Conversa ficcionada com um erudito, sobre temas ligados ao cristianismo, que só muito tarde aprendi e que sei que a maioria dos leitores terá interesse em conhecer.
- Comecemos, então, por dizer que as palavras sinónimas mosteiro e monastério radicam nos elementos gregos monós, que quer dizer sozinho, e terion, que alude ao lugar para fazer algo. Devo dizer que, originalmente, todos os monges cristãos eram eremitas, ou seja, homens que, usualmente por penitência, religiosidade, misantropia ou simples amor à natureza, viviam sozinhos, em um lugar isolado, longe do mundo, designado eremitério. Sabeis que houve um eremita que ficou na história do monaquismo cristão?
- Não sei. A minha ignorância é muita. Mas sei que a palavra eremita radica no grego erémos, que significa deserto, desabitado, étimo que serviu de raiz ao termo latino eremita, com o significado de "morador do deserto", e à nossa palavra ermo, que quer dizer, deserto, no sentido de desabitado.
- Foi Santo Antão, o Anacoreta, o Pai de Todos os Monges. Muito jovem abraçou o Evangelho como único caminho para a salvação, desfez-se de todos os seus bens, que distribuiu pelos pobres, partindo, depois, para o deserto, onde iniciou uma inspiradora vida monacal.
- Só sei que fui baptizado na igreja que lhe foi dedicada, em Évora.
- Também ficou conhecido por Santo Antão do Egipto, Santo Antão, o Grande e Santo Antão, o Eremita. Natural do Egipto, viveu entre os séculos III e IV, com grande destaque entre os chamados Padres do Deserto, de que foi fundador, sendo lembrado pelo seu papel no desenvolvimento da vida monástica. A vida de Santo Antão e as suas tentações inspiraram numerosos artistas, como Bosch, Brueghel, Velázquez, Flaubert, Zurbarán e Dali.
Falai-me, se puderdes, das Tentações de Santo Antão.
- Sei que mostram um mundo angustiante, entregue ao pecado, dominado por monstros e forças demoníacas, face aos quais, a única esperança e salvação estavam em Cristo. A lição que delas tiramos é que, só pela força da renúncia e fortemente apoiados na Fé nos podemos libertar-se dos demónios que nos atormentam.
- E os Padres do Deserto?
- Foram monges eremitas que viveram e exerceram a sua acção evangelizadora, sobretudo, no deserto da Nítria, a Oeste do delta do Nilo, entre Alexandria e o Cairo. Deste grande santo dizia-se que, por sua acção, “o deserto se tinha tornado uma cidade”.
- Bonita imagem!
- Os Padres do Deserto tiveram uma enorme influência nos primeiros tempos do cristianismo, que podemos dizer primitivo. Quer o monaquismo oriental, representado no Monte Athos, na Grécia, quer o ocidental, definido na Regra de São Bento de Núrsia, escrita na abadia de Monte Cassino, em Itália, quer, em geral, todo o monaquismo medieval, revelam acentuada inspiração nas práticas iniciadas no deserto. Crenças religiosas recentes como o metodismo saído da Igreja anglicana inglesa, o evangelismo alemão e o pietismo do estado norte-americano da Pensilvânia, nascido na Igreja Luterana alemã, têm algumas das suas raízes nos Padres do Deserto. Também a Igreja Ortodoxa tem, nestes padres, as suas raízes.
- Depois deste interessante desvio, continuemos a conversa sobre mosteiros, conventos e abadias.
- Se nos reportarmos aos mosteiros cristãos ocidentais, podemos chamar-lhes conventos cartuxos, conventos de frades, abadias e priorados. Volto a dizer que um mosteiro é uma instituição edificada que alberga uma comunidade de monges ou de monjas, levando uma vida de oração e trabalho, em completo afastamento da sociedade.