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sábado, setembro 19, 2015

Quem foi que não pediu a troika?

• Miguel Sousa Tavares, Quem foi que não pediu a troika? [hoje no Expresso]:
    «1. (…) Porém, o segundo Governo Sócrates apanhou em cheio com as consequências da crise das dívidas soberanas, desencadeada pelo estouro da economia de casino fomentada nos Estados Unidos. Foi Sócrates quem ouviu então, da boca de Merkel, que os tempos não estavam para cortes, mas sim para políticas de expansão que evitassem uma crise global, como a de 29. E foi ele que, logo a seguir, ouviu a orientação oposta: cortar, cortar, cortar, só o controlo do défice público interessava. Durante esses anos de inconsciência final, não me lembro de ter ouvido alguém - partidos, empresários, banqueiros, gente da cultura, das FA - que pregasse consistentemente o corte da despesa do Estado. Pelo contrário: se os governos de Sócrates fizeram auto-estradas e criaram uma imensa massa salarial no Estado, os governos de Cavaco haviam feito bem pior; se o Governo Sócrates sonhou com uma linha de TGV assumidamente condenada ao prejuízo, o Governo de Durão Barroso chegou a projectar seis (!). Alguém se lembra de ter ouvido o país ou os seus representantes pedirem menos hospitais, menos estradas, menos gastos com medicamentos, menos autarquias, menos institutos públicos? Julgo que todos nos lembramos do que aconteceu no estertor final do segundo Governo Sócrates. Ele tinha vindo de Bruxelas e de Berlim com o apoio da UE e de Merkel ao PEC 4. Ninguém pode saber se mais um PEC teria sido suficiente para evitar o pedido de assistência e a vinda da troika, como sucedeu em Espanha. Mas, no imediato, que o teria evitado, isso é incontestável. Mas o PEC 4 foi chumbado no Parlamento por uma coligação contranatura entre a direita e a extrema esquerda. O PSD votou contra porque sabia que isso significava a queda do Governo e a possibilidade de voltar ao poder - o que de há muito constitui o único substracto ideológico do partido; o CDS votou contra porque Portas sentiu que tinha uma oportunidade rara de, através de eleições, arrumar com o fantasma do "partido do táxi" por alguns anos; o PCP votou contra e aliado à direita, porque, vivendo ainda em 1917, tem como principal inimigo qualquer governo do PS e como principal pesadelo o sucesso de um governo PS; e o BE votou contra porque Louçã não teve coragem nem liberdade para se abster. Derrotado o PEC 4 e derrubado o Governo, a situação financeira entrou, como era de prever, em descontrolo acelerado. Mesmo assim, José Sócrates ainda quis resistir e não se cansou de avisar o que significaria a vinda da troika. Mas, finalmente, já não havia nada a fazer: era chamar a troika ou cessar pagamentos.

    Basta ler os jornais de então para relembrar uma quase unanimidade nacional no apelo à troika - com excepção, é claro, do PCP e do BE, que, por direito divino, estão sempre dispensados de terem alternativas sérias para apagar os incêndios que ateiam. Foi isto que aconteceu há quatro anos e meio. A discussão sobre os factos históricos então ocorridos só pode ser feita num quadro de desonestidade intelectual chocante. Concedo que a actual maioria foi exímia em distorcer os factos e apagar memórias ao longo destes anos, até chegar ao ponto em que Passos Coelho é capaz de exclamar, com um ar ofendido, que dizer que o PSD também chamou a troika é uma grosseira mentira. Mas, chamou sim, chamaram- -na todos. Chamaram-na todos os partidos e, de certa forma, todos nós. Pelo menos, todos os que nunca cessaram de exigir mais e mais dos dinheiros públicos, sem quererem saber quem e como pagará a factura. Nem é tanto a tão criticada afirmação de que vivemos acima das nossas possibilidades. Não sei se vivemos ou não, cada um sabe de si e das suas dívidas. Mas sei que o Estado vive acima das nossas possibilidades. E é essa verdade que ninguém quer enfrentar.

    (…)

    3. (…) Ora, falemos claro: o "caso Sócrates" não tem que ver com a culpabilidade ou inocência dele, que é coisa que, pelo menos para mim, só se apurará em tribunal, produzida a prova e a contraprova. O "caso Sócrates", no que tem de importante, não é, por enquanto, a questão de fundo, mas a questão instrumental: pode alguém ser preso com as televisões a filmar em directo, pode ficar preso com requintes de humilhação, como a história das botas ou do cachecol do Benfica, pode ficar preso nove meses sem acusação, enquanto todos os dias é publicamente linchado num julgamento popular feito nos jornais, através de uma indecente e descarada violação do segredo de Justiça e da banal presunção de inocência? O "caso Sócrates" é isto, e isto merece ser discutido, em quaisquer circunstâncias, aproveite a quem aproveitar, prejudique quem prejudicar. Escudado na hipócrita frase de "à justiça o que é da justiça", o PS não apenas abandonou Sócrates à sua sorte, como finge não ver aquilo que é essencial: a questão de saber se para a Justiça vale tudo e qualquer método é aceitável, desde que escudado no julgamento popular - que é a forma como a investigação dos chamados "processos mediáticos" tantas vezes supera a sua incompetência investigatória. Que o PS queira que o homem fique muito caladinho para não prejudicar a campanha em curso, é entre eles e ele. Que queiram que todos os outros fiquem também muito caladinhos, ao serviço dos interesses circunstanciais do partido, é pedir de mais e sem vergonha.»

quarta-feira, setembro 16, 2015

Para os braços da troika, rapidamente e em força!
(a carta que revela que Passos incentivou, pressionou, conspirou…)


A carta de Passos Coelho enviada a José Sócrates, hoje divulgada pelo Público (cf. aqui e aqui), é um dos últimos actos da conspiração — montada pelo Presidente da República, pelo governador do Banco de Portugal, pelos partidos da direita e pelos banqueiros — para derrubar o anterior governo e justificar a entrada da troika, condição considerada indispensável pela coligação de direita para desmantelar o Estado Social, eliminar os direitos laborais e ir ao pote (incluindo as receitas da Segurança Social). Eis a carta:


    Confidencial

    Gabinete do presidente

    Senhor primeiro ministro

    Recebi hoje informação, da parte do senhor Governador do Banco de Portugal, de que o nosso sistema financeiro não se encontra, por si só, em condições de garantir o apoio necessário para que o Estado português assegure as suas responsabilidades externas em matéria de pagamentos durante os meses mais imediatos. Ainda esta manhã o senhor Presidente da Associação Portuguesa de Bancos transmitiu-me idêntica informação.

    Estes factos não podem deixar de motivar a minha profunda preocupação.

    Não desconheço que o Governo tem repetidamente afirmado que Portugal não necessitará de recorrer a qualquer mecanismo de ajuda externa e é certo que a competência pela gestão das responsabilidades financeiras do país cabe por inteiro ao Governo.

    Não disponho de informação sobre as acções e diligências que o Executivo estará a desenvolver para assegurar o cumprimento dessas obrigações. Porém, é do conhecimento público a situação do mercado que a República vem defrontando, desde há vários meses a esta parte, bem como o facto de o sistema bancário se encontrar sem acesso ao mercado desde há mais de um ano.

    Atenta a especial sensibilidade desta matéria e as gravíssimas consequências que decorriam para o nosso país de qualquer eventual risco de incumprimento, é essencial que o Governo garanta, com toda a segurança e atempadamente, adopção das medidas indispensáveis para evitar tal risco.

    Nestas circunstâncias, entendo ser meu dever levar ao seu conhecimento que, se essa vier a ser a decisão do Governo, o Partido Social Democrata não deixará de apoiar o recurso aos mecanismos financeiros externos, nomeadamente em matéria de facilidade de crédito para apoio à balança de pagamentos.

    Considerando a extrema relevância desta matéria, informo ainda que darei conhecimento desta carta confidencial ao senhor Presidente da República.

    Com os cumprimentos,

    [assinatura]

    Pedro Passos Coelho

    Lisboa, 31 de Março de 2011

Quem é que, de facto, abriu de par em par as portas à troika?


Estávamos em plena crise das dívidas soberanas (que se seguiu à maior crise mundial após a Grande Depressão). José Sócrates chamava a atenção para o clima político que se estava a instalar no país sob a batuta de Cavaco Silva, o qual não se coibia, através de sucessivas declarações, de lançar o alarme na opinião pública: «Muitas vezes sinto-me sozinho a puxar pelas energias do país e acho que o negativismo e o catastrofismo, próprio da lógica do quanto pior melhor, não terá sucesso».

É neste ambiente que Passos Coelho tomou o aparelho do PSD. Não bastava à direita conseguir alçar-se ao poder — precisava de um aliado externo para virar o país do avesso. Por isso, Passos Coelho, ainda em 2010, se prontificou a acolher o FMI: «Trabalharei com o FMI se for essa a forma de ajudar o país».

Na apresentação da moção de recandidatura a secretário-geral do PS em Março de 2011, José Sócrates denunciou a estratégia da direita: «a agenda do FMI e da ajuda externa levaria o país a suportar programas que põem em causa não só o nosso Estado Social mas também o que é a qualidade de vida de muitos portugueses». E o recandidato a secretário-geral do PS pôs à vista de todos os intuitos da direita: «O que querem é com base nesse programa construírem em Portugal uma situação que lhes permita aplicar a sua agenda sob a capa do FMI».

José Sócrates não deixou então de prevenir que aqueles que acenam com uma crise política estão a cometer «uma imprudência e uma irresponsabilidade», até porque o Governo «está disponível para negociar tudo, para dialogar, para conversar e para defender o interesse geral». E acrescentou: «Tudo faremos para evitar uma crise política», considerando «absolutamente lamentável que seja o único líder político que apela à negociação e ao diálogo».

O PS não conseguiu evitar a entrada da troika. Mas quem é que, de facto, abriu as portas para que os representantes dos credores externos se instalassem no Hotel Ritz?

domingo, setembro 13, 2015

Silva Pereira responde a Eduardo Catroga:
a carta "está cheia de falsidades históricas"


Eduardo Catroga não tem respeito por si próprio. Para justificar a sinecura na EDP, dispõe-se a representar os mais lamentáveis papéis. Ontem, publicou uma carta atabalhoada, na qual procura alijar as responsabilidades de Passos Coelho na entrada da troika em 2011. Pedro Silva Pereira responde-lhe através de outra carta, na qual desmonta as «falsidades históricas» escritas pelo vizinho de Cavaco Silva na Quinta da Coelha. Se Catroga ainda tiver um pingo de vergonha, nunca mais volta a abrir a boca.

sábado, setembro 12, 2015

Tudo e o seu contrário


Apesar do que disse na altura, Catroga diz agora com modéstia que afinal não teve nada a ver com o programa da troika e que o Governo até ficou aquém da troika. É verdade, ficou aquém da troika nos resultados porque foi além da troika na austeridade. Recorde-se que a meta para o crescimento do produto em 2014 era de 2,5%, mas ficou nos 0,9. A meta para o défice em 2014 era de 2,3%, mas ficou nos 4,8%. A meta para o desemprego em 2014 era de 12%, mas ficou nos 13,5% e num saldo de postos de trabalho destruídos que vai nos 200 mil. Emigraram 485 mil pessoas. E a dívida pública, a meta das metas, em vez de baixar, aumentou e muito: entre 2010 e 2014, subiu de 96 para 130% do PIB. A meta era 114% em 2014… De 195,6 mil milhões subiu para 225,7 mil milhões. Só houve uma coisa em que o Governo conseguiu superar as metas iniciais da troika: as privatizações, a começar pela EDP, onde foi parar Catroga. A suspeita é legítima: depois do pote das Empresas Públicas, os estarolas preparavam-se agora para assaltar o pote da segurança social…

Mudança de epígrafe


O CC alterou a sua epígrafe na quinta-feira. Volta a fazê-lo hoje: «Tem-se diabolizado o FMI». Quem mais se atreveria a fazer esta declaração senão Passos Coelho? Foi numa entrevista à SIC em 25 de Março de 2011, na qual voltou a esconder que se havia reunido com José Sócrates, que o informara de todas as diligências feitas para ver aprovado, no âmbito da União Europeia, o PEC 4.

Se tanto insistem em falar do passado,
quem chamou a troika em 2011?


Convenhamos que não seria fácil fazer a apologia da política austeritária de «ir além da troika», o tal empobrecimento de que falava Passos Coelho (depois de vencer as eleições), método eficaz para retirar 7,6 mil milhões a salários e doar 2,5 mil milhões ao capital. Por isso, Passos Coelho & Portas pretenderam fingir-se de mortos na campanha eleitoral.

No entanto, ao não conseguir fugir dos debates na televisão, a coligação de direita provou que os receios tinham razão de ser. Está a ser um descalabro: Passos Coelho saiu a cambalear do confronto com António Costa, Paulo Portas embatocou perante Catarina Martins e, ontem, Passos Coelho voltou a espalhar-se ao comprido quando a coordenadora do BE fez alusão ao desastre do Novo Banco e à privatização escondida das receitas da Segurança Social (através do recurso ao plafonamento).

Em desespero, Passos Coelho ainda tentou ressuscitar a coligação negativa de antigamente, mas o expediente não resultou (cf. debate, ao minuto 23):
    Passos Coelho — Isto é quase tão próximo como aquela afirmação de que foi o PSD que chamou a troika

    Catarina Martins — Por acaso eu acho que chamou mesmo.

Pois, se o leitor ainda tem dúvidas de quem escancarou as portas à troika, pode ler um relato dos dias trágicos em que a direita se entendeu sobre a necessidade de encontrar um pé-de-cabra para virar o país do avesso: A prova dos factos: afinal, quem chamou a troika em 2011?

sexta-feira, setembro 11, 2015

Frases-chave de António Costa


    «As frases-chave de António Costa na entrevista de ontem à RTP:
      1. 'A troika só sairá de Portugal quando Passos Coelho sair do Governo'.

      2. 'Passos Coelho é um prisioneiro do passado'.

      3. 'O PS é o único partido com as contas feitas'.

      4. 'A diferença é que Passos Coelho aumentou a dívida e eu reduzi-a, Passos Coelho aumentou o impostos e eu baixei, Passos Coelho cortou no investimento e eu aumentei'.

      5. 'Não recebo lições do atual primeiro-ministro quando à boa gestão das coisas públicas'.»

segunda-feira, agosto 24, 2015

Da série "Frases que impõem respeito" [943]


O Governo anda escondido há muito tempo, anda-se a esconder atrás da 'troika' para executar o programa que verdadeiramente queria e pelo qual se bateu tanto para que a 'troika' viesse.

Tem andado a esconder aquilo que é a realidade verdadeira do país, que não se esconde nas estatísticas, ouve-se naquilo que o povo nos diz. E agora quer esconder aquilo que quer fazer a seguir, por isso não mostra as contas do seu programa e esconde a verdade daquilo que se propõe fazer, que é atacar a privatização dos serviços públicos.

segunda-feira, junho 22, 2015

Reformas estruturais: resultados


    «Não há maior demonstração de que o ajustamento externo foi inteiramente conjuntural, isto é, inteiramente dependente da recessão, da destruição de emprego, da queda do consumo e do colapso do investimento, do que a evolução do excedente externo.

    O excedente externo atingiu uns fantásticos 5169 milhões em 2013, caiu para 3608 em 2014, cerca de 30%. Anualizando os 186 milhões que noticia o Expresso, o excedente de 2015 seria 558 milhões. Diz que o ajustamento era suposto ser estrutural. Estes dados mostram o oposto.»

sexta-feira, junho 19, 2015

Crianças pirómanas


• Fernanda Câncio, Crianças pirómanas:
    «“Diálogo mas com adultos na sala”, exigiu ontem, no fim de mais uma reunião do Eurogrupo sem acordo, a diretora-geral do FMI. O grau de maturidade de alguém costuma ser aferido em função da capacidade de não fazer birras, não tomar decisões irracionais e assumir os erros. Mas pedir desculpa não basta: é preciso tentar corrigir o mal e não voltar ao mesmo.

    Vejamos pois quem, nesta história, está a fazer birra, quem cometeu erros, quem pediu ou não pediu desculpa e procurou emendar-se. Por exemplo: que fizeram os gregos de errado? Elegeram um governo anti-austeridade, certo - que, ao contrário do eleito em 2011 em Portugal, leva a sério as promessas feitas aos eleitores. Mas antes deste braço de ferro com a troika, que sucedeu, nos cinco anos desde o primeiro resgate, em maio de 2010?

    A Grécia não cumpriu os programas que lhe foram impostos? Não cortou salários e pensões (lá, ao contrário daqui, não houve a "força de bloqueio" Tribunal Constitucional) e gastos sociais, não aumentou impostos e transportes públicos, não chegou até a fechar a TV pública (que só reabriu agora)? Não aplicou a receita austeritária que lhe foi imposta, como aos outros países resgatados - sempre a mesma? Se aplicou: ontem no DN um texto do comentador-chefe do Financial Times Martin Wolf descrevia o efeito bombástico do "ajustamento" grego - "O PIB real agregado caiu 27% (...), a taxa de desemprego chegou aos 28% em 2013, enquanto o emprego público caiu 30% entre 2009 e 2014". Leiam-se os documentos do próprio FMI sobre o cumprimento do programa grego: todos assumem que os efeitos das brutais exigências foram muito diferentes dos estimados. Do já célebre "erro dos multiplicadores" - o efeito do corte de cada euro foi calculado pela troika muito abaixo da realidade por ter usado uma fórmula errada - à ideia de que "as reformas estruturais" (termo fétiche dos troikos que estamos para perceber, ao fim destes cinco anos, que raio quer dizer, já que aquilo que assim apelidam é invariavelmente corte de qualquer coisa) iam levar a "um aumento da produtividade e a uma melhoria no investimento", passando por não terem tido em conta a "quebra da confiança" (que qualquer bebé preveria), foi um não acabar de asneiras. Mas que se pode ler num estudo de 2013 de técnicos do FMI, que assume todos estes erros? Que "de qualquer maneira uma profunda recessão era inevitável" e se a Grécia tivesse entrado em default, diz o paper, "o mais certo é que a contração fosse ainda maior". A sério, isto está escrito assim: se a troika não tivesse acudido à Grécia, era capaz de ser pior. E o melhor é que, tendo "acudido", quer, cinco anos depois, continuar a mesma brincadeira - ou deitar fogo ao brinquedo, sem cuidar de saber se com isso incendeia a casa. Está na altura de um bom par de estalos -- mas na Europa, pelos vistos, não sobra ninguém para pôr ordem na criançada.»

sábado, junho 13, 2015

O governador do Governo que os portugueses rejeitam

O Governo de Passos & Portas comporta-se como se não houvesse amanhã — ou melhor, actua como alguém que já sabe o que vai acontecer amanhã. A recondução apressada do governador do Banco de Portugal é apenas mais um exemplo de que o Governo perdeu completamente as estribeiras: da captura do aparelho do Estado à lambarice no pote, é um fartar vilanagem.

O governador Carlos Costa não foi alheio às manigâncias para abrir a porta à troika, deu depois cobertura activa à política austeritária de «ir além da troika», chegou tarde ao BES, eludiu as responsabilidades do Governo na matéria e defraudou os clientes do papel comercial. É obra a mais para que os portugueses não olhassem para a recondução de Carlos Costa como uma forma de manter por perto um homem que sabe de mais e que poderia criar problemas se abrisse a boca em vésperas das eleições.

Esta sondagem da Aximage revela isto mesmo:

domingo, junho 07, 2015

Como um desastrado parágrafo estraga um artigo de opinião


Ninguém com os pés na terra ignora que o Governo de Passos & Portas se alçou ao poder com um encargo preciso: virar do avesso o regime democrático instaurado na sequência do 25 de Abril.

Ninguém com os pés na terra ignora que Passos Coelho, antes de se alçar a São Bento, declarou que não veria nenhum problema em governar sob a tutela do FMI.

Ninguém com os pés na terra ignora que a decisão do PSD e do CDS de rejeitar o PEC IV tinha o propósito específico de usar a troika como pé-de-cabra para cumprir a missão a que se propôs (como Passos Coelho confessou quando afirmou querer «ir além da troika»): o desmantelamento do Estado Social, o aumento da precariedade laboral e a redução dos salários, tudo isto acompanhado por uma desenfreada partilha do pote.

Ninguém com os pés na terra ignora que o Governo se bandeou com os representantes políticos dos credores estrangeiros, tendo-lhes, entre outras patifarias, permitido, num ápice, desembaraçar-se da dívida portuguesa (mesmo que para tanto tivesse até forçado o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social a pôr quase todos os ovos no mesmo cesto).

Ninguém com os pés na terra ignora que, ao contrário dos outros países sob assistência formal (Grécia, Irlanda e Chipre) ou não (Espanha e Itália), o Governo português foi o único que nunca ousou publicamente exigir melhores condições. Colocou-se, resto, na posição do lambe-botas que, na sala de aula, denuncia os colegas aos professores: de Vítor Gaspar, que se demarcou da Irlanda quando esta pediu uma renegociação dos juros e das maturidades dos empréstimos, a Maria Luís Albuquerque, que faz de ventríloquo de Schäuble, passando por Passos Coelho, que, para não divergir de Angela Merkel, não se desobrigou de, em Berlim, repudiar as eurobonds que havia defendido pouco tempo antes.

Vem isto a propósito de um artigo que li hoje com agrado, mas que começa com um parágrafo desastrado: «Dizem-nos que se chama Portugal à Frente porque o interesse nacional é o que os move. Não questiono, em circunstância alguma, a bondade das intenções e, muito menos, o patriotismo de quem quer que seja.» Que mais precisa o Governo de fazer para convencer o articulista das suas reais «intenções»? E do seu «patriotismo»?

Não obstante a devastação social provocada pela política austeritária de «ir além da troika», há ainda quem olhe para este governo como um executivo de direita igual a tantos outros. Não é. Este governo — da direita radical — conseguiu levar a cabo uma brutal transferência de rendimentos e de poder na sociedade portuguesa.

A inegável incompetência dos estarolas (de que a reforma do Estado de Paulo Portas é o retrato perfeito) e as «políticas erradas» seguidas talvez tenham impedido o Governo de levar a empreitada tão longe como havia projectado. Daí que Passos Coelho tivesse começado, a partir de certa altura, a falar na necessidade de fazer duas legislaturas para aplicar o programa de que tinha sido incumbido.

sexta-feira, maio 29, 2015

A verdade contra cinco mentiras


• Augusto Santos Silva, A verdade contra cinco mentiras:
    «Qualquer observador/a minimamente atento/a já percebeu que a campanha da direita se vai basear no lançamento de falsidades sobre as propostas do PS e na criação de um clima de medo entre as pessoas. Deixo aqui um pequeno contributo para a desmontagem de tais falsidades. Indicarei cinco argumentos repetidos até à exaustão contra o PS e António Costa, que têm em comum faltarem à verdade dos factos.

    Primeiro argumento: o PS não pode voltar ao Governo porque o PS é o responsável pela troica e o programa de ajustamento.

    Falso: quem obrigou o país a recorrer ao resgate foi a coligação negativa de todas as forças políticas então na Oposição que chumbaram em março de 2011, no Parlamento, a alternativa que o Governo do PS tinha negociado com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. Essas forças chamam-se: PSD, CDS, PCP e BE. Foram elas que chamaram a troica.

    Segundo argumento: o Governo Passos Coelho-Paulo Portas fez o que fez, porque tinha de cumprir o Memorando de Entendimento assinado pelo Governo anterior com a troica; não havia alternativa à política que foi seguida.

    Falso: havia desde logo a alternativa de cumprir esse mesmo Memorando! O Memorando não previa nem obrigava a cortes adicionais de salários e pensões, nem ao aumento do IRS, nem à subida do IVA para a restauração. Foi o Governo PSD-CDS que forçou esses cortes, “indo além da troica”. Por outro lado, o Memorando previa medidas que o Governo da direita se recusou a cumprir: por exemplo, intensificar a criação das Unidades de Saúde Familiar e implementar o Mapa Judiciário aprovado pelo PS.

    Terceiro argumento: o programa de ajustamento foi duro (a terapêutica causou dor), mas produziu resultados (o “doente” ficou melhor).

    Falso: Portugal ficou pior. Ficou pior a dívida pública, que subiu em mais de um terço, em relação ao PIB. Ficou pior a economia, que caiu mais de 5%. Ficou pior o emprego, tendo-se perdido mais de 400 mil postos de trabalho. Ficou pior o desemprego, cuja taxa subiu até aos 14%. Ficou pior a pobreza, designadamente entre as crianças e os jovens. Ficaram pior as desigualdades, tendo aumentado o fosso entre os rendimentos dos mais ricos e os dos mais pobres. Ficou pior a proteção social aos mais desfavorecidos. Ficou pior o rendimento disponível para as famílias. Ficaram piores os cuidados de saúde. O investimento recuou 30 anos e a emigração voltou aos níveis da década de 60.

    Quarto argumento, que é variante do terceiro face à demonstração da sua falsidade: a sociedade perdeu, mas houve elementos económico-financeiros que melhoraram por responsabilidade do Governo.

    Falso: os elementos que melhoraram, no plano financeiro, foram o valor dos juros e a acessibilidade aos mercados de dívida pública. Eles resultam da nova política do BCE, exatamente aquela contra a qual se pronunciou Passos Coelho. No plano económico, nenhum dos fatores do, aliás tímido, crescimento de 2014 e 2015, se deve ao Governo: no plano externo, o crescimento da Zona Euro, a desvalorização do euro e a descida do preço do petróleo; no plano interno, a minoração dos cortes nos salários e pensões imposta pelo Tribunal Constitucional.

    Quinto e último argumento: o Governo vincula-se à política de austeridade, mas ao menos tem as contas feitas; ao passo que o PS quer deitar para trás a austeridade mas não apresenta os custos das medidas que propõe.

    Falso: é exatamente ao contrário. Os compromissos do PS estão quantificados e o Cenário Macroeconómico que serve de referência ao seu Programa de Governo mostra precisamente como se enquadram na evolução financeira e orçamental antecipada para 2015-2019. Quem se comprometeu com 600 milhões de cortes nas pensões e não quer dizer como é que tencionaria obtê-los é o Governo!

    Caras e caros leitores: só há uma maneira de derrotar a mentira: é desmascará-la com a verdade dos factos.»

sexta-feira, maio 22, 2015

É melhor tê-lo por perto, não vá o diabo tecê-las


Depois de apresentar um percurso que dava um belo folhetim, o governador do Banco de Portugal não apenas foi cúmplice dos desmandos da troika como se comportou como um precioso sequaz do Governo na estratégia austeritária de «ir além da troika».

O caso BES poderia ter obrigado Carlos Costa a sair de cena pela porta das traseiras. Mas se a circunstância de ter sido o manto protector do Governo pôs a nu as suas fragilidades, deu-lhe também o suplemento de alma para reivindicar a continuação como governador. É que é melhor tê-lo por perto do que o ver a publicar as suas memórias em plena campanha eleitoral.

A anunciada decisão de Passos Coelho, a poucos meses das eleições, não pode ter outra explicação. E a recusa do alegado primeiro-ministro em obter a aquiescência da oposição é mais um sinal do desespero de quem vê o chão a fugir-lhe debaixo dos pés.

quinta-feira, maio 21, 2015

Histórias de quatro anos de sucessos [1]
A dívida pública continua imparável

— Ó Pedro, essa aí ao teu lado não consegue domar a dívida.

Quando o Governo de Sócrates saiu de cena, a dívida pública ascendia a 94% do PIB. No fim do 1.º trimestre de 2015, a dívida atingiu 130,3% do PIB, acima do valor que alcançou no final de 2014 (130,2%). De acordo com os dados divulgados hoje pelo Banco de Portugal, a dívida na óptica de Maastricht — a que interessa à Comissão Europeia — somou 226,3 mil milhões de euros no final do primeiro trimestre.

A dívida pública tem trocado as voltas ao Governo desde o início do programa de ajustamento, situando-se sempre acima das previsões oficiais, que numa primeira fase apontavam para um pico de 107% do PIB em 2013.

É a política austeritária de ir «além da troika», aplicada pelo Governo, a mostrar uma parte dos seus resultados.

terça-feira, maio 19, 2015

A arma secreta de Passos
denuncia o programa para os próximos quatro anos

— Deixa, Pedro, que eu preparo-os para os cortes.

Eduardo Catroga foi o responsável pelo programa eleitoral do PSD em 2011. Como recompensa, o Partido Comunista da China foi alertado de que lhe deveria ser dada, após a privatização, uma prateleira dourada na EDP. Assim aconteceu.

Agora, a coligação da direita pede a Catroga um último serviço: abrir caminho a novos pacotes de austeridade, especificamente para promover mais e mais cortes na despesa pública. Para isso, ele assentou arraiais no Público: na semana passada, uma inesperada entrevista e, hoje, um artigo de «opinião».

A tese de Catroga é simples: a consolidação orçamental está a ser feita sobretudo pelo aumento de impostos e não por cortes na despesa. Esta tese tem um problema: não corresponde à realidade, como Pedro Adão e Silva o demonstrou no Expresso.

Ora, ao continuar a insistir que o Governo não foi «além da troika», Eduardo Catroga acaba é por anunciar o programa que os estarolas colocariam em prática, caso vencessem as eleições: cortar (ainda mais) salários e pensões. A ministra das Finanças já disse, de resto, que os pensionistas CGA sofreriam um corte de 600 milhões de euros.