Manchete de Ontem:
Ex-aluno mata 12 estudantes, na pior tragédia em escolas do país.
A escolha da notícia não podia ser mais óbvia, claro.
Mas como falar em outro assunto? Teve outro tremor no Japão gerando mais vazamento nas usinas, a deputadada Jaqueline Roriz passa mal (mas não o bastante para um infarto), tem gente desde quinta acampado para o show do U2... muitas coisas acontecendo, mas, por agora, o que nos importa tanto, nós, brasileiros?
Esse rapaz entrou lá e matou essas crianças, agora fala-se em segurança e etc., alguém ou alguma coisa terá que ser culpado. Mas o que acontece é que ele era conhecido, o que acontece é que ele conversou com professoras, o que acontece é que ninguém espera por algo assim.
No pior estilo de Criminal Mind, todos querem desvendar os motivos, sondar a mente do assassino, querem decifrar na escrita de sua assinatura os motivos que o levaram a isso. Já apostam em bullyng, que hoje é coringa para tudo. Alguns falam em Islamismo, ignorando completamente a citação de "Jesus" na carta. Outros aproveitam para vender. Assim que a notícia saiu ontem, por exemplo, podia-se comprar, na página principal da Livraria da Folha, um exemplar do livro 501 crimes mas notórios do mundo. Ontem o Datena nem precisou falar no engarrafamento em São Paulo. Ontem os jornais principais do país colocam a foto do assassino morto na escada. A troco de que?
Nem eu, e possivelmente você, podemos dimensionar o que foi aquilo. O que tentamos fazer é ter solidariedade na dor dos outros. A mídia não parece seguir muito por esse caminho: noticia e noticia sem dados, ontem o número de mortos aumentavam e subiam em um mesmo texto (9 mortos, 12, 15..). Falam o que ainda não sabem, banalizam a notícia, o horror e a dor de quem está passando por essas perdas.
Saber os motivos que levaram o assassino a ter essa atitude talvez conforte as famílias, não sei. Mas sei que é papel da polícia investigar e não a mídia ficar fazendo essa espécie de bolão levando até médicos a falar sobre a possível psicopatia aliada ao extremismo religioso. Sem dados, o que é isso senão chutomêtro especializado?