Manchete de Ontem:
CRM da Paraíba apura denúncias de uso de furadeira em cirurgias de crânio
Nesse universo de piadas prontas, de imediato poderia falar do povo “cabeça dura”, das insistências históricas, daquilo que não muda, da tal ordem “natural” das coisas, do cristalizado, enfim. Mas há algo mais forte como pano de fundo. Há o serviço público como mote da piada, e mais que isso, na saúde, onde a corrida deveria ser pelas melhores condições para salvar, onde nada, absolutamente nada, poderia servir de motivo para piada.
Mas independente da manchete, das justificativas dadas pela equipe, das negativas, enfim, o que eu queria chamar a atenção mesmo era para a intervenção individual, humana, dos “CPFs” que participam dos processos e que tantas vezes fazem com que os sistemas pensados sejam alvos de críticas, de insatisfações e por que não, de piadas.
O “Ronda do Quarteirão”, por exemplo, sistema de polícia comunitária que atua aqui em Fortaleza, é um modelo exitoso copiado do Japão e do Canadá. Uma polícia chamada “cidadã”, que deveria ser amiga e conhecida da comunidade, já que atua com um raio restrito, então, com condições de constituir vínculos de confiança. Mas não é bem assim. O “Ronda”, como sistema, não funciona ao apertar de um botão, fazendo tudo acontecer “à japonesa” ou “à canadense”. O Ronda, como qualquer outro sistema, é feito por pessoas, por gente, que carrega a sua bagagem de vida, suas querelas, seus traumas, além de suas habilidades e inclinações – ou não - para o trabalho.
Não é à toa que atos arbitrários, violentos, desregrados são registrados contra a equipe que compõe o “Ronda”. Instituir tal corporação, certamente, demanda uma intensa formação para que a atuação seja de acordo com o modelo pensado. E isso ainda não é garantia de que dê certo. O sistema é feito de gente, a coisa é humana, é corruptível, até certo ponto imprevisível e pode surpreender, ora para o bem, e outras tantas, infelizmente, para o mal.
Não diferente é o que acontece no campo das compras públicas, das licitações, quando as obras, as aquisições são pensadas de uma forma e acabam sendo executadas ou adquiridas de outra. Os projetos são bonitos e parecem atender às necessidades da população, mas de novo o elemento humano burla aquilo que parecia ser retilíneo, óbvio, correto e que conduziria a um ato eficaz.
Em suma, não adianta escolas bem equipadas com professores que não respeitam os alunos, transporte público moderno, onde os motoristas não respeitam as limitações de idosos e deficientes físicos, hospitais com tecnologias de ponta, onde os pacientes são ‘des’tratados. Bem como não há como manter tudo isso com qualidade se tais profissionais não têm o seu valor garantido, seus direitos respeitados.
Analisar qualquer questão dessas por um único ângulo denuncia nossa limitação em compreender o todo, em enxergar além da fumaça. Nada funciona automaticamente e a responsabilização também não pode ser automática.
A teia é densa, grandiosa e intensa e ver de fora, atirar pedras e militar no conforto de nossas cadeiras diante do computador pode não dar conta. Agir assim pode ser irresponsável, pode ser tiro no pé, pode ser “Bosh” na cabeça...