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quinta-feira, 7 de março de 2013

A Esquerda, a Direita, e o que realmente importa

Manchete de Ontem: Morre Hugo Chávez
Manchete de Ontem: Yoani Sanchez enfrenta novos protestos na Bahia


Pessoas são realmente intrigantes.

Achei muito interessante os protestos contra Yoani Sanchéz, e como muita gente entrou no Facebook para falar sobre isso, como ela era uma traidora e quem discorda é desinformado sobre a realidade. Novamente, os ânimos na minha timeline se exacerbaram quando o venezuelano Hugo Chávez faleceu, conforme era de se prever. 

Acho particularmente curiosos os diversos casos de frequentadores de Tok&Stock, Outlet Premium, Dom Francisco e Saborella protestando com veemência e aparente convicção contra todos os porcos direitistas que supostamente estariam celebrando a morte de Chavéz, uma liderança carismática que graças às frágeis estruturas democráticas e maturidade política de seu país, conseguiu ser presidente por quatorze anos, e o seria por muito mais tempo se continuasse vivo. 

Particularmente, não torci contra ou a favor da vida do político. Não acredito em torcidas nesses casos, nem em termos de eficiência, ou por acreditar que o que representa um indivíduo morre com ele. Ideologias sobrevivem a "mártires", e muitas vezes se fortalecem após eles. É assim a séculos e séculos. 

Uma das coisas que nos separa dos macacos, é nossa capacidade gigantesca de criar rótulos. Gostamos de colocar pessoas em caixinhas, e esperar que elas fiquem sempre dentro delas. Quando alguém insiste em sair dessa caixinha, o imperativo coletivo insiste em colocá-lo dentro de outra caixa. 

Como se pessoas não pudessem circular livremente e inteligentemente entre correntes diversas de pensamento. Como se isso fosse um ato de rebeldia, e por si só, a fundação de uma nova corrente. Nós estabelecemos que o indivíduo não pode pensar individualmente ao observar o coletivo. Entendem o que quero dizer?

Aí chegamos a esse ponto: abraçamos uma ideologia teórica, e uma vida prática totalmente diferente. Nos tornamos hipócritas e recusamos a enxergar que, na verdade, existem acertos e erros por todos os lados. Nos recusamos a recusar as caixinhas, e padecemos com isso. Considero recriminável os discursos odiosos que enfrento cada vez que ouso discordar publicamente da obra política geral de Lula, apenas porque para mim a alegada "ruptura" que seus partidários (filiados ou não) afirmam ter existido, em minha opinião nunca existiu. Reconheço muitos acertos, mas não me nego a enxergar inúmeros erros, mesmo nos acertos.

Ao contrário do que muitos pensam, eu acredito no assistencialismo. Acredito de verdade. Sou favorável a cotas em universidades para egressos do ensino público, a programas como o Bolsa Família. Vejo no assistencialismo brasileiro, venezuelano, e mesmo americano (sim, existe por lá também) a melhor forma de amenizar imediatamente problemas sociais urgentes, muitas vezes crônicos. Entretanto, o assistencialismo sozinho não soluciona o problema ao longo dos anos. Assistencialismo não reduz curvas de aprendizagem, de inclusão social.

A sensibilidade, e não a postura ideológica, deveria levar todo ser humano a compreender a necessidade do assistencialismo. A inteligência, e não a postura ideológica, deveria nos levar a compreender que outras ações, como a mudança na forma de se pensar, gerir e fazer educação, política, saúde e infraestrutura nos libertaria a longo prazo de vários problemas sociais e econômicos.

Eu não consigo levar a sério pessoas que sempre tiveram "tudo" (não um lamborghini, mas educação, alimento, moradia e acesso a informação em geral), e não compreendem a necessidade de subsidiar o mínimo a quem é esmagado diariamente pela dinâmica do mercado, pela falta de oportunidades. 

Da mesma forma, não consigo levar a sério quem usufrui de todos os benefícios supérfluos e consumistas de uma economia livre, de um país democrático, que do alto de seus dispositivos Apple entram no Facebook para criticar a postura anti-governo uma ativista vinda de um país sem nenhum desses privilégios, ou para chamar qualquer um que não partilhe de sua visão romântica do Socialismo de "direitista".

Pessoas carecem de capacidade analítica. Seja para avaliar sua própria vivência, o histórico da humanidade, os resultados catastróficos de implementações práticas de teorias lindas, o que há de bom e útil em uma ou outra corrente de pensamento, e assim por diante. O que importa é brigar e até morrer por um núcleo sólido e falido decidimos num momento abraçar sem analisar todas as suas nuances, todas as suas implicações.

Enquanto prevalecermos assim, pode morrer Che Guevara, Chávez, Allende, Abraham Lincoln, Osama Bin Laden, Kadafi, Kennedy, e todos os 7 bilhões de habitantes desse planeta insignificante. 

Continuaremos perdidos e vítimas de nossa própria ignorância e intransigência.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Eu passo

Cientista acredita que seres humanos poderão viver mais de mil anos

Ah! A tal longevidade.
Há quem diga que o tempo passa rápido demais. Eu, particularmente, fico cansada do natal já em novembro, quando começo a desejar que o carnaval passe logo. Mil anos de vida acho que não me interessam.

Uma vida de mil anos... Conseguiríamos fazer como os hobbits, e abandonar a adolescência apenas depois dos trinta? Ou continuaríamos assim, crianças por 12 anos, adolescentes e jovens até os vinte e poucos, e depois o marasmo de 975 anos de vida adulta tediosa?

Nunca entendi bem a vantagem de ser um vampiro, que nunca morre. Mesmo sem envelhecer, qual o objetivo? Acho que a vida cansa, não importa a vitalidade e o sangue por beber. Além do que deve-se considerar outra coisa: a Terra mal aguenta o peso de uma humanidade nas circunstâncias atuais. Que planeta suportaria bilhões de matusaléns, reproduzindo mais matusalenzinhos??? O que as mulheres vaidosas fariam com suas rugas, e por quantas centenas de anos os velhos babões seguiriam assediando as jovenzinhas de, sei lá, duzentos anos???

Aos que se animam com o prospecto, podem viver mais de mil anos sozinhos. Meus planos incluem não assistir ao réveillon de 2100!

domingo, 9 de dezembro de 2012

Os amigos da amiga

Rosemary Noronha é indiciada pela PF por formação de quadrilha
Rose e a sedução do poder

A moça se apresentava por aí como "a namorada de Lula". A moça viajava em todas as viagens oficiais das quais a Primeira Dama de ausentava, sendo a única com acesso aos aposentos presidenciais. A moça nomeou o ex-marido conselheiro da Brasilprev (para tal feito, até mesmo forjou um diploma de curso superior para atender a uma exigência da empresa), e conseguiu um contrato milionário sem licitação para o atual marido junto à Cobra Tecnologia, além de um cargo na Infraero. Nomeou dois irmãos, seus amigos, diretores da ANA e ANAC. A moça confrontou a diretoria da Codesp que ousou demitir uma outra amiga, porque ela saía se gabando nos corredores da empresa de ter sido contratada por ser "amiga da namorada do Lula". A moça também pediu que pagassem a mobília do apartamento de sua filha Mirelle: um sofá e uma estante, pela bagatela de R$ 5.000,00. Mirelle também virou contratada da ANAC.

Quem saiu por aí dizendo que Rosemary era namorada de Lula, não fui eu. Nem foi a Época. Foi a própria "namorada", de acordo com o inquérito. Quem disse que a moça nomeou diretores de agências reguladoras e do Banco do Brasil, não fui eu, nem a Época, foi a Polícia Federal.  Já as testemunhas, dizem que a moça não fazia questão de esconder sua relação íntima com o "PR" de ninguém, muito pelo contrário. Dizem ainda por aí que, portando mala diplomática (!), Rosemary desembarcou com 25 milhões de Euros em Portugal, declarando no formulário de seguro do carro forte que o levou ao Banco do Espírito Santo, que o dono da quantia era Lula. 

Mais uma vez, partidários alegam que o "PIG" está atacando gratuitamente a imagem do eterno "PR", não importando quantos e-mails de Rosemary já tenham sido reproduzidos, ou quanto do inquérito policial tenha se tornado público. Assim como no já julgado Mensalão, a não ser que vejam uma foto de Rosemary com o malote de 25 mi de Euros, sentada no colo de Lula, tudo não passará de uma conspiração de falsas testemunhas aliadas aos meios de comunicação para denegrir o filho do Brasil.

Há defensores de partido dizendo que ninguém nada tem a ver com a vida extra-conjugal de Lula. De fato, se era ou não peguete presidencial, pouco me importa, isoladamente.  Me importa a interferência na gestão do país. Determinados  cargos públicos são, sim, cargos de confiança, mas em que moldes essa confiança é forjada? 

O que dizer, então, da confiança do eleitorado em um presidente que delega a uma amiga ou a um caso decisões sensíveis de seu mandato público?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Rafael Bastos - o correto?

"O sábio não diz tudo o que pensa, mas pensa em tudo que diz" - Aristóteles

Rafinha Bastos xinga Luciano Huck por dirigir alcoolizado

Querido Rafael Bastos,

Cada vez que você partilha com a humanidade seus brilhantes pensamentos, sempre tão agradáveis aos olhos e ouvidos, fico perplexa.
Eu sei que vocês, não só "comunicadores", mas personalidades públicas em geral, eventualmente tem dificuldades em entender que, antes de serem "os caras da TV", são cidadãos brasileiros, como eu, meus pais, meus vizinhos, e assim por diante.   A mim pouco interessa se o tal público que Luciano tenta agradar a qualquer custo (de acordo com você), irá ou não relevar seu trago. Me interessa que o DETRAN apreenda sua CNH, e ele responda a um processo por dirigir alcoolizado. Porque ele,  assim como você, é um cidadão brasileiro. Novamente, assim como você, ele violou a lei.

Brasileiros devem se comportar de acordo com as leis brasileiras, enquanto forem domiciliados em território nacional. "Comunicadores", pela natureza da atividade que escolhem para si como ganha-pão, além disso também devem suportar o peso e as consequências das palavras que escolhem proferir publicamente. Como você, com seu "comeria ela e o bebê", ou Boris Casoy com "dois lixeiros do alto de suas vassouras!", Bial com "isso é coisa de viado", e assim por diante. Digamos que são "ossos do ofício".  

Você pode até pegar táxi quando toma uma, ou talvez não tomar nenhuma, mas não está em posição de se fazer de baluarte do correto. Parabéns por não beber e dirigir, por não concordar com isso, mas desculpa, cara: não é mais que a sua obrigação!  Já se você almeja pelo indulto popular que imagina que Luciano Huck terá, é simples: escolha melhor suas palavras. É um começo. Aprenda a ser um falastrão inconsequente na vida privada, e alguém mais contido na vida pública. Assim como ele mantém seu lado playboy inconsequente para si mesmo, guarde sua ignorância para a intimidade.

Particularmente, acho difícil eleger quem é pior parasita para a mídia brasileira, se você ou ele. Cada um em seu ramo, vocês são especialistas na mediocridade e mal gosto. No fundo, medíocres e agora infratores das leis brasileiras, vocês não são tão diferentes quanto você imagina. Oportunistas, também, pois enquanto seu criticado usa de "assistencialismo barato", você tentou usar a falha alheia para se reerguer do ostracismo, ignorando que a posição na qual se encontra foi consequência de sua própria falta de bom senso. 

Talvez seja melhor que nem todo "comunicador" partilhe de sua virtude, essa capacidade ímpar de confundir sinceridade com inconveniência. Às vezes a preservação da ordem pública, do espaço e do direito alheio, dependem um pouco do discernimento que a maioria tem, de separar entre tudo o que pensa, o que é ou não pertinente vir a público. 

Acredito que você seja um idiota (por seu mérito unicamente), mas não um cara totalmente desprovido de inteligência. Então, por favor, entenda: o erro alheio não deixa o seu menos feio.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O dia em que Gramsci se contorceu em sua tumba...

Manchete de Ontem: PT vai atacar 'politização' de julgamento

Esses dias no Facebook num grupo tinha um senhor declarado socialista reclamando de um administrador de outro grupo, porque esse administrador pediu que o bolchevique publicasse seus textos e comentários esquerdistas apenas uma vez (esse cara tem mania de repetir o mesmo post várias vezes se ninguém comenta ou "curte" o que escreveu )... Então, o socialista chamou o  administrador de "milico golpista metido a democrata", porque diante da reclamação sobre o pedido, o administrador perdeu a paciência e expulsou o mesmo do grupo. Para fazer sua reclamação, dessa vez no meu grupo, novamente ele publicou o que havia escrito lá no outro, duas vezes. 

Entre elogios a Hugo Chaves e Castro (sim, ele elogiou Hugo Chavez), haviam comentários chamando o STF de cara de pau, dizendo que os Ministros não tiveram respeito a nada, que aquilo foi "pura perseguição por ministros covardes completamente apavorados pela opinião falsificada pela mídia amestrada anti-popular". Disse também que Lenin concluiu que a revolução socialista armada mundial nunca seria possível, e que nos tornaríamos socialistas apenas depois de o capitalismo entrasse em contradição (eu acho que ele quis dizer colapso, mas tudo bem). Continuando, ele afirmou que Gramsci disse que os socialistas deveriam "usar de todas perfídias do capitalismo para desenvolver a sociedade e adiantar a contradição", e que "foi exatamente isso que José Dirceu e tantos outros fizeram e estão fazendo". - Exatamente assim. 

Mais uns blablás de mídia vendida entreguista depois, o senhor disparou: "José Dirceu é um herói", para então  citar a "Carta ao Povo Brasileiro", na qual José Dirceu jura inocência e relembra seus tempos de militante e presidente da UNE.

Aí eu respirei fundo, contei até dez, abri o jornal, e me deparei com a manchete de ontem: PT vai atacar a 'politização' de julgamento.
O PT considera seus condenados "presos políticos", julgados por um "tribunal de exceção sob pressão dos grandes meios de comunicação" , e embora o estatuto determine que filiados devem ser expulsos quando condenados por "crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado",  todos seguirão no partido.  O presidente do partido disse esperar que eles não sejam condenados a penas privativas de liberdade, afinal, todos tem "serviços prestados ao País."

Eu acho estranha a hipótese de "tribunal de exceção".  É difícil crer numa perseguição da opinião pública a um partido há dez anos na Presidência da República, com índices de aprovação popular sempre superiores a 50%. É difícil crer em perseguições políticas contra um partido com coligações que garantem-lhe maioria na Câmara e Senado Federal, e que acaba de se eleger para a principal Prefeitura Municipal brasileira.  Acho estranho o STF, que não cedeu a pressões sobre dois temas muito mais controversos e sensíveis para a sociedade conservadora brasileira (a união estável entre homossexuais e  o aborto de anencéfalos), se mobilizar e conspirar pela condenação do partido que formou a maioria desse mesmo tribunal: dos dez Magistrados, sete foram nomeados e empossados por Lula e Dilma. Ainda assim, eles afirmam que os Ministros do STF usam "dois pesos e duas medidas" - quando o mensalão do PT foi o primeiro julgado pelo Tribunal em questão.

Desde que os desdobramentos do julgamento ficaram mais ou menos claro, acompanhamos um ataque direto do Partido dos Trabalhadores ao STF. Citando exemplo específico, Genoíno chamou o julgamento de "tirania", mas toda sorte de adjetivo negativo foi atribuído ao STF por partidários. Não sei o que é mais grave: o ataque à figura do STF ou especificamente aos Ministros que "ousaram" votar contra o PT. 

Ao mesmo tempo, André Vargas, Secretário de Comunicação do PT, disse não se conformar com o julgamento, e tomou as dores de Lewandowski: "O ministro que deu voto diferente dessa posição passou a ser achincalhado na rua. É um escândalo e um acinte um ministro ter sido tratado assim quando foi votar". Então, o PT ataca a imagem do STF como um todo, ou especificamente os Ministros que condenaram membros do partid. O PT instituição, enquanto partido inserido na política brasileira. Chamar o mais alto tribunal brasileiro de "vendido a pressões" é permitido. Isso não é acinte ou escândalo. Escândalo é a manifestação popular, nunca a partidária. Quem tem dois pesos mesmo?

Sobre o que o cara do Facebook disse, nenhuma "biografia" passada dá direito a qualquer um de extraviar dinheiro público. Aliás, o mínimo que espero de uma figura pública, é que honre sua vida pregressa.  Dirceu e o PT entenderam Gramsci equivocadamente. "Usar as perfídias do capitalismo" não incluía fazer uso da corrupção. Capitalista ou socialista, o que Dirceu e "tantos outros fizeram e estão fazendo" é errado. É corrupção, prevaricação, roubo. 

Felizmente não estamos na China, onde bloqueia-se até o acesso ao New York Times, se ele fala do estranho enriquecimento do Primeiro Ministro Wen Jiabao e sua família. Assim como o PT, o Partido Comunista da China afirmou que a reportagem é falsa, e as acusações caluniosas. 

Felizmente, por mais que partidos lamentem (em breve será a vez do PSDB e seu "mensalão mineiro"), apropriação de dinheiro público ainda é crime no Brasil. Engole o choro, minha gente... Engole o choro...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Coisa de índio e coisa de branco

Manchete de Ontem: Eliane Brum: "Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui".

Achei muito pertinente a análise de Eliane Brum sobre a questão dos Guarani Caiovás. A ganância do homem branco desde sempre é um fator preocupante. Minha situação de pessoa urbana que nunca contratou um pistoleiro para intimidar um indígena ou sem terra não me isenta de responsabilidade. Assim como você. É como diria V: se quiser encontrar um culpado, basta se olhar no espelho. Getúlio Vargas, aquele presidente eterno do Brasil, o cara do desenvolvimento e do progresso, etc e tal, começou com os problemas que culminaram na carta dos índios exaustivamente compartilhada nas redes sociais os últimos dias, mas tudo com a anuência do nosso lindo e alienado povo brasileiro.

Meu pai certa vez, diante de uma greve da gauchada residente em Goiás, na qual eles fecharam rodovias, despejaram uma carreta de soja em frente ao Banco do Brasil, etc e tal, disse uma frase muito interessante: "fazendeiro acha que plantar é uma missão, e que se eles não fizerem, ninguém mais faz". Realmente, isso acontece muito. Vieram aos baldes sulistas colonizar esse "monte de mato" que tinha no Centro-Oeste, e acreditam que isso é uma "missão", e que eles trabalham mais que todo mundo. O mato que aqui havia antes era uma coisa sem propósito, porque pequi não serve para nada, e é bobagem manter uma mata nativa para sustentar, se não os índios, pelo menos as araras azuis, tucanos, tamanduás e onças pintadas. 

O que acontece hoje no MS não é muito diferente do que aconteceu uns cem anos ou mais atrás no Sul, porque gaúcho de verdade, original, não tinha nada a ver com esse "povo nórdico", loirinho de olhos azuis. Gaúcho de verdade era bugre. Haviam muitos índios por ali, que foram exterminados (sim, a palavra é essa), para dar lugar àquelas colônias que achamos tão bonitinhas em RS, SC e PR. Pra gente tomar vinho, comer queijo e macarrão,  ter festa da Nossa Senhora da Achiropita todos os anos e Oktoberfest. Pra gente ir lá, achar todo mundo bonito.  

Aí zanzando pela net, descobri o tal dono da fazenda onde os guaranis estão. É um membro distinto da sociedade.É até registrado na ABUL: uma sigla que nós, meros mortais não conhecemos muito bem.Trata-se da Associação Brasileira de Ultra Leves. Zanzando por aí, parece também que o senhor sequer mora no Mato Grosso do Sul, mas reside em Cascavel, no Paraná. Dizem por aí que ele é gaúcho, mas pode ser paranaense mesmo. 
Fiquei me perguntando quantas outras tantas fazendas ele tem, e se usa seu ultraleve para ir até o MS pagar seus capangas que intimidam e estupram índios, para verificar sua plantação, ou se usa só para ir para as lindas praias que frequenta, como a da paisagem de sua foto de perfil no Facebook.

Índio, hoje em dia, vale menos que os animais silvestres. Ou não. Muita gente considera ambos igualmente irrelevantes, desnecessários ao "progresso". O negócio é construir rodovias pavimentadas, usar os rios como esgoto e despejo de agrotóxicos... Salvo algumas pequenas correções, é inclusive o que diz o nosso novíssimo Código Florestal. O negócio é plantar soja para os franguinhos e cana-de-açúcar para gerar etanol e glicose.

Pra quê índio, lobo guará, tamanduá e arara? Pra quê? Precisamos de carros, cidades, comércio.... 
Índios e bichos só atrapalham. Não dá dinheiro para comprar avião, ir para a praia... 


domingo, 21 de outubro de 2012

O que te preocupa?

"O povo não está preocupado com isso. Está preocupado em saber se o Palmeiras vai cair e se o Haddad vai ganhar" - Luis Inácio Lula da Silva

Diga-me, brasileiro: com o que você realmente se preocupa?

Em diversos fóruns, Facebook a dentro e a fora, vi sindicalistas furiosos com a decisão da justiça de suspender a publicação do jornal de sindicato com texto a favor do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.  Alguns usaram inclusive o termo "censura" para definir a decisão judicial. Eu, particularmente, considero muito pertinente a proibição de colaboração de entidades sindicais em campanhas políticas. 

Uma líder sindical se manifestou em certo fórum: "quer dizer que direção não pode declarar voto?".  Como todo cidadão, um sindicalista, indivíduo, pode se engajar na campanha política do candidato que considerar pertinente, e pode declarar voto.  Considero a declaração de voto de sindicalistas tão relevante quanto a de intelectuais ou qualquer outro tipo de formador de opinião. Entretanto, o jornal sindical, impresso com recursos provenientes da contribuição de sindicalizados com os mais diversos posicionamentos políticos, não é meio adequado para isso. Que o sindicalista faça como todos os demais: encha seu carro de adesivos, suba no palanque se julgar pertinente, diga suas opiniões em seu Facebook, Twitter, Blog.

Como foi possível observar na longa e abafada campanha salarial dos servidores das universidades federais, somos um país no qual movimentos trabalhistas são fracos, não tem apoio público, e são ignorados sempre que possível pela outra parte envolvida na negociação. Inclusive por isso, entidades sindicais devem ser protegidas de interesses alheios a seu propósito inicial: defender a causa dos trabalhadores.  Ainda que a negociação política seja uma das muitas ferramentas que podem ser utilizadas por um sindicato, o seu envolvimento direto em campanhas desvirtua seu propósito.  É evidente desde a eleição de Lula à Presidência da República o crescimento da presença de pessoas oriundas das entidades sindicais em cargos eletivos.  Hoje, muitas vezes observamos sindicatos sendo utilizados como ferramentas política: mesmo sem conseguir alcançar seus objetivos junto às mais diversas classes trabalhistas, de professores a servidores dos correios, bancários e metalúrgicos. Hoje temos um ex-professor no segundo turno da disputa pela Prefeitura Municipal de São Paulo,  um ex-bancário Deputado Federal, e um metalúrgico ex-Presidente da República. 

Ainda assim, muitos trabalhadores não se sentem representados por seus sindicatos, deixam negociações insatisfeitos não apenas com o resultado, mas com o posicionamento das entidades sindicais. Qual é a razão?

Hoje um colega me contou que o está havendo uma gigantesca mobilização no Facebook para desmoralizar alguém aí (não entendo de futebol) que suspendeu Ronaldinho Gaúcho por um jogo, enquanto um vídeo no qual são mostrados os custos de um Deputado para o Brasil padece com pouca divulgação.  Eu particularmente fiquei perplexa com a honestidade de Lula ao revelar seus pensamentos sobre o tal "povo" e suas prioridades, mas infelizmente imagino que ele tenha razão sobre a primeira preocupação: o futebol. Tanto deve ser, que o Banco Itaú apostou forte na sua campanha publicitária "Vamos Jogar Bola", assim como a Brahma com sua "Pessimistas, pensem bem", que se não fosse uma propaganda de cerveja, certamente seria do governo.

Somos um povo de prioridades equivocadas. Contando que não falte cerveja, o churrasquinho, e o futebol ou qualquer outra válvula de escape, pouco importa se políticos são culpados, se sindicatos são desvirtuados, se faltam leitos nos hospitais ou se professores apanham de alunos na escola.

O Brasil padece pelo descaso do brasileiro.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quando tudo não é o bastante

Eike Batista defende filho envolvido em acidente no Twitter
("Infelizmente aconteceu um acidente fatal. Porém, a imprudência não foi de Thor")
Polícia encerra inquérito sobre denúncia de estupro na UFES
(''Meu caçula é o meu companheiro do dia a dia, e agora está na cadeia por algo que pode nem ser verdade'')
Brasileiro condenado a morte na Indonésia sera executado em julho
("As mães deles – mulheres sofridas, esperançosas e guerreiras – estão em campanha pela liberdade dos “garotos”, como elas e parte da imprensa tratam os dois barbados. Depois de gastarem os tubos com eles, estão raspando os cofres para resgatá-los. ")

'Meu filho tem índole', afirma mãe de músico suspeito de estupro na Bahia
'Faço tudo por ele, não é possível', lamenta pai


Nem todo criminoso é "favelado".  Nem todo criminoso é órfão de pai e mãe. Quando um filho é acusado de um crome, a tendência é que os pais entrem em algo similar ao Modelo de Kübler-Ross, e seus estágios do luto: primeiro eles negam, em seguida sentem raiva (não do rebento, mas do mundo que o acusa). Por último tentam negociar (quando entram os advogados). A maioria para por aí, mas alguns ficam deprimidos, e um número menor alcança a tal aceitação.

Quando a criminalidade estava restrita aos "pobres", ninguém se importava em analisar suas causas: eles são pessoas sem instrução que vivem em meio às drogas e prostituição. No fundo era esse o pensamento da imaculada sociedade de classe média brasileira. 

Hoje eles alegam não entender porque tanta violência e se assustam com a escalada da criminalidade em todas as classes sociais. Sociólogos dizem que vivemos uma "crise de valores", religiosos dizem que "falta Deus" em nossas vidas. Eu acho que falta é educação familiar mesmo.

Enquanto no passado famílias apelavam até ao trabalho infantil para garantir a subsistência familiar, muitos dos pais modernos sentenciaram: "darei a meu filho tudo que não pude ter". Isso vai de colégios particulares  a coca-cola todos os dias, kinderovo de sobremesa, casa da barbie, video game e TV a cabo no quarto. Uma vida de privilégios, providenciada por pais que tiveram uma vida de privações: dois opostos. Soma-se a isso a distorção por vários pais do papel da escola na vida dos filhos: lá existem professores de português, matemática, história, e muitas outras coisas, mas não há professores de comportamento em sociedade. Isso ainda é tarefa para os pais.

Muitos filhos são acostumados, por toda a vida, a ter não apenas "do bom e do melhor", mas na hora que solicita. Porque assim evita-se a fadiga daquele menino dando birra, fazendo o pai passar vergonha. Esse pai se esquece que quando filho não envergonhava os seus progenitores, porque aprendeu respeito, e significado de palavras como "não", e frases como "não posso comprar isso para você hoje".  

Muitos filhos vivem hoje com a idéia de que o mundo é seu, suas vontades importam mais que qualquer outra coisa, e tudo o que quiser é garantidamente seu, e tem suas ferramentas para isso: quando criança, ele grita, dá verdadeiros chiliques e acessos de raiva, chora; quando adulto e incapaz de obter o que quer por meios legais, ele é capaz de roubar, violentar.

Então surgem os pais em negação, dizendo em defesa de si mesmos e da prole que lhes deram tudo, sem notar que tudo, de verdade, vai além da coca-cola, kinderovo, video game e carro zero quando se passa no vestibular. Tudo inclui ensinar a lidar com a privação, a respeitar o outro, entender que nem todas as suas vontades podem ser satisfeitas, que nem tudo é seu. 

Tudo, de verdade, inclui respeito, ética, empatia. 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

...Os escritos ficam

STF Debate se há preconceito em obra de Monteiro Lobato

Nosso legado literário diz muito de nossa cultura, de nosso passado. Muitas vezes a literatura antiga nos releva hábitos e valores que já fizeram parte de nossa sociedade, mas que não necessariamente devem ser perpetuados ou admirados.  Mostra-nos, inclusive, o quanto foram nocivos.

Li livros como Mein Kampf atentamente, não para ser seduzida por suas idéias, mas para conhecer um lado horrendo da história da humanidade mais de perto, tomando consciência da parte que me cabe para que isso não se repita.

Da mesma forma, tenho em Machado de Assis uma de minhas maiores referências literárias, tanto por sua brilhante obra quanto por sua biografia: Machado é um exemplo de superação de dificuldades e preconceitos, e a prova histórica de que valores podem mudar e de que a determinação de um indivíduo o torna capaz de coisas incríveis.

Desde a primeira vez que a questão do racismo na obra de Monteiro Lobato foi abordada, busquei conhecer sobre sua obra. Se há um livro que me provoca verdadeiro horror é "O Presidente Negro". Com muito otimismo, para não perder a fé no pai da Emília, pensaria que ele não soube usar o sarcasmo, e que o livro foi um grande mal entendido. Sendo levemente crítica, o livro mostra opiniões eugênicas, racistas e machistas, totalmente condenáveis. 

Por ter provocado uma certa revolta e horror,  nos livros posteriores Monteiro Lobato ficou mais contido em seus preconceitos, mas nunca deixou de escrever sobre eles, ainda que de forma sutil, como em Urupês.  Em sua obra infantil realmente é difícil encontrar sua simpatia pela eugenia e segregação racial, mas há sinais de suas crenças em todo o restante de sua obra. O assunto causa estranheza, pois ele é conhecido como um autor infantil que embalou o sono de gerações, e a maioria não teve contato com sua obra literária adulta.

O que fazer, então? Varrer sua obra para debaixo do tapete? Não fizemos isso com José Lins do Rego ou tantos outros que representaram na literatura de forma bastante crua partes de nossa história. A obra de Monteiro Lobato serve como prova de um triste passado, que não deve ser escondido, mas sim analisado criticamente. Devemos olhar para nosso passado, aprender com ele. O anti-ético,errado, ou hediondo deve ser conhecido e condenado, para que não se repita. 

Uma sociedade que por vergonha ou falso moralismo esconde erros passados está fadada a repeti-los.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Controle Sanitário x Direito dos Animais

Manchete de Ontem:
Centro de Zoonoses de Brasília promove adoção de cães e gatos
Londrina proibe população de alimentar os pombos
Londrina vai sacrificar 50 mil pombos

Eu amo os animais. Temos seis gatos vira-latas lindos, todos adotados, quatro através da ONG SHB, e dois através de uma mulher que não castrou sua gata. Acompanho várias ONGs e protetores dos animais no Facebook, e faço colaborações sempre que posso. Todos os animaizinhos são castrados.

A questão dos animais abandonados e mal tratados de diversas formas me comove, porque são seres não só lindos, de olhar doce, mas inquestionáveis companheiros, inclusive os injustamente chamados de interesseiros gatos.

Se olharmos, veremos em quase todo lugar animais padecendo tanto quanto humanos, sem qualquer recurso, justamente pela forma como a "civilização" lhes tirou o habitat natural, além de lhes trazer outros diversos riscos que não encontravam na natureza, de carros a pessoas sádicas.


Frequentemente vejo manifestações contra os Centros de Zoonoses de diversos municípios, ao mesmo tempo em que acompanho ONGs com superpopulação felina e canina. Vejo animais atropelados, desnutridos, sem qualquer chance de sobrevivência pelas ruas, enquanto eu não os levo para minha casa por falta de recursos, e observo outros ignorarem... 

A castração é um importante recurso no controle populacional, mas a ignorância, ganância e vaidade de muitos a torna ineficiente: quantos por aí não castram seus animais macho porque sabem que não se responsabilizarão pelos filhotes que ele fizer por aí? Quantos não querem ver "os filhotinhos lindos" que seus animais irão gerar, ou querem vender suas crias?

Há ainda a questão dos pombos. Pombos não são aves nativas do Brasil, foram trazidas pelos europeus, e pela total ausência de predadores naturais na América do Sul, tornaram-se um sério vetor de diversas doenças. Pombos se reproduzem em qualquer época do ano, e um casal de pombos gera até 24 pombos em um ano, que viverão entre 3 e 5 anos espalhando de gripe aviária a salmonella a em centros urbanos.
O que fazer, então? Depois de muito pensar, tristemente concluí que é necessário abandonar o romantismo com o qual vemos a causa dos animais. Infelizmente, é impossível controlar a super população das ruas abrindo mão do sacrifício de animais abandonados.

Por mais que hajam protestos contra o sacrifício de animais saudáveis nos CCZ's, não existem recursos para o controle populacional. Um animal saudável na rua, é um potencial animal doente, infelizmente, se tratando de saúde pública, a realidade é essa. Se tratando de direitos animais, um animal na rua é um potencial animal que passará fome, será atropelado ou morto de outras formas horríveis.

A sociedade é responsável pela superpopulação, e infelizmente é necessário que o poder público faça algo a respeito.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Quid Pro Cuo, Clarice


Por mais que o senhor Luiz Inácio sempre tenha tomado atitudes que me causem arrepios, sinceramente, nem dele eu esperava algo do tipo.

Em outra fotografia que também me causou náuseas, o momento que entrou para a história deste país trazia Lula visitando Sarney em um hospital, um com cara de compadecido, outro com um semblante de pobre criatura que parecia renegar seus anos de coronelismo no nordeste. Pareciam duas pessoas frágeis, humanas, e não dois dos mais sagazes predadores da política nacional. Agora Lula aperta a mão de Maluf, como quem cumprimenta um velho amigo. Sorriem um para o outro, ou sorriem ambos de nós todos?

Nunca antes na história desse país a política foi tão transparente quanto à cara de pau de uns e outros: não mais se finge princípios, preceitos e ideais partidários. Escancara-se que amigo ou inimigo é uma mera questão de conveniência, e para eleger um determinado pupilo, vale tudo.

Sobre isso, Maluf simplifica:  "Política é como futebol. Quem é palmeirense não gosta do Corinthians, quem é corintiano não gosta do Palmeiras e pode alguém não gostar de mim. Mas ninguém pode dizer que Paulo Maluf como ex-governador e ex-prefeito não conhece como ninguém os problemas da cidade de São Paulo". Claro! Conhece até porque foi responsável por boa parte desses problemas, e quem tem memória curta é eleitor, não político. 

Já ouvi dizer que quem fala de si mesmo em terceira pessoa é egocêntrico, e o senhor dos frangos (talvez daí tenha lembrado do futebol) superfaturados, me parece um caso grave e irreversível de egocentrismo, assim como seu novo amigo, que patrolou seu partido para emplacar o candidato que a princípio apenas ele mesmo queria.

Com uma mistura de revolta, incredulidade e desesperança, observei a foto ontem em todos os jornais da internet, me lembrando de Hannibal Lecter: "quid pro cuo, Clarice". As mãos dos políticos lavam umas as outras, enquanto nos sobra a sujeira de seus arranjos....

terça-feira, 5 de junho de 2012

A obsolescência do canivete suiço e da privacidade

Manchete de Ontem: Por que o barômetro pode ser a nova carta na manga do Android
Gmail Man: Microsoft faz piada com e-mail do Google
Gmail Man
Telefones celulares: eles servem para tudo hoje em dia, mas quase nunca para fazer ligações. Estive observando a maioria dos usuários de smartphones num restaurante outro dia (eu estava sozinha com meu celular, e observava umas mesas ao lado) - Draw Something, Facebook, Canastra, Angry Birds, Bubble Blast, Notícias, Clima, Foursquare, Twitter, GPS... Você tem o mundo virtual na ponta dos seus dedos através de uma tela capacitiva.

Desejamos por séculos a obsolescência do canivete suíço, e sonhamos em ter seu conceito ampliado e aplicado  a quase todos os aspectos de nossas vidas: talvez só a palavra "dinheiro" fascine a maioria dos seres humanos mais que as palavras "multifuncional", "coringa", ou outra que as valha.



É uma grande facilidade, mas poderia ser uma gigantesca preocupação para os paranoicos das teorias conspiratórias corporativas: "Eu não confio no Google. Ele tem informações demais a meu respeito, e o Android só torna tudo isso pior", diriam os mais trágicos.


É ruim ou perigoso esse excesso de informações nas mãos de uma empresa? Uns dizem que sim, eu acredito um tanto que seja alarde, afinal, nós pedimos por isso. Queremos serviços consolidados, facilidades, realidade aumentada, simplicidade e complexidade harmonizados em nosso favor em um dispositivo único, ou no máximo em dois ou três, como um computador, um celular e um tablet.


Tenho um telefone  que uso para ler meus e-mails, checar e alimentar meu facebook, avisar a todo mundo onde estou via foursquare, transferir dinheiro ou pagar contas, fazer compras no Ebay e Amazon, enviar pagamentos pelo Paypal, descobrir endereços e referências de restaurantes, ou como voltar para minha casa depois de uma longa viagem. Me sinto confortável ao trocar de celular e não precisar informar ao novo telefone nada além de meu e-mail para que ele recupere todos esses dados.

O Google pode saber onde eu vivo, onde eu trabalho, por onde andei, quais meus relacionamentos pessoais e comerciais, que tipo de jogos e aplicações mais me interessam, qual minha agenda, minha propensão a consumo, e assim por diante. O Google pode ter zilhões de Petabytes em informações precisas sobre os 250 milhões de usuários de Android, e não satisfeito, pode usar esses milhões de usuários para construir o mais fantástico e preciso sistema de previsão do tempo já imaginado pelo homem.

O que fazer com nossa privacidade, essa tão subestimada por Mark Zuckerberg e outros tantos, inclusive o Gmail nosso de cada dia?

Bem, não se pode ter tudo nessa vida, certo?

terça-feira, 22 de maio de 2012

59% de seu tempo e todo seu crédito

Manchetes de Ontem:
Brasileiro precisa trabalhar 150 dias para pagar impostos em 2012
Governo reduz IPI de carros e tributo sobre operações de crédito
Dilma Rousseff defende redução de juros e taxas cobradas pelos bancos
BB reduz juros em até 52%
Dólar bate R$ 2,00 e Mantega diz que não irá intervir no câmbio

Esses dias nossa presidenta (se o protocolo da PR que é presidenta, ok, eu desisto) disse que estamos preparados para combater a crise mundial. Desde uns meses atrás, surgiram uma série de movimentos do próprio Governo Federal, usando inclusive seu forte braço financeiro (BACEN, BB e CEF) para reduzir as taxas de juros e desvalorizar o Real frente ao Dólar.

A redução do tal "spread bancário" é bem vinda, mas há algo preocupante nisso tudo: nota-se que não há, na verdade, uma preocupação com a saúde financeira do brasileiro, apenas um interesse em ampliar sua capacidade de endividamento: reduz-se o juros para que possamos dever mais. 

A questão de bilhões de dólares é: ao estimular o brasileiro a comprar mais endividando-se mais, estamos realmente combatendo a crise, ou apenas postergando sua chegada? 

O que ocorrerá quando o crédito novamente acabar, seja porque os brasileiros não mais conseguirão honrar suas dívidas, ou porque não terão mais limite de crédito junto aos bancos? 

Aparentemente nos esquecemos que uma das razões que levou à crise países como os Estados Unidos, foi justamente o endividamento de sua população. Também nos esquecemos de outros fatores que prejudicam a competitividade da indústria brasileira, e que também provocam a evasão de capital, seja através de viagens ou mesmo importações. Temos uma indústria que muitas vezes encontra dificuldades em tornar-se competitiva seja por falta de mão-de-obra de qualidade (que apenas seria suprida com uma política educacional decente), seja pela carga tributária proibitiva (150 dias de trabalho para impostos, num total de 252 dias úteis esse ano),  ou ainda pela falta de infraestrutura para escoamento de produção.

Infraestrutura! Ah, a infraestrutura... Vou ignorar que temos uma Copa do Mundo e Olimpíadas no horizonte próximo, e vou me ater apenas a um pequeno problema: onde nosso governo espera que os mais de 3,545 milhões de veículos previstos para serem comercializados em 2012 circulem? Sequer temos malha viária para comportar tudo isso. 

Sobre o dólar, novamente, ao invés de medidas para aumentar a competitividade nacional, desonerando pequenos e médios empresários, ou mesmo capacitando profissionais, a estratégia é forçar o outro lado (que é simplesmente o resto do mundo) a parecer excessivamente caro, desvantajoso. Nota-se um governo que, para não colocar a mão no seu próprio bolso, a coloca no bolso alheio - o do consumidor de produtos importados. Sequer falarei da Poupança e seu gatilho para conter rendimentos (como se ela já rendesse grandes coisas).

Resumindo: o governo propõe que você se endivide, seja onerado por comprar qualquer coisa não-brasileira e trabalhe 59% de seu tempo para lhe pagar impostos. Essa é a receita mágica de um país sem crise.

Às nossas custas, diz o governo, estamos preparados para a crise mundial.

terça-feira, 8 de maio de 2012

O que te interessa?

Manchetes de Ontem: 

Hoje não comentarei de uma notícia em sí, mas da dinâmica do que é veiculado, seja na televisão, seja na internet. 

Talvez por otimismo e ingenuidade, geralmente eu atribuo o desinteresse do brasileiro mediano pela política ao fato de sermos uma democracia relativamente recente, e consequentemente imatura. No período da ditadura, a alienação política era até mesmo uma maneira de manter-se vivo e longe de problemas, e talvez ainda estamos em uma fase de transição.

Vejo, principalmente, o destaque dado à desgraça alheia, seja ela intencionalmente provocada ou acidental. De qualquer forma, notamos que a maioria da população cria dentro da mídia um nicho de mercado asqueroso: o do escárnio. Chegamos ao limite do mau gosto, a ponto de confundi-lo até mesmo com humor. 

Há anos eu desliguei minha TV, com o firme propósito de me manter distante de toda e qualquer programação veiculada através dela. Ultimamente, ando pensando se devo também desligar minhas redes sociais, ou mesmo meu computador, de uma forma geral. Afinal, abro o jornal para saber se há algo relevante acontecendo com o mundo, e quando não há a exploração desumana do estado de saúde do tal Pedro filho do Leonardo, o que a maioria dos portais de "notícia" me dão informações prolixas sobre o processo que a Caroline Dieckmann move contra um oportunista imoral, ou sobre a ferrari sem placa de Thor Batista, ou ainda sobre os degolados de Doverlândia. 

Enquanto isso, nem mesmo no rodapé, tem-se notícia das fotos de Cabral e Cavendish, porque para o público geral as tentativas de Dieckmann de reaver sua privacidade (e aproveitar-se da situação enquanto ela não o consegue) são mais relevantes que as relações suspeitas entre o governador do Rio de Janeiro e o emprenteiro que só naquele Estado abocanhou quase 1,5 bilhão em contratos públicos.

Notando tudo isso, um desânimo toma conta de mim, e percebo que, na verdade, não é por falta de se habituar à democracia, mas por uma pobreza de espírito incalculável que seguimos à deriva, vítimas de homens que brindam na Europa nosso interesse na indecência e desgraça alheia, quando nos falta olhar com um pouco mais de atenção o que realmente importa.


"It's a violent pornography Choking chicks and sodomy The kinda shit you get on your TV" - System Of a Down

terça-feira, 24 de abril de 2012

Brasileiro no volante, perigo constante

Motorista atropela ciclista duas vezes após discussão no trânsito em Araçatuba
Motorista atropela motociclista após discussão de trânsito em Brasília
Motorista atropela grupo de ciclistas, fere 10 e foge
Pateta: Senhor Andante e Senhor Volante

Vez ou outra eu dizia, brincando, que queria ter uma chave de roda ao lado do freio de mão de meu carro, porque o trânsito brasileiro tira qualquer um do sério e de vez em quando dá vontade de bater em alguns por aí. Como é sabido por muitos, desde a elevação do IPI para veículos importados eu entrei em greve com a indústria de automóveis. Comprei uma motocicleta, fiz um curso de pilotagem, e estou feliz da vida andando sob sol e eventualmente sob chuva por aí. Minha família ficou preocupada, pois como é sabido por todos, motocicletas são os veículos que mais matam no trânsito brasileiro.

Quando subi pela primeira vez em uma moto na condição de condutora desde que fui considerada apta a isso pelo Detran, admito que pensei "Meu Deus, o que eu estou fazendo?", tendo certeza de que a prova do Detran de nada me valeu. Desde que me tornei (de fato) habilitada a conduzir uma motocicleta, passei a observar com um olhar ainda mais crítico e atento o trânsito brasileiro.

Já ouvi dizer que brasiliense dirige mal, goiano, paulista, carioca, mineiro, baiano, catarinense, etc e tal. A grande verdade é que brasileiro, de maneira ampla e irrestrita, é analfabeto de pai e mãe quando o assunto é guiar um veículo seja ele qual for. O problema tem raízes profundas, a começar pelo nosso querido DETRAN, tão eficiente em afanar nossos bolsos com taxas e multas, mas tão complacente com a indústria de motoristas. Toda essa lógica estabelecida contra o cidadão de bem comum, negligencia o quanto um veículo automotor (especialmente o brasileiro) pode ser uma arma fatal.

A insegurança que o processo de habilitação gera no próprio usuário, leva à proliferação de cursos de "Trainamento de Habilitados", que cobram até 300% a mais para fazer o que uma auto-escola deveria ter feito antes, para ensinar o que deveria ser parte da grade obrigatória estabelecida pelo DETRAN.

É assustadora a quantidade de casos no qual pessoas totalmente desequilibradas simplesmente usam seus veículos contra usuários do sistema de trânsito que encontram-se mais expostos - como ciclistas e motociclistas. O mais assustador é o caso de Araçatuba: o atropelador, que não só atropelou propositalmente, como o fez duas vezes, ainda estava em período probatório de sua habilitação, o que indica que seu exame psicotécnico foi realizado recentemente.

Afinal, qual a eficiência do exame  homologado pelo DETRAN? Quantos casos bárbaros seriam evitados se realmente fosse realizada uma perícia no pretendente a motorista? Quão melhor seria o trânsito brasileiro se as auto-escolas, ao invés formassem condutores?

terça-feira, 10 de abril de 2012

O paradoxo do "desenvolvimento"


Em um encontro da presidente com os integrantes do Fórum do Clima, ela atentamente ouviu uma ambientalista, tomou nota de suas queixas sobre a política energética brasileira, e depois respondeu: "Eu não posso falar: ‘Olha, é possível só com eólica iluminar o planeta.’ Não é. Só com solar? De maneira nenhuma.". Dilma falou não apenas como presidente, mas como especialista.

Depois de muito refletir, acho que Dilma tem toda a razão: é fantasioso, impossível. Por essa e muitas outras razões, concluí que o desenvolvimento é quase necessariamente predatório. Isso me deixou triste e desanimada.

Eu acredito que temos certas obrigações com o meio ambiente. Não é uma questão de "nobreza de espírito", é mais egoísta. É por admiração à riqueza da fauna, flora e paisagem, e também por uma questão de sobrevivência.

A alguns anos descobri um comediante, George Carlin, que em um stand up disse verdades e absurdos engraçados sobre salvar o planeta, baseado num princípio que sempre defendi: não precisamos salvar o planeta, afinal ele continua fazendo o que sempre fez, que é orbitar em torno do Sol. Claro, não se pode levar todo o show de Carlin a sério (afinal, ele é um comediante), mas em muitos pontos ele também tem razão. Recentemente, Hawkings também deu seu parecer: a humanidade tem probabilidades muito pequenas de sobreviver na Terra por mais cem anos.

A quem culpar? Talvez o Capitalismo, nosso vilão recorrente favorito. Eu, particularmente, culpo a medicina. Afinal, o mundo é capitalista há mais de 500 anos, mas sem os antibióticos e as vacinas, o mundo não teria tantas pessoas. Morreríamos velhos e doentes aos 50 anos, sem onerar tanto os recursos naturais da Terra. A Europa Medieval (sanada e quase dizimada pela Peste Negra) que o diga.

Então, a humanidade precisa de uma praga? De um predador? Não, somos muito competentes: o progresso da humanidade já é e vorazmente cresce como a grande ameaça à nossa sobrevivência. Nosso desejo de prosperar, viver até os 100 anos, controlar doenças, conquistar... Nossa aversão à simplicidade, nosso ímpeto de sair das cavernas... 

Antes que retornemos aos tempos em que a igreja condenava a ciência e alguém encontre em minhas palavras os motivos pelos quais deveríamos ter nos voltado para os templos ao invés dos laboratórios, gostaria de deixar claro que também culpo o "crescei-vos e multiplicai-vos".

Não acredito que o beco sem saída em que nos encontramos seja o "sinal dos tempos", o castigo divino. Assim como muitas outras, somo uma espécie que chega ao fim de seu ciclo evolutivo. Somos a última ponta da Curva de Gauss, e fomos ingênuos em acreditar na "perpetuação" da espécie. 

Assim que a humanidade, suas vacinas e antibióticos estiverem extintos, surgirão novas bactérias, capazes de se alimentar de plástico, realizar respiração celular com monóxido e dióxido de carbono, colonizar o concreto, os grãos de areia de todos os desertos, e os "Tietês" que teremos deixado para trás...

A vida,  mas não a humanidade, se perpetuará.
Nós seremos apenas o petróleo do futuro.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Só o pão

Governo quer encarecer vinho importado

Existe algo que a gente aprende na escola: como funcionam as leis de mercado. A tal "oferta e procura", e o quanto a qualidade de um produto influencia em seu fracasso ou sucesso.

Se você tem um bom produto, haverá procura por ele; se a demanda for maior que sua capacidade de produção, talvez você possa melhorar seu ganho subindo os preços; Se preferir ganhar em escala, ou o mercado oferecer produtos de qualidade e preço similar, o que você precisa é aumentar sua produção. 

Agora, se os produtos de preço similar tem qualidade superior à sua, baby, seus investimentos devem ser para melhorá-lo. Eu aprendi assim, as escolas ensinam assim, e a vida, na maior parte do tempo, funciona assim. Exceto no país do gigante deitado em berço esplêndido. 

Depois de tornar os carros importados (geralmente superiores) totalmente inviáveis, chegou a vez de onerar também nosso paladar. Porque deve ser a mesma coisa você, um brasileirinho que não tem direito de preferir um produto de qualidade superior,  tomar um Chateau Duvalier ou um Marcus James, e tomar um Syrah, ou  Chardonnay, argentino ou chileno, feito com muito mais cuidado e método.

Se as vinículas brasileiras não apresentaram nos últimos 200 anos nenhum interesse em se profissionalizar, em aprender com a vizinhança (os hermanos se mexeram anos atrás e hoje o mundo leva o vinho argentino muito a sério), esse problema não é dos acomodados. 

Esse problema é seu, que ou deixa de tomar vinhos, ou se acostuma com os vinagres que fazem por aqui. Porque vinho nacional mesmo, que vá além do vinho de mesa suave, só a Miolo parece fazer.

Minha preocupação vai muito além da gastronomia e da grande interferência que, através do bolso, o governo pretende fazer na vida do brasileiro. Vai até as graves consequências que isso pode trazer ao colocar nossa indústria, que geralmente não é das mais proativas, em uma zona de conforto que ela jamais mereceu. 

Ao invés de simplesmente encarecer os produtos importados, por que não ensinar as vinícolas brasileiras a produzir vinhos? Eles tem essa capacidade. Afinal, a Aurora aprendeu a fazer brandys e grappas excelentes, por que não aprenderia a fazer vinhos? 

Impor o consumo de produtos nacionais é errado, sim. Incentivar a indústria nacional a produzir direito é o certo.

Afinal, se até os argentinos conseguiram, nós podemos também. =)

(vamos apelar pra uma rivalidade histórica, quem sabe assim alguém se sensibiliza)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Deve haver alguma metáfora nisso tudo...

 Não sei colocar minhoca em anzol, diz novo Ministro da Pesca

Nosso novo Ministro da Pesca é ninguém menos que Marcelo Crivella, bispo ta Igreja Universal do Reino de Deus, sobrinho de Edir Macedo, e filiado ao PRB (Partido Republicano Brasileiro, ou, para os íntimos, Partido do Reino do Bispo Macedo). Até onde todo mundo sabe, Crivella só sabe pescar pessoas inocentes e o conteúdo de suas carteiras.

Diz a Bíblia que Jesus multiplicou os peixes, mas mesmo entre cristãos, existem sérias dúvidas quanto ao vínculo do referido bispo com o filho unigênito de Deus. Ao contrário de bispos e políticos, os números não mentem.

Desde a criação do Ministério da Pesca pelo governo do senhor Luiz Inácio, a produção de pescados brasileira cresceu ridículos 13%, ao longo de oito anos. Já balança comercial de pescados, moluscos e outras culturas aquáticas entrou em declínio, acumulando 3400% de défcit em sete anos. Sem ministério, nos três anos anteriores, o superávit do setor havia crescido 478%.  Milagre de multiplicação de peixes nunca aconteceu no bloco D da Esplanada dos Ministérios. A única coisa que se multiplicou por lá mais que o défcit do etor, foi o orçamento: de 11 milhões em 2003 para 803 milhões em 2010 - exatos 7.300%.

Diante dos milagres do ministério, e do anúncio do novo ministro, pergunto: ministério da pesca para quê?

Eu conheço a teoria, e ela é linda: precisamos ajudar as comunidades ribeirinhas, os pescadores humildes (risos do ministro e seus subordinados). Comunidades como as da Ilha de Santa Catarina, que vem sendo despejadas para dar lugar a condomínios luxuosos, ou como várias que perdem suas casas a cada novo alagamento de grandes áreas para criação de usinas hidrelétricas (essa "energia limpa" adotada por nosso país), sempre com a conivência e grande empenho dos governos municipais, estaduais e federal.

Ministério da Pesca, para ser mais um buraco negro a desparecer com o orçamento da união. Para ser um cabide de empregos da companheirada.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Eu e os revolucionários

Carlos 'Chacal' é condenado à segunda prisão perpétua na França
Minimanual do Guerrilheiro Urbano

Ilich Ramirez Sanchez, na minha opinião, é um terrorista. Assim como Carlos Marighella.

Admito que tenho problemas com comunistas. Não entendo a lógica comunista, a revolução deles. O capitalismo está longe de ser a solução para todos os problemas do mundo, mas aliado à democracia ele é fluido, se adapta. Sua flexibilidade tem permitido a continuidade da vida dos cidadãos, ao menos para a maioria, e ao menos por enquanto.

Do outro lado, no mundo socialista, vemos países como a "República Democrática da Popular da Coréia" (hein?), a Venezuela de Chacal e Chavez, e lógico, nossa querida "Republica Popular da China", cada um à sua maneira provocando um lento estrangulamento daqueles para os quais deveriam governar.

Além disso, tem os revolucionários. Tipo o Chacal mesmo, esse auto-denominado "mártir vivo". Eles querem libertar todo o mundo da opressão capitalista. Acredito que quem sequestra onze ministros de países diferentes não quer revolucionar. Quer holofote, polêmica, sangue gratuito. Da mesma forma, acredito que explodir bancos londrinos ou farmácias parisienses não é uma forma inteligente de converter europeus à sua ideologia.  É como precisar de um motivo qualquer para barbarizar, e fazer da revolução pretexto. Libertar a França, um dos poucos países que é praticamente "livre por vocação" (a exemplo da greve geral contra a reforma previdenciária ano passado), pra mim é prova disso. Se os franceses quisessem o socialismo, eles mesmos iriam às ruas pedir por isso.

Não acredito nas palavras inflamadas que vi um garoto gritar durante a primeira Marcha Contra a Corrupção em Brasília: "não existe revolução sem sangue". Com calças e uma boina verde oliva, camiseta do Che e barba de Fidel Castro, ele dizia isso entre uma e outra fala "contra o sistema". 

O sangue que eu vejo nas bandeiras comunistas é um pouco diferente daquele que eles dizem estar lá. Há quem diga que a Rússia provocou Chernobyl como forma de estudar as consequências de um ataque nucelar, mas sequer precisamos de teorias conspiratórias para questionar o quão "popular" são e foram os denominados comunistas, da extinta URSS à China.

Enquanto Chacal acredita e declara em seu julgamento que "morrer na prisão é papel de um revolucionário", eu acredito que se a maioria dos revolucionários morrem na prisão é porque há algo de errado nos meios ou na própria causa da revolução.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Política, trânsito, criminalidade e o autismo dos políticos brasileiros

Alckmin ainda estuda se proíbe carona em motos
Assembleia de SP vai recorrer de suspensão de auxilío-paletó
Epidemia mortal e invisível acelera no Brasil profundo

 Às vezes é difícil acreditar nas notícias que lemos, tipo um deputado querendo proibir a carona em motocicletas durante a semana para "coibir a criminalidade". Eu, na pequenez de meu pensamento, fechada em minha ignorância, sempre achei que para se atingir tal objetivo o certo era adotar um policiamento decente com um efetivo numeroso e capacitado. 
Não! A vanguarda da política de segurança pública é proibir o cidadão comum de exercer seus direitos constitucionais, criminalizando um meio de transporte, colocando o cidadão no mesmo saco que assaltantes, e ao mesmo tempo contradizer as regulamentações do CONTRAN, DETRAN e etc - que dizem que motocicletas são veículos para dois passageiros.

Estatísticas recentes mostram o aumento do número de motocicletas no Brasil, e consequentemente o aumento no número de acidentes. Os acidentes se devem, principalmente, à imperícia e à imprudência: é público e notório que ninguém aprende a conduzir uma motocicleta com as aulas ou com o exame de habilitação do DETRAN. Na verdade, a prova é uma piada, mas isso fica pra outra hora.
As motos aumentaram, sobretudo no interior, devido à melhora do poder aquisitivo das famílias mais pobres. Tal dado é muito importante, e deveria ser verificado pelo senhor Hato, pois comprova que os principais usuários de motocicletas no Brasil não são criminosos, mas pessoas comuns que finalmente conseguiram se livrar do transporte público ou do transporte com tração animal. 
 
A propósito, um dos motivos pelos quais moradores de cidades grandes preferem evitar o transporte público é a criminalidade: ir ao trabalho e voltar sem a carteira e o celular é sem dúvidas contraproducente, mas faz parte do cotidiano de muitos que dependem dos precários e inseguros meios de transporte disponibilizados pelo governo.

Entretanto, o senhor Hato certamente não faz uso de ônibus coletivo e metrô, e tampouco tem uma motocicleta - ao invés disso usa um veículo custeado pelo Estado, com ar condicionado, direção hidráulica, vidro elétrico, rodas de liga leve, e tudo mais - e tem à sua disposição um motorista de terno e gravata. Ele está muito distante da realidade daqueles afetados por sua proposta de lei e pela decisão de seus colegas. 

Mais uma vez, apenas uma triste constatação se faz: alguém que faz parte do seleto grupo que até duas ou três semanas atrás recebia R$20.000,00 semestrais a título de "auxílio paletó", enxerga a população que se espreme nas estações de transporte público (ou que se locomove sobre duas rodas para fugir dissp) com o mesmo nível de compreensão de um autista ao observar o mundo, e com a mesma sensibilidade de um sociopata.