Eu sei, a vida é injusta, o mundo é cruel, nós vivemos presos enquanto os bandidos estão soltos, blá blá blá...
“A criminalidade toma conta da cidade”, já diria nosso antigo conhecido, Gabriel o Pensador, e agora, o que fazer? Devíamos cobrar as autoridades, não é mesmo? Mas é complicado...
Dia desses, um conhecido viu dois caras carregando móveis a 1:00 da manhã, aí resolveu cumprir seu papel de cidadão e ligou pra polícia:
A:- Dois indivíduos estão carregando móveis na rua, acho que roubaram uma casa.
Sr. Polícia: - Mas o senhor tem certeza de que não é mudança?
A: - Olha, eu não sei, mas acho que não.
Sr. Polícia: - É que os ladrões não costumam roubar a essa hora, o senhor poderia averiguar?
A: - tu, tu, tu...
O cidadão que precisa averiguar, afinal, ronda policial é só nome de programa de televisão. Mas enfim, não é porque a polícia está com preguiça que o cidadão precisa perder o bom senso. O meu conhecido não seguiu a instrução do policial, e não foi verificar se era mudança ou furto, acho que foi a atitude mais adequada; melhor que isso seria anotar o nome do policial e fazer uma reclamação junto à secretaria de segurança pública, algo assim. De qualquer forma, não era ele quem estava sendo furtado, por isso foi mais fácil simplesmente deixar para lá.
O fato é que muitas pessoas são influenciadas pelos filmes, ou muito apegadas aos bens materiais, e tem essa mania de reagir a assaltos. Não sei se mania é a palavra correta, visto que muita gente tem a chance de reagir apenas uma vez, perdendo a vida, e também os bens materiais que planejava proteger. Tenho um tio de 65 anos que reagiu a um assalto, sobreviveu e não perdeu a sua Kombi, mas desde quando uma Kombi vale o risco? E minha mãe perdeu uma prima, jovem, linda, jornalista, que reagiu a um assalto, no Rio de Janeiro, na década de 70, por conta dessa história, desde pequena fui ensinada a deixar levarem tudo, caso algum dia eu venha a passar por uma situação parecida.
É triste, é chato, a gente passa a vida trabalhando e blábláblá. Mas se você passa a vida juntando coisas e não vivendo, alguma coisa está errada com você. Talvez eu reagiria, se o assaltante quisesse levar uma amiga minha, isso sim é um bem precioso, que eu pretendo levar pela vida toda. Mas meu carro e meu notebook (acho que são as únicas coisas materiais que posso chamar de minhas) podem levar. As coisas não são mais importantes que todo o resto, e se você acha que são, você deveria ligar pro SAC da vida e perguntar se é possível levar alguma coisa quando se morre, porque se não for, é melhor você parar de investir em coisas e passar a investir em uma fonte da vida eterna, não?
Enfim, eu tive um professor de geografia que costumava dizer às pessoas inertes: “O sujeito tem que reagir! Reage, sujeito! Reage!”, mas eu gostaria de contrapô-lo, e dizer que, em caso de assalto, o sujeito não tem que reagir e não deve reagir.