Mostrando postagens com marcador tragedia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador tragedia. Mostrar todas as postagens

domingo, 24 de julho de 2011

Quem é bandido?


Eu não quero julgar o cara, porque imagino o arrependimento, e também porque seria hipocrisia minha  dizer que é um absurdo dirigir a 150km/hr porque já o fiz, ainda que não tenha sido em perímetro urbano.  Além disso, sempre me lembro de um colega de trabalho do meu primeiro emprego... Ele atropelou uma menininha chamada Laura, que morreu. Laura estava atravessando uma rodovia, após uma curva, e tinha apenas 11 anos.  Meu colega não foi indiciado, porque ele estava na velocidade permitida por lei, prestou socorro, e o acidente foi realmente uma fatalidade, não foi causado por uma imprudência dele. Apesar disso, ele não deixava de se sentir culpado, quando o conheci, haviam passado mais de 10 anos desde o acidente, e ele ainda imaginava como seria a vidada da menininha se o acidente não tivesse acontecido.

Mas não quero falar da consciência daqueles que se envolvem ou foram envolvidos em acidentes de transito, mas devanear  sobre a frase “Não sou bandido”. Se você for levar a intenção ao pé da letra, a intenção de ferir alguém, de lesar alguém, você poderia inocentar muitos bandidos, contudo, não se resume a isso.  Na verdade, está muito mais relacionado a não medir as consequências das próprias ações, de não avaliar o impacto de suas ações na vida de terceiros, ou, ainda fazendo tal análise, optar pelo que lhe convém.

O estelionatário muitas vezes não pensa em prejudicar pessoas, e sim em ganhar dinheiro fácil. O traficante não pensa em destruir a vida de jovens, mas sim em lucrar com a venda de drogas. Os políticos não pensam em deixar os pobres jogados às traças, mas sim em aumentar seu patrimônio. E ainda que a intenção não seja cruel, a consequência pode ser.

Enfim, há uma série de circunstâncias que levam alguém a infringir a lei,  a tirar a vida de alguém, a praticar um crime, havendo ou não intenção.  É fácil, pertencendo a uma classe favorecida, se sentir inocentado pela intenção. Quero ver inocentar os que roubaram porque estavam com fome, os que mataram porque assim foram ensinados desde que eram crianças, e todos os que se tornaram bandidos porque era a única forma de sobreviver. 

P.S.: Troquei de dia com a Laila Mirella, mas só essa semana. ;)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Relacionamentos digitais que acabam mal

 
Essa semana eu estive presa a um livro. “Capitães da Areia” de Jorge Amado fala sobre o cotidiano de crianças de rua que furtam para viver. Durante o livro todo há momentos mostrando o quanto esses meninos buscam um carinho, um afeto, e conseguem algum ao brincarem juntos, dormirem com mulheres ou entre eles mesmo, brincando com um animal na rua... Duas passagens ocorrem com o mesmo personagem: em uma o personagem se finge de coitado para dormir na casa de uma família rica, descobrir tudo sobre a casa e depois voltar com seus companheiros para roubar tudo, porém a família tinha perdido o filho, e resolveu adotar o ladrãzinho. Em outra o personagem faz o mesmo truque na casa de uma solteirona rica, que abusa sexualmente dele. No fim do livro o menino, já crescidinho, sente que ninguém o amou de verdade, pois a família rica só o via como o filho morto que voltou à vida, e a solteirona só queria alguma atenção, em nenhum dos casos o amaram de verdade.
 
Mas eu não estou aqui para falar do livro. Durante o livro vi várias vezes a busca por carinho dos personagens. E quem irá dizer que essa é uma obra somente de ficção, e que nunca é assim na vida real? Já se perguntou porque adolescentes sofrem tanto querendo fazer parte de um grupo? Eles sofrem muito querendo fazer parte de um grupo pois precisam de alguma atenção, de alguma acolhida, de pessoas. É clichê, mas nenhum ser humano consegue viver sozinho. Eu mesmo já tentei, e não tive sucesso.
 
O que isso tem a ver com a notícia? Muitas pessoas não conseguem o afeto e atenção na vida real e buscam na web alguém para lhe dizer coisas boas. Há quem só viva de contatos virtuais, e não se preocupam as com pessoas à sua volta. Isso ainda não é um problema, ainda.
 
Qual o problema então? O problema é quando a pessoa que esta desesperada na busca de afeto desliga seu sentido de medo, de cautela. “Na internet ninguém se conhece, ninguém saberá quem eu sou”, essa frase é um engano, há como “seguir” uma pessoa e descobrir detalhes sobre sua vida, e não estou falando somente do twitter, mas qualquer marca digital deixada na web. Já me deparei  com uma pessoa que tinha uma foto minha e eu nem sabia da existência daquela foto, e nem que a pessoa soubesse algo sobre mim. E com a “moda” de se expor cada vez mais, é muito mais fácil de se surpreender com o número de pessoas que sabem muito sobre você, ou onde mora, ou seus hábitos. Esse é o primeiro ponto onde se deve ter cuidado.

O segundo ponto é a confiança. Já vi colegas que não confiam nem na mãe de repente colocarem a mão no fogo por um conhecido virtual. Confiança deve ser conquistada, e sem contar que, mesmo que você conheça muito sobre a outra pessoa, como a sua cabeça consegue guardar tudo o que gera confiança e desconfiança sobre todas as pessoas do seu círculo virtual? Você se lembra qual dos seus conhecidos já te magoou? São tantos... como você pode confiar em todos eles? Seu cérebro sabe separar  todos os que não te fizeram mal? Se um trocar de “Nick” você ainda vai saber lidar com quem é quem e como te tratam, o que fazem, como são?

O pior de todos é o terceiro ponto: as pessoas que estão tão desesperadas que não enxergam quem pode te fazer bem e quem não pode. No desespero, ficam cegas, ou fingem ignorar os riscos. Como na história do livro que citei no inicio deste texto, a solteirona abusava do menino para conseguir migalhas de afeto, mesmo ignorando que o que lhe era trazido não era afeto verdadeiramente dito.

Nos expomos de uma forma alarmante na web. Uma vez li o tweet automático vindo do 4square de uma pessoa, e nele dizia que estava no banco, na rua X. Você pode achar que nenhum dos seus conhecidos irá te assaltar, mas essas informações estão disponíveis para qualquer um. Alguém poderia ir esperá-lo na saída do banco para um assalto, como aqueles que sempre existiram, mas que os assaltantes não escolhiam tanto suas vitimas.

Mas nem todos que estão na web são maus, não é isso que eu estou dizendo. Minha melhor amiga eu conheci pela web, há uns 6 anos. O problema é confiar em tudo, dar toda sua vida como um livro aberto, e o que é mais perigoso: começar um romance sem conhecer o suficiente a outra pessoa.
 
Quando não conhecemos a outra pessoa, seja qual for o tipo de relação, não sabemos se ela nos fará mal, se será ciumenta, doentia, daquelas que matam por ciúmes, não sabemos de nada. E nessas e outras que ocorrem notícias como as que inspiraram esse post.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Eles merecem

Noticia: http://migre.me/3QlyJ
Número de mortos por chuva na região serrana do Rio chega a 880
Um jovem vê essa noticia. Não fica triste, é a vida. Vai para a internet comentar em seu mundinho cibernético o que pensa. Que essas pessoas tiveram o que mereceram.

Foi essa a imagem que várias pessoas passaram na internet, e em conversas com amigos, sobre as tragédias naturais. Seus argumentos costumam pender para o mesmo lado: ninguém mandou construir casa no morro ou perto da água.

Muito bem, eu retorno a pergunta: essas pessoas são sim culpadas por ter construído suas casas nesses locais. Muitos deles na ilegalidade. Mas se eles não construírem suas casas lá onde construiriam?

Veja bem, não apoio a construção em morros ou em áreas de mananciais, mas a culpa não é só deles. A culpa também não é só, e somente só, do governo. O governo sim deve dar apoio, procurar áreas dignas para legalizar a urbanização, proporcionar os alicerces. Mas não é só culpa do governo. A culpa é do crescimento desgovernado da população.

Você já deve ter estudado na escola o crescimento populacional. Há milhares de anos, a população humana vivia em abundancia. A população foi crescendo, crescendo, e os recursos naturais foram se tornando insuficientes para tanta gente. As pessoas foram pegando terras para construir suas casas, suas fazendas, suas empresas, e sobrando pouco espaço para tanta gente.

Temos sorte de viver no Brasil. Países como o Japão, que é super lotado, têm problemas graves com moradia. Amigos moram juntos, pois não podem comprar suas casas. Algumas pessoas não têm onde morar e vão toda noite para um hotel, ou casa de amigos. O preço da moradia é absurdo.

Você então imagina "temos muito espaço no Brasil. Por que não derrubamos umas florestas e deixamos elas lá?". Não é tão simples. Precisamos das poucas áreas verdes que nos restam. E então você vai ter a grande idéia "construa mais apartamentos ao invés de casas". Só na minha cidade há dezenas de prédios sendo construídos. Mas as pessoas que moram no morro não têm dinheiro para pagar essas construções.

O problema não é só das pessoas mais humildes. No centro da minha cidade alaga muitas vezes. Quando digo centro da cidade estou incluindo a prefeitura. Já apareceram na televisão os funcionários da prefeitura em cima de mesas boiando...
Por que construíram a prefeitura em um lugar que alaga? Não sei explicar o porque, mas muito tempo atrás aquela área era um rio ou coisa do tipo, e toda a área em volta é mais alta, a água escore para lá. Creio que isso ocorreu pelo mesmo motivo que levaram algumas pessoas a morar perto de rios: o crescimento da população de forma desordenada, sem planejamento urbano, sem planejar quais eram as melhores áreas para construção. A população foi crescendo sem ter para onde ir morar, construindo suas casas em lugares inapropriados por falta de planejamento.
Bom, você já pode pensar melhor antes de dizer que “essas pessoas mereceram” a tragédia.