoga guru

There is a rapidly accelerating global call to protect ecosystems, and while biodiversity and nature are part of the overall conversation, less attention has been paid to soil health. But there is no way to talk about climate change, biodiversity or food security without referring to soil degradation. Sadhguru, head of the Isha Foundation, is running a campaign, Conscious Planet – Save our Soil, to change that.

For three decades global yogi Sadhguru has been raising the importance of soil and the alarming threat of soil extinction into the spotlight and says: "Soil is our life, our very body. And if we forsake soil, in many ways, we forsake the planet."

Soil lies at the heart of ecosystem health, providing essential services not just for agricultural production but also for plant growth, animal habitation, biodiversity, carbon sequestration and resilience to droughts or flooding. The decline in soil health is exacerbating many of the most severe challenges from climate change to global hunger.

To give just a couple of examples, poor soil health is contributing to global warming by reducing the volume of carbon absorbed from the atmosphere and driving biodiversity loss by impacting vegetation that provides food and shelter to various animal species.

The goals of the Sadhguru campaign are simple, if ambitious. They involve raising awareness of the importance of soil, inspiring the electorate to support policy around soil health (the goal is 4 billion people or 60% of the world’s electorate) and, in particular, helping to raise and maintain the organic content of soils to a minimum of 3-6%.

Research published in 2020 suggests that around 24 billion metric tons of fertile soils are being lost each year and the United Nations Convention to Combat Desertification has warned that up to 40% of the global land area is already in a degraded state. This is down in part to a changing climate but human activity has a significant role to play, with intensive farming, excessive use of chemical inputs, deforestation and other forms of land-use conversion contributing to the problem.

This has a direct economic impact as well as environmental one. The European Commission recently estimated that Europe loses nine million tonnes of soil annually, while in 2019 Solar Energy UK’s analysis of natural capital value suggested that soil degradation costs the UK alone around £1.2 billion per year.

Food, agriculture and the soil
For the agricultural sector, declining soil fertility raises a number of issues. It reduces both the yields and quality of growing crops, eating into farmers’ profits as well as their ability to produce enough food for the growing population.

Indeed, estimates suggest that around 95% of the food we consume is directly or indirectly dependent on healthy soils, but approximately 52% of the world’s agricultural land has already been degraded.

About 51 million square kilometers of land, which amounts to 70% of the land on the planet, is under agriculture right now. Sadhguru says: "Right now, the United Nations is saying that the world may have agricultural soil only for another 80–100 crops. This means after 45–60 years, there could be severe food shortages, and getting rich soil will become the basis of wars on this planet. And every responsible scientist in the world is pointing out that by 2045, we will be producing 40% less food than what we are producing right now and our populations will be well over 9 billion.

"That is not a world you want to live in or leave for your children and go. But that is what we are creating. In every agricultural land on the planet, a minimum 3–6% of organic matter must be there. If you institute this in the policy of every nation, in 12–15 years’ time, we can significantly mitigate climate change just by attending to the soil.”

Restoration and regeneration of soil can be done in combination with industry too, as for example through agri-solar, with growing interest in the impact of deploying solar PV alongside both crops and animal agriculture. Mark Rowcroft, development director at Exagen, which is promoting the combination of solar PV generation with agriculture wrote: “Land regeneration is as vital to securing a low-carbon future as decarbonising our energy systems. Protecting and nurturing biodiversity has the double impact of restoring soil quality to sequester carbon and improve soil quality and farming yields.”

Soil as a carbon sink
Soil is a significant carbon sink - globally, approximately 75% of terrestrial carbon has been estimated to be stored in soil, which is up to is three times more than the amount stored in living plants and animals.

If the soil is covered and has humus (organic matter), it absorbs the carbon from the atmosphere. At the same time, unhealthy soil, which is ploughed and exposed, is a source of emissions of both carbon dioxide and methane. That means that improving the health of soil can play a major role in increasing carbon sequestration and addressing atmospheric carbon.

Whether you want to fix or reverse climate change, or do carbon sequestration, or limit the temperatures rising in the world, or resolve water scarcity, the connecting need is the need to fix the soil. As Sadhguru points out: “It is also the largest water soak on the planet. If soil is organically rich, we can store eight times more water than all the rivers on the planet put together!” That can have a significant impact on local resilience to drought and/or floods.

Healthy soil underpins many of the approaches that we are taking to address climate change and food challenges. Healthy soil is home to the mycelium that connects plants and trees helps them share nutrients, exchange nitrogen, phosphorus, magnesium, iron, etc. That then helps to keep forests healthy, a goal which is expected to play a critical part in attempts to mitigate and adapt to the challenge of climate change.

Driving finance for soil regeneration
One of the ways in which finance can be funnelled towards soil regeneration is through the voluntary carbon markets. Verra’s methodology for Improved Agriculture Land Management (IALM) for example – which was recently updated – allows farmers to deliver important climate mitigation benefits while improving their incomes and on-farm resilience.

The IALM methodology, which is linked to Verra’s Verified Carbon Standard (VCS), enables carbon financing at scale for projects that remove agriculture greenhouse gasses (GHGs) in numerous ways – including improved fertilizer management, improved water management/irrigation, reduced tillage or improved residue management, improved crop planting and harvesting (e.g., improved agroforestry and crop rotations) or improved grazing practices. Once projects applying the IALM methodology have been verified and validated, farmers are able to gain Verified Carbon Units (VCUs), i.e., carbon credits.

A spokesperson for carbon standard and certification body Verra says: “When improved agricultural land management (IALM) practices are implemented that focus on enriching the soil, it enhances both its role as a carbon sink, allowing it to absorb greenhouse gas emissions instead of releasing them, and wider ecosystem resilience. This resilience helps protect communities against the impacts of climate change-induced extreme weather, such as flooding and drought, with knock-on benefits for food security and health.”

By advancing global efforts to restore soil health and implement more sustainable farming practices in the future, the agricultural industry could play a key role in solving the interconnected crises of food security, climate change and biodiversity loss.

Challenges and opportunities
As the recognition of the importance of soil health – for climate mitigation, biodiversity, and the health of the environment as a whole – has grown, so too has the number of initiatives and campaigns dedicated to raising awareness of this topic. Alongside the French initiative 4 per 1,000, other examples include the Global Soil Partnership and the Coalition of Action for Soil Health.

Innovative methods to direct investment towards enhancing soil health are much-needed, and there are an increasing number of options available for farmers to access additional revenue streams for improving soil health, which is becoming ever-more possible with technological and scientific advancements in monitoring and reporting on soil organic carbon (SOC).

There are challenges as well though. As Aadith Moorthy chief executive of soil carbon marketplace Boomitra points out, the understanding of the role of soil carbon is not as established as forestry, which plays a central role in today’s carbon markets.

More importantly, its not really understood by financiers which means it is seen as a high-risk investment. If this challenge can be overcome though, there are funds in the voluntary carbon markets that might well be able to direct significant financial flows.

Sadhguru says: “Soil degradation is a global scale disaster, but it can be turned around simply with a committed focus. It does not need any absolutely new technology or trillions of dollars. What it needs is a committed approach from the governments.”

To achieve the minimum 3-6% organic matter, Sadhguru believes we need a three-pronged strategy. Firstly, the governments of the world need to incentivize farmers to raise the organic matter in their soil. Secondly, the carbon credit market needs to be simplified so that it is accessible for the farmers. The third part of the strategy calls for market recognition and valuation of the produce as per the organic matter of the soil which it comes from.

There are other opportunities too – robotics, soil monitoring and measurement are sectors in which investors are showing increasing interest – and the potential for transforming agriculture is immense. Sadhguru says that industries and businesses should focus on evolving fertilizers, pesticides, and farm machinery that are more soil friendly, saying: “Today there is enough technology – robotics, artificial intelligence - to transform these things. The science is already there; we know what to do. It is just that the industry has not caught up with it yet.”

Soil and climate action
Given that nearly 40% of climate change is affected by soil, it may seem odd that the topic has not yet become part of the wider climate conversation and indeed, the climate negotiations. Moorthy points out that to date only fourteen NDCs have included soil health in one form or another.

Sadghuru says: “If you fix this one thing, everything will be fixed naturally. Whether you want to fix or reverse climate change, or do carbon sequestration, or limit the temperatures rising in the world, or resolve water scarcity, we need to fix the soil.” So maybe that’s where the focus should be at the next COP.
Fonte: Forbes

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Documentário: Living Soil (Solo Vivo)


Os nossos solos sustentam 95% de toda a produção de alimentos e, até 2060, os nossos solos serão solicitados a nos fornecer a mesma quantidade de comida que consumimos nos últimos 500 anos. Eles filtram a nossa água. Eles são um dos nossos reservatórios mais económicos para sequestrar carbono. Eles são a nossa base para a biodiversidade. E eles estão vibrantemente vivos, repletos de 4.5 toneladas  de vida biológica em cada 4.046 m2. No entanto, nos últimos 150 anos, perdemos metade do alicerce básico que torna o solo produtivo. Estima-se que os custos sociais e ambientais da perda e degradação do solo apenas nos Estados Unidos cheguem a US$ 85 biliões a cada ano (valores de 2018). Como qualquer relacionamento, o nosso solo vivo precisa da nossa ternura. É hora de mudarmos tudo o que pensávamos que sabíamos sobre o solo. Vamos fazer deste o século do solo vivo.

Este documentário de 60 minutos apresenta agricultores inovadores e especialistas em saúde do solo de todos os EUA. Planos de aula de acompanhamento para estudantes universitários e do ensino médio também podem ser encontrados neste site. "Living Soil" foi dirigido por Chelsea Myers e Tiny Attic Productions com sede em Columbia, Missouri, e produzido pelo Soil Health Institute através do generoso apoio da The Samuel Roberts Noble Foundation.

terça-feira, 30 de maio de 2023

Seca implacável deixa olival de Portugal em risco. Sem água, não há azeite


É tempo de reconhecer que há um conjunto de circunstâncias que estão a deixar de ser atípicas. O agravamento da intensidade das alterações climáticas, redução da precipitação anual, aumento das temperaturas médias, mínimas e máximas e a diminuição do frio invernal, já não são a excepção, mas estão a fazer parte da regra. As condições meteorológicas em 2022 deram lugar à pior colheita de azeitona do século XXI e as consequências revelam-se na alta de preços do azeite, que atingiu valores só comparáveis às campanhas da década de 90 do século passado. Os olivais de sequeiro foram os mais atingidos pela seca e esperam-se declínios ainda mais significativos na produção de 2023/2024.

Os sinais de alerta vindos de Espanha anunciam que a produção de azeite pode estar “à beira de um colapso”. E percebe-se porquê: dados do Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação (MAPA) referem que, em anos normais, o país vizinho fornece cerca de 50 por cento do azeite mundial.

Porém, na campanha de 2021-2022 a falta de chuva e as temperaturas extremas fizeram com que a produção de azeite caísse 55 por cento, para 660 mil toneladas, face a 1,48 milhões de toneladas, produção recorde do ano anterior. Uma quebra tão drástica na produção de azeite acabaria por realçar um paradoxo: a diminuição da produção do olival espanhol fez com que o país que era o maior produtor mundial se tornasse o maior importador de azeite europeu, com uma subida de 38,6%, constatou Juan Luis Vicente, do Departamento de Estudos Económicos e Estatísticas do Conselho Oleícola Internacional (COI).

Este organismo reconhece que os oito principais países produtores da União Europeia, um dos quais é Portugal, produziram na campanha de 2021/2022 cerca de 1,5 milhões de toneladas de azeite, “bem abaixo da média de 2,17 milhões de toneladas dos últimos cinco anos”.

E este ano? Para já, prevê-se o pior para o olival de sequeiro (que representa entre 75 a 80% do olival que existe em Portugal). Na agricultura de sequeiro a plantação envolve no máximo 300 árvores por hectare e depende da água da chuva, ao contrário da cultura de regadio (sendo que, no caso do regime superintensivo, o número de árvores por hectare pode chegar às duas mil). Em 2020, o olival ocupava um total de 379.444 hectares em Portugal: olival tradicional de sequeiro ocupava 284 758 hectares.

Os resultados da campanha oleícola de sequeiro em curso são preocupantes. Nem a precipitação atmosférica que caiu nos últimos dias mitigou a escassez hídrica no Sul de Espanha e no Nordeste transmontano, Vale do Tejo, Baixo Alentejo e Algarve.

Os produtores culpam as altas temperaturas e o défice hidrológico que danificaram as árvores na época da floração e também os efeitos de uma seca sem precedentes. Um estudo publicado recentemente na Nature Geoscience concluiu que o Sul de Espanha está a sofrer os efeitos de uma seca como não acontecia “há mais de 1.000 anos” e que o fenómeno climático extremo “foi igualmente implacável em Portugal”, ao ter em 2022 metade das chuvas que normalmente ocorrem durante um ano hidrológico, acrescenta o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Apesar de mais vulnerável às alterações climáticas, há especialistas que defendem que o olival de sequeiro é mais benéfico para o clima. Um estudo de uma equipa de investigadores da Universidade de Jaén conclui que os olivais de sequeiro contribuem para a mitigação das alterações climáticas comparado com os que usam sistemas de rega. "Os olivais de sequeiro cultivados da forma tradicional absorveram significativamente mais CO2 do que os olivais que usam regadio e que os olivais intensivos, que se estão a tornar cada vez mais comuns".

Saber mais:

sábado, 13 de maio de 2023

Abandone a sua pá, esqueça o fertilizante, ouça as ervas daninhas: o guia para uma jardinagem descontraída


Ansioso para colocar os seus canteiros de flores ou hortas em forma, agora que a primavera finalmente chegou? Não tão rápido! A vida é muito mais fácil quando você trabalha com a natureza e não contra ela

Depois de quase 30 anos de jardinagem, vários deles em boas instituições, como a Royal Horticultural Society e Kew Gardens, percebi que muito do que me ensinaram, se não está errado, também não está exatamente certo. Todo aquele esforço trabalhoso – capinar, fertilizar, cavar, cuidar e podar, selecionar e conformar – não está funcionando. Não pelas plantas, pelo solo ou pela comunidade ao seu redor, o que inclui você e eu. Culturas indígenas em todos os lugares basearam suas práticas em observar e honrar a ecologia, enquanto nós, no “mundo desenvolvido”, escrevemos nossas regras. Nossa tentativa de controlar a natureza tem perpetuado relações precárias com todos os seres do jardim, transformando tudo em uma espécie de batalha, ou regimes sem fim, seja ceifando, capinando, regando ou atacando algum bicho. É muito trabalho e hoje em dia muito mais do que estou preparado para fazer. Agora a primavera está finalmente se desenrolando, esta estação de crescimento, talvez, em vez de trabalhar em nossos jardins, todos pudéssemos relaxar um pouco, passar mais tempo olhando e ouvindo, esperando em vez de reagir, estando no jardim tanto quanto jardinando ativamente. Aqui está como é feito.

Deite fora a sua pá
Se você estiver minimamente interessado em jardinagem, já deve ter ouvido falar de “no dig”, no qual você evita sua pá e pega numa enxada. Em vez de revirar o solo, uma estrutura que levou centenas de milhões de anos para ser construída e, portanto, pensou muito sobre qual caminho deveria ser, você capina levemente ou “faz cócegas” no solo para remover quaisquer ervas daninhas indesejadas e deixa suas multidões de micróbios, fungos e insetos intactos, exatamente onde eles querem estar. Micróbios felizes tornam as raízes das plantas felizes, mais capazes de absorver nutrientes, combater pragas e doenças e resistir à seca. Conforme você continuar fazendo isso, haverá menos ervas daninhas para remover.

Todo solo tem seu banco de sementes de ervas daninhas: diz o ditado que uma semente de um ano são sete anos de ervas daninhas, mas na verdade são décadas para várias delas. Eles estão lá não para incomodá-lo, mas para agir como um colete salva-vidas para o solo. O solo exposto e livre de ervas daninhas é muito facilmente danificado ou erodido pelo clima: o sol o queima, o vento assola, a chuva o abate, compactando-o ou se vier um dilúvio, causando escoamento. Mais uma vez, aqueles vários milhões de anos de evolução não eram um sistema parado, mas avançando para um ponto de auto-resiliência. A grande maioria das sementes de ervas daninhas precisa de luz para germinar. Quanto mais você perturba o solo, abrindo-o, cavando coisas, mais luz você deixa entrar e mais o solo tem que correr para se proteger. Ele libera seu banco de sementes de ervas daninhas como uma camada protetora para manter o sistema unido.

Facilitar a remoção de ervas daninhas
Falando em ervas daninhas, é hora de abandonarmos a palavra completamente. Até mesmo a própria exposição de flores de Chelsea já está a redefinir  as ervas daninhas como “plantas heroicas”. Talvez possamos falar deles como pessoas comuns ou anciãos (eles existem há muito mais tempo do que nós), porque cada erva daninha no seu jardim está a tentar lhe dizer algo muito importante.

Quanto mais um tipo domina, mais alto é o sermão. Os dentes-de-leão estão dizendo que seu solo é um pouco compacto, com poucos nutrientes superficiais, principalmente cálcio e potássio; as urtigas dizem que há muito azoto na superfície (não tão bom quanto parece). Uma enxurrada de ervas daninhas anuais – erva-do-mato comum, morugem e agrião-menor – dizem que o seu solo é dominado por bactérias, enquanto cardos, docas, alcanetes verdes e confrei são outro sinal de que a superfície está com poucos nutrientes e apenas aqueles com raízes longas para minar a camada do subsolo pode prosperar. As silvas tendem a proliferar onde há excesso de azoto, mas a terra foi deixada em paz para que elas possam se desenvolver melhor. Há alguma evidência, porém, de que elas têm um papel potencial na regeneração natural de mudas de árvores: os cervos não vão pastar no meio de um matagal e, numa floresta, isso significa que as mudas de árvores não serão mordiscadas, enquanto os fungos micorrízicos vão explorar a rede da floresta para aumentar as mudas com crescimento suficiente para compensá-lo e sair do matagal.

Uma vez que você comece a estudar a ecologia de qualquer coisa que chamamos levianamente de erva daninha, você descobrirá que é fundamental na reciclagem de nutrientes, fornecendo alimento na forma de néctar e pólen para todos os tipos de insetos, em todos os tipos de clima. E não apenas para polinizadores, mas também para coisas como minadores de folhas que se transformam em micro-mariposas e moscas que se transformam em comida para bocas famintas saindo do ninho, que se transformam em comida para aves de rapina voando alto. "Eu sei", eu ouço você chorar. Claro que sim, mas aposto que você ainda sai capinando quando não precisa.

Muitas dessas pessoas comuns chegam para ajudar o solo. Se você diminuir a remoção de ervas daninhas (você ainda terá que intervir algumas vezes) e, em vez disso, prestar atenção ao solo, muitas das pessoas comuns rapidamente se tornarão pessoas ocasionais. Os anuais são um sinal de que o solo se tornou dominado por bactérias, tendo evoluído de planícies aluviais a prados e campos, e prosperando na companhia de bactérias. Eles não prosperam nos solos dominados por fungos das florestas. Os fungos prosperam em solo rico em carbono porque é isso que eles comem.

Se você tiver muitas ervas daninhas anuais, adicione mais carbono ao seu solo na forma de composto caseiro volumoso, papelão (pode ser triturado, pode ser colocado como uma folha, pode ser adicionado à sua compostagem doméstica) ou folhas marrons (você nem precisa fazer molde de folha). Você não precisa cavar - as minhocas irão incorporar tudo no solo. Ou seja, se você desistiu de sua pá porque uma das maiores ameaças às minhocas é nosso hábito de arar e cavar, em parte porque se você for cortado ao meio, não volta a crescer e porque os túneis de minhocas têm sua própria bela arquitetura que suporta o solo, mas não se eles desabaram.

Abrace a podridão e a morte
'Se uma coisa prolifera em um sistema natural, outra coisa virá para aproveitar esta oportunidade.' 

Então, deitamos fora a pá, consideravelmente afrouxada na capina; agora é hora de abrir mão da arrumação. Todos nós fazemos isso, removemos uma folha amarelada ou mordiscada, varremos as folhas gastas e pegamos gravetos, podamos os mortos e moribundos. Em parte porque a ideia era que todo esse material abrigasse lesmas, outras pragas e doenças. Pode, mas a praga de uma alma é o jantar de outra. É verdade que as lesmas adoram uma pilha de folhas húmidas e levemente apodrecidas, mas também os escaravelhos que as caçam.

Esta história se repete continuamente: se uma coisa prolifera num sistema natural, outra coisa, às vezes muitas coisas, virá para aproveitar essa oportunidade, para restaurar o equilíbrio. Um jardim que consegue encontrar esse equilíbrio não tem problemas com pragas ou doenças – tem seres, que vivem e morrem, às vezes prosperando, mas raramente à custa de todo o sistema. Esse acto de equilíbrio leva tempo, vários anos ou mais, mas eu prometo a você: até as lesmas se acalmam. Apodrecimento, doenças, pragas são apenas o sistema de reciclagem da Terra. Não é um grande ato de fé confiar no tempo. As plantas existem há muito mais tempo do que jardinagem, com muito tempo para trabalhar nas nuances da reciprocidade.

Pare de perseguir o crescimento rápido
Desde a II Guerra Mundial, temos adorado falsamente o azoto e o fósforo como reis no jogo dos fertilizantes. Os fertilizantes sintéticos, uma ressaca muito ruim da fabricação de bombas, nos levaram a acreditar que poderíamos manipular o sistema. Usá-los significava que os agricultores podiam transformar cada pedacinho de solo num campo, pelo menos por um tempo, e isso se refletiu na maneira como jardinávamos.

Há um debate muito mais amplo sobre o uso excessivo de fertilizantes , em particular o azoto, na agricultura, mas isso está fora de nosso controle. O jardim não é.

Não há necessidade de produtos químicos manufaturados de qualquer tipo aqui. Em primeiro lugar, todos os solos diferem, mas os fertilizantes sintéticos, particularmente os vendidos a jardineiros, adoptam uma abordagem de tamanho único. Independentemente de onde você esteja, você aplica a mesma quantidade de alimento vegetal. Estes fertilizantes sintéticos não ficam in situ; eles fogem. E há evidências de que, com o tempo, eles podem esgotar o carbono armazenado dos solos , reduzindo a fertilidade, mesmo que a matéria orgânica ainda seja adicionada. Em resumo, se você compra fertilizantes, está pagando por ganhos de curto prazo. O composto caseiro é gratuito e vai construir o seu solo, ajudando a armazenar carbono e a alimentar as suas plantas. Mesmo se você fizer isso muito mal.

Composto in situ

Chega de trabalho pesado... deixe o seu solo fazer o trabalho pesado 

Se você deseja uma abordagem ainda mais despreocupada, pode fazer a maior parte da compostagem sem espalhar coisas. Não limpe as suas colheitas gastas, deixe os caules e as folhas da abóbora, derrube os pés velhos de tomate e feijão e deixe tudo na terra. Você pode cobri-lo para acelerar as coisas - os jardineiros tendem a usar plástico preto por conveniência, mas o papelão é abundante, gratuito e fácil o suficiente para um pequeno jardim. Coberto ou não, permite que os resíduos da colheita voltem direto para o lugar de onde vieram. Se você quiser plantar de volta no espaço que acabou de colher ou limpar, tente cortar, aparar, triturar ou cortar manualmente as colheitas usadas e plantar diretamente nelas. É mais rápido, evita carregar coisas para a pilha de compostagem e vice-versa e cria um solo maravilhoso e friável. Toda aquela noção de capinar e ajuntar o solo para fazer uma boa lavoura para crescer? Acontece que é melhor feito pelo sistema do solo do que pelo seu suor.

Não estou sugerindo que devamos desistir do composto. Ainda é a melhor maneira de lidar com a matéria orgânica doméstica, seja restos de comida, papel e papelão, pêlos de animais, etc. Os métodos de solo podem levá-lo a um solo mais rico com menos esforço e menos custo. E se você trouxer composto, nunca, nunca use turfa. Estamos a destruir preciosos habitats de turfa que precisamos para armazenamento de carbono, água limpa e gestão de enchentes. Os seres vivos que vivem em turfeiras não querem viver em mais nenhum outro lugar, então não vamos destruir a sua casa pelas idiotices da jardinagem.

Incentive a promiscuidade das plantas
Finalmente, vamos abraçar o diverso, o ligeiramente diferente, o variável em nossas flores e alimentos. Durante milénios, selecionamos e cultivamos plantas para que elas nos beneficiem – esta é a nossa história de origem. Mas, por muito tempo, esse foi um processo descontraído de deixar os polinizadores trabalharem, guardando sementes, crescendo e percebendo o que funcionava melhor nas condições em que você estava. É conhecido, tecnicamente, como criando um landrace, uma cultivar antiga que é variável, muitas vezes contendo muitos alelos (formas de genes) que não estão presentes nas cultivares modernas altamente cultivadas. A Jardinagem Landrace é o oposto: semelhante a uma orgia de plantas, você permite que todas as suas variedades de cenoura, ou o que quer que esteja cultivando, se polinizem entre si para criar uma população reprodutora diversificada. É uma estratégia de sobrevivência que diversifica o pool genético, tornando-o melhor preparado para o futuro do que é algo altamente criado.

'Não sabemos para onde estamos indo, mas é melhor irmos preparados com um amplo pool genético.' 

O resultado é uma beterraba ou um feijão ou uma flor que não é uniforme; à medida que os diferentes alelos desempenham sua expressão, uma raça varia em cor, tamanho, textura e até sabor. Qualquer um pode se tornar um jardineiro Land Race . É uma experiência divertida de mais de cinco anos que exige muito pouco esforço e o recompensará com vegetais e flores que funcionam inteiramente para o seu sistema de cultivo e solo. Não quer passar o verão todo regando excessivamente (posso lembrar como o verão passado foi quente)? Crie uma folha verde que não precise dela. Tem solo pobre? Crie uma batata que adora. Quer um tomate com gosto de alguma coisa, mas não se importa com uma geada tardia? É tudo possível.

Semeie todas as variedades nomeadas que tenham as características que deseja, cultive-as e, com a ajuda das abelhas, promova a promiscuidade e deixe-as fazer a polinização cruzada. Selecione e salve sementes apenas daquelas que se dão bem em seu solo. Comece novamente na próxima primavera, semeando a sua semente salva. Até a metade pode não sobreviver, mas você terá muitas sementes, então não importa. Deixe os polinizadores nas novas plantas, selecione as sementes daquelas que estão funcionando e continue. Em algumas temporadas, você pode ter alho totalmente adaptado ao seu solo – pode levar mais alguns anos para encontrar aquela abóbora ou tomate perfeito.

Não sabemos para onde estamos indo no que diz respeito ao nosso futuro neste planeta, mas podemos ir preparados com um amplo pool genético, em relação às nossas plantas populares comuns e as suas comunidades, maravilhados com os nossos insetos, fascinados pelos nossos amigos fungos, com os nossos solos e as nossas energias reabastecidas. E como qualquer grupo de amizade, isso é feito melhor saindo, relaxando e aproveitando a companhia um do outro.

Em tudo isso, não estou defendendo a desistência da jardinagem, mas mudando a perspectiva do que precisa ser feito. Se o dente-de-leão, as azedas ou as amoras não estiverem no caminho que esperava, deixe-as. Se a planta cair numa orgia de pulgões, deixe-a para algum outro ser do jardim limpá-la. Deixe as plantas morrerem no lugar, aprenda a observar e observar antes de fazer qualquer movimento. Você verá que a natureza está muito mais disposta a ajudar do que a causar problemas.

Para saber mais:

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Musgo: A ‘fénix’ do mundo vegetal que protege os solos e pode ser a chave para a sua recuperação


A presença de musgo pode, aos olhos de muitos, ser considerada sinal de desmazelo ou mesmo de abandono de um dado terreno, pelo que a tentação poderá ser para removê-lo. No entanto, tal pode deixar o solo mais vulnerável, por exemplo, à erosão.

Uma investigação realizada por dezenas de cientistas de vários países aponta mesmo que os musgos, plantas ancestrais não-vasculares que pertencem ao grupo dos briófitos, a meio caminho entre as algas e a primeira flora que colonizou o meio terrestre, são fundamentais para a saúde dos solos em todo o mundo. Estima-se que hoje existam mais de 14 mil espécies diferentes de musgos, espalhadas pelos quatro cantos da Terra.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Geoscience’, os investigadores escrevem que quando o musgo cresce na camada mais cimeira dos solos cria as condições ideias para que as plantas prosperem. Além disso, dizem, poderá mesmo ser um aliado essencial contra as alterações climáticas, uma vez que ajuda a capturar e a reter grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera.

Os mais de 50 cientistas que fizeram parte deste trabalho analisaram amostras de musgo recolhidas em mais de 123 ecossistemas espalhados por todo o planeta, desde florestas tropicais luxuriantes às paisagens aparentemente inóspitas das regiões polares geladas, passando pelos desertos. Contas feitas, os musgos cobrem uma área total combinada de 9,4 milhões de quilómetros quadrados dos ambientes estudados, algo comparável à dimensão do Canadá ou da China.

Para este estudo, os cientistas quiseram perceber “o que estaria a acontecer em solos dominados por musgos e o que estaria a acontecer em solos onde não existiam musgos”, explica David Eldridge, da Universidade de New South Whales, na Austrália, e principal autor do artigo. E constataram que o musgo é o coração pulsante dos ecossistemas de plantas, uma vez que, por exemplo, estimulam a circulação de nutrientes, impulsionam a decomposição de matéria orgânica, o que ajuda a manter o solo saudável, e até promovem o controlo de doenças prejudiciais às próprias plantas e até aos humanos.

No que toca aos seus ‘poderes’ de absorção de carbono, os investigadores calculam que, comparando com solos desprovidos de musgos, essas plantas ancestrais são capazes de armazenar, globalmente, 6,43 mil milhões de toneladas de carbono retirado da atmosfera. Como tal, o seu papel no combate às alterações climáticas é central e, argumentam os autores, podem absorver até seis vezes mais dióxido de carbono do que o que é emitido por práticas agrícolas insustentáveis, como a desflorestação e o pastoreio excessivo

Apesar de não serem considerados plantas superiores, por não terem sistemas vasculares (xilema e floema), os musgos são exemplos flagrantes de resiliência na face da adversidade. Explica Eldridge que em áreas desérticas, os musgos, na ausência de água, secam e mirram, mas não chegam a morrer, “vivem em animação suspensa para sempre”.

O cientista recorda que certa altura foi recolhida uma amostra de musgo completamente seca que se estimava ter cerca de 100 anos. Foi borrifada com água e, tal como a mitológica fénix, renasceu. “As suas células não se desintegram como acontece nas plantas comuns.”

“O que mostramos com a nossa investigação é que onde quer que existam musgos teremos um solo mais saudável, com mais carbono e nitrogénio”, salienta, acrescentando que essas plantas primitivas são essenciais para ajudar a flora a recuperar em áreas degradadas e, assim, para regenerar florestas e muitos outros ecossistemas.

“Os musgos podem muito bem servir de veículos para catalisar a recuperação de solos gravemente degradados em áreas urbanas ou naturais”, observa Eldridge.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Algas: Um recurso subaquático oculto que vale mais do que se esperava



Os investigadores acabaram de calcular o valor que a sociedade obtém de um recurso subaquático comum, mas escondido, e descobriram que é muito mais elevado do que alguma vez se esperava.

As florestas de algas há muito que fazem tanto pela humanidade, operando sempre fora da vista sob as ondas.

Abraçando um terço das nossas costas, elas fornecem alimento e casas para grande parte dos nossos mariscos costeiros. Ao fazê-lo, estas vibrantes selvas oceânicas ajudaram a ousadas migrações humanas como a colonização das Américas a sul, há 20.000 anos.

Também comemos a própria algas, usamo-las para fertilizar culturas, adicionamo-las a medicamentos e cuidados com a pele, e respiramos o oxigénio que produz.

No entanto, as florestas de algas estão em declínio catastrófico, e não compreendemos bem a extensão, e muito menos o valor, do que estamos a perder. Assim, uma equipa de investigadores apresentou uma estimativa dos serviços que os ecossistemas de algas nos proporcionam.

“Pela primeira vez, temos os números que demonstram o considerável valor comercial das nossas florestas globais de algas”, diz o ecologista marinho da Universidade de New South Wales, Aaron Eger.

“Encontrámos 740 milhões de pessoas que vivem num raio de 50 quilómetros de uma floresta de algas. Portanto, estes sistemas têm um papel significativo a desempenhar no apoio à subsistência destas pessoas e vice-versa”.

Eger e colegas fizeram um levantamento de 1.354 peixes e invertebrados em seis tipos diferentes de florestas de algas em oito áreas oceânicas diferentes. Também tomaram medidas de utilização de nutrientes desde o carbono ao fósforo.

Contributo económico das algas para produção pesqueira é de 29.851 dólares

O valor económico da contribuição das florestas de algas para a produção pesqueira é em média de 29.851 dólares e 904 quilogramas por hectare por ano, relata a equipa.

Surpreendentemente, apenas 50 tipos de animais dos 193 identificados contribuíram com a maior parte do valor para a pesca, principalmente invertebrados como lagostas, ouriços-do-mar e abalone.

Estas “árvores” oceânicas não só fornecem habitat a milhares de espécies marinhas, como também desempenham um papel enorme nos ciclos globais de nutrientes. As algas são um tipo de algas que são protistas, não plantas, mas tal como as plantas, a sua fotossíntese coloca energia nas teias de vida que abrigam, removendo o dióxido de carbono do seu ambiente e produzindo oxigénio no processo.

A remoção de dióxido de carbono, por sua vez, eleva os níveis de pH e o fornecimento de oxigénio nas áreas imediatas – ajudando a mitigar os efeitos locais da acidificação dos oceanos.

As algas também absorvem outros nutrientes, como azoto e fósforo, para alimentar o seu rápido crescimento, com algumas espécies capazes de adicionar até 50 centímetros de altura num dia. Pesquisas anteriores descobriram que as florestas de algas são ainda mais produtivas em termos de crescimento do que as culturas intensamente cultivadas, como o arroz e o trigo.

“Dos três elementos, a remoção de azoto forneceu o maior valor económico por hectare por ano (média = $73.831, 620 quilogramas), seguida pela remoção de fósforo (média = $4.075, 59 quilogramas), e por último a captura de carbono (média = $163, 720 quilogramas)”, escreve Eger e colegas.

Embora a captação de carbono das algas possa não ser tão impressionante como a sua remoção de azoto, ainda é equivalente a florestas terrestres e ervas marinhas.

“Globalmente, estas florestas de algas produzem uma média estimada de 500 mil milhões de dólares por ano”, conclui a equipa. Isto é três vezes mais do que as melhores previsões anteriores e é apenas uma medida de base que tem ainda de considerar outras contribuições significativas para a nossa economia.

“Houve também muitos outros serviços que não avaliámos, incluindo turismo, experiências educativas e de aprendizagem, e algas como fonte de alimento, pelo que antecipamos que o valor real das florestas de algas no mundo seja mais elevado”, qualifica Eger.

A algas também têm um potencial incrível como biocombustível sustentável e ajudam a proteger as nossas costas contra a erosão.

Cerca de um terço de todas as florestas de algas sofreram perdas profundas

Mas, tal como em grande parte do mundo à nossa volta, as florestas de algas estão a ter dificuldades. Nas últimas décadas, cerca de um terço de todas as florestas de algas sofreram perdas profundas. Uma combinação de ondas de calor e de ouriços-do-mar invasivos e esfomeados provocou um declínio de 95% das algas ao largo da costa da Califórnia desde 2014. A meio mundo de distância, as florestas de algas da Austrália foram listadas como ameaçadas após declínios igualmente drásticos.

Também sofrem de poluição por actividades humanas, e à medida que estas florestas flutuantes diminuem, o mesmo acontece com lagostas, abalone, peixes, e todas as outras vidas que contam com a sua existência.

“Colocar o valor do dólar nestes sistemas é um exercício para nos ajudar a compreender uma medida do seu imenso valor”, diz Eger. “É importante recordar que estas florestas também têm um valor intrínseco, histórico, cultural e social por direito próprio”.

Os investigadores esperam que as suas descobertas chamem a atenção para este ecossistema há muito negligenciado. Eles estão a lutar para restaurar e proteger milhões de hectares a nível mundial em conjunto com a Kelp Forest Challenge.