É bastante público que não sou uma “Apple Lover”. Especialmente se tratando de telefonia, credito o sucesso da Apple unicamente à completa incompetência da concorrência - aparentemente superada pela Samsung, o que justifica toda a preocupação do mais choroso barão da informática com essa marca.
Tenho um iPod porque é o único produto da marca de fato insubstituível - não encontro outro dispositivo portátil com qualidade de áudio semelhante onde caiba tanta música. Ainda assim, como já "tuitei" algumas vezes, toda vez que preciso usar o iTunes para sincronizar meu iPod, desejo ao Steve Jobs uma morte lenta e dolorosa, preferencialmente engasgado com uma maçã. No meu carro uso um HD, porque prefiro dispositivos compatíveis com as revolucionárias e vanguardistas funcionalidades Ctrl+C, Ctrl+V.
Minha teoria diz que toda a paranoia da Apple com relação a direitos autorais (o iTunes e suas complicações são fruto disso), não vem do notório suposto golpe do plágio aplicado por Bill Gates. Naquela situação, o criador também não era Jobs, e sua irritação e frustração se deu porque, embora ele houvesse copiado primeiro, a Microsoft concluiu sua "versão" mais rápido, chegando ao mercado antes. As raízes são mais profundas, e preocupação vem justamente da facilidade que a Apple sempre teve em copiar as ideias alheias sem que ninguém reclamasse disso.
"2001: Uma Odisseia no Espaço" é um clássico, uma referência. Steve Jobs, com sua pose de grande gênio do consumismo elitista, pseudo-portal do mundo nerd para o universo cool, não pode se dar ao luxo de dizer que não viu, que seus projetistas não viram, que seus desenvolvedores não assistiram. Ainda que não houvesse o filme de Kubrick, curiosamente em Star Trek existe um "dispositivo fino, de tela plana, bordas finas", etc e tal, que se chama... adivinhem? Pad! É muita cara de pau copiar os outros, patentear a cópia, e depois ainda mover um processo por violação dessa patente. Tudo na base da filosofia de vida do "Vai que cola".
A propósito, poucas ideias são tão pouco originais quanto o ícone da maçã mordida. A tentação foi representada pela primeira vez desta forma milênios atrás, no Antigo Testamento, e reutilizada inúmeras vezes no universo artístico (Branca de Neve que o diga). Além do mais, chamar uma empresa de "Maçã", e ter um computador chamado Macintosh , é como ter uma empresa chamada Limão, e um computador chamado Taiti ou Galego. Completamente redundante e desoriginal.
Aparentemente, para o sr. Jobs, se ele é o primeiro a copiar a ideia de alguém e tornar sua execução viável, ela se torna automaticamente sua propriedade. O que novamente ele tenta proteger, é a prerrogativa de fazer uso dos conceitos apresentados por terceiros e "criar" produtos descolados. Vale tudo para eliminar a concorrência e atravancar o mercado, inclusive patentear ideias alheias, bloquear dispositivos contra aplicações de terceiros, e outras inúmeras práticas questionáveis do "senhor tentação".
Nao apenas Jobs, mas todos os magnatas da tecnologia deveriam assimilar que, na verdade, os gadgets e caminhos do futuro pertencem ao mundo das artes, e suas empresas nada mais são que executoras de idéias alheias, não importa quão complexa seja essa execução.
Quem inventou a vídeo-conferência, vídeo-chamada? O cinema! Quem inventou os trens de alta velocidade? Os desenhistas do início do século passado, com suas cidades até então futuristas. Quem inventou as naves espaciais, a nanotecnologia e suas aplicações (inclusive militares), transplante de órgãos e tecidos, controle de dispositivos através de movimentos, monitores translúcidos, televisores e projetores tridimensionais?
Essas coisas não foram concebidas por engenheiros nerds vivendo na Califórnia. Praticamente tudo vem da literatura, do cinema, e recentemente dos video games. É desses segmentos, onde tudo é possível, que surgem os conceitos dos produtos, que se desenvolvem apenas se alguém do departamento de marketing de uma empresa de tecnologia considerar que tal coisa pode ser consumida por alguém, seja um indivíduo ou um governo.