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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Café e cacau em risco? Alterações climáticas e agricultura insustentável causam perda de polinizadores vitais para essas culturas



As culturas tropicais, como o café e o cacau, bem como a melancia e a manga, podem estar em risco de graves perdas de produtividade devido à perda dos insetos polinizadores, como abelhas, borboletas, sirfídeos e tantos outros, de que essas espécies vegetais dependem para se reproduzirem.

O alerta é lançado por um grupo de investigadores do Brasil e do Reino Unido que, num artigo publicado esta semana na revista ‘Science Advances’, sugerem que nas regiões da África subsariana, nas zonas norte da América do Sul e no sudeste asiático os riscos são maiores e a tendência, que classificam como “preocupante”, deverá agravar-se a um ritmo mais acelerado do que noutras partes do planeta.

Por isso, avisam: “Simplesmente devido à perda de polinizadores, as alterações climáticas e a agricultura podem ser um risco para o bem-estar humano”. Isto, porque os insetos encontram na degradação ambiental e em práticas insustentáveis e nocivas de exploração do solo as maiores ameaças à sua sobrevivência.

A investigação suportou-se em dados recolhidos de mais de 2600 locais e abrangendo quase 3100 espécies de insetos polinizadores e, escrevem os autores, “mostramos que a combinação interativa da agricultura e alterações climáticas está associada a grandes reduções” desses animais, quer em termos de abundância, quer em termos de diversidade de espécies.

Para percebermos a dimensão da ameaça, os cientistas recordam-nos que cerca de 75% das culturas vegetais que os humanos consomem “dependem, de alguma forma, da polinização por animais”.

Embora os maiores riscos possam estar concentrados em algumas regiões, os impactos podem espalhar-se por todo o mundo, estendendo-se globalmente “através do comércio de colheitas dependentes de polinização”, salienta Joseh Millard, do Centro de Ciências da Vida do Museu de História Natural de Londres e investigador da University College London.

Explicam os investigadores que o café, o cacau, as mangas e as melancias, todas altamente dependentes de insetos polinizadores, “são vitais tanto para as economias locais como para o comércio global e a sua redução poem causar o aumento da insegurança dos rendimentos para milhões de pequenos agricultores” nas regiões mais afetadas.

“À medida que os insetos diminuem, por não serem capazes de tolerar a interação dos efeitos das alterações climáticas e o uso do solo, o mesmo acontecerá às culturas que dependem deles como polinizadores”, acautela Millard.

“Os nossos estudos destacam a necessidade urgente de se agir globalmente para mitigar as alterações climáticas, a par de esforços para desacelerar as mudanças no uso dos solos e para proteger habitats naturais para evitar prejudicar os insetos polinizadores”, refere.

domingo, 4 de junho de 2023

Onde param os biliões investidos por países ricos no combate às alterações climáticas?


Países ricos prometeram 100 mil milhões de dólares por ano para ajudar a reduzir os efeitos do aquecimento global. Mas grandes valores estão a ser canalizados para projetos que incluem uma central de carvão, um hotel e lojas de chocolate.
A Reuters publicou um "relatório especial" que examina a forma como o financiamento internacional do clima pelos países desenvolvidos está a ser gasto em todo o mundo. Começa por dizer: "Os países desenvolvidos comunicaram mais de 40.000 contribuições diretas para o objetivo de financiamento, totalizando mais de 182 mil milhões de dólares, de 2015 a 2020. Para compreender como esse dinheiro está a ser gasto, repórteres da Reuters e do Big Local News, um programa de jornalismo da Universidade de Stanford, examinaram milhares de registos que os países apresentaram à ONU para documentar as contribuições. A falta de transparência do sistema tornou impossível saber quanto dinheiro está a ser aplicado em projetos que realmente ajudam a reduzir o aquecimento global e o seu impacto.
Os países não são obrigados a comunicar os pormenores dos projetos. As descrições que divulgam são muitas vezes vagas ou inexistentes - de tal forma que, em milhares de casos, nem sequer identificam o país para onde foi o dinheiro. Mesmo os países beneficiários que constam dos relatórios por vezes não sabem dizer como é que o dinheiro foi gasto". E continua: "A Reuters e a Big Local News pediram a 27 nações pormenores sobre o financiamento que comunicaram à ONU, examinaram documentos públicos e falaram com ONGs e outras pessoas envolvidas nos projetos comunicados. (...) Descobriu-se que pelo menos 3 mil milhões de dólares não foram gastos em painéis solares ou parques eólicos, mas sim em centrais eléctricas a carvão, aeroportos, combate ao crime ou outros programas que pouco ou nada fazem para atenuar os efeitos das alterações climáticas.
Exemplos de embustes:
1. Um investimento italiano de 4,7 milhões de dólares ajudou a Venchi, uma cadeia italiana de chocolates e gelados, a abrir dezenas de novas lojas no Japão, na China, na Indonésia e noutros países asiáticos, contou com a ajuda da SIMEST, uma empresa público-privada que ajuda as empresas italianas a expandir-se no estrangeiro.
2. Os EUA ofereceram um empréstimo 19,5 milhões de dólares para a expansão de de hotéis Marriott em Cap-Haitien, no Haiti. Os planos previam a melhoria do Habitation Jouissant com mais quartos, uma piscina infinita, um restaurante no telhado e melhores instalações de ginásio. O promotor, Fatima Group, diz agora que está a redesenhar o projeto, que se tornará uma propriedade Courtyard by Marriott. O hotel tem vista para o mar, mas a sua posição numa encosta significa que não está ameaçado pela subida do nível do mar ou por inundações, e não sofreu quaisquer danos causados por tempestades. O Fatima Group tenciona, no entanto, construir "infra-estruturas resistentes ao clima". Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que o empréstimo para o hotel contava como financiamento climático porque o projeto incluía medidas de controlo das águas pluviais e de proteção contra furacões. Além disso, os EUA comunicaram a cobertura de seguro no valor de 7 milhões de dólares para um projeto hidroelétrico na África do Sul que nunca se concretizou.
3. A Bélgica apoiou o filme "La Tierra Roja", uma história de amor passada na floresta tropical argentina. Conta a história de um antigo jogador de raguebi que trabalha para uma empresa que abate florestas para fazer papel na Argentina. Apaixona-se por uma ativista ambiental que protesta contra os produtos químicos tóxicos que poluem a água, utilizados pelo fabricante de papel. Nicolas Fierens Gevaert, porta-voz do Departamento de Negócios Estrangeiros, Comércio e Desenvolvimento da Bélgica, diz que a Bélgica considerou a sua contribuição de 8.226 dólares como financiamento climático porque o filme aborda a desflorestação, um fator de alterações climáticas.
4. A França comunicou um empréstimo de 118,1 milhões de dólares a um banco chinês para iniciativas ambientais, bem como empréstimos no valor total de 267,5 milhões de dólares para a modernização de um sistema de metro no México e 107,6 milhões de dólares para melhorias portuárias no Quénia. De acordo com a Agência Francesa de Desenvolvimento, cada projeto foi posteriormente cancelado e os fundos não foram pagos.
5. O Japão está a financiar uma nova central de carvão no Bangladesh ($2.4 biliões) e a expansão do aeroporto Borg El Arab, no Egito ($776.3 milhões). O objetivo a curto prazo do projeto de 1,5 milhões de passageiros adicionais aumentaria as emissões dos voos de saída em cerca de 50% em relação aos níveis de 2013. Os documentos consideram o Borg El Arab um "Aeroporto Ecológico" e referem os painéis solares economizadores de energia, o ar condicionado de alta eficiência e as lâmpadas LED do edifício do terminal planeado. Pelo menos 28 milhões de dólares foram orçamentados para a construção que incorporasse tais características. Mas a JICA planeou gastar outros 40 milhões de dólares em custos não relacionados com o clima, incluindo um novo parque de estacionamento, estradas e serviços de consultoria. Quando o Japão ajudou o Bangladesh a planear o projeto Matarbari, há mais de uma década, o sistema elétrico do Bangladesh tinha um défice diário de energia de 2.000 megawatts, mais de um terço da sua procura. Esta situação levou a falhas de energia longas e frequentes que provocaram protestos e prejudicaram o crescimento económico. A nova central ajudará a eliminar a actual escassez de energia. A central irá adicionar 6,8 milhões de toneladas de CO2 à atmosfera todos os anos, de acordo com documentos da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), que ajudou a planear e a financiar o projecto. É mais do que a cidade de São Francisco registou em termos de emissões durante todo o ano de 2019. Para além de financiar a central de carvão do Bangladesh, o Japão concedeu empréstimos a projetos de carvão no valor de, pelo menos, mais 3,6 mil milhões de dólares, um no Vietname e dois na Indonésia, e 3 mil milhões de dólares a projetos que dependem do gás natural. O financiamento de grandes projetos como o Matarbari ajudou o Japão a afirmar-se como o maior financiador do financiamento climático. O país comunicou 59 mil milhões de dólares em subvenções, empréstimos e investimentos de capital entre 2015 e 2020 e a intenção de manter níveis de financiamento semelhantes até 2025. São mais 14 mil milhões de dólares do que a Alemanha, o segundo maior financiador.
Apesar de uma central de carvão, um hotel, lojas de chocolate, um filme e a expansão de um aeroporto não parecerem esforços para combater o aquecimento global, nada impediu os governos que os financiaram de os declararem como tal às Nações Unidas e de os contabilizarem no seu total de donativos. Ao fazê-lo, não infringiram nenhuma regra. Isto porque o compromisso não foi acompanhado de directrizes oficiais sobre as atividades que contam como financiamento climático. Embora algumas organizações tenham desenvolvido as suas próprias normas, a falta de um sistema uniforme de responsabilização permitiu que os países criassem as suas próprias normas. Cabe aos próprios países decidir se querem impor normas uniformes.
Os negociadores climáticos dos países ricos que se opõem a regras mais rigorosas afirmam que mais restrições sobre a forma como os fundos são gastos podem limitar a autonomia dos países em vias de desenvolvimento no combate às alterações climáticas, restringir o fluxo de dinheiro e impedir a flexibilidade necessária para acompanhar o ritmo da crise em rápida evolução e as tecnologias necessárias para a resolver.
Gabriela Blatter, principal assessora política da Suíça para o financiamento internacional do meio ambiente, afirma que os países desenvolvidos não estão a resistir a uma definição para que possam reivindicar "qualquer coisa sob o sol" como financiamento climático. Em vez disso, eles querem permanecer fiéis ao Acordo de Paris, que visa respeitar o direito de cada país de definir seu próprio caminho na luta contra os efeitos das alterações climáticas.

domingo, 14 de maio de 2023

Dia Mundial do Comércio Justo


Os 10 princípios
Todos os produtos considerados de comércio justo devem seguir estes dez princípios:
1-Criar oportunidades para produtores economicamente desfavorecidos
2-Transparência e Responsabilidade
3-Práticas de negociação justas
4-Pagamento justo
5-Garantir a inexistência de trabalho infantil ou trabalho forçado
6-Compromisso com a não discriminação, igualdade de género e empoderamento económico das mulheres e liberdade de associação
7-Garantir boas condições de trabalho
8-Capacitação dos produtores
9-Promoção do comércio justo
10-Ação climática e proteção do ambiente


quinta-feira, 6 de abril de 2023

7 dicas para uma Páscoa mais sustentável


Se as amêndoas e os ovos de chocolate não podem faltar, também a reciclagem e o cuidado com o ambiente não devem ficar de parte.

Conheça algumas das dicas para uma Páscoa mais sustentável.

-Já que a data sugere consumo, principalmente de chocolate, o primeiro passo passa por evitar o desperdício.

-Dê preferência, se possível, a chocolates biológicos. São uma alternativa ao tradicional chocolate de leite e existem várias lojas online onde pode encomendar.

-Fuja das embalagens cheias de fitas e papéis celofane, optando pelas mais simples.

– Com chocolate, coloridas, francesas, caramelizadas, napolitanas. Páscoa sem amêndoas não é a mesma coisa. As opções são imensas e, além da amêndoa, todas têm algo em comum: a embalagem de plástico. Normalmente são empacotadas em saquinhos de plástico e, quando terminarem, não se esqueça que o destino é o ecoponto amarelo.

– Outro doce que já é habitual ver na Páscoa são os ovos de chocolate. Se na sua família existe a tradição da caça aos ovos da Páscoa, um dia não são dias e delicie-se com esta guloseima, mas não se esqueça: muitos dos ovos vêm embrulhados em papel metalizado e não se deixe enganar pelo nome, pois os resíduos de alumínio devem ser depositados no ecoponto amarelo. Caso o invólucro seja de plástico, também é o mesmo destino: ecoponto amarelo.

– Os ovos convencionais fazem também parte da mesa e estão na lista de ingredientes do doce típico da Páscoa, o folar. Terminados os ovos, a caixa deve ser colocada no ecoponto azul.

– E por falar em folar, o doce tradicional da Páscoa, lembre-se que o saco da farinha e do açúcar devem ser depositados no ecoponto azul. Quanto ao pacote do leite, esse deve ser colocado no ecoponto amarelo. Terminada a iguaria da época pascal, o papel onde o folar é servido deve ir também para o ecoponto azul.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Uma Importante Iniciativa Europeia Contra a Desflorestação Global

 Ruth Evans  -  Rooted / Enraizada

As florestas asseguram um vasto conjunto de bens e serviços, sendo essenciais para proteger a biodiversidade e o solo, manter as reservas de água doce, regular o clima, e promover a resiliência e o bem-estar das comunidades humanas. Mas a acelerada degradação dos ecossistema florestais ameaça a sustentabilidade dos serviços que providenciam, num tempo em que sobrevém uma crescente desvinculação entre as pessoas e a floresta, em especial porque diminui a população rural que dela beneficia diretamente, e cresce a população urbana que apenas indiretamente beneficia dos bens florestais. 
As frentes de desflorestação multiplicam-se em todo o mundo. Segundo dados da organização não-governamental WWF, entre 2004 e 2017 desapareceram cerca de 43 milhões de hectares em 24 regiões do mundo, sendo que as florestas tropicais estão particularmente ameaçadas. De acordo com esta mesma organização, a União Europeia é o segundo maior importador de bens  promotores de desflorestação (a seguir à China), sendo responsável por 16% da desflorestação associada ao comércio internacional. O reconhecimento desta responsabilidade, conduziu a uma importante iniciativa europeia com vista a travar a desflorestação global, introduzindo novas regras para assegurar que quem compra os bens não contribui para degradar os ecossistemas florestais. 
No início deste mês, a tempo de inspirar a COP15, os 27 estados-membros da UE acordaram numa iniciativa legislativa com vista a combater a degradação das florestas e travar a desflorestação global; o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu firmaram um acordo provisório visando garantir que as empresas que pretendem vender no mercado europeu sete produtos e seus derivados, não são responsáveis pela desflorestação nem pela degradação das florestas por via da sua produção. Os produtos incluídos no novo regulamento europeu são: óleo de palma, cacau, café, borracha, gado, madeira e soja, bem como os seus derivados, entre outros, carne de vaca, couro ou produtos de papel impressos, cosméticos ou chocolate. Esta lista será revista e atualizada, tendo em conta novos dados, tais como alterações nos padrões de desflorestação. Quem explora estes produtos e quer comercializá-los na UE, deve fazê-lo com recurso a um rótulo que verifique se estes bens foram produzidos em terras que não sofrem desflorestação desde 31 de dezembro de 2020, cumprindo ainda toda a legislação afim no país de produção. Além disso, devem recolher informação geográfica precisa sobre a origem e produção dos bens, permitindo verificar o cumprimento de todas as normas.
Os 27 estados-membros responsabilizam-se pela aplicação de sanções firmes e dissuasoras a quem não cumprir as regras.  Bruxelas está confiante que o impacto desta iniciativa será global, embora o grupo europeu seja um dos maiores consumidores destes bens. A lista de produtos sujeitos às novas regras deverá ser alargada. Foi incluída uma disposição que permitirá à Comissão avaliar - o mais tardar um ano após a entrada em vigor do regulamento, caso se alarguem as regras a outras zonas florestais. E dentro de dois anos será ponderada uma eventual extensão a outros ecossistemas, incluindo territórios com elevada biodiversidade ou com interesse para o sequestro de carbono. 

Helena Freitas, Diário de Coimbra, 20.12.2022

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Vegan for Everything


A dieta estritamente vegetariana ou o estilo de vida vegano exclui o consumo de carne, peixe, ovos e laticínios, no entanto nem sempre é fácil perceber se os alimentos são realmente veganos. Para alguém que está no início de uma alimentação vegana, pode ser ainda mais desafiante saber quais produtos contêm ou não substâncias de origem animal.

Atualmente tem-se visto um grande aumento na oferta de produtos vegan, contudo a maior parte dos produtos nas prateleiras dos supermercados contém ingredientes de origem animal. De modo a confirmar se os produtos são 100% vegan, por vezes os consumidores conferem os rótulos e a lista de ingredientes dos mesmos.

Apesar desse escrutínio, às vezes certas matérias-primas não são muito evidentes, devido ao facto de serem identificadas com códigos (como os aditivos, que são identificados com um “e” e um número) ou por terem um nome complexo e pouco familiar. Para além disso, alguns produtos de origem animal são por vezes utilizados no fabrico como auxiliares (ex. gelatinas no caso de filtragem do vinho), que não entram na composição do produto final, nem constam na lista de ingredientes, na embalagem do produto.

Por estes motivos, a presença de um selo independente, como o da V-Label, garante aos consumidores se um produto é realmente vegetariano ou vegano, pois a entidade responsável por atribuir a certificação faz uma verificação rigorosa de todas as matérias-primas usadas ao fabricar um produto, muitas das quais facilmente escapariam ao olho atento de qualquer consumidor.


Aqui encontras 10 alimentos que nem sempre são veganos (quando não têm uma certificação vegan, como da V-Label), e que tens de ter em atenção.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Nestlé's Darkest Secret: The Disturbing Truth


Nestlé: um filme de terror da vida real - Este mini-filme de negócios "história da Nestlé" analisa a controversa história da Nestlé, incluindo escândalos nos quais a Nestlé esteve envolvida e acusações contra o grupo Nestlé. No entanto, além de olhar para o mundo sombrio da Nestlé e a perturbadora história de controvérsias e escândalos da Nestlé, também aprenderemos a história de como a Nestlé começou de origens humildes com um produto que salva vidas. Honestamente, a Nestlé é uma história de negócios fascinante, especialmente considerando a frequência com que a Nestlé é mencionada on-line como uma das empresas mais odiadas / mais malignas. Então... Qual é a verdade sobre a Nestlé?

Saber mais:

terça-feira, 20 de setembro de 2022

From coffee to codfish: The foods that will get more expensive with climate change


Droughts and heatwaves fuelled by climate change have endangered food supplies across Europe this summer.

Rice in northern Italy, olive oil in Spain and barley in the UK have all seen dramatic decreases in yield due to environmental conditions.

With global warming increasing the likelihood of extreme weather, many foods across the planet are set to become more scarce.

This means a lot of the basic staples people consume daily will become more expensive.

How is climate change affecting food production?

Climate change is now a serious threat to global food security, recent research shows.

A report released by the International Panel of Experts on Sustainable Food Systems (IPES) in May described climate change as an "endemic and widespread" risk to food supplies. This is also exacerbated by rising living costs and the conflict in Ukraine.

Droughts, heatwaves, flooding and new pests are preventing producers from obtaining a reliable crop in many areas of the world.

Since pre-industrial levels, global temperatures have increased by 1.1°C. The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) has warned that if that reaches 1.5°C, around 8 per cent of the world’s farmland will become unsuitable for agriculture.

If global warming reaches 1.5°C, around 8 per cent of the world’s farmland will become unsuitable for agriculture.

Crop productivity drops in higher temperatures because of dehydration, reduction in pollination and slower photosynthesis. When hit by elevated temperatures and droughts, plant defences fail and crops become susceptible to attacks by insects and disease-inducing pathogens.

Extreme weather is also causing difficulties for livestock and fisheries. The problems are set to worsen if efforts are not made to tackle carbon emissions.

The IPCC recently released a report that confirmed that human-induced climate change is making droughts, floods, wildfires, and heatwaves more severe and more frequent.

According to the UN, the combined effects of climate change, conflict and poverty could see food prices rise by an additional 8.5 per cent by 2027. It warns that millions of people are already facing acute food insecurity.

Cost of staple cereal crops soaring due to climate change

This summer alone, heatwaves withered farmland in India, fires in Tunisia destroyed fields of grain, and flooding in China damaged almost 100,000 hectares of crops.

Staple foods such as wheat, rice, corn, and soybean have been decimated around the world causing prices to soar.

Rising costs of these key crops have plunged populations in Africa, Asia and South America into critical food poverty. In Somalia, for example, a 400 gram can of wheat has doubled in price since February. In India, wheat flour exports have been restricted to ease soaring local prices.

Within Europe, drought in northern Italy’s agricultural heartland has seen the production of crops like rice and corn slashed. Extreme heat and lack of rainfall have also affected tomatoes, grapes and olives.

The IPES report in May found that wheat prices hit a 14-year peak in March and corn prices reached the highest ever recorded.

Staple foods are also being affected by new pests and pathogens. In the US this year, avian flu caused an almost 300 per cent increase in the price of eggs.

Seafood becomes scarcer with rising sea temperatures

Europe’s seas are also suffering the heat. Iceland’s waters are losing fish central to the local diet as capelin and cod swim north to find cooler temperatures.

But shellfish such as oysters, clams and mussels cannot escape the warming waters. In northern Italy, crustaceans are dying off in the Adriatic sea.

In the Po Delta, where the vast Po river flows into the sea, clams and mussels are particularly prized because of the unique aquatic conditions where freshwater and saltwater mix.

Now, fishermen say the shellfish are suffering because the historically low water levels of the river mean very little freshwater flowing into the delta causing it to become too salty.
Global warming increases the price of chocolate, coffee and wine

Luxury foods like coffee, chocolate and wine are also in danger. Increasing temperatures in the coffee-growing regions in Central and South America, Indonesia and Vietnam will make production more difficult.

Between 2020 and 2021, extreme heat in Brazil raised the price of coffee by 70 per cent, according to the International Monetary Fund.

As for chocolate, most cocoa grows in Ivory Coast and Ghana where droughts might soon make the area unsuitable for growing the crop.

Vineyards in California and in Europe are being plagued by extreme weather, from unseasonal frosts to droughts and wildfires. With lower fruit yields, the prices of the wine produced will be higher.

In France, mustard seed production has been hit by drought causing shortages of the condiment.

Consuming meat may soon come with a tax

Meat may begin costing more because of its impact on climate change. Livestock contributes to planet-warming emissions and forests and wildlife are destroyed to make way for land to grow animal feed.

It has led to some governments proposing a tax on beef, pork and chicken consumption. Before the war in Ukraine, agricultural ministers in Germany and the Netherlands were mulling the introduction of a meat tax.

Research published in the Review of Environmental Economics and Policy predicted a potential price increase of 35 per cent to 56 per cent for beef, 25 per cent for poultry, and 19 per cent for lamb and pork in high-income countries.

Can heat-resistant plants be developed to survive climate change?

Scientists at US and Chinese universities have been exploring ways to protect harvests in a warming world. They are studying how to help plants survive extreme heat in the hope it will protect global food supplies.

But the IPES researchers also warn that immediate action to reduce emissions needs to be taken to avoid major food price rises in the near future.

If this is neglected, the world will find itself "sleepwalking into the catastrophic and systematic food crises of the future", the experts said.

Fonte: Euronews

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sábado, 2 de julho de 2022

Documentário - A Conspiração Global de Junk Food


Na Europa, os fabricantes de alimentos assinaram 'compromissos de responsabilidade', prometendo não adicionar açúcar, conservantes, corantes ou sabores artificiais e não atingir crianças. Então, por que eles estão usando táticas proibidas no Ocidente no mundo em desenvolvimento? Lá, eles criaram produtos de baixíssimo custo com níveis mais altos de sal, açúcar e gorduras saturadas. Filmado no Brasil, Índia e França, investigamos as novas táticas de marcas como Coca-Cola, McDonald's e Domino's Pizza.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Faça Compras Conscientes, Livres de Desflorestação


AGRICULTURA E DESFLORESTAÇÃO – QUE RELAÇÃO?

Tanto a desflorestação como a degradação florestal estão a ocorrer a um ritmo alarmante, agravando as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. A expansão das áreas de produção agrícola de matérias-primas, mercadorias ou também chamadas commodities – como o gado bovino, a madeira, o óleo de palma, a soja, o cacau e o café – é o principal motor da desflorestação e a degradação florestal.

Em 2017, a União Europeia (UE) foi um dos maiores blocos consumidores de commodities associadas à desflorestação e à degradação das florestas, responsável por 16% da desflorestação associada ao comércio internacional, num total de 203.000 hectares.

PORTUGAL TAMBÉM É RESPONSÁVEL PELA DESFLORESTAÇÃO NA AMAZÓNIA?

Em Portugal, a pecuária intensiva é o principal motor da desflorestação causada pelas importações, sobretudo ligada à produção de matérias-primas para a alimentação animal como a soja e o milho. A maior parte da soja importada vem do Brasil, onde os grandes campos de soja estão ligados à destruição da Amazónia e de biomassa importantes como o Cerrado e o Pantanal. O agronegócio da soja está também ligado a violações de Direitos Humanos através da apropriação de terras e recursos naturais a comunidades locais.

A importação de mercadorias de países com fraca regulamentação ou controlo dos agroquímicos utilizados na sua produção também aumentam o risco para a saúde pública, sempre que entrem na cadeia alimentar, algo que já se está a verificar.

Portugal emitiu uma exceção à entrada de milho para alimentação animal com limites máximos de resíduos de pesticidas acima do permitido na UE (Despacho nº 28/2022 da DGAV), derivado das necessidades sobretudo da pecuária industrial que vêem o fornecimento a partir da Ucrânia em risco, devido ao atual contexto. A importação desta mercadoria deverá ser reforçada junto de países Sul Americanos, como a Argentina e o Brasil, onde a sua produção poderá estar ligada à desflorestação, degradação de biomas de alto valor e violações dos Direitos Humanos.

Estas matérias-primas estão nos produtos que consumimos diariamente, no entanto desconhecemos os impactes dos produtos disponíveis nos nossos locais de compra. O que compramos contribuir de forma direta ou indireta para a desflorestação? Quanto custa realmente aquilo que consumimos? (ou quais os custos escondidos daquilo que consumimos).

REGULAMENTO DA UE PARA PRODUTOS SEM DESFLORESTAÇÃO

A Comissão Europeia (CE) apresentou uma proposta de regulamento, a 17 de novembro de 2021, com o objetivo de garantir que as cadeias de abastecimento Europeias não causam desflorestação e degradação das florestas.

O regulamento para produtos livres de desflorestação proposto pela CE assume um caminho de transparência e de responsabilização de toda a cadeia de abastecimento, para que se torne cada vez mais difícil a circulação de mercadorias ligadas à desflorestação ou à degradação de ecossistemas florestais. No entanto, algumas definições vagas e aspetos pouco claros podem enfraquecer o regulamento e deixá-lo vulnerável a emendas que comprometam a sua eficácia, tais como:
  • As isenções para empresas, resultantes de uma definição excessivamente abrangente de pequenas e médias empresas (PME), podem deixar de fora cadeias importadoras.
  • A falta de responsabilização do setor financeiro permitirá que se continue a financiar a destruição de florestas tropicais.
  • Mercadorias como a borracha e o milho, a par de outros ecossistemas para além das florestas, já deveriam estar incluídos na primeira versão do regulamento, caso contrário resultarão danos evitáveis e um atraso considerável na concretização dos objetivos do diploma.
  • Não estão devidamente acautelados mecanismos de recurso à justiça em caso de violação dos Direitos Humanos e outros direitos.
O sucesso deste regulamento vai, pois, depender do empenho e ambição dos Estados-Membros, crucial durante a discussão ao longo dos próximos meses. Assegure-se que a sua opinião é representada!

sábado, 19 de março de 2022

Dia do Pai * Father´s Day


Otto Dix (pintor Alemão, 1891-1969) - Auto-retrato com o seu filho, 1930

O meu pai faleceu tinha onze anos. Só fiz o seu luto por volta dos 30 anos. Foi um pai presente, mas usava bengala, não me levava às cavalitas, nem jogava futebol comigo. Não me leu histórias para adormecer, porque era analfabeto. Não houve festas de aniversário. Era um dia como outro qualquer. Gostava de me dar rebuçados e chocolates, que comprava na loja do meu tio na aldeia. 

Latifundiário rico era respeitado por todos. Mas como todas as aldeias há famílias rivais. Os Cavadas tinham um ódio visceral aos Santos. O filho mais novo (que depois foi preso) atropelou-me violentamente tinha eu 4 anos. Fui despejado a 2 metros de distância. Estive 7 semanas hospitalizado. 

Estava na escola quando um funcionário veio ter comigo dizer que o meu pai tinha morrido. Percorri sozinho, os 20 km de distância até minha casa, banhado em lágrimas. Ninguém me foi buscar. Na altura, o velório era em casa. Vi o meu pai a ser preparado no caixão. 

Foi um marido difícil com a minha mãe. Era muitas vezes agressivo com ela. Tive que tirar-lhe a bengala, várias vezes. Sim, havia e vivi violência doméstica. Cansada, uma vez a minha mãe pediu 15 dias de separação. Foi viver com a filha. Resultou. Ficou mais calmo e os episódios pararam. 

O que fiz para superar a dor e a ausência de pai? Procurei modelos homem junto dos meus professores e adultos que gostava. Fui superando a dor, desta forma... Agora sou pai e orgulho-me de ter compensado o meu filho em criança (já tem 19 anos) com muitas brincadeiras e andar com ele às cavalitas.
Feliz dia do Pai.

Sobre Otto Dix
Otto Dix foi um pintor expressionista alemão. Veterano da Primeira Guerra Mundial, a sua obra é dominada pela temática antibélica. Pintou um famoso tríptico onde retrata a miséria do pós-guerra nos anos 30 e o aparecimento do jazz: Os Noctívagos. Wikipédia

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Sobre sondagens - A dura verdade sobre o chocolate

Fazer uma tracking poll com estas características não é dar notícias, é criar notícias, fazendo uma festa com os comentadores de serviço.




Há uns anos, foi notícia um estudo fantástico: o chocolate preto ajudava a emagrecer. A notícia era verdadeira, o estudo era real e feito por um médico. E, no entanto, era tudo mentira. Confuso?

John Bohannon, jornalista, contratou um médico para fazer um estudo sobre os efeitos do chocolate preto. Recrutou 15 pessoas, que dividiu em três grupos. Um de controlo, outro que seguiu uma dieta baixa em hidratos de carbono e, finalmente, um outro que, além de seguir a dieta low carb, comia todos os dias 40 gramas de chocolate preto. Avaliaram a evolução de 18 parâmetros de saúde (peso, colesterol, gordura no corpo, etc.) à terceira semana e descobriram que o grupo do chocolate preto fora o que perdera mais gordura. Conclusão? O chocolate preto ajuda a perder peso.

O que há de errado no referido estudo? Com apenas cinco pessoas por grupo e medindo 18 parâmetros, era garantido que, por pura sorte, o grupo do chocolate preto teria melhor performance num deles. Há muitos fatores que influenciam o nosso corpo: stresse, exercício, sono, meteorologia, etc. Com 18 indicadores, só por muito azar não se encontraria um que tivesse melhorado no grupo do chocolate. Trata-se, pois, de um estudo sem poder estatístico: não é capaz de distinguir efeitos reais de pura sorte. Depois de publicadas as notícias, John Bohannon veio a público explicar o esquema e mostrar como era fácil enganar jornalistas ávidos por ter o que escrever.

As tracking polls da CNN são similares. Nestas sondagens, a Pitagórica inquire diariamente 152 pessoas e reporta os resultados ao fim de quatro dias, quando tem uma amostra de 608 respostas. Não é enorme, mas é aceitável. Depois, a cada dia que passa, exclui as 152 entrevistas mais antigas e acrescenta 152 novas e reporta os valores da sondagem assim obtida. O que há de errado nisto? A variação em cada dia é causada precisamente por 152 entrevistas, uma amostra minúscula. Tal como com o chocolate, vai haver, garantidamente, variações aparentemente dignas de notícia, mesmo que não haja nenhuma notícia para dar.

Para não maçar o leitor com explicações técnicas, vou fazer uma sondagem tecnicamente perfeita e totalmente controlada por mim. Pode replicá-la em casa, bastando-lhe para isso o Excel.

Imagine que há dois partidos que têm 35% das intenções de voto cada um. Pode chamar-lhes Partido Rosa (PR) e Partido Laranja (PL). Numa sondagem bem conduzida, cada pessoa entrevistada terá 35% de probabilidade de ser do PR, 35% de ser do PL e 30% de outro qualquer. Como represento esta realidade política no Excel? Com as suas ferramentas estatísticas, consigo gerar um número aleatório entre 0 e 100. Se este estiver entre 0 e 35, declaro que é eleitor do PR; se estiver entre 65 e 100, que é do PL; e se estiver entre 35 e 65, é de outro qualquer. Faço isto 152 vezes, tal como a Pitagórica faz para a CNN, e tenho um dia de sondagens feito. Repito o procedimento uma segunda, terceira e quarta vez e tenho uma sondagem feita a 608 pessoas. Depois acrescento mais um dia, retirando-lhe o mais antigo e vou por aí fora, criando uma tracking poll diária, sempre com 608 observações. Mas, lembre-se, os verdadeiros parâmetros são sempre os mesmos: 35% para o Partido Rosa e 35% para o Partido Laranja, quaisquer variações são pura sorte e não têm qualquer significado.

Pode ver a minha tracking poll de 17 dias no gráfico. Variações interessantes e a exigir comentário político: no dia 4, o PL tem uma vantagem de 11 pontos percentuais, que se vai desvanecendo, até que, no dia 8, o PR passa para a frente, mantendo-se um empate técnico por alguns dias até que, a partir do dia 13, o PL volta a descolar.

Imagine as notícias e os comentadores. No dia 4, o líder do PL era um génio e almejava uma maioria absoluta. Entre o dia 4 e 8, os debates correram-lhe mal e cometeu umas gafes de campanha, perdendo a vantagem. Com o aproximar da eleição, os indecisos deixam de estar indecisos e o voto útil favorecerá o PL e, por isso, a partir do dia 13, retoma alguma da vantagem que tinha no início.

Mas, claro, é tudo treta. Na verdade, nesta população, o PR e PL tiveram sempre as mesmas intenções de voto: 35%.

Moral da história? Fazer uma tracking poll com estas características não é dar notícias, é criar notícias, fazendo uma festa com os comentadores de serviço.

P.S. — Se quiser o ficheiro Excel com estes cálculos para fazer as suas experiências, é só pedir-me por e-mail. Poderá repetir as vezes que quiser. O gráfico que usei para ilustrar este artigo foi obtido à terceira tentativa.

Professor de Economia da Universidade do Minho

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Da escravidão à independência com o cacau no Sul da Bahia


O assentamento Dois Riachões, no Sul da Bahia (Brasil), é o tema do documentário realizado pelo fotógrafo Fellipe Abreu e pela jornalista Patrícia Moll.

«Meu avô nunca comeu chocolate, nunca, quem comia era o coronel. Ele morreu sem saber o que era chocolate», diz o agricultor Edivaldo dos Santos na curta-metragem.

«Eu quebrei muito cacau e eu não tinha direito de chupar um caroço de cacau, porque o cabo de turma estava do nosso lado, vigiando tudo», afirma, por seu lado, Luiza Batista.

Edivaldo, Luiza e outros 150 agricultores que vivem no assentamento Dois Riachões, em Ibirapitanga, romperam com o ciclo tradicional de produção praticado pelos herdeiros dos coronéis das fazendas da Bahia, apostando numa produção agroecológica que tem sido referência para outras comunidades que lutam pela reforma agrária no Brasil, indica o Brasil de Fato.

Ligados à Coordenação Estadual de Trabalhadores Assentados e Acampados (Ceta), os agricultores ocuparam o local em 2007, mas só em 2018 se verificou a regularização da terra. Além do cacau, no assentamento produzem frutas, hortaliças e grãos.

Teresa Santiago, agricultora em Dois Riachões, explica que a agroecologia é a base de todo o processo, e que a comercialização é um dos tripés da sua luta. Os agricultores conseguem escoar a produção nas feiras, com vendas directas ao consumidor e através de programas federais como o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.

No entender da agricultora, a liberdade foi construída a partir da luta pela terra, quando passaram a ser donos do lote e da produção.

«Você deixa de ser oprimido, deixa de ter ali alguém que vai mandar dizer o que você vai fazer para outra maneira de viver e construir colectivamente a luta pela terra. No documentário, quando a gente fala da soberania, é a soberania em todas as suas vertentes, seja social, alimentar, na questão ambiental, produtiva e económica», afirma.
Melhoria de condições de vida, trabalho colectivo e defesa do ambiente

Fellipe Abreu, um dos realizadores, explica que, durante as gravações do documentário, eles puderam acompanhar as mudanças na comercialização, como as amêndoas de cacau passaram a ter mais valor e como os agricultores construíram uma fábrica de chocolate no assentamento, tendo inclusive lançado a marca «Dois Riachões».

Patrícia Moll diz que a ideia do documentário surgiu por não ser uma história conhecida e pelo facto de o chocolate ser algo universal que interessa a diversas culturas. Do que viu, destacou a organização e o trabalho colectivo das famílias.

«Eles fazem tudo juntos, passam o dia na roça do seu Fulano, depois vão para a roça do seu Beltrano, sempre se divertindo e cantando enquanto fazem a quebragem. Também é lindo ver eles terem conseguido conquistar essa soberania alimentar e hoje cozinharem e produzirem os próprios alimentos e finalmente poderem comer o próprio chocolate», afirmou a realizadora.
O cacau faz parte da história do Brasil e no Sul da Bahia é um dos principais produtos agrícolas. A produção de cacau cabruca de Dois Riachões é tida como exemplo de aliada da conservação ambiental, na medida em que tem em conta não só a produção do alimento livre de tóxicos, como a preservação de espécies florestais nativas, a manutenção dos recursos hídricos e da fauna local.

«O sistema cabruca de produção de cacau não derruba a mata nativa, ele coexiste junto com ela. Se você olhar para uma lavoura de cacau cabruca, você vê a Mata Atlântica por cima e o cacau por baixo», comenta Fellipe Abreu.

O documentário, co-produzido de forma independente, é a primeira curta de Patrícia Moll e Fellipe Abreu juntos. A ideia, segundo refere o Brasil de Fato, é que a obra, já premiada em vários festivais, ajude a viabilizar outros projectos semelhantes com o olhar voltado para o mundo rural, a agricultura familiar e a cultura alimentar do Brasil.

domingo, 19 de dezembro de 2021

São precisos 17 mil litros de água para produzir um quilo de chocolate


O impacto ambiental da época natalícia faz-se sentir, nomeadamente, pela produção de papel de embrulho e de chocolates.

A produção de papel de embrulho e de chocolates aumenta nesta altura do ano e tem uma pegada ecológica expressiva, sendo que, no caso do chocolate, são necessário 17 mil litros de água para produzir apenas um quilo. [Water Food Print]

Debaixo das árvores de Natal, os presentes fazem parte da decoração em muitas casas.

Muitos dos que são oferecidos têm uma pegada ecológica expressiva, como é o caso dos chocolates.

Para produzir um quilo deste doce, são necessários cerca de 17 mil litros de água, o equivalente ao que cada português consome, em média, em três meses a tomar banho, lavar os dentes e em tarefas domésticas.

A água, um recurso cada vez mais escasso, é também necessária na produção de papel de embrulho, que muitas vezes não é reutilizado e acaba no lixo.

O papel de embrulho mais brilhante resulta de uma mistura de vários materiais, o que impede que seja reciclado.

As opções mais amigas do ambiente passam por reutilizar o que já se tem em casa ou comprar materiais reciclados.

Quanto aos presentes, também eles podem ter mais ou menos impacto, dependendo sempre das escolhas de cada um.

Todos os produtos importados, à partida, têm uma pegada ecológica maior porque, no transporte ainda são utilizados, na grande maioria, combustíveis fósseis.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Os hábitos dos ocidentais levam à perda de quatro árvores por ano

Vários estudos vinculam o consumo de alimentos, como o café e o chocolate, à desflorestação global e agora sabe-se que um ocidental, em média, é responsável pela perda de quatro árvores por ano. Saiba mais aqui, connosco!


O consumidor ocidental de café, chocolate, carne, óleo de palma, entre outros, é responsável pela perda de quatro árvores todos os anos, muitas destas em florestas tropicais ricas em vida selvagem, calculou este novo estudo.  

A destruição das florestas é uma das principais causas da atual crise climática e da diminuição das populações de animais selvagens, à medida que os ecossistemas naturais são destruídos para a agricultura. Este estudo é o primeiro a associar mapas de alta resolução da desflorestação global à ampla gama de alimentos importados por cada país, em todo o mundo.

O estudo divulga as ligações diretas entre os consumidores e a perda de florestas em todo o planeta. O consumo de chocolate no Reino Unido e na Alemanha é um importante impulsionador da desflorestação na Costa do Marfim e no Gana, descobriram os cientistas, enquanto a demanda por carne bovina e soja nos EUA, União Europeia e China resulta na destruição da floresta no Brasil.

Os consumidores de café nos EUA, Alemanha e Itália representam uma parte significativa da desflorestação no interior do Vietname, enquanto a demanda por madeira na China, Coreia do Sul e Japão resulta na perda de árvores no norte do mesmo país.
Os principais consumidores

Sendo um país rico e com bastante população, os EUA têm uma pegada de desflorestação particularmente grande, sendo o principal importador de uma grande variedade de alimentos de países tropicais, incluindo frutas e nozes do Guatemala, borracha da Libéria e madeira do Camboja. Já a China tem a maior responsabilidade pela desflorestação na Malásia, resultante das importações de óleo de palma e outros produtos agrícolas.

O consumo do G7 é responsável por uma perda média de quatro árvores, por ano, por pessoa, frisa este estudo. Os EUA estão acima desta média, com a perda de cinco árvores, per capita. Em cinco países do G7 - Reino Unido, Japão, Alemanha, França e Itália -, mais de 90% da sua pegada de desflorestação foi em países estrangeiros e metade desse valor em nações tropicais.

O Dr. Nguyen Hoang, do Instituto de Pesquisa para a Humanidade e a Natureza, em Kyoto, Japão, liderou a investigação e afirma que os mapas detalhados podem ajudar a direcionar ações para conter a desflorestação. “Os legisladores e as empresas podem ter uma ideia de quais cadeias de abastecimento estão a causar a desflorestação. Se souberem isso, podem concentrar-se nessas cadeias de abastecimento para encontrar os problemas e soluções específicos.”

Este estudo, publicado na revista Nature Ecology and Evolution, combinou dados de alta resolução sobre a perda florestal, e os seus fatores, com milhares de dados globais de relações comerciais, entre 2001 e 2015. Isto permitiu aos investigadores quantificar a pegada de desflorestação de cada país, com base no consumo da sua população.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Consumo de soja, óleo de palma e carne na UE está a destruir as florestas dos trópicos

Fonte: Wilder

O consumo de produtos importados por países da União Europeia, incluindo Portugal, está a ter um “enorme impacto” para a desflorestação tropical, alerta um novo relatório da WWF.

Os resultados de uma investigação conduzida pela WWF – World Wildlife Fund mostram que “a União Europeia (UE) foi responsável, entre 2005 e 2017, por 16% da desflorestação associada ao comércio internacional, com um total de 203.000 hectares e 116 milhões de toneladas de CO₂ emitido”, indica em comunicado a Associação Natureza Portugal – ANP/WWF, parceira da organização internacional.

Portugal está entre os principais responsáveis dentro da UE. Surge em sexto lugar entre os Estados-membros com maior consumo per capita associado à desflorestação nos trópicos – nota a ANP/WWF – e está em nono lugar tendo em conta o total de hectares que esse consumo destrói anualmente, com uma média de 7.500 hectares entre 2005 e 2017. Na liderança desta última tabela surgem Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido, Holanda, seguidos pela França, Bélgica e Polónia, responsáveis por 80% do total.

“A procura por estas mercadorias está também a causar a destruição de ecossistemas não-florestais como prados e zonas húmidas”, uma vez que “o relatório estabelece uma ligação clara entre a produção de soja e de carne de bovino e a conversão de prados”, alerta a ANP/WWF.

Igualmente pouco favorável é o retrato da UE como um todo, mostra o novo relatório. Em 2017, apenas a China terá tido um impacto maior. A importação de produtos pelo país mais populoso do mundo representou 24% de um total de 1,3 milhões de hectares de florestas dos trópicos destruídas nesse ano.

A UE, com 16% nesse ano, ficou à frente da Índia (9%), Estados Unidos da América (7%) e Japão (5%). Durante o período analisado, os principais produtos importados com mais desflorestação associada foram a soja, o óleo de palma e a carne de bovino, seguindo-se os produtos de base florestal, o cacau e o café.

“Este relatório fornece informação essencial para uma acção concertada e urgente em defesa das florestas e da biodiversidade existente. Sabíamos que o consumo dos países da União Europeia tem um impacto significativo na desflorestação das regiões tropicais e na conversão de habitats, mas não sabíamos com o rigor científico que nos é apresentado agora que a UE apenas é ultrapassada pela China, consumindo mais florestas tropicais e destruindo outros ecossistemas que a Índia, Estados Unidos e Japão”, considerou Catarina Grilo, directora de conservação da ANP – WWF. “A forma como comemos em Portugal e na Europa está literalmente a devorar as florestas mundiais e outros ecossistemas também.”

O novo documento surge numa altura em que Bruxelas está a preparar nova legislação para combater a destruição de florestas, sendo por isso urgente a criação de “um enquadramento legal capaz de abordar a totalidade da pegada do consumo causado pela UE nas florestas do nosso planeta e outros ecossistemas como prados e zonas húmidas”, sublinha a organização parceira da WWF.

“A Comissão Europeia, e Portugal, deverão considerar os resultados deste estudo como um alerta e criar uma proposta de legislação forte e capaz de combater a pegada da UE”, acrescentou ainda Catarina Grilo, para quem é importante “impedir que os produtos que contribuem para a destruição da natureza (legalmente ou ilegalmente) e que violam direitos humanos entrem nos mercados europeus e garantir que as empresas cumprem as regras definidas”.

Saiba mais.

Conheça aqui a versão original do relatório da WWF, em inglês.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Documento revela pressão da Embratur sobre a Funai para transformar terra indígena em hotel de luxo na Bahia

A Funai recebeu um pedido inusitado em julho. A Embratur quer que o órgão, responsável pela proteção dos direitos indígenas no país, acabe com o processo de demarcação de uma reserva para permitir a construção de um hotel de luxo no local. A solicitação chegou à Funai assinada pelo presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, e o Intercept teve acesso ao documento com exclusividade.

A área fica no sul da Bahia, tem 470 quilômetros quadrados e pertence ao povo Tupinambá de Olivença, que luta há pelo menos 15 anos pela demarcação da terra. A primeira fase do processo foi concluída em 2009.

Trata-se, segundo servidores da Funai e especialistas com quem conversei, de um caso inédito. É a primeira vez, ao menos desde a Constituição de 1988, que um órgão federal faz lobby sobre outro – e o registra num documento oficial do governo – para entregar à iniciativa privada uma área indígena registrado em um documento oficial do governo.

Se vingar, o pedido da Embratur vai beneficiar a rede hoteleira portuguesa Vila Galé, que tem planos para construir um hotel de luxo com 467 apartamentos no local. É uma das empresas que devem ser beneficiadas pelo projeto Revive, do governo federal, uma iniciativa para conceder a gestão de mais de 200 pontos turísticos brasileiros para a iniciativa privada – como revelou o Intercept. A empresa confia tanto no lobby de Machado Neto que já anuncia que o empreendimento deverá estar de portas abertas em 2021.

Médico veterinário, amigo pessoal de Jair Bolsonaro, o presidente da Embratur é mais conhecido por ser sanfoneiro, dono de pousada e ter sido multado por desrespeitar a legislação ambiental. É um histórico que o credenciou, aos olhos do presidente de extrema-direita, a comandar o Instituto Brasileiro de Turismo, a Embratur, uma autarquia ligada ao Ministério do Turismo cuja atribuição é promover o país no mercado internacional.

O documento, em papel timbrado do órgão, tramita sob sigilo – possivelmente porque Machado Neto sabe que o pedido afronta o que a Constituição determina a respeito do assunto.

Servidores da Funai ouvidos sob condição de anonimato afirmam que são comuns as pressões de fazendeiros ou empresários insatisfeitos com a demarcação de áreas indígenas. Mas a desfaçatez de um pedido oficial do tipo, feito por outro órgão da administração federal, causou perplexidade. As fontes relatam um ambiente de caça às bruxas e naturalmente temem retaliações.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Documentário- O Lado Negro do Chocolate (Shady Chocolate)



O chocolate que consumimos é produzido com o uso de trabalho infantil e tráfico de crianças?

O premiado jornalista dinamarquês, Miki Mistrati, decide investigar os boatos. Sua busca atrás de respostas o leva até Mali, na África Ocidental, onde câmaras ocultas revelam o tráfico de crianças para as plantações de cacau da vizinha Costa do Marfim. A Costa do Marfim é o maior produtor de cacau, respondendo por cerca de 40% da produção mundial. Empresas como a Nestlé, Barry Callebaut e Mars assinaram em 2001 o Protocolo do Cacau, comprometendo-se a erradicar totalmente o trabalho infantil no sector até 2008. Será que o seu chocolate tem um gosto amargo? Acompanhe Miki até a África para expor "O Lado Negro do Chocolate".

As 7 marcas de chocolate que utilizam cacau proveniente de trabalho escravo infantil são:

Hershey
Mars
Nestlé
ADM Cocoa
Godiva
Fowler’s Chocolate
Kraft

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Obesidade Mental - Andrew Oitke (?) - Aviso à Navegação

Não existe o tal Andrew Oitke nem a obra Mental Obesity. O artigo é de facto de João César das Neves, efabulação por ele criada e publicada no DN em 22.03.04
Portanto averiguem sempre as fontes.
O prof.  Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity»,que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.». Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que  de hidratos de carbono.
As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e  comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»
O problema central está na família e na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigamdepois uma vida saudável e equilibrada.»
Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:
«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.». O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»
Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.
«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandela é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.  «Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.
Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa sobretudo de dieta mental.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Comer com gosto


Deve haver poucas pessoas que não gostem de comer, e eu não sou uma delas. Gosto de experimentar receitas das sobremesas mais exóticas, amassar pão à procura do mais genuíno sabor, ficar-me esquecida nas livrarias a apreciar livros de cozinha recheados de resultados impossíveis de obter em casa. Mas não sou de olhar só para o resultado: os meus ingredientes escolho-os com cuidado e atenção porque é a minha família, a saúde e boa disposição de todos, que está em causa. E, neste capítulo, sou muito tradicional: procuro o melhor, sem compromisso. Por exemplo, se olho para a lista de ingredientes de uma embalagem de comida e vejo números além dos nomes... é porque foi feito no laboratório e não no campo.

E o que sai do laboratório, pela minha lógica, não pode ser comida.
Mas mesmo eliminando o que inclui números ainda sobra muita coisa que não entra no meu carrinho de compras. Por exemplo, não aprovo ingredientes que, há cem anos apenas, ninguém usaria na cozinha, mesmo se começarem pela palavra Vitamina, ou jurarem que fazem bem aos intestinos. E depois ainda há aquelas comidas que se querem fazer passar por outras – chamo-lhes os travestis. Margarina e bolachas com "sabor" a chocolate são bons exemplos, mas os adoçantes que querem fazer de conta que são açúcar para poupar nas calorias são talvez daqueles a quem mais cuidadosamente barro a porta de casa. Quando tenho dúvidas, aplico uns testes muito simples: pode ser produzido numa quinta, ou pescado no mar? Percebo como passa do estado original para a embalagem final? Se a resposta é não, é porque não é para mim. Isso leva-me a passar ao lado de quase todo o pão dos supermercados e padarias, repleto que está de "melhorantes" e "enzimas", ou ainda da míriade de outros alimentos com espessantes, corantes, estabilizantes ou demais maravilhas da tecnologia alimentar.

Claro, a maneira como a comida é processada também conta, não basta escrutinar os ingredientes. A radioactividade, por exemplo, pode ter muitos fins úteis, mas comida irradiada rima com comida doente... e que nos põe doentes a nós. E a aplicação de radiação electromagnética (vulgo forno de microondas) garantidamente também não foi pensada para nos trazer mais saúde. Quanto ao leite UHT, o tal que ainda está igual a si próprio mesmo após seis meses de esquecimento no fundo do armário, bem, arranjem leite do dia pasteurizado, encham um copo de cada um e façam o teste à família toda, a ver se não distinguem o que ainda sabe a leite daquele que do leite já só tem o aspecto.

Na busca da comida como "nos bons velhos tempos", gosto de reparar também nos ingredientes "invisíveis". Prefiro, tal como a restante população europeia, que as minhas hortaliças sejam sem pesticidas, o meu leite sem antibióticos e a minha carne sem hormonas... mesmo se trouxerem o selo europeu de autorizado. Se for do campo e não de aviário ou de aquacultura, melhor. E sendo colhido e comido na época, melhor ainda.


E que dizer da mais moderna de todas as invenções alimentares, os alimentos geneticamente modificados, ou transgénicos? Já ouvi as sete maravilhas sobre eles: mais nutritivos, mais duradouros, mais limpos de pesticidas, muito estudados e seguros, até a fome no mundo e a crise energética (através de biocombustíveis) eles se preparam para resolver. Mas eu confesso: a primeira vez que comprei óleo de soja e depois verifiquei pelo rótulo que continha soja geneticamente modificada senti um aperto abaixo do estômago que nunca me engana. Esta comida transgénica pode ser apropriada para cobaias de laboratório, mas não é comida de gente.

Mas claro, o problema é poder escolher. Para já anda por aí soja e milho transgénico, mas já este ano a Comissão Europeia pretende aprovar arroz transgénico. Arroz! O mais castiço dos cereais que comemos em Portugal!
Fui informar-me e fiquei a saber que os portugueses são os "chineses" da Europa: cada um de nós come em média 17 quilos de arroz por ano, enquanto que os italianos, que estão em segundo lugar atrás de nós, não comem mais que uns míseros sete quilos. Os dinamarqueses, coitados, não sabem o que é arroz doce e não vão além de quilo e meio por ano. E agora, querem abrir a nossa porta ao arroz transgénico?! Isso é, para a gastronomia, o mesmo que deitar abaixo o Mosteiro dos Jerónimos seria para a nossa história e cultura!

Senhor Ministro da Agricultura: espero que goste de arroz de ervilhas, de arroz malandro, de arroz de forno e de arroz de pato. Espero, em suma, que goste de arroz, porque ser português também é isso: durante a última grande guerra devemos em grande parte ao arroz a nossa sobrevivência alimentar. Quando se sentar em Bruxelas e chegar a vez de votar o arroz transgénico, Senhor Ministro, vote por nós.


Margarida Silva, bióloga