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terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Stop using poison
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sábado, 14 de setembro de 2024
Malditas Conyza
Os agricultores detestam as Conyza ... e os botânicos também. São tão variáveis, as correlações de caracteres tão frágeis que a Flora Ibérica arrumou tudo em duas espécies, quando outros autores reconhecem 5 e mais.
A C. canadensis não levanta dúvidas (capítulos glabros, pequeninos). Bem, a C. bonariensis sensu FI é um saco de gatos. A planta em anexo cumpre os critérios de C. bonariensis s.str. (plantas ramificadas desde a base, de crescimento simpodial, folhas estreitas, capítulos granditos, brácteas involucrais tintas de vermelho na extremidade distal estreitando para a base, e papilho branco). Sim, a entidade C. sumatrensis existe – são plantas bem grandes, frequentemente unicaules, de folhas mais largas (na base e no caule), monopodiais (com uma panícula de flores na extremidade), capítulos mais pequenos que os de C. bonariensis, brácteas involucrais verdes, papilho cor de palha, e brácteas mais largas no terço basal. O problema é quando as sumatrenses são cortadas e se ramificam ... ou os papilhos das bonarienses se enchem de pó e ficam amarelados. Enquanto a C. canadensis e a C. bonariensis abundam em ambiente urbano (entulhos, passeios mal-tratados, terrenos de construção, muito cão e muito gato), a C. sumatrensis entra em ambientes menos ruderalizados, em força nos campos de cultura.
E são resistentes ao glifosato. Virtude ou defeito?
sábado, 8 de junho de 2024
Fotos que testemunham os efeitos nocivos do glifosato em Matosinhos
Em Matosinhos a autarca (Luísa Salgueiro) continua a aplicar de forma indiscriminada este tipo de pesticidas, ou seja, os mesmos que alteram a microbiota intestinal e provocam doenças, entre elas as patologias neurodegenerativas.
Acresce que, para além de envenenar a primavera, os munícipes, os seus animais e todo o planeta, ainda permite que se escreva o vocábulo "Ecológicos" no edital que anuncia a aplicação de herbicidas.
Os herbicidas de síntese NÃO SÃO ecológicos. Vamos aos factos:
1. A eliminação de árvores autóctones, no caso, de um carvalho pela aplicação de herbicidas designados por "ecológicos" pela autarquia, numa propriedade privada.
2. Após a aplicação de herbicidas, designados como "ecológicos" pela autarquia ocorreu a morte de joaninhas e abelhões.
3. As plantas com flor, alimento dos polinizadores, em agonia, após a aplicação de herbicidas designados por "ecológicos" pela autarquia.
Fotos recolhidas pela minha amiga Ana Pacheco
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Tese de doutoramento em Biologia da FCUP, que relata os efeitos de um herbicida potencialmente mais tóxico do que o glifosato, entre as melhores do ano
A tese de Cristiano Soares, doutorado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), foi considerada umas das melhores teses de doutoramento de 2022 pela revista científica Plants, do grupo de publicações suíço Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MPDI).
Desenvolvido sob orientação das docentes e investigadoras Fernanda Fidalgo e Ruth Pereira, o trabalho do investigador da FCUP e do GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável constitui um dos primeiros estudos em Portugal e no mundo que relatam os efeitos de um herbicida potencialmente mais tóxico do que o glifosato e que é apontado como potencial substituto.
“O flazassulfurão faz parte de uma família mais abrangente de herbicidas, a classe das sulfunilureias, que se reconhece não serem tão tóxicos. No entanto, a avaliação de uma bateria de ensaios ecotoxicológicos, conduzidos com espécies vegetais e invertebrados terrestres, revelou que este agroquímico era muito mais nocivo do que o glifosato”, refere Cristiano Soares.
“As concentrações testadas de flazassulfurão eram cerca de 1000 vezes inferiores às de glifosato e incluíam a dose de aplicação recomendada, e mesmo assim, os efeitos eram bem mais significativos”, acrescenta o jovem investigador. Além disso, estudos focados na avaliação da capacidade de retenção do solo revelaram também que o flazassulfurão, nas condições testadas, poderá representar uma ameaça para os cursos de água presentes nas proximidades dos campos contaminados.
Os investigadores da FCUP alertam, por isso, para a necessidade de estudar outros herbicidas presentes no mercado e que começam a ser utilizados em alternativa, ou em complemento, ao glifosato.
“Embora o grande objetivo da Estratégia do Prado ao Prato da União Europeia seja a redução, pelo menos em 50% do uso de pesticidas, existem ainda vários herbicidas aprovados para uso agrícola e urbano, para os quais ainda existem poucos estudos acerca do seu potencial impacto ambiental”, denota Cristiano Soares.
Para quem quiser ler/aprender um pouco mais sobre herbicidas e, nomeadamente, sobre glifosato, pode ler a tese de doutoramento aqui
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terça-feira, 21 de novembro de 2023
Um avanço histórico. União Europeia reconhece o crime de ecocídio no seu direito penal
Este é o fim da impunidade dos criminosos ambientais, quer acreditar Marie Toussaint, uma eurodeputada Verde que há anos defende o reconhecimento do crime de ecocídio. Quinta-feira, 16 de novembro, por iniciativa da Presidência espanhola do Conselho da União Europeia, foi alcançado um acordo para reconhecer o crime de ecocídio no direito penal europeu. Uma decisão sem precedentes que abre caminho ao reconhecimento internacional.
É uma vitória para o reconhecimento do crime de ecocídio. Após longas negociações, a Comissão, o Conselho e o Parlamento Europeu chegaram a acordo na quinta-feira, 16 de novembro, sobre uma diretiva de compromisso que inclui a criminalidade ambiental no direito penal europeu. “ É um momento histórico ”, exulta a eurodeputada dos Verdes, Marie Toussaint, que levanta o assunto há muitos anos. “Este texto marca o fim da impunidade dos criminosos ambientais”, acrescenta.
O Parlamento Europeu já tinha chegado a um acordo em Março passado para reconhecer o crime de ecocídio, mas desde então as negociações foram bloqueadas. Finalmente concretizaram-se graças a uma nova proposta da presidência espanhola do Conselho da União Europeia que, contra todas as expectativas, revelou-se bastante ambiciosa. Se a directiva revista sobre a protecção do ambiente pelo direito penal não cita directamente o crime de ecocídio, introduz uma infracção dita "qualificada" que visa criminalizar os ataques mais graves ao ambiente, referindo-se à definição de ecocídio retidos pelos especialistas da Fundação Stop Ecocide.
“A poluição extensiva, os acidentes industriais ou os grandes incêndios florestais são abrangidos pelo delito qualificado de forma comparável ao crime de ecocídio conforme debatido no direito internacional ”, especifica o texto. Além disso, a directiva, anteriormente limitada a resíduos perigosos, materiais radioactivos ou ao comércio ilegal de vida selvagem, reconhece agora novas infracções como a comercialização de produtos resultantes de desflorestação importada, retiradas ilegais de água, destruição de habitat ou ozono, descarga de substâncias poluentes por navios ou mesmo pelo comércio de mercúrio.
A influência dos lobbies
Mas vai ainda mais longe, pois além da violação da legislação citada pela directiva, abrangerá de forma mais ampla comportamentos que causam danos ao ambiente. “Está além do que esperávamos”, disse Marie Toussaint à Novethic. Portanto, muitos ataques ambientais não abrangidos anteriormente pelo direito penal terão de ser abrangidos amanhã, como “derrames de petróleo, a propagação massiva de pesticidas ou produtos tóxicos como os PFAS espalhados no ambiente” , cita.
No que diz respeito à questão das sanções, o acordo introduz pela primeira vez a nível europeu sanções precisas e harmonizadas para infracções ambientais. A pena máxima de prisão também é fixada em oito anos para crimes qualificados. Nos casos mais graves, as empresas infratoras serão multadas em 5% do seu volume de negócios global anual ou 40 milhões de euros (3% do volume de negócios ou 24 milhões de euros para outras violações). Podem ser privados de financiamento público e serão obrigados a reparar os danos e a indemnizar as vítimas.
"Não há mais como fugir da regra, seja por meio de licenças ou de brechas legais: esta lei é preparada para o futuro, o que significa que a lista de crimes será mantida atualizada. Se você poluir, você pagará pelos seus crimes ; as empresas responsáveis pagarão multas e estão previstas penas de prisão para representantes de empresas poluidoras, reagiu o relator do texto, Antonius Manders (PPE, NL). O texto, no entanto, apresenta algumas falhas e destaca a falta de consistência entre as autoridades, que votaram o mesmo manhã para a renovação por dez anos do glifosato , um polémico pesticida.
Rumo a uma resolução no Tribunal Penal Internacional?
Com este progresso, a União Europeia é o primeiro bloco de países a nível mundial a incluir o ecocídio na sua legislação. Resta agora aos Estados transporem o texto para a sua legislação mas, acima de tudo, podem agora submeter uma alteração ao estatuto do Tribunal Penal Internacional - do qual representam quase um quinto dos Estados membros - a fim de acrescentar graves violações ao ambiente a crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão.
Segundo a Interpol, o crime ambiental tornou-se, em apenas algumas décadas, o quarto maior sector criminoso do mundo, com um crescimento duas a três vezes superior ao da economia global. Hoje é um negócio tão lucrativo quanto o tráfico de drogas. Em todo o mundo, a pilhagem e a destruição da natureza representam hoje entre 110 e 280 mil milhões de dólares por ano.
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sábado, 18 de novembro de 2023
Bruxelas autoriza a utilização de glifosato na UE por mais 10 anos
A Comissão Europeia autorizou, quinta-feira, a utilização de glifosato na União Europeia (UE) por mais 10 anos, depois de os Estados-membros não terem chegado a acordo sobre proibir a sua utilização.
"A Comissão, com base em avaliações de segurança exaustivas efetuadas pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA) e pela Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA), em conjunto com os Estados-membros da UE, irá proceder à renovação da aprovação do glifosato por um período de 10 anos, sujeita a determinadas condições e restrições novas", afirmou em comunicado.
"Estas restrições incluem a proibição da utilização pré-colheita como dessecante e a necessidade de determinadas medidas para proteger os organismos não visados", acrescentou.
O glifosato é um herbicida de amplo espetro e dessecante de culturas agrícolas, usado para matar ervas daninhas, especialmente as folhosas perenes e gramíneas. A AESA afirmou numa avaliação, em julho passado, que não tinha encontrado "áreas críticas de preocupação" para a renovação da utilização para além de 15 de dezembro, quando expirava o prazo de autorização.
O executivo da UE tem o poder de aprovar a sua própria proposta depois de os Estados-membros não terem conseguido, pela segunda vez, alcançar uma maioria qualificada a favor ou contra o plano apresentado, em setembro.
A bancada dos Verdes no Parlamento Europeu está contra a decisão, tendo a eurodeputada francesa Marie Toussaint dito, à Euronews, que há estudos em sentido contrário ao da AESA.
"A Europa tem uma escolha: ou se envenena ou se protege. E esta votação, esta abstenção dos Estados-membros - que tinham os meios para impedir esta proposta - acaba por contribuir para a deterioração da saúde, para a devastação da natureza. Esta proposta de renovação do glifosato é um drama para a saúde humana, com um número crescente de vítimas que sofrem de cancro e deformações desde tenra idade, e também para outros organismos vivos. Numerosos estudos demonstraram o efeito devastador do glifosato na biodiversidade", explicou.
"A Europa tem uma escolha: ou envenena ou protege. E esta votação, esta abstenção dos Estados-membros - que tinham os meios para impedir esta proposta - acaba por contribuir para a deterioração da saúde, para a devastação da natureza. Agora escondem-se por detrás da sua abstenção, alegando que se opuseram porque se abstiveram, para não passarem um cheque em branco à Comissão Europeia, o que é totalmente hipócrita", concluiu Marie Toussaint.
O presidente da Comissão do Ambiente do Parlamento Europeu, Pascal Canfin, criticou a decisão por ser contrária aos pareceres científicos: “Esta proposta não tem o apoio dos três maiores países agrícolas do nosso continente - França, Alemanha e Itália. Lamento profundamente. Não é a Europa de que gosto."
Aplicação depende de cada país
Embora o executivo comunitário tomado esta decisão, recordou que os Estados-Membros são responsáveis pelas autorizações nacionais dos produtos fitofarmacêuticos que contêm glifosato.
Cada país da UE continuará, por conseguinte, a ter a possibilidade de restringir a sua utilização a nível nacional e regional, se o considerar necessário, "em função dos resultados das avaliações de risco, tendo em conta, em especial, a necessidade de proteger a biodiversidade", afirmou a CE.
Um estudo europeu, divulgado no passado dia 6 de setembro, que envolveu 12 países, revela que Portugal é campeão em termos de concentração tóxica para consumo humano do herbicida glifosato em cursos de água doce. As amostras foram recolhidas em rios, ribeiras e lagos. Uma das amostras em Portugal, recolhida em Idanha-a-Nova, continha três microgramas/litro (µg/L), isto é, 30 vezes mais que o limite legal, tendo sido a mais elevada concentração de glifosato detetada nas amostras analisadas no estudo. O limite de segurança para o glifosato na água potável é de 0,1 µg/L.
Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha alertado, em 2015, para os riscos cancerígenos do glifosato, a Agência Europeia para a Segurança dos Alimentos e a Agência Europeia dos Produtos Químicos afirmaram ter provas científicas para classificar o herbicida como não cancerígeno.
Assim, após dois anos de polémica, o herbicida glifosato (da empresa norte-americana Monsanto) recebeu, em 2017, luz verde para continuar a ser utilizado na UE, embora por um período mais curto do que o habitual, cinco anos em vez dos habituais 15. No ano passado, a licença foi renovada mais uma vez até 15 de dezembro, na pendência de um relatório da EFSA, que foi publicado este verão.
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terça-feira, 7 de novembro de 2023
Fim de Venenos em Nossos Campos! Peça para parar o Glifosato Agora
Nossa saúde depende da alimentação, e de como esse alimento é cultivado e de quantos venenos são utilizados e liberados no meio ambiente. O glifosato, cuja renovação a Itália também manifestou o seu apoio, é um herbicida utilizado intensamente em todo o mundo que causou poluição generalizada do solo e da água e, ao consumir alimentos contaminados com glifosato, introduzimo-lo nos nossos corpos: para o demonstrar, um francês estudo mostrou que 100% dos cidadãos franceses apresentam vestígios de glifosato na urina. A pesquisa foi realizada com mais de 6.800 pessoas com idade média de 53 anos, cujas amostras foram coletadas durante dois anos, entre 2018 e 2020. Apesar disso, o perigoso herbicida da Bayer-Monsanto corre o risco de ser autorizado na Europa por mais 10 anos.
As crianças são as mais sensíveis à exposição a partir da idade fetal: o Fundo Francês de Indemnização às Vítimas de Pesticidas aceitou recentemente o pedido de uma grande indemnização de um rapaz de 16 anos, pois sofre de malformações congénitas da laringe e do esófago, devido ao fato de sua mãe ter ficado muito tempo exposta ao glifosato durante a gravidez.
A Bayer terá de pagar US$ 175 milhões a um ex-dono de restaurante que sofre de linfoma de Hodgkin, aceitando a exposição contínua ao glifosato como causa. A exposição ao glifosato aumenta significativamente (+41%) o risco de contrair linfoma não-Hodgkin (Luoping Zhang et al. (2019). 'Exposure to Glyphosate-Based Herbicides and Risk for Non-Hodgkin Lymphoma: A Meta- Analysis and Supporting evidencence'
O glifosato é usado em muitas culturas, e podemos introduzi-lo, com farinhas, massas, cerveja, mas também carnes, vegetais e frutas. Assinando para bloquear o glifosato é pensar na sua saúde, na dos seus filhos e no planeta. A exposição de hoje pode causar cancro em 10 anos, é importante proteger as crianças antes de tudo dessa longa exposição. Quando falamos de uma alimentação saudável não podemos ignorar estes aspectos importantes. Uma dieta saudável é aquela que nutre e é tão livre quanto possível de contaminantes tóxicos.
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sábado, 4 de novembro de 2023
O glifosato causa leucemia nas primeiras fases da vida
Em Bolonha, Itália, acaba de ser apresentado um estudo toxicológico multi-institucional, internacional e de longo prazo , que concluiu que “baixas doses de herbicidas à base de glifosato causam leucemia em ratos. É importante destacar que metade das mortes por leucemia identificadas nos grupos de estudo ocorreram em idade jovem”, afirma o comunicado oficial que acompanhou a apresentação.
Os dados, apresentados quarta-feira, 25 de outubro, foram divulgados na conferência científica internacional “Ambiente, trabalho e saúde no século 21: estratégias e soluções para uma crise global”, e fazem parte do Estudo Global do Glifosato (GGS) .
No estudo apresentado, os pesquisadores administraram glifosato sozinho e duas formulações comerciais, Roundup BioFlow (MON 52276) usado na UE e Ranger Pro (EPA 524-517) usado nos Estados Unidos, em ratos através da água potável desde a vida pré-natal em doses. de 0,5, 5 e 50 mg/kg de peso corporal/dia.
Daniele Mandrioli, coordenadora do Estudo Global sobre Glifosato e diretora do Instituto Ramazzini, observou que “aproximadamente metade das mortes por leucemia observadas em ratos expostos ao glifosato e aos herbicidas à base de glifosato ocorreram em menos de um ano de idade”.
As descobertas questionam fortemente a base que permite o uso do herbicida. Estas doses utilizadas no estudo são atualmente consideradas seguras pelas agências reguladoras e correspondem à Ingestão Diária Aceitável (DDA) da União Europeia (UE) e ao Nível de Efeito Adverso Não Observado da UE (Noael) para o glifosato.
Mandrioli anunciou que todo o estudo será publicado em breve e explicou o motivo desse avanço. “Essas descobertas são de tal relevância para a saúde pública que decidimos que era vital apresentá-las agora, antes da publicação. Os dados completos serão disponibilizados ao público e submetidos para publicação em revista científica nas próximas semanas.”
O Estudo Global sobre Glifosato é o estudo toxicológico mais abrangente já realizado sobre glifosato e herbicidas à base de glifosato. Examina os impactos do glifosato e dos herbicidas à base de glifosato na carcinogenicidade, neurotoxicidade, efeitos multigeracionais, toxicidade de órgãos, desregulação endócrina e toxicidade no desenvolvimento pré-natal.
O GGS publicou anteriormente um estudo piloto mostrando toxicidade endócrina e reprodutiva em ratos em doses de glifosato atualmente consideradas seguras pelas agências reguladoras dos EUA (1,75 mg/kg de peso corporal/dia). Estas descobertas foram posteriormente confirmadas numa população humana de mães e recém-nascidos expostos ao glifosato durante a gravidez.
As descobertas do GGS sobre a toxicidade do glifosato para o microbioma , que foram revisadas por pares e publicadas no final de 2022 e apresentadas ao Parlamento da União Europeia em 2023, também mostraram efeitos adversos em doses atualmente consideradas seguras na UE (0,5 mg/kg). peso corporal/dia, equivalente à ingestão diária aceitável na UE).
O GGS é coordenado pelo Instituto Italiano Ramazzini e conta com a participação de cientistas da Europa, dos Estados Unidos e da América do Sul. As universidades americanas participantes são Boston, Icahn Medicine at Mount Sinai, George Mason e California. Também participaram a Universidade de Pádua (Itália), o King's College (Reino Unido), Copenhague (Dinamarca) e a Universidade Federal do Paraná (Brasil).
“ Renovar a licença do glifosato é completamente ilegal”
O glifosato foi classificado como provável carcinógeno humano em 2015 pela mais alta autoridade mundial em câncer, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC) da OMS. Apesar desta afirmação, a maioria das agências reguladoras, incluindo o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa), continuam a permitir o uso do perigoso herbicida.
O avanço dos resultados do GGS ocorre no âmbito da renovação da licença do herbicida glifosato na União Europeia que está a ser definida nestes meses. Uma decisão que mantém a atenção de todos os países membros da UE, mas também de toda a comunidade internacional que procura erradicar o perigoso herbicida mantido no mercado pelas mais importantes empresas agroquímicas do mundo.
Assim que foram conhecidos os dados do estudo, da Alemanha, o toxicologista Peter Clausing, membro da Pesticide Action Network (PAN), num comunicado daquela organização, afirmou: “Este estudo de alta qualidade precisa de toda a atenção das autoridades europeias. , pois fornece novas evidências alarmantes que corroboram descobertas anteriores sobre os efeitos cancerígenos do glifosato no sistema linfático observados em estudos com ratos e em estudos epidemiológicos em humanos.
Por sua vez, Angeliki Lysimachou, Diretora de Ciência e Política (PAN Europa) concluiu: “O estudo sublinha que a renovação da licença do glifosato é mais do que questionável, é completamente ilegal. As autoridades da União Europeia cometeram um grande erro ao concluir que o glifosato e a sua formulação representativa são seguros. “O passo certo agora é a UE retirar a atual proposta de reautorização e pressionar para que ela não seja renovada.”
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terça-feira, 24 de outubro de 2023
Renúncia fiscal: soja recebe quase R$ 60 biliões ao ano, o dobro da cesta básica
A soja tem dificuldades em abrir mão do Estado-babá? Como todo produto do colonialismo, o grão depende fortemente de subsídios públicos. Um novo estudo mostra que a produção custa quase R$ 60 biliões ao ano apenas em renúncia fiscal. O valor é o dobro das desonerações garantidas à cesta básica, e seria suficiente para arcar com quatro meses de Bolsa Família.
O relatório O custo da soja para o Brasil: renúncias fiscais, subsídios e isenções da cadeia produtiva, lançado nesta terça-feira (17), reforça o papel concentrador desse grão na disputa por terras, financiamento e benesses. E, em meio à discussão sobre reforma tributária, propõe que sejam repensados os subsídios ao setor.
O autor, o economista Arnoldo de Campos, destrincha leis que garantem isenções para a produção agrícola em várias etapas, desde insumos (como fertilizantes e agrotóxicos) até a livre circulação pelos estados e a exportação, passando pelo processamento de óleos, biodiesel e farelo de soja.
O resultado é uma estimativa de renúncia de R$ 56,81 biliões apenas em impostos federais ao longo de 2022. Isso equivale a 15% do faturamento estimado para a produção de soja, de R$ 400 biliões.
"Estamos trazendo ao público a informação de quanto é o custo para o país como um todo de uma opção estratégica que foi tecida durante a ditadura, onde não houve esse processo de transparência, participação e democracia. Esse é o cerne do nosso estudo", diz Marcos Woortmann, coordenador de Políticas Socioambientais do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), uma das organizações responsáveis pelo estudo. Ele faz alusão ao fato de que a estrutura tributária atual do país começou a ser instituída durante o regime autoritário, e depois foi apenas sendo sucessivamente remendada.
"O Brasil é o país que mais se desindustrializou no mundo nos últimos trinta anos. E existe uma razão do porquê isso aconteceu. Não houve priorização da indústria na economia. Um setor está pagando, o outro está recebendo. O setor industrial paga IPI, CSLL, Cofins. E o setor da soja não paga. E quem paga somos nós como contribuintes."
O relatório traça ainda uma projeção para a renúncia fiscal de ICMS em Mato Grosso, maior produtor de soja e estado-símbolo do agronegócio no Brasil. A estimativa é de uma perda de quase R$ 8 biliões, o que equivale a 6,1% do faturamento da cadeia de soja no estado. No total, a desoneração foi maior que a própria arrecadação, projetada em R$ 5,9 biliões.
"Não sou um otimista", diz Woortmann sobre a possibilidade de que a reforma em tramitação no Congresso acabe com os privilégios do agronegócio. "O Brasil está subsidiando a destruição ambiental, a concentração de renda e o autoritarismo. A democracia brasileira está subsidiando as forças que atentaram contra ela. E isso ficou profundamente nítido a partir das investigações de financiamento dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Esses atos foram subsidiados por empresas subsidiadas pelo contribuinte. Existe uma complexidade do momento histórico que é gravíssima."
Papa-tudo
Não é de hoje que a capacidade da soja em ser predatória com outras culturas chama atenção. Ainda assim, o avanço do grão nos últimos anos tem se dado em bases astronômicas. A projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra atual é de 44 milhões de hectares, o equivalente à soma dos territórios de Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Se fosse um país, a soja teria o tamanho aproximado de Marrocos.
Como assinala o relatório, é verdade que o cultivo teve um ganho de produtividade, mas a principal explicação reside na expansão geográfica: na comparação com o primeiro mandato de Lula, a soja mais do que dobrou de tamanho.
"O estudo é uma oportunidade de abrir um debate de que existem alternativas", assinala Paula Johns, diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde, outra das organizações responsáveis pela análise. "Para desnaturalizar essa coisa que está dada na sociedade, de que o agronegócio é que salva a lavoura no Brasil. Esses números mostram que o que a gente tem de aparentemente bem-sucedido é o fruto de um investimento de décadas. Hoje a gente sabe que esse investimento tem uma série de consequências ambientais e de saúde humana. A gente pode rever essa rota."
Essa capacidade de concentração fica explícita também na pesquisa Produção Agrícola Municipal, cuja versão mais recente foi divulgada em setembro pelo IBGE. Tirando da conta o milho, nem mesmo a soma de todos os demais produtos faz frente à soja: são R$ 292,7 biliões entre cana-de-açúcar, café, algodão, trigo, arroz, laranja, feijão, mandioca e outros alimentos.
Como temos mostrado no Joio, o mote de que o agro é tudo cai por terra diante da desproporção entre a soja e todo o restante. Sem o grão, o agro perderia quase metade do valor de produção, o que expõe a fragilidade do setor que se apresenta como "indústria-riqueza do Brasil".
Segundo o estudo, a participação da cadeia da soja no PIB do agro passou de 9% para 27% entre 2010 e 2022 – uma expansão de 58%, contra apenas 8% do agro como um todo.
O relatório analisa como essa concentração se reflete na concessão de crédito. Os dados do Banco Central mostram que o grão sugou 52% dos recursos de financiamento em 2022. "Ou seja, de um total de R$ 133,2 biliões emprestados para custear as lavouras no país, R$ 69,5 biliões foram destinados para financiar exclusivamente o custo da soja."
Somando o milho, chega-se a 72%, ou seja, todos os restantes alimentos, num total de 140 culturas, ficam com apenas 28% do crédito rural. O feijão, por exemplo, ficou com menos de 1% dos recursos, num total de 8,4 mil contratos para um universo de quase um milhão de produtores.
A porta de saída
O estudo defende que a soja é o exemplo-mor da ênfase colocada pelo Estado na transformação do país em potência agrícola. O grão é o resultado de políticas agrícolas, comerciais, de infraestrutura e de tributação. Vale lembrar que a adaptação do cultivo ao Cerrado é vista como uma das maiores realizações da Embrapa, que celebra 50 anos em 2023.
"Se o objetivo de fomentar e desenvolver o agronegócio foi alcançado, como demonstra o caso da soja aqui destacado, será que faz sentido manter os atuais níveis de apoio que as cadeias produtivas privilegiadas receberam ao longo de décadas?", questiona o relatório, sugerindo que está na hora de o agronegócio brasileira começar a devolver parte dos investimentos feitos pelo país.
O texto aponta que parte da elite do país questiona o tempo do qual famílias pobres dependem de programas sociais, como o Bolsa Família, "e cobra do poder público as chamadas 'portas de saída', para que estas famílias deixem, depois de um determinado período, de receber o apoio do Estado. Dizem que as famílias não deveriam ficar ‘dependentes’ das políticas sociais".
Então, por que a soja deveria ficar eternamente dependente do Estado? A pergunta, ao fim, é: o agronegócio sobrevive sem fartos apoios públicos?
O relatório "O custo da soja para o Brasil: renúncias fiscais, subsídios e isenções da cadeia produtiva" foi produzido por ACT Promoção da Saúde, Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)
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segunda-feira, 16 de outubro de 2023
Dia Mundial da Alimentação: Quercus exige medidas do Governo para proteger os insetos polinizadores
Rainha: Bombus terrestris Planta :Tilia cordata |
Em vésperas de se celebrar mais um Dia Mundial da Alimentação, assinalado a 16 de outubro, a Quercus vem relembrar e sensibilizar para a relação direta entre o declínio dos insetos polinizadores e a segurança alimentar de uma população mundial em crescimento.
Nos últimos anos, são muitas as ameaças que têm conduzido ao declínio das populações de abelhas e de outros insetos polinizadores. Na Europa, cerca de um terço da população de abelhas e borboletas está em risco de desaparecer. Muitos são os estudos e relatórios que apresentam os fatores de declínio destes insetos, como a utilização crescente de pesticidas e fertilizantes sintéticos associados à agricultura intensiva e super-intensiva, doenças e parasitas diversos, interferência de espécies invasoras como a vespa velutina, também conhecida como vespa asiática, e as alterações climáticas.
Porém, sabe-se hoje que 75% das culturas agrícolas mundiais dependem, total ou parcialmente, dos insetos polinizadores para a produção de alimento. A polinização é um serviço dos ecossistemas vital para a natureza, para a agricultura e para o bem-estar humano. O papel essencial dos polinizadores foi, de resto, amplamente reconhecido pelas entidades governamentais após a Convenção para a Diversidade Biológica (CBD) ter estabelecido a Iniciativa Internacional de Polinizadores (IPI), apoiada e coordenada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Na Europa, a Estratégia «do Prado ao Prato» representa um elemento fundamental do Pacto Ecológico Europeu e funciona em concertação com a Estratégia de Biodiversidade da União Europeia (UE) para 2030. Tornar os alimentos da Europa mais saudáveis e sustentáveis é o objetivo da UE, que fixa como principais metas reduzir a utilização de pesticidas em 50 % e reforçar a área de agricultura biológica em 25%, até 2030.
Todavia, a excessiva utilização de pesticidas, em particular do glifosato, compromete irremediavelmente o cumprimento destas metas. O glifosato é um herbicida tóxico bastante nefasto para as abelhas, o principal inseto polinizador do qual dependem muitas culturas agrícolas. Os dados disponíveis são preocupantes, não apenas porque confirmam que em Portugal se mantém o uso generalizado e excessivo de pesticidas (com a consequente contaminação dos solos agrícolas, da água e dos alimentos), mas também porque trazem a nu a total ausência de políticas e de medidas para inverter este estado de coisas.
Para tal, é essencial implementar medidas concretas e eficazes tais como restringir o uso intensivo de pesticidas e fertilizantes sintéticos na agricultura; fomentar a criação de refúgios para os insetos polinizadores, como corredores silvestres e hortas comunitárias; ou promover a manutenção dos prados floridos e da vegetação espontânea em geral. Medidas que poderiam e deveriam incluir também, e desde já, o fim da atribuição de subsídios agroambientais que continuam a permitir a utilização de pesticidas na agricultura.
Campanha SOS Polinizadores tem reforçado sensibilização
Sabe-se, hoje, que a segurança alimentar do Planeta depende diretamente da implementação de medidas urgentes de proteção dos insetos polinizadores. Através da campanha SOS Polinizadores (com vários materiais disponíveis ), a Quercus e a Jerónimo Martins têm vindo a acompanhar a temática do declínio dos insetos polinizadores e a desenvolver várias ações de sensibilização, reforçando sinergias com autarquias locais através de ações concretas que incentivem uma alimentação segura e uma agricultura mais sustentável, bem como a criação de mais espaços amigos dos polinizadores, como hortas e corredores silvestres nas cidades e nas escolas.
É fundamental aumentar a consciencialização da sociedade sobre a importância e a problemática do declínio dos polinizadores. Mais ainda, tendo em conta que, segundo relatórios da Comissão Europeia, Portugal não possui ainda um plano ou estratégia nacional ou local para a proteção de polinizadores selvagens, um passo essencial para ajudar a estabelecer metas uniformes para todo o país e servir de orientação para as entidades públicas e privadas responsáveis pela gestão dos espaços verdes em cada cidade.
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terça-feira, 10 de outubro de 2023
Cartaz da Semana
O cartaz é injusto. Injusto porque há milhões de vegetarianos, milhões andar de bicicleta para o trabalho, milhares de ONG e colectivos na defesa da biodiversidade, muitos líderes ambientais são assassinados, milhões de pessoas com hábitos "ecofriendly" (cozinham a forno solar, permacultores, praticam a agricultura biológica, simplicidade voluntária, minimalistas, etc.), milhares são contra o glifosato e os OGM, milhares recusam os aviões, centenas de académicos produziram resultados que nos tornam apreensivos em relação às consequências do aquecimento global e ao colapso dos insectos e das aves. A extinção maciça de outras espécies, etc...
E o que vemos, em particular, Portugal? Um travão e uma marcha atrás que amputa os objectivos já descritos. Com o SIMPLEX Ambiental, o Governo está a incumprir os seus compromissos internacionais, nomeadamente a Convenção de Aarhus sobre o acesso à informação, participação do público nos processos de tomada de decisão e acesso à justiça em matéria de ambiente. Assim não dá.
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domingo, 8 de outubro de 2023
Petição- pela proibição definitiva do glifosato
A Bayer ocultou os riscos do glifosato para a saúde de mulheres grávidas e crianças, afirma uma queixa criminal apresentada em 2019 na Áustria, que acaba de ser tornada pública.
As evidências são contundentes, mas a investigação pode levar mais meses e não temos esse tempo. Os governos da UE deverão decidir em 12 de outubro se o glifosato será reaprovado por 10 anos ou banido.
Juntamente com a Avaaz, a WeMove e outros parceiros, estamos a fazer uma petição gigantesca para entregar antes da votação dos governos. Quase banimos o glifosato antes – por favor assine e partilhe esta petição para mostrar aos líderes da UE que ainda hoje existe um apoio público massivo à proibição:
Diga aos governos da UE para votarem pela proibição definitiva do glifosato.
domingo, 24 de setembro de 2023
Glifosato - relembrando o episódio do lobista Patrick Moore
Será que Manuel Chaveiro Soares, Engenheiro Agrónomo, Ph. D., também recusa beber um copo de glifosato? Recordemos Patrick Moore. Perito em ecologia, entrevistado pelo Canal+, disse que o Roundup, um herbicida na altura produzido pela Monsanto, era tão seguro que se podia beber, mas negou-se a fazê-lo em direto, acabando intempestivamente com a entrevista e chamando parvo ao entrevistador.
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quarta-feira, 6 de setembro de 2023
A poluição por glifosato ameaça as águas superficiais europeias
A Comissão Europeia quer renovar a autorização de uso do glifosato por mais 15 anos.
De Portugal à Polónia, da Bélgica à Bulgária, a água de rios e ribeiras está contaminada com glifosato e o seu resíduo metabolito de degradação AMPA (1). Mesmo fora da época de aplicação de pesticidas, final de outubro, estas substâncias foram detectadas nas águas superficiais em 11 dos 12 países estudados.
Esta é uma descoberta chocante revelada pelo estudo europeu da ONG Pesticide Action Network-PAN Europe, em colaboração com os Verdes Europeus. Esta contaminação, vaticinada há muito pela sociedade civil, constitui uma séria ameaça para a vida aquática, para a qualidade da água potável e para a saúde humana.
O glifosato está em toda a parte: na urina humana, na poeira doméstica, nos solos e nas águas superficiais. Sabe-se que tanto o glifosato, como o AMPA, constituem riscos graves para os ecossistemas aquáticos (2). Glifosato e AMPA em conjunto foram detectados acima de 0,2 μg/L em 17 de 23 amostras (74%). As amostras recolhidas na Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, França, Alemanha, Hungria, Países Baixos, Espanha, Polónia e Portugal estavam contaminadas com pelo menos uma das substâncias.
Considerando que o limite de segurança para o glifosato (sem o AMPA), na água potável, é de 0,1 μg/L, 5 das 23 amostras de água (22%) coletadas na Áustria, Espanha, Polónia e Portugal continham glifosato em concentrações tóxicas para consumo humano. Uma das amostras em Portugal, na bio-região (3) de Idanha-a- Nova, continha 3 µg/L, isto é 30 vezes mais que o limite legal, o que confirma estudos anteriores da Plataforma Transgénicos Fora em Portugal (PTF) que revelaram a contaminação da urina humana na grande maioria das pessoas analisadas (4).
O estudo salienta também a grave lacuna existente na regulamentação de salvaguarda dos nossos recursos hídricos devido à inexistência de um sistema europeu de monitorização das águas superficiais e da falta de valores de referência para o AMPA que, embora seja um produto da degradação do glifosato, é também muito tóxico.
O glifosato tem permanecido no mercado, em possível violação das disposições do Regulamento (CE) 1107/2009, segundo o qual os pesticidas (as substâncias ativas e os adjuvantes dos produtos comerciais) colocados no mercado não devem ter efeitos nocivos nas pessoas, nos animais, ou no ambiente.
Em 2018 a utilização do glifosato foi renovada por apenas 5 anos devido às dúvidas sobre a sua segurança. A autorização terminaria em 2022, mas foi prorrogada, também com a aprovação de Portugal, para recolher provas dos impactos ecotoxicológicos.
Entretanto o corpo de literatura científica independente que associa a exposição ao glifosato a doenças graves e a danos ambientais continua a aumentar. Por exemplo, para além do seu potencial carcinogénico identificado pela OMS/IARC (2015), estudos recentes revelam que o glifosato e os produtos à base de glifosato podem ser nocivos para a saúde humana.
Para além disso o glifosato está implicado na alarmante perda de biodiversidade – 65% em 40 anos, a nível mundial, prevendo-se perder 25% da existente nas próximas décadas. Ciente do problema a Comissão Europeia (CE) propôs a redução de pesticidas (incluindo herbicidas) para 50%, até 2030, na nova PAC. Os pesticidas têm de ser substituídos por práticas agrícolas capazes de proteger as culturas e os recursos naturais pois, havendo vontade política, tal é realizável.
No entanto, a CE propõe agora renovar a utilização desta substância ativa, com o risco de não haver o adequado debate científico e escrutíno público (6). Prevendo-se que esta proposta seja votada em meados de outubro. As conclusões recentes da própria EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) identifica lacunas (7)
Notas:
- AMPA, ácido aminometilfosfónico, resulta da degradação do glifosato e ele próprio também é tóxico metabolito de degradação AMPA;
- “Ecotoxicology of Glyphosate-Based Herbicides on Aquatic Environment”
- Nesta bio-região têm sido instalados amendoais intensivos em produção integrada com uso permitido de Foram subsidiados em medidas agroambientais e, desde 2023, no PEPAC português, são subsidiados em regime ecológico.
- Nova et al, Glyphosate in Portuguese Adults – A Pilot Study. Environmental Toxicology and Pharmacology 80 (2020).
- Silva et al, Distribution of glyphosate and aminomethylphosphonic acid (AMPA) in agricultural topsoils of the European Union. Sci Total Environ (2017)
- Pesticide Action Network: “Leaked: EU Commission plans to swiftly reapprove glyphosate to avoid scientific and public debate”l
- EFSA p23. “a data gap for addressing the risk to aquatic macrophytes due to contact exposure via spray drift of glyphosate was identified and this resulted in an assessment not finalised” “For chronic exposure to glyphosate, a proper comparison between fishand amphibians could not be carried out, since relevant and reliable chronic endpoints for amphibians were not available. A full comparability between fish and aquatic stages of amphibians would anyway be hampered by the different response types being measured for the two groups.
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domingo, 30 de abril de 2023
Secrets Toxiques - Le film
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sábado, 25 de março de 2023
Pesticide Giant Criticised for ‘Greenwashing’ Partnership with French Influencer
Bayer, the world’s second largest crop chemicals company, sponsored a French influencer to create and share pro-pesticides content with over 300,000 followers on her Instagram account, an investigation has revealed.
Jenny Letellier – one of France’s biggest YouTubers with nearly 4 million subscribers – has come under fire for the sponsored content, which was broadcasted via a series of videos from France’s leading agriculture fair last month. This content was produced in conjunction with Morgan Niquet, a YouTuber with 1.3 million subscribers.
French media outlet Vakita, which broke the story, obtained a copy of the contract between the German multinational and Letellier that specified how the social media campaign was tailored to meet clear PR objectives for the company.
These included “showing the general public that French agriculture is sustainable and respectful of the environment” and that “it takes into account the expectations of society and younger generations”.
France is the second largest market in the EU for pesticides, which have been found to harm biodiversity, soil health and human health.
Salomé Roynel from campaign group Pesticide Action Network Europe (PAN) called the PR partnership a “well-known tactic”. It comes at a time the pesticides lobby is currently heavily resisting green reforms in Europe that – if enacted – would drastically reduce agrochemical use in order to protect nature and wildlife.
A spokesperson from Bayer’s crop science division said: “Like all companies, Bayer may establish partnerships with influencers to promote information or events. The group complies with all current regulations related to partnerships, in particular rules of transparency“.
Backlash from Followers
Influencer advertising is increasingly popular among companies seeking to reach younger audiences. Global spending on this kind of marketing is expected to reach over $30 billion in 2023.
Many of Letellier’s Instagram followers took a dim view of the content she produced for Bayer, which sparked a torrent of incredulity and outrage online. One follower said on Instagram: “We are fighting to save this planet and you make those of your generation believe that Bayer takes care of it!”.
Vakita estimated that the going rate for such a deal was likely to be in the region of €6,000 ($7,200), which included a set of Instagram stories and a post on her feed. Letellier’s comedy Instagram reels routinely receive hundreds of thousands of views; one gained upwards of eight million.
Letellier stated in an Instagram post that she had been a “fool” and “naive”, and had deleted the content prior to Vakita’s investigation. She told Vakita that she was not aware of Bayer prior to the partnership, deeply regretted the agreement, and had refused payment.
A spokesperson for Niquet confirmed that he had also refused payment for the partnership. They said: “Going forward, we will take the necessary steps to ensure that our partnerships align with our values and commitment to environmental responsibility”.
Pro-Pesticide Messaging
Letellier’s videos were filmed at the Salon D’Agriculture in Paris, France’s main agriculture fair, which is visited by the French president each year.
In a series of clips, Letellier is shown repeating messages from a briefing provided by Bayer, which was obtained by Vakita journalists. In one video, Letellier states that “companies like Bayer […] support farmers to produce better with fewer resources”.
Bayer said that Letellier and Niquet had produced “informative and participatory content according to their vision, their codes and their editorial line” after a day of discussion at the fair.
Bayer also told Vakita that it “will continue to partner with personalities interested in the issues and the future of agriculture in France”.
Scientists and campaigners often contest the notion that Bayer’s products “produce better” because while they protect food crops, agrochemicals are toxic to insects and other life forms.
According to the Pesticides Action Network, over a third of Bayer’s sales derive from products that are highly hazardous to the environment, animal or human health. (The methodology for this classification is strongly disputed by Bayer on the grounds that it uses different criteria to internationally accepted rules).
Experts say that overuse of chemical pesticides is harming the future of food production. Biodiversity is in sharp decline across the world, and numbers of birds and pollinators are plummeting in Europe.
Bayer, which makes almost $10 billion in agrochemical sales every year, has also faced millions of dollars in lawsuits over health issues allegedly related to its products, including from farmers.
In December, Paul Francois won damages of over $11,600 from Bayer, following a 15-year legal battle in French courts. The farmer claimed that accidental inhalation of a weedkiller Lasso, which was legal in France until 2007, had caused him chronic neurological problems.
Bayer France told Reuters that Francois was awarded less than 1 percent of the compensation requested, and that the courts had not recognised any of the serious pathologies alleged.
Trying to ‘Turn Public Opinion’
Roynel from PAN accused Bayer of trying to “turn public opinion”, which she said currently favours reducing pesticide use. A petition to phase out pesticides in the EU received over a million signatures in 2021.
Bayer has consistently opposed proposed EU reforms which could see pesticide use slashed. Since 2020, along with other pesticide companies, the firm has repeatedly lobbied against targets to slash chemical use by 50 percent – a move that would cost the industry millions in lost sales.
The arguments frequently used by Bayer to lobby in defence of its business model include the idea that innovations such as “precision farming”, which aim to use pesticides more efficiently, are a better solution than legally-binding reduction targets.
These arguments were present in the briefing given to Letellier, who told her followers: “if we treat them [crops] well with treatment by giving them a good dose, in the right place, at the right time, we optimise production to have optimum performance”.
France is among a number of member states that has called for delays to the pesticide legislation. As the largest agricultural producer in the EU, it is considered one of the most powerful member states in the union on the matter.
Bayer also asked Letellier to “highlight the fact that [French agriculture] is already in full ecological transformation and that it has innovated and modernised”.
Letellier stated in her video: “Today in France, everything is very regulated and we cannot use pesticides for just anything. And so much the better for the plants and for us, because it allows us to feed ourselves”.
President Emmanuel Macron has pledged to end the use of glyphosate, Bayer’s best-selling pesticide, which is considered “probably carcinogenic to humans” by the World Health Organisation.
A 2022 study found the weedkiller – which earned Bayer $840 million in global sales in 2018 – is present in the urine of 99 percent of the French population.
The EU is expected to decide this year whether glyphosate should be approved for use in farming for the next decade.
Roynel said that influencing public opinion was part of Bayer’s “strategy […] to fight fiercely any sustainable transition which would harm its business”.
Wider Lobbying Efforts
Advertising is just one of the tactics used by Bayer to influence EU policy.
A recent investigation by DeSmog found that the pesticide industry had poured millions into resisting green farming reforms. The companies had held private meetings with legislators, funded academic research and launched widespread communications campaigns to delay laws to reduce pesticide use.
Bayer is not the only pesticide firm to have paid influencers for PR work in France, either. Vakita reports that in 2021, a manufacturer of pesticides paid an Instagrammer with 700,000 followers to defend a herbicide, which the EU was threatening to ban due to its risk to wildlife and the environment.
Letellier did not respond to DeSmog’s requests for comment.
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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023
O que aconteceu com o glifosato?
Obra do pintor bávaro Wilhelm von Kobell, “Rast beim Pflügen”, pintada em 1800. |
No dia 15 de dezembro de 2022 aconteceu algo que passou completamente despercebido pela sociedade. Quase nenhum comunicado de imprensa foi coletado. Porém, é algo tão importante quanto chover ou não; tão importante quanto saber se a água que bebemos está contaminada ou não, mas o que foi omitido da sociedade?
A Comissão Europeia decidiu prorrogar, por mais um ano, a permissão de utilização do herbicida glifosato nos nossos campos de cultivo e parques públicos. E fê-lo sem ainda ter disponível o relatório da EFSA que apoia, ou não, a extensão legal da sua utilização. A EFSA é a Agência Europeia para a Segurança Alimentar, responsável por fornecer aconselhamento técnico-científico à Comissão Europeia. Deve recordar-se que esta agência deverá ser um organismo independente. No entanto, os seus relatórios têm sido historicamente influenciados por lobbies. A elaboração do relatório sobre a relação entre a saúde humana e o glifosato, por parte deste órgão, foi prorrogada para cinco anos, desde a anterior prorrogação legal do período de utilização ocorrida em 2017.
Mas não há realmente provas suficientes sobre como o glifosato afecta a biodiversidade dos nossos ecossistemas e a saúde humana? Pelo menos isso parece emergir das ações da Comissão Europeia. Apesar da recusa de vários países em continuar com a legalidade do seu uso como produto fitossanitário, incluindo a França, a UE decidiu usar a sua prerrogativa para desfazer o “bloqueio institucional” que tornou o glifosato ilegal, e assim prorrogar a licença.
Por enquanto, o glifosato é um perturbador comprovado do sistema endócrino, alterando o nosso sistema hormonal desde o primeiro desenvolvimento embrionário. Foi demonstrado que é capaz de alterar a biota intestinal de qualquer organismo a níveis patológicos. Da mesma forma, também provou ser um desregulador do ecossistema, afetando polinizadores, organismos fotossintéticos e a fauna e bactérias que habitam o solo.
Deste grupo dedicamos alguns artigos para demonstrar a abundante evidência científica disponível sobre os efeitos do glifosato na saúde humana ou sobre o seu efeito perturbador nos ecossistemas e a sua limitada capacidade de melhorar as técnicas convencionais de cultivo. Além disso, um estudo epidemiológico recente realizado pela Associação Campagne Glyphosate em França indica que 99,8% dos franceses teriam níveis detectáveis de glifosato nos seus corpos. A quantidade média encontrada é de 1,19 ng/ml; quantidade aparentemente minúscula à qual, no entanto, se observou atividade estrogénica (disrupção endócrina) enquanto altera a expressão do receptor de estrogénio em células humanas em concentrações “ambientalmente relevantes”
Então porque é que a Comissão Europeia concordou em prolongar a sua utilização na União Europeia por mais um ano? O que há de novo nas evidências científicas disponíveis sobre como o herbicida mais utilizado no mundo afeta a saúde humana e os ecossistemas? O seu benefício realmente supera o risco?
Os números do capitalismo herbicida
Entre 2011 e 2020 , foram vendidas em média 350 mil toneladas anuais de pesticidas na União Europeia, herbicidas representando ⅓ do volume total de vendas e, destes, a maior parte deles, 40%, correspondem a herbicidas organofosforados, onde o glifosato é o representante da maioria. Em Espanha, durante estes anos houve um aumento de 46% nas vendas de herbicidas, ascendendo a cerca de 20.000 toneladas por ano.
Apenas um enorme volume de negócios como este pode explicar porque é que mais de 14 países apoiam a continuação da utilização do glifosato nos nossos campos. Países que, no seu conjunto, representam nada menos que 64,73% da população. No entanto, na Comissão de Recursos da Comissão Europeia, onde foi finalmente decidida a extensão da sua utilização, é necessária uma maioria qualificada de ⅔ para aprovar um parecer. O poderoso lobby do agronegócio quase teve sucesso. As grandes abstenções da França, Alemanha e Eslovénia, bem como o voto contra de outros 3 países (Croácia, Luxemburgo e Malta), permitiram bloquear uma votação a favor de uma licença de longo prazo para a utilização deste herbicida.
O grande volume deste negócio pode explicar por que tantos países são a favor do comércio legal desta substância nos nossos campos, apesar das abundantes evidências dos danos que causa à nossa saúde e aos ecossistemas. As vendas da empresa criadora do herbicida, Bayer-Monsanto, ascenderam em 2021 a cerca de 4.200 milhões de euros . É um herbicida que, comercialmente, apresenta cerca de 200 formulações e que existem diversas empresas que o comercializam. Nos EUA, as vendas totais deste herbicida ascenderam a mil milhões de dólares em 2018, enquanto em Espanha representaram cerca de 1.100 milhões de euros em 2017.
Em contraste com o poder das empresas que lucram com este negócio, destacam-se os quase 1,5 milhões de pessoas na Europa que se apresentaram e assinaram a favor da proibição do glifosato em 2017, quando a proibição estava a ser discutida pela primeira vez. .
Saúde humana
Desde que a proibição do glifosato foi rejeitada na UE em 2017, foram descobertos novos efeitos na saúde humana, tais como danos neurológicos e sintomas psicológicos decorrentes da exposição continuada. Além disso, já existe uma base empírica sólida que liga o glifosato a danos no tecido neuronal e algumas hipóteses sobre as vias de ação do glifosato na produção desses sintomas preocupantes.
Por outro lado, uma revisão da bibliografia recente, realizada pela pesquisadora Bożena Bukowska e vários colegas da Universidade de Łódź (Polónia), mostra que o glifosato estaria afetando a sociedade de forma sistêmica, além de poder prejudicar tecidos específicos. O herbicida seria capaz de alterar o padrão de expressão de múltiplos genes, inclusive daqueles que controlam a estrutura tridimensional do DNA quando ele está compactado no núcleo de nossas células. Essa estrutura tridimensional, que se forma graças a diferentes proteínas, inclusive as histonas, é chamada de cromatina. O glifosato estaria afetando a produção de algumas proteínas que controlam o grau de compactação da cromatina. Assim, muitas outras proteínas que devem se ligar a determinados locais para regular a expressão dos genes (proteínas chamadas fatores de transcrição) não seriam capazes de fazê-lo.
O grau de alteração é muito grande.Tanto que afeta a regulação do ciclo celular. O ciclo celular é um padrão altamente regulado de função, crescimento e divisão. Sua alteração é um dos requisitos na formação de tumores. Além disso, segundo Bukowska, não apenas a expressão desses “oncogenes” seria alterada, mas a expressão de outros genes importantes no metabolismo e na própria regulação da expressão gênica seria alterada. Mesmo em baixas concentrações de glifosato. Mas a coisa é ainda pior: existem alguns destes mecanismos reguladores cuja modificação durante a vida (seja pelo glifosato, por outros contaminantes, por estilos de vida e outros factores) é herdada pela descendência, pelo que potencialmente a nossa exposição ao glifosato pode afectar a vida dos gerações futuras.Isso é conhecido como epigenética e o glifosato estaria alterando isso.
Outra descoberta recente mostrou uma ligação plausível entre a exposição ao glifosato durante a gravidez e o nascimento prematuro.
O trabalho, realizado por um grupo interdisciplinar liderado por Corina Lesseur, do Departamento de Medicina Ambiental e Saúde Pública da Icahn School of Medicine (Nova Iorque, EUA), afirma que a exposição ao glifosato "pode afetar a saúde reprodutiva, encurtando a duração do gestação” e lamentam a escassez de estudos a este respeito “dada a crescente exposição [ao herbicida] e o fardo para a saúde pública do nascimento prematuro”.
Na mesma linha, também foram encontradas evidências de que diminuiria o crescimento fetal nas concentrações atualmente presentes em nossos corpos.
Ecossistemas e biodiversidade
Recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade de Konstanz (Alemanha) encontrou mais um efeito do glifosato nos polinizadores. Já sabíamos que afectava a microbiota simbiótica das abelhas melíferas, mas o que não se sabia era que os zangões selvagens podiam ver a sobrevivência da sua ninhada afectada porque “a capacidade colectiva de manter as altas temperaturas necessárias da ninhada diminui em mais de 25% durante os períodos de limitação de recursos” na presença de concentrações de glifosato comuns em nossos ecossistemas. Para os polinizadores nos nossos ecossistemas altamente stressados, a exposição ao glifosato acarreta custos ocultos que até agora têm sido largamente ignorados.Na mesma linha, um estudo aprofundado dos efeitos do glifosato na microbiota e no sistema imunológico das abelhas melíferas, liderado por Erick VS Motta, da Universidade de Austin (Texas, EUA), não deixa margem para dúvidas:
As concentrações presentes nos campos de cultivo produzem uma inibição do sistema imunológico das abelhas melíferas e simplificam a sua microbiota intestinal, tornando-as mais suscetíveis a infecções por bactérias e fungos oportunistas.
Conclusão
Uma pesquisa publicada recentemente mostrou os efeitos nocivos do glifosato nos ecossistemas e na própria saúde humana. A Comissão Europeia não pode fazer ouvidos moucos às provas disponíveis de quantidade e qualidade suficientes para aplicar uma suspensão do uso de glifosato enquanto a legislação o permitir. O número de distúrbios de saúde que pode produzir e a profundidade das alterações sistémicas no nosso ecossistema não podem ser ignorados antes do relatório da EFSA, que será publicado ao longo deste ano. Nem sequer é necessário recorrer ao princípio da precaução dado o número de casos.
No entanto, a última decisão está nas mãos dos interesses políticos e dos mercados. E é aí que a sociedade civil deve organizar-se e influenciar para mudar as posições das suas elites políticas e assim evitar uma nova licença para este herbicida. O dilema é claro : a divulgação deste facto é necessária e o pessoal científico não pode ficar calado face a outro desastre para a vida no nosso planeta, como o glifosato.
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