Estar sozinho não é ser solitário
Ontem estava conversando com meu pai, e descobri que ele tinha um plano na cabeça: ou eu saio de casa para casar ou fico morando com ele e minha mãe até enterrá-los. Dei risada, mas ele estava falando sério. Acho que é um problema mais das mulheres, homens não sofrem muito isso.
Então, achei que seria mais honesto, da minha parte, mesmo que houvesse alguma discussão, explicar que não me prendo a isso, posso morar sozinha no meu apartamento, com a parede da cor que eu quiser e com tudo do jeito que eu planejar, até porque também tenho essa vontade imensa. Meu sofá doido, minha parede pintada por eu mesma, um globo e um mapa pregado na parede (eu sou meio brega). E que, o futuro a Deus pertence, eu posso encontrar alguém e tudo mais, contudo eu não tenho problemas se continuar sozinha. Não vou ser solitária por causa disso.
Ele veio com uma resposta com aquela frase que eu detesto: “Vai pegar mal para mim. É estranho, eu moro na mesma cidade que a minha filha mas ela, mulher, vai morar sozinha? Os outros vão ficar achando esquisito, a sociedade fala.”
Oi, eu não sou refém da sociedade. Nem quero depender de me casar com alguém para sair de casa. E nem quero conquistar minha independência financeira sem conquistar a minha liberdade. Liberdade mesmo, sem hipocrisia. Eu quero me agradar e agradar os outros com minhas boas atitudes, não com meu modo de vida.
A sociedade morre. Se renova. As pessoas que fazem parte dela são enterradas, vão embora. E, enquanto vivem, vivem de acordo com a “democracia da maioria” causando preconceitos, desigualdades e privando as pessoas de fazerem o que bem entendem.
Pois bem, eu não vivo para a sociedade. Vivo sob as regras da casa, porque não sou eu que me sustento, sempre deixei claro, senão eu já tinha arrumado meu próprio canto, não por rebeldia, mas porque eu tenho vontade. Mas houve aquele “a casa caiu” quando eu contei os meus planos. Não sou homossexual, mas sou a favor do reconhecimento dos direitos de quem é. Não faria aborto (a princípio, porque tudo é relativo, sei lá, não estive na situação), mas eu sou a favor da legalização. Eu sou católica, mas acho que padre deveria se casar, se quisesse. Dou minhas roupas/sapatos/coisas para quem precisa. Também não concordo com crucifixos em repartições públicas e feriados santos. Não quero namorar agora porque tenho outras ideias e tive decepções ainda não curadas. Enfim... não vou fundamentar cada opinião minha porque não é o caso, só que essa sou eu.
Mas a sociedade quer que eu não tolere os gays, quer que eu não tolere o aborto, quer que eu pague o dízimo e feche meu vidro do carro no semáforo, querem os feriados santos para as viagens e as imagens nos locais de trabalho público, querem que eu namore para não ser a solteirona? E que eu me case, porque ficar só é solidão? E não venham me dizer que não é assim, porque na hora de emitir opiniões, todo mundo é “a favor de um mundo sem desigualdades”, mas muita gente não assume o seu lado “sou robô da comunidade que vivo”,” não admito publicamente e em casa eu ensino para os meus filhos esses valores 'que julgo tradicionais'.”
Eu penso que antes só do que mal acompanhado, sim... não é por isso que eu vou deixar de realizar as coisas que desejar.
E meu pai, finalmente, mudou o jeito de pensar. Felizmente!