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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Poema - Saga

Saga
"No vasto palco do céu,
Uma saga de nuvens se desenrola,
Como actores dançantes num teatro celestial.
Cada nuvem, um poema em movimento,
Sussurrando segredos aos ventos,
Carregando consigo o aroma da terra molhada.
O terreno abaixo, um tapete a esperar,
A limpeza purificadora do ar,
Onde cada partícula de pó é abraçada pela chuva.
Gotas de cristal, como mensageiras do céu,
Caindo num ritmo suave e constante,
Desenhando linhas de vida nos campos sedentos.
E o céu, muitas vezes de chumbo,
Um aviso solene da tempestade iminente,
Mas também um convite para a contemplação serena.
Nas margens dos rios e mares,
Onde a água se mistura com o horizonte,
A poesia encontra sua morada eterna.
Assim é a dança cósmica da natureza,
Uma sinfonia de elementos entrelaçados,
Que inspira os poetas a tecerem as suas palavras."
Poema e foto de João Soares - 09.04.2024

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Zonas húmidas: O que são e por que razão é tão importante protegê-las


As zonas húmidas, como o próprio nome indica, são áreas alagadas, permanentes ou sazonais, em que a água é o elemento central no funcionamento dos ecossistemas. Lagos, rios, pauis, charcos, pântanos, estuários e turfeiras são apenas algumas das tipologias de zonas húmidas.

Esta quinta-feira, dia 2 de fevereiro, assinala-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, uma efeméride das Nações Unidas desde o ano passado e que pretende alertar para a urgência e importância de proteger, restaurar e conservar estas áreas de grande relevância para a biodiversidade, para a regulação do clima, para o ciclo da água e para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

Apesar de cobrirem apenas cerca de 6% da superfície do planeta, as zonas húmidas albergam 40% de todas as espécies de plantas e animais, que aí se fixam para viver e para se reproduzirem. Além disso, de acordo com o Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais (NRDC), uma organização ambientalista nos Estados Unidos, as zonas húmidas armazenam nos seus solos uma quantidade de carbono equivalente às emissões geradas todos os anos por cerca de 189 milhões de carros.

Há mesmo quem lhes chame ‘Rins da Terra’. Só as turfeiras, por exemplo, absorvem duas vezes mais dióxido de carbono do que todas as florestas do mundo juntas. Contudo, as turfeiras, bem como “outras zonas húmidas com pouca representatividade à escala nacional, mas que albergam flora e fauna ameaçadas, estão fortemente pressionadas pela drenagem, pelo sobrepastoreio, pela extração excessiva de recursos hídricos”, contou à ‘Green Savers’ Nuno Forner da associação ambientalista Zero.

“Se tivermos em atenção todos estes serviços, podemos ter a noção de como a conservação das zonas húmidas e da biodiversidade associada é fundamental para as sociedades humanas serem resilientes às alterações climáticas”, explicou-nos também Ana Antão-Geraldes, Professora Auxiliar da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança.

Por sua vez, Nuno Gomes Oliveira, Presidente da Direção da FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, apontou que “há muito” que se sabe que as zonas húmidas desempenham um papel de relevo, por exemplo, na mitigação das cheias e na modelação do clima, além de serem ‘hotspots’ de biodiversidade.

“Sendo as zonas húmidas dos ecossistemas com maior biodiversidade e com maior concentração, por exemplo, de aves migratórias, a sua conservação é fundamental”, avisou o dirigente associativo, além de que “enquanto paisagens privilegiadas, dão dinheiro a ganhar às economias locais e nacional”.

Por isso, a sua degradação ou destruição terá consequências devastadoras para todo o planeta, incluindo para nós, humanos, e corremos o risco de transformar ‘cemitérios de carbono’ em fontes de grandes emissões.

Lamentavelmente, estima-se que entre 1700 e 2000 aproximadamente 80% de todas as zonas húmidas a nível global tenham desaparecido, e que cerca de 35% se tenham perdido só nos últimos 30 anos.

Entre as principais ameaças, disse-nos Ana Antão-Geraldes, está um “conjunto grande de causas interrelacionadas”, como a poluição, “o desordenamento territorial, a ineficiência hídrica (urbana, agrícola e industrial), o consumismo, as alterações climáticas”. E salientou que, acima de tudo, falta “conhecimento sobre a importância destes ecossistemas para a sobrevivência da humanidade” e que estão a desaparecer três vezes mais rápido do que as florestas, colocando em risco milhares de espécies de plantas e animais, incluindo nós.

Para inverter essa tendência de acentuado declínio das zonas húmidas, Ana Antão-Geraldes afirmou que é preciso “cumprir a legislação e as convenções que protegem estes ecossistemas”, mas acredita que o mais importante será mesmo “mudar mentalidades e consciencializar a população para a importância destes ecossistemas”.

“Sim, educar e informar é sem sombra de dúvida o mais importante”, defendeu.

A organização Geota reconhece que “é necessário manter o desenvolvimento económico e social”, mas tal pode ser feito de forma a “reduzir os impactos negativos da atividade humana nas zonas húmidas, recuperando a biodiversidade e as funções dos ecossistemas e melhorando o bem-estar humano e a resiliência face aos fenómenos de alterações climáticas”.

É por essa razão que considera que “urge uma mudança de paradigma face às alterações climáticas, à perda de biodiversidade (enfrentamos a sexta extinção em massa, e a primeira causada pelo Homem – o Homem é o cometa) e ao aumento da frequência dos desastres naturais”.

A Convenção de Ramsar sobre as Zonas Húmidas

Foi a consciência dessa importância incontornável para a saúde e sustentabilidade da Terra, e de todas as formas de vida que nela habitam, que levou os líderes mundiais no dia 2 de fevereiro de 1971, reunidos em Ramsar, no Irão, a adotarem a ‘Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas’, que tem como principal objetivo conservar as zonas húmidas e promover o seu uso adequado.

No artigo 2.º da Convenção, os Estados signatários são obrigados a indicar pelo menos uma zona húmida no seu território para que seja incluída no que ficou conhecido como a ‘Lista de Ramsar’.

Essa lista passou a ser uma espécie de repositório de zonas húmidas escolhidas, pelos Estados, pela “sua importância internacional em termos ecológicos, botânicos, zoológicos, limnológicos ou hidrológicos”, sendo que a prioridade foi dada às “zonas húmidas de importância internacional para as aves aquáticas em qualquer estação do ano”.

Atualmente, mais de 2.500 zonas húmidas em todo o mundo fazem parte da ‘Lista de Ramsar’, com uma área total conjunta superior a 2,5 milhões de quilómetros quadrados, quase 27 vezes a área de Portugal continental. E os países continuam a indicar novas áreas, uma vez que a lista é aberta e dinâmica.

Ana Antão-Geraldes considera que a Convenção de Ramsar “é extremamente importante”, tendo começado por ser “um tratado para a conservação dos habitats das aves aquáticas e, com o tempo, passou a ser muito mais abrangente”. Sem essa convenção, o estado de conservação das zonas húmidas seria “bem pior”, disse-nos a docente universitária.

Zonas húmidas em Portugal
Portugal assinou a Convenção de Ramsar em setembro de 1980, pelo Decreto n.º 101/80, entrando em vigor a 24 de março do ano seguinte, e tem atualmente listadas 31 zonas húmidas, 79% de todas essas áreas que existem a nível nacional, num total combinado de 132.487 hectares: uma na região Norte, 6 na região Centro, 7 na região de Lisboa e Vale do Tejo, 4 na região Sul e 13 no arquipélago dos Açores. O Estuário do Tejo e a Ria Formosa foram as primeiras zonas húmidas portuguesas a entrar na Lista de Ramsar.

No entanto, Ana Antão-Geraldes, do Instituto Politécnico de Bragança, disse-nos que, à semelhança do que vemos no resto do mundo, as zonas húmidas em Portugal “são dos ecossistemas mais ameaçados e degradados”.

Mais de 40 anos depois de a Convenção de Ramsar ter entrado em vigor em Portugal, a avaliação feita pelos especialistas não é positiva.

“Quando se chega ao ponto de pensar em construir aeroportos e outras infraestruturas em zonas húmidas, quando se chega ao ponto de canalizar rios e construir barragens desnecessárias, e quando a comunicação social não consegue ligar inundações catastróficas à degradação e destruição de zonas húmidas, vemos que ainda há muito para fazer em termos de educação e ordenamento territorial para que estes ecossistemas possam ser alvo de medidas de conservação efetivas”, salientou Ana Antão-Geraldes.

Nuno Gomes Oliveira, do FAPAS, acredita mesmo que o estado de conservação das zonas húmidas em Portugal é “uma miséria”, apontando que “as pequenas zonas húmidas não têm qualquer tipo de proteção, e mesmo as grandes, com excecional valor paisagístico, turístico e para a biodiversidade, como a Ria de Aveiro, a Pateira de Fermentelos ou a Barrinha de Esmoriz, estão ao abandono, sujeitas à pressão imobiliária e outras atrocidades ambientais”.

No país, “as principais ameaças às zonas húmidas ocorreram no passado, quando se drenaram imensas e inúmeras zonas húmidas” e sublinha que “hoje essa drenagem continua, como é o caso das Alagoas Brancas, no município ironicamente designado ‘Lagoa’ e cujo nome irá mudar para ‘ex-Lagoa’”. Esta é uma referência a um projeto de desenvolvimento imobiliário no concelho de Lagoa que, de acordo com as organizações de defesa do ambiente, coloca em risco a zona húmida de Alagoas Brancas, uma das últimas de água doce da região algarvia, bem como diversas espécies de animais e de plantas que ocorrem nessa área.

“Outra das ameaças é a construção de passadiços que, supostamente valorizariam as zonas húmidas, mas só as degradam, como a aconteceu, por exemplo, na Barrinha de Esmoriz e no Paul do Taipal”, contou-nos o ambientalista, acrescentando que, apesar de Portugal ter 31 zonas húmidas na Lista de Ramsar “não se notam os resultados”, uma vez que no Estuário do Tejo, um desses locais, “até queriam fazer um aeroporto” e que “todo os pauis e o Sapal de Castro Marim estão muito perto do abandono e à pequena Reserva Natural do Paul do Boquilobo acertaram-lhe com o TVG em cima, com tanto espaço que havia ao lado”.

Para ele, “falha totalmente a gestão dos habitats e a fiscalização (e punição) dos usos impróprios e proibidos, falta promover a conservação da natureza, e não apenas desenhar áreas protegidas nas cartas geográficas”. A agravar tudo isso, relata-nos que “falta cultura aos decisores e vontade política para darem mais importância ao futuro do que aos favores do presente” e que os tribunais deveriam ser “mais atuantes, apesar, neste particular, das boas notícias dos últimos tempos”.

Nuno Forner, da Zero, disse que também “a extração desproporcionada de caudais”, em especial no Sul de Portugal, “a construção de barragens e outros aproveitamentos hidráulicos que promovem uma drástica alteração dos regimes naturais, a rutura na continuidade dos habitats fluviais, bem como a alteração dos fluxos de sedimentos, a poluição e proliferação de espécies exóticas invasoras são alguns dos exemplos de ameaças que que hoje afetam as zonas húmidas e, consequentemente, o fornecimento de serviços de ecossistemas”.

Embora “as massas de água artificializadas”, tais como as barragens, sejam consideradas zonas húmidas e representem 27% das zonas húmidas portuguesas na Lista de Ramsar, “o seu valor ecológico é diminuto e não compensa a perda de zonas húmidas naturais”, acrescentou. Apesar de essas zonas estarem legalmente protegidas, “os dados comunicados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas à Comissão Europeia (no âmbito do Relatório dos Estados Membros sobre o estado de conservação de espécies e de habitats referente ao período 2013-2018) são preocupantes”.

Isto, porque se estima que “77% dos habitats relacionados com as zonas húmidas de Portugal e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira se encontram degradados”, e que as turfeiras e habitats de água doce “estão em mau estado de conservação, o que demonstra que o Estado português tem falhado por inação na conservação de zonas húmidas, não bastando conferir uma figura legal de proteção a um determinado local”, pois isso “nem sempre significa uma garantia de conservação ou do seu uso sustentável”.

Por isso, devemos olhar para o futuro “com muita apreensão”, disse Nuno Forner, pois “as ameaças e pressão humana sobre estas áreas continuam a fazer-se sentir de forma muito acutilante”. O ambientalista disse-nos que “as zonas húmidas devem ser parte integrante do planeamento e gestão criteriosos dos recursos hídricos por parte das autoridades públicas” e devem ser contempladas no planeamento do território e das atividades económicas.

Dessa forma, “é urgente” que o Governo crie “planos que efetivamente salvaguardem estes espaços com programa de uso e restauro de zonas húmidas”, atribua “financiamento adequado” a projetos que pretendam “manter e restaurar zonas húmidas contribuindo para a melhoria do seu estado de conservação” e que defina “uma verba anual em cada orçamento do Fundo Ambiental para iniciar um programa de aquisição de áreas naturais importantes para a conservação, incluindo zonas húmidas”.

A Geota recordou-nos que “o Mediterrâneo perdeu aproximadamente 50% da área de zonas húmidas ao longo do século XX”, uma tendência que tem vindo a agravar-se. Em Portugal, “muitas espécies de água doce estão criticamente ameaçadas”, principalmente devido “à perda e fragmentação de habitat por ações humanas”.

Essa organização destacou “a grande pressão para a expansão da monocultura intensiva de regadio”, como uma das grandes ameaças às zonas húmidas, “incluindo por exemplo a recente decisão de construção da Barragem do Pisão”. E frequentemente, “a construção de reservatórios de água não compensa a degradação dos habitats, o declínio da biodiversidade, e a perda de serviços de ecossistemas assegurados por estas zonas húmidas”, disse-nos a Geota, lamentando que “não se pensa seriamente em alternativas”.

Quanto às zonas húmidas integradas por Portugal na Lista de Ramsar, a organização ambientalista acredita que “pouco adianta submeter no papel para proteção quando na prática, no terreno, as pressões e os interesses económicos se sobrepõem à proteção destas áreas naturais”.

A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), a este respeito, defende que para combater as ameaças às zonas húmidas em Portugal, que “têm em comum o facto de as estarmos a tentar travar há décadas, ainda sem os resultados desejados”, é preciso “melhorar a gestão territorial e gerir de forma sustentável as águas ao nível das bacias hidrográficas”. E essa é uma luta que tem de ser travada “em várias frentes”: na educação e sensibilização, na conservação e monitorização, na gestão e na fiscalização, e, quando necessário e possível, na punição dos “responsáveis pela degradação e destruição, obrigando-os ao seu restauro ecológico”.

A organização avisa que “atingimos um ponto em que o que nos resta não é suficiente” e que, de facto, é “tempo de promover a renaturalização e a recuperação ambiental das zonas húmidas e áreas circundantes, envolvendo as comunidades locais nessas ações”.

Embora os país seja parte da Convenção de Ramsar, as zonas húmidas por cá são “um assunto preocupante”, pois “muitas áreas ainda enfrentam desafios significativos”.

A LPN avança que “as zonas húmidas em Portugal estão a perder área devido ao desenvolvimento imobiliário, à construção de barragens e a outras atividades humanas” e as suas águas “continuam a ser poluídas e estão a sofrer com a pressão turística, como é o caso do que estamos a observar no Paúl do Taipal, com a implementação de projetos mal concebidos que exercem um impacto significativo e injustificável sobre as espécies nativas que nelas encontram refúgio”.

“Embora Portugal tenha ratificado a Convenção de Ramsar há mais de 40 anos, ainda existem algumas falhas na sua implementação, que dificultam a efetiva proteção e conservação das zonas húmidas em Portugal. É preciso investir mais esforço”, referiu a LPN.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Refúgio de aves de importância internacional esventrado por passadiço


A construção de um passadiço em curso em pleno coração do Paúl do Taipal, Zona Húmida de Importância Internacional, é gritantemente incompatível com a conservação dos valores naturais que lhe conferem o estatuto de Sítio Ramsar e de Zona de Proteção Especial para a Avifauna. A empreitada é iniciativa da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)

De reconhecida importância internacional, a diversa comunidade de aves aquáticas do Paúl do Taipal está seriamente ameaçada. A construção de um passadiço nos setores sul e este desta zona húmida, que compreende a abertura de acessos em pleno coração do paúl, irá acarretar implicações colossais na conservação das mais de cento e cinquenta espécies de aves que recorrem a este espaço como refúgio. Ali encontram abrigo, longe da presença humana, elemento ao qual a esmagadora maioria destas espécies é altamente sensível. Face aos trabalhos em curso e previsível visitação futura desta infraestrutura por parte do público, um dos fatores primários que fazem deste paúl um habitat de conservação prioritária para a avifauna - a ausência de perturbação humana - está perigosamente posto em causa, bem como os largos milhares de aves que ali encontram refúgio.

Esta importante zona húmida alberga anualmente milhares de patos invernantes das mais diversas espécies, que recorrem a este paúl como abrigo, particularmente nos dias de caça. É importante realçar que este pequeno paúl alberga mais de 1% da população mediterrânica de pato-trombeteiro, ao qual se juntam importantes concentrações de pato-real, arrábio e marrequinha. Do mesmo modo, uma assinalável colónia de várias espécies de garças também se estabelece no paúl para nidificar, ascendendo o número de ninhos largamente o milhar. O traçado do passadiço entra em colisão direta com a conservação desta colónia, que se estabelece nas imediações de um dos locais já intervencionados, afetando de forma muito significativa espécies como a garça-vermelha, o goraz e o colhereiro. Altamente sensíveis à presença humana, mesmo a várias dezenas de metros, estas aves vêem agora os lagos que constituem os seus melhores refúgios ladeados de forma contínua por um passadiço a menos de 5 metros de distância da margem. Invariavelmente, a maioria das espécies será forçada a abandonar o paúl de forma maciça após esta intervenção, não existindo habitat que constitua refúgio alternativo nas imediações. 

Perante a expectável gravidade do dano ao património natural decorrente da empreitada em causa, a MilVoz exige a suspensão imediata dos trabalhos em curso e a reformulação do traçado do passadiço. Só assim serão salvaguardados os notáveis valores naturais que caracterizam o Paúl do Taipal, os quais são incompatíveis com o turismo massificado que decorre deste tipo de empreendimentos. A continuação dos trabalhos nesta zona húmida implica uma perda muito considerável da sua biodiversidade e constitui uma intervenção absolutamente desajustada, negligente e danosa para a conservação desta Zona de Proteção Especial da Rede Natura 2000.


Assunto: Manifesto contra a construção de passadiço na ZPE do Paúl do Taipal

Exmos Senhores,


Perante os trabalhos em curso de construção de um passadiço em pleno Paúl do Taipal (Montemor-o-Velho), empreitada que representa um grave dano ao património natural desta importante zona húmida, venho por este meio exigir a suspensão imediata dos trabalhos em curso e a reformulação do traçado do passadiço, por forma a permitir a salvaguarda dos abundantes valores naturais que caracterizam este paúl, e que são incompatíveis com o turismo massificado que decorre deste tipo de empreendimentos. A continuação dos trabalhos no interior desta zona húmida implica uma perda muito considerável da sua biodiversidade e constitui uma intervenção absolutamente desajustada, negligente e danosa para a conservação desta Zona de Proteção Especial da Rede Natura 2000, que constitui refúgio para um muito diversificado leque de aves, grande parte das quais encontra neste paúl as condições de ausência de perturbação e de presença humana de que necessita, fator este que se encontra agora seriamente colocado em causa.


Atentamente.
(Preencher com o seu nome)


quarta-feira, 28 de julho de 2021

As Reservas da Biosfera e a celebração da Natureza

Somos parte da natureza e dela obtemos bens e serviços essenciais como os alimentos e a água, ou a regulação do clima e das doenças. Uma relação fecunda, mas cada vez mais ameaçada por um absurdo modelo de desenvolvimento assente na destruição da natureza, que continuamos a tolerar. Temos de ser capazes de construir outros paradigmas de progresso, salvaguardando uma relação de respeito entre as atividades humanas e a vida em geral.


No dia 28 de julho celebra-se o dia Nacional da Conservação da Natureza, instituído em 1998 em homenagem à Liga para a Proteção da Natureza, a primeira e mais antiga associação de defesa do ambiente em Portugal. Desde a sua criação, em 1948, esta associação tem desenvolvido um intenso, meritório e continuado trabalho em prol da conservação da natureza no país e na Europa, estando na origem da classificação de várias áreas protegidas portuguesas, incluindo o Parque Natural da Arrábida, cujo aniversário se comemora também neste dia.

Um dia dedicado à conservação do património natural português é a oportunidade para evidenciar a diversidade das paisagens, o património geológico e a extraordinária biodiversidade que Portugal acolhe, convocando para a necessidade de envidarmos mais esforços pela sua conservação efetiva. A conservação da natureza e da biodiversidade é a base para uma economia sustentável; providenciando bens e serviços indispensáveis ao bem-estar humano e alicerçando as soluções que melhor garantem a prevenção e a mitigação dos riscos.

Do conjunto das áreas nacionais classificadas ao abrigo do Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, destacamos as Reservas da Biosfera portuguesas, cujas áreas núcleo coincidem com distintas tipologias de regime de proteção (Rede Nacional de Áreas Protegidas, Rede Natura 2000, entre outras), beneficiando da intervenção favorável que estas praticam. O Paúl do Boquilobo foi a primeira Reserva da Biosfera nacional, criada em 1981; a ilha do Porto Santo é a mais jovem do grupo, tendo sido inscrita pela UNESCO em 2000. No conjunto do território nacional, considerando o continente e regiões autónomas da Madeira e dos Açores, as 12 Reservas da Biosfera portuguesas abrangem um total de 32 concelhos, residindo neste território mais de 350 mil pessoas.

O projeto “Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes”, financiado pelo EEA Grants 2014-2021 e promovido pela Secretaria-Geral do Ministério do Ambiente e Ação Climática, visa fomentar e aprofundar os seus compromissos individuais e coletivos pela sustentabilidade, valorizando os territórios e as comunidades, através dos ativos patrimoniais e serviços de ecossistema, e apostando no reforço das competências e nos modelos de governança.

As sociedades humanas dependem de ecossistemas saudáveis. Somos parte da natureza e dela obtemos bens e serviços essenciais como os alimentos e a água, ou a regulação do clima e das doenças. Uma relação fecunda, mas cada vez mais ameaçada por um absurdo modelo de desenvolvimento assente na destruição da natureza, que continuamos a tolerar. Temos de ser capazes de construir outros paradigmas de progresso, salvaguardando uma relação de respeito entre as atividades humanas e a vida em geral. A agenda das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável, conhecida por Agenda 2030, deve definir o caminho, respondendo à pobreza, às desigualdades, aos direitos humanos, à educação, e também à conservação dos ecossistemas. As 714 Reservas da Biosfera da UNESCO do mundo, em que se incluem as 12 nacionais, estão alinhadas com esta agenda de sustentabilidade global, privilegiando estratégias de desenvolvimento inspiradas pelos pilares da UNESCO – educação, ciência, cultura e informação –, valorizando a identidade e o património social e cultural, a prosperidade e bem-estar das comunidades humanas, e a salvaguarda do património natural.

terça-feira, 29 de junho de 2021

Vizinhos Inesperados - Sabia que Estes Animais Existem em Portugal?

Será que conhece bem a fauna portuguesa? Sabia que, pelos bosques e florestas, ou até no seu jardim ou horta pode deparar-se com um rato-de-faraó, um musaranho-pigmeu ou um camaleão? Descubra alguns dos animais que vivem em Portugal, e que muitos não conhecem!

O ESQUIVO RATO-DOS-POMARES
O Leirão, ou Rato-dos-Pomares, de nome científico Eliomys quercinus, é um roedor europeu com características bastante estranhas. É que o leirão, sentido-se ameaçado, consegue largar a pele e a cauda. Está classificado como Quase Ameaçado (NT) à escala global, no entanto, há uma grande falta de estudos sobre este roedor esquivo em Portugal. Foi identificado em várias áreas de Portugal Continental, mas, devido aos seus hábitos noturnos, é muito difícil de avistar. O Leirão gosta de uma variedade de habitats, de hortas a montados, ou mesmo zonas pedregosas de vegetação escassa, mas as florestas de sobreiros são os seus favoritos.

O Leirão, ou Rato-dos-Pomares, de nome científico Eliomys quercinus, é um roedor europeu com características bastante estranhas.

A SOLITÁRIA LONTRA-EUROPEIA
A Lontra-Europeia, Lutra lutra, é uma espécie abundante em Portugal, classificada como Pouco Preocupante (LC), se bem que na vizinha Espanha é uma espécie Vulnerável. Este mamífero semiaquático encontra-se de Norte a Sul do país em vários ambientes aquáticos como lagos, rios, ribeiras, canais, pauis, sapais e pequenas albufeiras, bem como em estuários e rias do litoral atlântico. Apesar de não se tratar de uma situação de emergência, a lontra-europeia enfrenta algumas ameaças como a poluição da água, a sobre-exploração dos recursos hídricos, ou ainda morte por atropelamento ou afogamento em redes de pesca. Saiba mais sobre a lontra-europeia, e as ameaças à sua conservação.

A Lontra-Europeia, Lutra lutra, é uma espécie abundante em Portugal, classificada como Pouco Preocupante.

O ADORÁVEL GAMO
O Gamo é um cervídeo parente dos veados e cervos, de nome científico Dama dama. Apesar de estar classificada como Pouco Preocupante, não há populações silvestres desta espécie em Portugal, encontrando-se praticamente todos os gamos em reservas de caça privadas e parques naturais. Este tímido ruminante distingue-se do veado comum pela sua pelagem clara com manchas brancas, cauda comprida e pelas hastes. No entanto, à semelhança do veado, o macho do Gamo perde as suas hastes no inverno, que voltam a crescer na primavera. As fêmeas não têm hastes. Costumam encontrar-se mais ou menos por todo o país, com preferência para as zonas de pinhal ou montado.

O Gamo é um cervídeo parente dos veados e cervos, de nome científico Dama dama.


O BRAVIO MUFLÃO
Ora, o Muflão, Ovis ammon musimon, é o antecessor selvagem do carneiro doméstico. É também chamado carneiro-selvagem, e é originário da Ásia. A introdução em Portugal ocorreu na década de 1990, em zonas de caça turística do Centro e Alto Alentejo. A nível global, é uma espécie vulnerável, pois é uma das ovelhas selvagens mais ameaçadas de extinção. O Muflão tem uma cor acastanhada que escurece à medida que vai envelhecendo, e desenvolve uma mancha branca distintiva de cada lado do torso, bem como os característicos cornos enrolados. Sabia que este atento animal consegue detetar o mais pequeno rumor a mais de duzentos metros de distância? E ainda que tem um apetite especial por frutos mais doces?

Muflão, Ovis ammon musimon, é o antecessor selvagem do carneiro doméstico.

O TERRITORIAL CAMALEÃO-COMUM
O Camaleão-comum, Chamaeleo chamaeleon, é uma das únicas espécies de camaleões que se estende à Europa. Este réptil bem territorial, que não gosta da companhia dos seus pares, alimenta-se principalmente de gafanhotos e é autóctone do Sul da Península Ibérica, Chipre e Creta. Em Portugal, habita o Sul, no Algarve, e o seu estado de conservação é Pouco Preocupante. Além das suas características mais fascinantes – muda de cor e língua extremamente comprida e ágil -, o Camaleão-comum tem visão estereoscópica, cauda preênsil, e possui uma movimentação independente dos olhos. A próxima vez que for ao Algarve, fique atento aos pinhais costeiros e aos pomares: pode estar a ser observado por um curioso camaleão-comum.

O Camaleão-comum, Chamaeleo chamaeleon, é uma das únicas espécies de camaleões que se estende à Europa.



O REGRESSO DO ESQUILO-VERMELHO
O Esquilo-vermelho, ou Sciurus vulgaris, voltou a Portugal! E, porquê “voltou”? É que este esquilo reguila ter-se-ia extinguido em Portugal no século XVI, mas a inícios do século XX terá começado a habitar o país novamente, vindo de Espanha. No entanto, há uns anos atrás foi declarado o regresso deste simpático roedor, e não apenas confinado a umas poucas áreas do Alto Douro. Agora, pode, com alguma sorte, ver estes esquilos-vermelhos (que também podem ser castanhos ou pretos) no Parque Nacional Peneda-Gerês, no Parque Florestal de Monsanto e no Jardim Botânico de Coimbra. Uma curiosidade: estes amigos nervosos, que têm por hábito enterrar as sementes que encontram, por vezes esquecem-se da localização das suas reservas de comida contribuindo, assim, para a reflorestação das áreas que habitam.

Esquilo-vermelho, ou Sciurus vulgaris.


A TÍMIDA TOUPEIRA D'ÁGUA
Esta toupeira muito, muito tímida e difícil de ver, de nome científico Galemys pyrenaicus, é nativa e circunscrita ao centro de norte da Península Ibérica, e à zona dos Pirinéus. É um animal vulnerável, tanto a nível global como nacional, pelo que muitos esforços têm sido feitos para a sua conservação. Foi no Douro que o fotógrafo da National Geographic Joel Sartore fotografou um exemplar desta espécie, no âmbito do projeto conjunto Photo Ark. Esta excelente nadadora, pouco maior que um hamster, habita as margens de rios, ribeiras e outros cursos de água.

Toupeira D'Água, de nome científico Galemys Pyrenaicus.


O MINÚSCULO MUSARANHO-PIGMEU
Quem já viu um musaranho-pigmeu provavelmente pensou que seria um ratinho de campo. Mas não, esta espécie, Suncus etruscus, não se trata de um roedor! Este musaranho, da família Soricidae, é o menor mamífero do mundo! O musaranho-pigmeu tem um comprimento entre 3 e 5 centímetros, e pesa em média 1,8g apenas. Está maioritariamente confinado às zonas rurais do Mediterrâneo, de Portugal ao Médio Oriente, com presença no Norte de África. Se vai procurá-lo no seu jardim – ou num olival ou vinha -, faça-o antes do Inverno: este pigmeu pode hibernar se ficar muito frio.

Musaranho-Pigmeu, da espécie Suncus etruscus. O menor mamífero do mundo.

GINETA-EUROPEIA
Já alguma vez ouviu falar de uma gineta? Pois bem, este é um dos mamíferos carnívoros mais abundantes de Portugal! A genetta foi introduzida em Portugal, vinda de África de onde é natural, e adaptou-se muito bem. Não se sabe ao certo como foi a sua introdução na Europa, mas acredita-se que os Árabes a usassem como exterminadora de ratos nas habitações – a gineta é um excelente caçador – antes de os gatos domésticos terem sido importados do Egito. As ginetas apresentam uma pelagem normalmente castanha acinzentada, com manchas características, podendo ser mais escuras, e têm dimensões semelhantes às de gatos. Apesar de serem bastante adaptáveis a variados habitats, as ginetas preferem áreas florestais com cursos de água nas proximidades.

Um dos mamíferos carnívoros mais abundantes de Portugal, a Gineta.


O VELOZ SACARRABOS
Herpestes ichneumon, Quênia

Sacarrabos, rato-de-faraó, icnêumon, mangusto ou manguço são alguns dos nomes comuns da espécie Herpestes ichneumon. O seu nome gera divisões: há quem acredite que vem da sua forma peculiar de deslocação em grupo – em fila indiana, muito com os narizes muito próximos da cauda do seguinte -, e também quem considere uma corrupção da palavra escalavardo, como é chamado no Alentejo. Este pequeno mamífero originário de África está restrito ao sudoeste da Península Ibérica, na Europa, e habita os matagais mediterrânicos. Pensava-se que tivesse sido introduzido na Europa pelos primeiros muçulmanos, mas um estudo de 2011 revelou traços fósseis de sacarrabos numa suposta ponte no Estreito de Gibraltar, durante o Pleistoceno, entre os períodos glaciar e interglaciar. Hoje em dia é bastante abundante no nosso país, e é muito conhecido por comer cobras, mesmo venenosas. Mas porquê o nome rato-de-faraó? Bem, o sacarrabos era venerado e considerado sagrado, no Antigo Egito, tendo sido encontradas várias múmias deste animal. Na mitologia egípcia, o Deus Rá transforma-se em sacarrabos para lutar o Deus serpente Apophis.

sábado, 7 de junho de 2014

Poema da Semana: "Evolução" por Antero de Quental

Evolução

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.


Antero de Quental, in "Sonetos"

quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Parques Voltam a Falhar Planos de Ordenamento

Reserva Natural do Paúl da Arzila


Por RICARDO GARCIA
Publico, Quinta-feira, 30 de Setembro de 2004

A maior parte das áreas protegidas do país vai falhar, a partir de amanhã, mais um prazo legal para a elaboração dos respectivos planos de ordenamento. Para algumas delas, é a terceira vez que isto acontece. Do total de 29 áreas protegidas do país, 14 correm o risco de estarem automaticamente desclassificadas. Segundo a legislação, os parques, reservas e paisagens protegidas que não tenham plano de ordenamento aprovado num determinado prazo, especificado caso a caso, perdem o seu estatuto de protecção.

Os prazos têm sido desrespeitados sucessivamente. Há parques e reservas cujos planos foram mandados fazer há seis ou sete anos, mas até agora não estão prontos. A última data limite - que agora será ultrapassada - era 1 de Outubro de 2004. Este prazo fora definido há dois anos pelo Governo, através de um decreto-lei destinado a evitar a desclassificação das áreas protegidas que já estavam em incumprimento. O diploma "mantém a classificação das áreas protegidas", com efeitos retroactivos.

Passados dois anos, apenas um plano foi concluído - o da Reserva Natural do Paúl da Arzila. Por isso, o actual Governo fez aprovar, em Agosto passado, um novo decreto-lei, com o mesmo teor do anterior, alargando o prazo agora até 31 de Dezembro de 2005. Mas este diploma ainda não foi publicado em "Diário da República", não estando em vigor.

O Ministério do Ambiente quer aprovar alguns planos antes do novo prazo fixado. O primeiro será o do Parque Natural do Vale do Guadiana, que curiosamente nunca teve limite legal para ser concluído. A aprovação final deverá ocorrer ainda em Outubro, de acordo com o secretário de Estado Adjunto do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, Jorge Moreira da Silva.

A seguir virá o do Parque Natural da Arrábida, cuja versão final o ministério espera concluir na próxima semana. Na calha até ao final deste ano, segundo Moreira da Silva, estão também os planos do Parque Natural da Serra de São Mamede e das reservas naturais da Serra da Malcata e das Dunas de São Jacinto.

Os planos têm passado por atrasos inexplicáveis. Os da Arrábida, São Jacinto e São Mamede, por exemplo, foram colocados em discussão pública há um ano e meio, e ainda não viram a luz do dia. Aliás, só aqueles que já tiveram discussão pública é que estão em condições de ser aprovados mais rapidamente."Este Governo vem beneficiar de muito trabalho que já estava feito", reconhece Moreira da Silva. "Mas sobre esta matéria, posso assegurar que há um forte empenhamento político da nossa parte e que ela é tratada como uma prioridade", acrescenta.

Os atrasos nos planos de ordenamento arrastam-se por quatro governos sucessivos. Na versão oficial, a questão ficou em segundo plano entre 1995 e 2000, porque o Ministério do Ambiente estava mais preocupado em concluir a elaboração da lista nacional de sítios da Rede Natura 2000 - uma malha europeia de áreas de interesse para conservação. "Muitos meios do Instituto da Conservação da Natureza tiveram de ser canalizados para esse processo", justifica o deputado Pedro Silva Pereira (PS), ex-secretário de Estado com a tutela dessa área, durante o segundo governo de António Guterres. Silva Pereira salienta, porém, que o PS deixou alguns planos praticamente prontos quando deixou o Governo, em 2002.

O presidente da Liga para a Protecção da Natureza, José Manuel Alho, acredita que os atrasos devem-se aos conflitos de interesses, como os da caça no Vale do Guadiana, da agricultura no Paúl do Boquilobo, ou do imobiliário na Arrábida. "A pressão dos interesses deve ser de tal ordem, que os governantes não têm força política para superá-las", avalia.

Da lista de planos a aprovar até fins de 2005, ficam de fora três áreas protegidas que ainda não dispõem deste instrumento, nem iniciaram a sua elaboração: a Reserva Natural do Estuário do Sado e as paisagens protegidas da Serra do Açor e da Arriba Fóssil da Costa da Caparica