As culturas tropicais, como o café e o cacau, bem como a melancia e a manga, podem estar em risco de graves perdas de produtividade devido à perda dos insetos polinizadores, como abelhas, borboletas, sirfídeos e tantos outros, de que essas espécies vegetais dependem para se reproduzirem.
O alerta é lançado por um grupo de investigadores do Brasil e do Reino Unido que, num artigo publicado esta semana na revista ‘Science Advances’, sugerem que nas regiões da África subsariana, nas zonas norte da América do Sul e no sudeste asiático os riscos são maiores e a tendência, que classificam como “preocupante”, deverá agravar-se a um ritmo mais acelerado do que noutras partes do planeta.
Por isso, avisam: “Simplesmente devido à perda de polinizadores, as alterações climáticas e a agricultura podem ser um risco para o bem-estar humano”. Isto, porque os insetos encontram na degradação ambiental e em práticas insustentáveis e nocivas de exploração do solo as maiores ameaças à sua sobrevivência.
A investigação suportou-se em dados recolhidos de mais de 2600 locais e abrangendo quase 3100 espécies de insetos polinizadores e, escrevem os autores, “mostramos que a combinação interativa da agricultura e alterações climáticas está associada a grandes reduções” desses animais, quer em termos de abundância, quer em termos de diversidade de espécies.
Para percebermos a dimensão da ameaça, os cientistas recordam-nos que cerca de 75% das culturas vegetais que os humanos consomem “dependem, de alguma forma, da polinização por animais”.
Embora os maiores riscos possam estar concentrados em algumas regiões, os impactos podem espalhar-se por todo o mundo, estendendo-se globalmente “através do comércio de colheitas dependentes de polinização”, salienta Joseh Millard, do Centro de Ciências da Vida do Museu de História Natural de Londres e investigador da University College London.
Explicam os investigadores que o café, o cacau, as mangas e as melancias, todas altamente dependentes de insetos polinizadores, “são vitais tanto para as economias locais como para o comércio global e a sua redução poem causar o aumento da insegurança dos rendimentos para milhões de pequenos agricultores” nas regiões mais afetadas.
“À medida que os insetos diminuem, por não serem capazes de tolerar a interação dos efeitos das alterações climáticas e o uso do solo, o mesmo acontecerá às culturas que dependem deles como polinizadores”, acautela Millard.
“Os nossos estudos destacam a necessidade urgente de se agir globalmente para mitigar as alterações climáticas, a par de esforços para desacelerar as mudanças no uso dos solos e para proteger habitats naturais para evitar prejudicar os insetos polinizadores”, refere.