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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A dor de ver sua geração morrer


                                                                                          Adriano Vizoni/Folhapress


Aguardo o momento da minha vida em que vou lidar tão bem com a velhice como Fernanda Montenegro. Ainda tenho 20 anos, mas vez e outra me remexo e me inquieto com a passagem dos anos e os efeitos que eles deixam sobre mim. Não que eu ache a passagem do tempo algo extremamente negativo, não é isso, mas eu não consigo lidar com os aspectos ruins que a passagem dos anos traz. E não é tristeza pelo corpo que muda nem pela vida que não é vivida, mas é aquela sensação de lutar sempre para ser o melhor, para se chegar "naquele" lugar que específico - que eu não sei bem qual é -. No final das contas, vamos vivendo e passando os anos com qual objetivo? Estudar e se matar de trabalhar pra se chegar no topo? É só isso mesmo? Não tem mais nada? Eu não sei, mas ainda me encontro naquela fase da vida em que só me resta o sacrifício e o esforço, nada de colher os bons frutos, por enquanto. 

Lidar com a velhice é tão difícil para mim, que mal consigo formular coerentemente um texto sobre como eu me sinto em relação a isso. Mas me incomoda ver que nada é como era há alguns anos atrás. As coisas mudaram para melhor, eu sei, mas...é aquela inquietação de se perceber fora do controle do que ocorre comigo e com o mundo. Hoje, aos 20, tenho uma saudade incontrolável dos últimos anos de escola e das amigas que eu poderia ver todos os dias. Estou em outra situação, claro. Ainda tenho as amigas - não posso vê-las todo dia, infelizmente -, estudo uma área escolhida por mim e já tenho um amor pra chamar de meu - e tudo isso é o que eu mais queria na época dos 17. Mas hoje, dá aquela saudade e aquela dificuldade em deixar o passado para trás. Acho que é como se fossemos feitos de camadas que vão se perdendo com o passar do tempo. Como se trocássemos de muda em cada ano que se passa. Acredito que, em mim, as mudas vão ficando aos poucos, não se soltando completamente, e vez ou outra se juntam às novas e me fazem tropeçar, só com o objetivo de afirmar que um pouco delas ainda está ali.

De um jeito ou de outro, eu não tenho solução a não ser me aquietar com tudo. Vou vivendo enquanto posso e como posso, e espero encontrar a serenidade e a tranquilidade de Fernanda Montenegro com o passar dos anos. Espero estar pronta para os tropeços e rasteiras que levarei daqui pra frente. Inclusive o de ver minha geração morrer.

sábado, 20 de outubro de 2012

Beleza que se põe à mesa

Manchete de Ontem: Usuário de drogas, ex-modelo vai parar nas ruas em Curitiba
  


Eu já tinha escrito um post inteiro aqui falando sobre o Facebook estar substituindo o sexo na vida das pessoas. Mas esse vai ficar pra daqui a duas semanas porque eu vou TER que falar do mendigo de Curitiba.

Não por o cara ser supostamente bonito, ou por ser chato, ou por ser viciado, mas por causa da comoção das pessoas em torno disso.

Gente, por favor, não me entendam mal. Não acho errado as pessoas se impressionarem com a situação do rapaz e ficarem chocadas. A parte ridícula da história é que a preocupação e comoção toda se dá apenas por o cara ser bonito. SÓ POR ISSO.

Vem cá, quantos usuários de crack há nas ruas de SP? Ou de Curitiba, ou do RJ? Enfim, é muita gente, não? E alguém posta foto dessas pessoas no facebook? Diz “AH, ESSE EU LEVO PRA CASA”; “OH MENDIGO GATO” e coisas do tipo? Não né?

Pois é. A tristeza é que pra grande parte da população essas pessoas são invisíveis. É como se elas não existissem, como se não estivessem lá. Só aqui na região do MASP tem dezenas de mendigos “fixos”, que estão sempre por aqui e ninguém olha por eles, sejam ou não usuários de drogas. Não há comoção, é uma coisa comum.

Como uma pessoa vivendo paralela à sociedade, ignorada pelo poder público pode ser comum? Que realidade é essa em que um cara merece ser curado só porque ele é bonito? E todos os outros, que não são bonitos, não merecem ser reintegrados à sociedade?

Sinceramente, é decepcionante observar o nível de superficialidade a que chega o ser humano. Uma vida merece ser salva simplesmente porque a pessoa é esteticamente aceitável.

Parece que nem todo mundo sabe (¬¬) mas essas pessoas NÃO TÊM O QUE COMER. Elas não têm um teto sobre suas cabeças na hora da chuva, elas não têm um chuveiro quente para tomar seu banho diariamente, não têm uma TV para assistir ao final de Avenida Brasil e muito menos um iPad para jogar Angry Birds. E, não, a maioria delas também não tem aquilo que é mais valorizado na sociedade hoje: a beleza estética. 

E agora todo mundo se choca. Agora todo mundo se impressiona com o que o crack pode fazer. Sério, sociedade? Ninguém tinha mesmo consciência do tamanho do problema? É isso mesmo? Tá escancarado na nossa frente, para todo mundo ver: o crack vicia, zumbifica e mata. As pessoas dificilmente conseguem se salvar ao entrar para esse mundo. E não, amiguinho, não é só gente pobre e feia que cai nesse mundo. Gente bonita, saudável e de boa família, vejam que coisa, também se envolve com drogas. 

Não é só quem nasce na favela que usa crack, sabem? É um problema universal, que atinge qualquer um que, consciente ou inconscientemente se deixe envolver.

Não é errado querer salvar o mendigo de Curitiba. Essa é, afinal, a atitude correta. Mas, mais correto ainda seria tentar salvar TODAS essas pessoas, não apenas as que tem potencial para serem capas de revistas. 




sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Gosto, não gosto

Manchete de ontem: Com foto no Twitter, Obama responde às críticas de Clint Eastwood

Já ouvi dizer que opinião política é muito mais emocional que racional. Estou muito longe de entender de política e por esse motivo não gosto de falar sobre o tema. Por isso estou aqui apenas para falar de um cara que acho super legal. Gosto de Obama. Não sei se é porque ele tem carisma ou porque gosto do jeito que ele lida com as coisas. Pode ser que, na verdade, tudo o que eu goste nele tenha sido totalmente inventado por sua grande equipe de assessores. Gostava de Obama na época do "Yes, we can" e gosto dele hoje tentando a reeleição. 

E já que estou falando sobre gostar de pessoas, também gosto de Clint Eastwood. Gosto de seus filmes, gosto de algumas de suas ideias, mas definitivamente antipatizo com o fato de ele defender os republicanos.  Gosto de liberdade de expressão e acho que todos devem ter o direito de falar o que pensam. Gosto quando as pessoas expressam sua opinião a seu modo, e gosto quando alguém responde a críticas desse jeito:



quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Gildão e sua sabedoria sobre chifres



Traição é coisa séria, dolorida e cada um tem sua fórmula para lidar com ela. Para dar uma abstraída, lendo isto ai em cima, me lembrei de um fato que aconteceu comigo há muito, muito tempo atrás. Tive uma professora de História chamada Gilda, “Gildão” para os alunos. Dava aula nos três períodos, todos os dias, fumava muito e tinha aquela voz grossa pigarrenta sabe? Ela era uma figuraça, querida pelos alunos. Me lembrei do seguinte episódio: A Ana e o João, namorados à época e acho que hoje casados, faziam todos os trabalhos em grupo. Lembro que a data de entrega de um trabalho da Gildão era na primeira aula de um dia qualquer. Como ela ficava a manhã toda na escola, lembro da Ana ir lá na frente pedir para entregar o trabalho na última aula, já que por algum motivo eles não tinham feito o trabalho e, afinal, ela estaria por lá, não é mesmo? (obs – a Ana era o bicho-alfa da relação). Isto era antes das 7 da matina. Gildão chamou o João lá na frente e falou no seu tom de voz característico, pigarreando entre as palavras: “perdoar este trabalho é igual perdoar um chifre: se você perdoa, você sempre será chifrado”. Sei que é sem graça, mas sempre me lembro disso. E lembro também que na hora todos rimos muito...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Indicação de leitura

Manchete de Ontem: Blogueira de Nove anos caça fio de cabelo na comida da escola.

Estou completamente viciada no blog acima. Super tecnológico, assuntos supimpas, cheio dos frique-friques? Não. Apenas o blog de uma menina de NOVE anos que teve a brilhante e simples ideia de tirar fotos de seu almoço na escola onde estuda na Escócia para mostrar para seu pai o porquê de chegar em casa ‘as vezes com fome. Ou talvez menos que isso: se você começar a ler a coisa do início (que foi em abril/maio de 2012) você verá que ela apenas queria escrever sobre algo que era importante para ela no seu dia-a-dia.
O blog já teve mais de 3 milhões de acessos. Quando percebeu que poderia usar estes acessos para tentar algo maior (creio que seu pai deve ter sido o responsável pela operacionalização da ideia), decidiu se juntar a uma instituição sem fins lucrativos para ajudar crianças pobres do Malawi a terem o que comer na escola ou, quiçá, construir cozinhas nestas escolas. Almejava juntar £7.000. Já tem quase £80.000.
Em pouco tempo, crianças e adultos de outros países passaram a enviar o que comiam de almoço em suas escolas e faculdades. Seu pai aproveitou a chance de estudar um pouco mais e pediu que ela procurasse em um globo onde cada país ficava, e ela contava os segundos até encontrá-lo. Muito fofo ler suas descobertas, seu desenvolvimento, seu projeto. Enxergar o mundo sob a visão de uma criança de nove anos. Que, em razão do sucesso de sua simples ideia e de fotos não tão apetitosas de suas refeições, teve que cancelar o projeto por ordens superiores. Todos chiaram, os leitores, Jamie Oliver (o carinha mala que cozinha na tv), a imprensa. Menos de um dia depois ela estava de volta...
O todo é interessante. A simplicidade da ideia, os textos escritos, as fotos. A inocência. E triste também, já que certas comidas ali não deveriam ser servidas a ninguém, muito menos a crianças em desenvolvimento. Penso o que ocorreria no Brasil se fizéssemos algo parecido com a alimentação de nossas escolas públicas. E temo pelo resultado que obteríamos...
Fica a dica então do blog “ Never Seconds” (descobri que “never seconds” é devido ao fato de que as crianças não podem repetir o prato de comida, devido a preocupação com a obesidade crescente. Você não pode ter um segundo prato...) Quando você quiser algo leve, inspirador e, vá lá, ‘as vezes incômodo, sugiro a leitura. E peço que você se junte a mim para pensar no que colocaríamos de foto no blog caso enviássemos o que nossas crianças comem nas nossas super escolas...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um minuto de sensatez.


Muita gente talvez não vai compartilhar da mesma opinião que eu mas digo com toda convicção: o currículo escolar brasileiro é uma papagaiada.
Não me assusto quando me pedem para que corrija um texto, quando leio redações de colegas da faculdade e percebo o quanto não sabem expressar suas ideias num papel, quando saio pelas ruas e leio "concertos" e "consertos" usados de forma equivocada...

Sinto muito, mas acho que esse negócio de enfiar tudo quanto é matéria no currículo uma palhaçada. Desde o ensino fundamental até o ensino médio. O currículo deve ter menos matérias para se ter mais tempo de aprendê-las. Um bom português, uma boa matemática, uma boa ciência.

E lá vai sobrar tempo para um bom português quando se tem um monte de matérias no currículo?

Eu já sou contra de química e física para todo mundo (eu nunca usei nada dessas matérias em toda a minha vida - sou advogada e caso precise saber algo que esteja nesse contexto é necessário, de toda forma, um perito, ainda que eu entenda e saiba resolver um problema que venha a surgir, por exemplo).

Eu nem vou falar nada do ensino público porque não preciso falar nada. É só dar uma olhada na escola pública perto da sua casa. E percebendo o nível dos alunos da rede pública, acho que essa iniciativa é uma iniciativa válida. Mercadante, em um minuto de sensatez, constatou: "É uma sobrecarga muito grande. Não contribui para formar melhor o aluno." Ora, são 13 matérias.

É como se fizesse uma lista de "ah, o aluno tem que saber isso, aquilo, isto daqui também" e pronto. Jogar o conteúdo em cima e seguir em frente... Porém, a educação não é isso. Como você vai dar 13 matérias se os estudantes mal estão sabendo o português e a matemática?

Encher um currículo é hipocrisia. 
Esvaziá-lo é sensato.

Primeiro o básico, depois a gente vai vendo o resto.



quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sobre a educação dos filhos & religião

Conheça as razões mais comuns para o divórcio, segundo advogados

A reportagem aponta quais são os principais motivos que levam ao divórcio. Entre traições, inclusive virtuais, pontua também as divergências na escolha do modo de criar os filhos como um dentre os motivos que mais ensejam o fim do casamento.

Rumores indicam que o fim da união entre Tom Cruise e Katie Holmes, por exemplo, foi motivado por Katie ser contra a iniciação da filha, Suri, na Cientologia, que é a religião seguida pelo ator.

Quando eu li isso, me veio uma vontade imensa de discutir sobre o assunto, porque eu tenho uma opinião que muitas vezes é encarada com polêmica.

Na minha humilde mas formada opinião, acredito que os filhos devem ser criados para ser bons cidadãos. Nada mais. E esses bons cidadãos não devem ser assim coagidos por medo de algum deus que os castigue, ou por princípios fundamentados em religiões e filosofias diversas. Devem ser bons cidadãos por assim é que todo ser humano deve se portar. É um dever, inerente a conduta humana.

Ora, o ser humano deve ser educado para ser bom. Para não infringir leis. Para ser honesto. Para ter consciência da sua cidadania. E fim de papo.

Crianças não devem ser levadas para escolas religiosas, por exemplo. Porque isso pode criar um conflito terrível quando adultas (eu passei por isso). Crianças devem ser educadas no que eu chamo de "conceito branco".

O conceito branco é um espaço de aprendizagem meramente social, em que a criança aprende a ser gente, digamos assim, sem se revestir de dogmas e crenças. As crianças devem aprender a ser corretas. Crescendo (ou ainda pequenos) e tomando consciência do mundo e do seu eu (ou mesmo sem tomar), elas que decidam, COM LIBERDADE, que crença seguir. Sem conflitos. 

A educação é a educação. A religião é a religião. Não deveriam se misturar.

E se esse foi o motivo que fez Kate se separar de Tom, fez bem.

Por fim, para os que estejam pensando que isso é uma afronta à evangelização praticada pela minha religião (católica), eu discordo. Eu só sou a favor da liberdade de crença. E da educação como um desmembramento da laicidade. Nada mais.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Daqui a quatro bilhões de anos...




Tanto faz o que vai acontecer daqui a quatro bilhões de anos. Não vai ter mais sinal de gente... Os meus problemas não vão mais existir, nem quem me irrita hoje, por exemplo.

De qualquer forma, os homens precisam trabalhar, a Nasa precisa de uma ocupação... E quando não se pode controlar o presente, deve ser divertidinho palpitar sobre o futuro.

Falar sobre algo, opinar, é sempre mais fácil do que agir a respeito.

terça-feira, 22 de maio de 2012

59% de seu tempo e todo seu crédito

Manchetes de Ontem:
Brasileiro precisa trabalhar 150 dias para pagar impostos em 2012
Governo reduz IPI de carros e tributo sobre operações de crédito
Dilma Rousseff defende redução de juros e taxas cobradas pelos bancos
BB reduz juros em até 52%
Dólar bate R$ 2,00 e Mantega diz que não irá intervir no câmbio

Esses dias nossa presidenta (se o protocolo da PR que é presidenta, ok, eu desisto) disse que estamos preparados para combater a crise mundial. Desde uns meses atrás, surgiram uma série de movimentos do próprio Governo Federal, usando inclusive seu forte braço financeiro (BACEN, BB e CEF) para reduzir as taxas de juros e desvalorizar o Real frente ao Dólar.

A redução do tal "spread bancário" é bem vinda, mas há algo preocupante nisso tudo: nota-se que não há, na verdade, uma preocupação com a saúde financeira do brasileiro, apenas um interesse em ampliar sua capacidade de endividamento: reduz-se o juros para que possamos dever mais. 

A questão de bilhões de dólares é: ao estimular o brasileiro a comprar mais endividando-se mais, estamos realmente combatendo a crise, ou apenas postergando sua chegada? 

O que ocorrerá quando o crédito novamente acabar, seja porque os brasileiros não mais conseguirão honrar suas dívidas, ou porque não terão mais limite de crédito junto aos bancos? 

Aparentemente nos esquecemos que uma das razões que levou à crise países como os Estados Unidos, foi justamente o endividamento de sua população. Também nos esquecemos de outros fatores que prejudicam a competitividade da indústria brasileira, e que também provocam a evasão de capital, seja através de viagens ou mesmo importações. Temos uma indústria que muitas vezes encontra dificuldades em tornar-se competitiva seja por falta de mão-de-obra de qualidade (que apenas seria suprida com uma política educacional decente), seja pela carga tributária proibitiva (150 dias de trabalho para impostos, num total de 252 dias úteis esse ano),  ou ainda pela falta de infraestrutura para escoamento de produção.

Infraestrutura! Ah, a infraestrutura... Vou ignorar que temos uma Copa do Mundo e Olimpíadas no horizonte próximo, e vou me ater apenas a um pequeno problema: onde nosso governo espera que os mais de 3,545 milhões de veículos previstos para serem comercializados em 2012 circulem? Sequer temos malha viária para comportar tudo isso. 

Sobre o dólar, novamente, ao invés de medidas para aumentar a competitividade nacional, desonerando pequenos e médios empresários, ou mesmo capacitando profissionais, a estratégia é forçar o outro lado (que é simplesmente o resto do mundo) a parecer excessivamente caro, desvantajoso. Nota-se um governo que, para não colocar a mão no seu próprio bolso, a coloca no bolso alheio - o do consumidor de produtos importados. Sequer falarei da Poupança e seu gatilho para conter rendimentos (como se ela já rendesse grandes coisas).

Resumindo: o governo propõe que você se endivide, seja onerado por comprar qualquer coisa não-brasileira e trabalhe 59% de seu tempo para lhe pagar impostos. Essa é a receita mágica de um país sem crise.

Às nossas custas, diz o governo, estamos preparados para a crise mundial.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Quando uma sacolinha vira um saco


Olá, pessoas! Hoje eu tive um dia tenebroso e não escrevi meu post... Mas vocês não vão sentir minha falta, porque a Karina, que já colaborou conosco anteriormente, escreveu um post hiper bacana, que além de ser uma delícia de leitura, expressa a opinião de muita gente! Confiram  o blog Coca-Cola Quente e leiam mais textos da Karina! =)

Manchete de Ontem: 90% dos mercados deixaram de distribuir sacolinhas

Quem mora em São Paulo tem vários bônus, todos com seus ônus agregados. Ok, o trânsito aqui é caótico, não é a cidade mais segura do mundo, choveu a coisa destrambelha de vez. Não sei se com isso em mente ou não, foi decidido então que aqui os supermercados não mais distribuiriam sacolas plásticas aos consumidores, começando neste ano de 2012. Bônus para a natureza e meio ambiente ou ônus para os consumidores?

Eu não sei vocês, mas aquelas sacolinhas, para mim, tinham 1001 utilidades. Quando viajo, embalo as calçolas e sapatos nos saquinhos, levo extras para roupas usadas. Uso para o lixo da cozinha e banheiro. Embalo roupas que doo todo inverno e verão. Qualquer coisa a ser carregada é colocada em um saquinho. Tempo verbal errado. Usava, era, embalava. A natureza agradece? Não tenho ideia, porque agora tenho que comprar os saquinhos para fazer as mesmas coisas. Quem ganha com isso? Por enquanto imagino que os fabricantes ne?

Se eu tenho consciência ecológica? Super tenho, tanto que reciclo meu lixo, guardo o óleo usado e doo, compro alimentos e roupas ecologicamente corretas. Nunca plantei uma árvore, mas nunca arranquei uma também. Sei que o mundo produz menos do que o consumo atual exige. Ok, não sou uma anta numa bolha. Mas me reservo também o direito de ficar puta da vida ao ver saquinhos e isopor em quase todas as embalagens, a notar que caixas e mais caixas de papelão estão sendo usadas para transporte de mercadorias (até onde eu chequei elas ainda são feitas de árvore), ao verificar que os clientes tiveram esta “escolha” socada goela abaixo. Perguntem por favor... aliás, perguntaram, e 93% das pessoas são contra esta extinção das sacolas.

Garanto que se tivesse sido feita uma pesquisa antes, teria sido abortada a missão. E para aqueles que dizem que é se acostumar, sugiro que eles assumam esta posição de seres mais evoluídos que são e nos deixem, míseros seres inferiores, quietos em nosso canto. E não nos obriguem a fazer algo que, no fundo, é menos do que a ponta de um iceberg...Este é o primeiro passo,a natureza agradece,o planeta não aguentará...tudo argumento válido, mas que perde a força para mim quando uma simples sacolinha vira... um saco.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Quando o bairrismo vem antes da educação.



Não raro, notícias sobre o Acre são comentadas da seguinte forma “O Acre não existe”, "O Acre não é importante", “O Brasil deveria ter deixado o Acre para a Bolívia”, blá blá blá. Sendo uma discussão sobre Índios no Acre, aí que o pensamento pré histórico reina: “Os Índios são todos preguiçosos que vivem as custas do governo e o Acre não serve para nada”... Pra que informação, né minha gente? O legal é manter o nível de ignorância no master e tocar o barco da maneira mais tosca possível.

Enfim, o Acre existe e se você ainda acha engraçado fazer piadas sobre a existência dele, por favor, me poupe. Aliás, qualquer piada sobre outros estados, principalmente aqueles que não aparecem semanalmente no jornal nacional, ou qualquer referência a superioridade de determinada cultura regional, me matam de tédio. 

Sei lá qual é a dessa galera superior, mas gostaria muito que eles fizessem um ritual pedindo aos deuses da geografia que separassem o Brasil em dois, e cortassem os pulsos para oferecer seu sangue em sacrifício.

Ops, desculpa, fui bruta? É isso que mais odeio no bairrismo que beira a xenofobia, eu fico tosca, quase tão tosca quanto as pessoas bairristas mais toscas que conheço. São muitas coisas ao longo de uma vida, mais do que gosto de lembrar. Não vou citar os estados, mas o fato é que o progresso econômico que chegou no lugar onde certas pessoas moram, não teve o poder de abrir a cabecinha de muita gente.

A ignorância não é curada com a tecnologia, o bom senso não vem com o desenvolvimento econômico, e principalmente, a empatia, não brota com o consumo de produtos de elite. Aí que fico pensando... Se os caras estão no topo, e são baixos e toscos dessa forma, o que seria deles se estivessem no térreo?

Todo meu amor as pessoas que sabem ser educadas e agradáveis, mesmo residindo nos estados que se acham a elite... Mas, do fundo do meu coração, eu viveria bem em um país constituído só com a “ralé” dos estados brasileiros.  

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Holograma em turnê

Hoje o post é de uma convidada do blog, a Balbie Madeleine. Confiram outros textos dela no blog Escárnios diáfanos, idiossincrasia nebulosa.

Manchete de Ontem: Holograma do rapper Tupac Shakur pode fazer turnê.

Esqueça Tupac. Esqueça o rap. Imagine que você está assistindo ao festival de Coachella e, de repente, cantando com um cantor que você gosta, aparece um holograma de outro artista que você também gosta que morreu há quase dezesseis anos. Ao me imaginar nessa situação eu fiquei um pouco desconfortável.

A tecnologia pode ser um fator que causa desconforto em alguns, talvez por ter alguma relação com o medo de que o mundo seja dominado pela inteligência artificial das máquinas e coisas do tipo.

O arrepio na espinha por ver uma pessoa morta cantando e dançando em 3D também é um pouco assustador e por mais cético que você seja, é muito estranho ver uma animação muito real das performances de um “fantasma”. No meu caso, pensei em minha reação a ver alguém como Kurt Cobain numa performance no palco e acho que a sensação seria bem mais assustadora que agradável.

Mas ao refletir bem, concluí que o que me deixou mais incomodada com esse holograma, que pode até sair em turnê, não é nenhum dos motivos acima. Sempre tenho a sensação de que estamos vivendo na era das repetições. Hollywood exaure filmes com seus incansáveis remakes e sequências desnecessárias. Contam e recontam histórias, fazem reboot de franquias e as pessoas continuam comprando, acompanhando e prestigiando essa “criatividade” cíclica. A cultura pop de hoje é muito mais feita de coisas muito parecidas umas com as outras do que me recordo de qualquer época no passado. Música, TV, cinema: tudo parece muito mais “tudo igual” do que antes.

Parece que quando tudo ficou mais acessível, esse tudo está virando uma coisa só e, no mínimo, “ressuscitar” cantores mortos em shows seria uma concorrência desleal com tudo isso que existe por aí.

Não que não exista mais criatividade ou que as pessoas não sejam mais criativas. Existem milhões de coisas incríveis sendo inventadas e algumas são surpreendentes. O que acho que talvez esteja acontecendo é que as ideias novas estejam tendo muita dificuldade de entrar num mundo sufocado por essa repetição. É como querer plantar uma semente frágil num campo tomado por ervas daninhas que se fortificam a cada dia.

E eu adoro o passado. Sou extremamente saudosista por eras que nunca vivi. Escuto músicas antigas, leio livros antigos e assisto a filmes antigos. Mas acho que essa história do holograma incomoda muito porque talvez seja um sintoma de que esse loop de cultura está bizarro demais. E se um cadáver pode competir diretamente com artistas atuais e talvez até ganhar, algum problema existe.  

domingo, 30 de outubro de 2011

Por favor, eu quero entrevistar o morto

Falta de preparo e entrevista com o morto



 QUANDO O ERRO É COMO A MORTE, INEVITÁVEL:

Imagine a seguinte hipótese: o colega de trabalho almejando o cargo da entrevistadora de mortos diz a ela no horário do cafezinho: colega, quando for atrás da cobertura daquela matéria, tente de todas as formas o mais importante: entrevistar o compositor da ópera mais famosa do Brasil do século 19. Ok, ao pedir para a assessora de imprensa que agende a entrevista, lhe é sugerido uma entrevista com o secretário de cultura, então a repórter fica irada, pensa que estão dificultando seu trabalho e volta para reclamar para o chefe... 

Essa história de não se informar antes de começar uma reportagem não pode, principalmente quando é uma entrevista com algum espírito aí, não se pode tratar uma entrevista com um espírito culto como se tivesse a importância de uma brincadeira do copo, repórter pecadora.

Uma historinha engraçada sobre isso: dizem que no RS um jornal de grande circulação da década de 80 pedia aos focas* uma matéria sobre a safra de SAGU, quase nenhum saiu ileso dessa.

É... gafes no jornalismo são coisas rotineiras, mas acho que quando a pessoa vai ter coragem de anexar seu nome ao conteúdo de uma reportagem, o mínimo que se deve fazer é pesquisar sobre o assunto desta. Quem vai só com a cara e a coragem trabalhar, corre o risco de ir na cara de pau e voltar ruborizadíssimo.


MAS TEM ERROS QUE SE APARENTAM TANTO COM O SUICÍDIO, NÃO É?





*É chamado de foca todo o jornalista em início de carreira e ainda inexperiente.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pirataria e Cultura


O Brasil é um mundo à parte, com tributos que inviabilizam a indústria legal, além de nossa já consagrada "Lei de Gérson". Ao mesmo tempo, temos uma produção cultural tímida e pouco valorizada. O descaso com o trabalho intelectual aliado a fatores culturais e uma legislação ineficiente, nos tornam um paraíso para a violação da propriedade intelectual, independente do mercado (musical, cinematográfico ou de softwares). "Tropa de Elite 2" precisou de um cerco cheio de malabarismos para que os "Gersinhos" à solta não causassem prejuízo aos participantes da produção.

Minha visão é simples: pirataria nada mais é que o famoso "fazer graça com o chapéu dos outros". Existem várias correntes pró-pirataria: os que se dizem adeptos do livre compartilhamento do conhecimento e cultura são alguns deles. Você pode defender o livre compartilhamento da cultura e conhecimento, desde que seja o conhecimento e cultura produzidos por você! Há quem reclame que os George Lucas e James Cameron da vida ganham demais. Eles ganham porque produzem! 

Da mesma forma que um advogado cobra por um parecer ou defensoria jurídica, é justo que um roteirista, compositor, distribuidora, editora e estúdio recebam por suas obras de êxito, na mesma proporção em que são apreciadas pelo público. É o mesmo princípio que garante a fortuna da Coca-Cola.

Há quem reclame de campanhas do governo ligando pirataria ao crime organizado, como Jhessica Reia. Conforme demonstrado na central descoberta em Engenho Rainha, onde houve troca de tiros e o local pertencia a um traficante, existe essa ligação. Sobretudo no mercado de pirataria dos ambulantes e bancas montadas em feiras. A ligação não existe para os piratas domésticos, que "apenas" arrombam o intelecto alheio no conforto de seus lares.

O mercado fonográfico foi o primeiro afetado, e hoje mais do que nunca mira nos Justin Bibiers e Beyoncès da vida, pois ao menos conseguem lotar num show e reverter parte do prejuízo. O problema é que filmes não fazem shows, e não dá pra cobrar R$400,00 por um ingresso de cinema. Fica a pergunta: num mundo capitalista onde todos trabalham por dinheiro, investem por retorno, e usam dinheiro para pagar as contas, por quanto tempo você acha que os bons artistas irão lhe entreter de graça? Quanto tempo o cinema sobreviveria sem os investidores, que bancam produções multi milionárias pensando nas bilheterias e vendas? O melhor é procurar outro emprego e outro investimento.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mortes de crianças em escola no Realengo

Manchete de Ontem: Ex-aluno mata 12 estudantes, na pior tragédia em escolas do país.

A escolha da notícia não podia ser mais óbvia, claro.

Mas como falar em outro assunto? Teve outro tremor no Japão gerando mais vazamento nas usinas, a deputadada Jaqueline Roriz passa mal (mas não o bastante para um infarto), tem gente desde quinta acampado para o show do U2... muitas coisas acontecendo, mas, por agora, o que nos importa tanto, nós, brasileiros?

Esse rapaz entrou lá e matou essas crianças, agora fala-se em segurança e  etc., alguém ou alguma coisa terá que ser culpado. Mas o que acontece é que ele era conhecido, o que acontece é que ele conversou com professoras, o que acontece é que ninguém espera por algo assim. 

No pior estilo de Criminal Mind, todos querem desvendar os motivos, sondar a mente do assassino, querem decifrar na escrita de sua assinatura os motivos que o levaram a isso. Já apostam em bullyng, que hoje é coringa para tudo. Alguns falam em Islamismo, ignorando completamente a citação de "Jesus" na carta. Outros aproveitam para vender. Assim que a notícia saiu ontem, por exemplo, podia-se comprar, na página principal da Livraria da Folha, um exemplar do livro 501 crimes mas notórios do mundo. Ontem o Datena nem precisou falar no engarrafamento em São Paulo. Ontem os jornais principais do país colocam a foto do assassino morto na escada. A troco de que?

Nem eu, e possivelmente você, podemos dimensionar o que foi aquilo. O que tentamos fazer é ter  solidariedade na dor dos outros. A mídia não parece seguir muito por esse caminho: noticia e noticia sem dados, ontem o número de mortos aumentavam e subiam em um mesmo texto (9 mortos, 12, 15..). Falam o que ainda não sabem, banalizam a notícia, o horror e a dor de quem está passando por essas perdas. 

Saber os motivos que levaram o assassino a ter essa atitude talvez conforte as famílias, não sei. Mas sei que é papel da polícia investigar e não a mídia ficar fazendo essa espécie de bolão levando até médicos a falar sobre a possível psicopatia aliada ao extremismo religioso. Sem dados, o que é isso senão chutomêtro especializado?

terça-feira, 15 de março de 2011

A prática faz o monge


Uma religião, um líder religioso ou um fiel qualquer só ganham o meu respeito quando eles praticam e vivem aquilo que pregam. Do contrário - e isso é uma conclusão bastante óbvia - trata-se de mera hipocrisia.

Ao contrário do que muitos pensam, o fato de eu trabalhar com a psicanálise (teoria científica formulada pelo judeu-ateu Sigmund Freud) não me faz ter nenhuma concepção a priori ou preconceituosa sobre religiões/pessoas religiosas. À parte o fato das experiências religiosas de uma pessoa dizerem muito sobre sua constituição psíquica, eu tenho um interesse muito pessoal pela relação entre as religiões e as culturas que as envolvem, geram e são geradas por elas. Leio tudo o que posso e o que cai na minha mão sobre qualquer religião que seja, desde as brochuras distribuídas pelos Testemunhas de Jeová até os manuais das bruxinhas-adolescentes-pseudo-neopagãs-wiccanas-de-internet, passando por livros evangélicos, católicos-apostólicos-romanos, espíritas e chegando até às religiões africanas, indígenas e orientais.

Evidentemente, no meio de toda essa "salada mística" (embora meu interesse por religião seja cultural e antropológico), tenho as minhas preferências e afinidades. Dentre essas constam as religiões orientais e, dentre elas, o budismo em particular. Sou extremamente simpático ao budismo, notadamente a linhagem zen e a tibetana - que está em questão na manchete que inspirou este post.

O budismo tem um conceito muito interessante chamado "caminho do meio". Trocando em miúdos, trata-se de uma postura existencial de tentar evitar, sempre que possível, a radicalidade cega e alienante dos extremos. Outro conceito budista bastante difundido - e auto-explicativo - é o desapego.

Pois bem, comecei meu texto falando que admiro religiosos que vivem na prática aquilo que pregam na teoria/doutrina. São desses, a meu ver, que vêm os melhores exemplos: Gandhi, Chico Xavier, Francisco de Assis e Madre Teresa de Calcutá, só para citar alguns. Na minha perspectiva, o Dalai-lama já merecia estar nessa lista antes mesmo desse desligamento. Quem conhece sua história ou assistiu ao filme "Sete anos no Tibet", com o Brad Pitt, sabe da postura gandhiana de não-violência que ele tem adotado desde a ocupação chinesa no Tibete. Agora, depois de ter lido essa notícia, meu respeito por esse grande líder só se fez aumentar. Muitas vezes, romper o grilhão - quase sempre pesado - de tradições culturais/religiosas é o que melhor pode ser feito para preservar a própria tradição que se está defendendo. No entanto, tal atitude exige precisamente coragem, renúncia, bom senso e equilíbrio. Se isso não pode ser chamado de "caminho do meio" e "desapego", sinceramente eu não sei mais o que pode.

terça-feira, 1 de março de 2011

Correndo atrás do leite derramado


Para falar sobre essa notícia, o grande desafio é resistir ao impulso de chamar esse povo todo de louco. Não é nenhuma reserva moral ou inabilidade diagnóstica que justifica essa resistência. Ela é necessária pelo simples fato de ser fácil demais. Não generalizo, mas tenho a inclinação de desconfiar de tudo o que é fácil assim.

Neste caso específico, creio que minha inclinação se justifica. Rotulá-los de loucos (independentemente de o serem ou não) é uma atitude cômoda. Tudo aquilo que sai dos limitados e limitantes padrões sociais vigentes é taxado de loucura/anormalidade. Isso ajuda a nós, os ditos normais, a sentirmo-nos mais seguros. Traçamos uma linha imaginária entre a nossa suposta normalidade e a loucura (sempre dos outros). Assim nos sentimos bem e seguimos enlouquecendo "calmamente, viciosamente sem prazer", como diz o Lobão na música "Essa Noite Não". Além disso, rotular do que quer que seja qualquer uma das múltiplas possibilidades do funcionamento mental humano é simplesmente fechar as portas para uma compreensão mais profunda sobre nós mesmos.

Portanto, é preciso ir mais além. É preciso analisar (mesmo que rápida e superficialmente, como é o caso deste texto) as nuances, sutilezas e singularidades de cada situação. Diante da notícia que temos em pauta, penso que é possível engendrarmos duas perspectivas de análise: (1) o lado das mulheres que, nas palavras da matéria, se submeteram à "ordenha" e (2) o lado dos consumidores do referido produto. Proponho, aqui, pensar um pouquinho nos consumidores do tal sorvete. Teríamos um terceiro lado, a saber, a perspectiva de quem teve a ideia de produzir esse sorvete. Nesse caso, sim, acho que podemos simplificar e asseverar que as motivações financeiras (até mesmo em decorrência da publicidade, positiva ou negativa, em torno da exótica iguaria) explicam de modo relativamente satisfatório tal empreitada.

A psicanalista austríaca Melanie Klein (1882 - 1960), em seus estudos e casos clínicos, postulou que as primeiras experiências humanas de satisfação, frustração, saciação, privação, acolhimento e desamparo são as bases nas quais a personalidade de cada indivíduo se alicerçará. E, na maioria das vezes, essas (e outras) experiências primordiais, antes de serem atribuídas e vivenciadas como se fossem em relação à mãe (ou a quem exerce a função materna), são sentidas na relação com a amamentação e o seio materno. O ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre fundamentalmente em busca de uma suposta completude paradisíaca perfeita e perdida. Em outras palavras - pois sempre precisamos de outras palavras -, vivemos movidos pela tentativa incansável de preenchermos uma falta incurável, como bem falou, marcou e contornou o psicanalista francês Jacques Lacan (1901 - 1981).

Teria, portanto, a busca humana (desenfreada e inconsciente) pelo paraíso perdido algo a ver com tal sucesso de vendas? Estariam todos desesperadamente em busca do leite materno primordial, tentando saciar o desamparo irremediável ao qual todo ser humano está sujeito?

Evidentemente, este texto rápido, simples e superficial não pretende responder a essas questões, mas contenta-se perfeitamente em, por hora, realizar a tarefa de levantá-las.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Apologia ao crime ou realidade?



Não vivem falando por aí que o professor deve procurar meios de tornar a aula interessante para o aluno? Aproximar-se ao cotidiano do estudante? Pois então...
Tá, pode ser que o tema abordado nos problemas de matemática nem tenha sido assim tão próximo do cotidiano dos estudantes, tanto que, se fosse, não teria causado estranhamento/indignação nos pais de uma aluna.  Mas...
Minha tia é professora em uma escola na periferia hardcore de Campinas, SP. Ela dá aula para crianças, entre 8 e 12 anos, que em geral sonham em ser ladrões ou traficantes. Como estimulá-los a estudar? Além disso, a maioria dessas crianças já está habituada a lidar com a morte, com espancamentos, etc e tal. Uma criança de 8 anos contou, sem remorso, que tinha mostrado ao pai a mulher que o havia dedurado a polícia, o que resultou na morte da mulher, afinal “quem mandou ela se meter?”.
Essa é a realidade deles, e eu não culparia um professor que aplicasse testes chocantes, mas que atraíssem a atenção dos alunos. Pode ser que não seja o caso de Santos, pode ser que seja realmente um caso de apologia ao crime, mas não podemos ignorar o fato de que a criminalidade que assusta uma parte da população é uma realidade pra algumas crianças, e por isso já não é tão assustadora para elas.
Não quer dizer que atitudes como a do professor de Santos devem ser ignoradas, mas que é hipocrisia condená-las a primeira vista. Ao invés de ficar chocada com um professor que aplica provas com conteúdo “criminoso”, a sociedade devia se chocar com a realidade que impõe a determinadas crianças, que crescem na marginalidade, aprendendo que tráfico e violência são práticas normais.
Para encerrar, vou dividir a com vocês a historinha da aluninha que aprende desde cedo que quem ama bate/apanha (se você lê o No Lipstick, talvez já conheça):

C: - Não tem ninguém na sua casa?
N: - Tem sim, meu padrasto está em casa.
C: - Mas ele não trabalha?
N: - Ele está em casa porque minha mãe furou o olho dele com a tesoura.
C: - Mas o que ele fez pra sua mãe fazer isso?
N: - Ele cortou a perna dela com a faca.
C: - Mas se brigam tanto porque não separam?
N (com cara de sonhadora): - Ah tia, porque eles se amam!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Iguais, porém diferentes


Inspirado em: http://migre.me/3Si5i

Este post não falará exatamente do livro e da entrevista tratados no link acima. Quero aproveitar o tema em questão para abordar outro aspecto do mesmo.

Acredito que todo mundo alguma vez já falou ou pelo menos ouviu alguém falar a seguinte expressão: "Mulher é tudo igual!" ou "os homens são todos iguais!"

Será mesmo?

Decerto eu seria o último a negar peremptoriamente o fato de que cada gênero tem suas próprias características, comuns a todos os membros do seu respectivo sexo. A psicanálise nos ensina que realmente a constituição psíquica de cada sexo tem suas diferenças, peculiaridades e idiossincrasias. Portanto, sim, o universo masculino e o feminino têm, respectivamente, maneiras próprias (e diferentes em relação ao outro) de lidar com a vida, o amor e o sexo oposto.

Apesar da psicanálise corroborar - e eu admitir - esse fato empírico, o meu questionamento é: podemos generalizar SEMPRE e dizer que TODOS os homens ou TODAS as mulheres, sem exceção, são iguais?

Não sou dono da verdade e não pretendo que meu ponto de vista seja o único válido e aceito por todos, mas, na minha perspectiva, a resposta é "não". Não dá para generalizar desse jeito. Muitas vezes, tais afirmações são feitas por pessoas que sofreram alguma(s) decepção(ões) repetitiva(s) com o sexo oposto.

Da minha parte, acredito que generalizações radicais, rígidas e contundentes desse jeito são um equívoco. A despeito do conjunto de comportamentos estereotipados típicos a cada gênero, há que se levar em conta a singularidade de cada indivíduo. Singularidade essa intimamente relacionada à sua história de vida, suas experiências com os pais (ou com quem exerceu as funções parentais) e suas características inatas.

Portanto, quando surgir em nossa vida uma nova pessoa do sexo oposto, tentemos dar-lhe uma chance para que ela mostre a pessoa única, individual e intransferível que ela é; pensemos duas vezes antes de projetar nela todas as nossas experiências, frustrações, mágoas e decepções que tivemos com os outros exemplares da espécie.