O médico desaconselhou-me a leitura da obra bissemanal de João Miguel Tavares. Eu procuro cumprir, mas há leitores que me fazem chegar fragmentos das suas crónicas num jornal de referência. Escreveu ele anteontem a propósito de Rosa, a doente com cancro abandonada na escadaria de uma igreja no Porto:
- «Lamento, mas martelar uma notícia para a fazer encaixar numa narrativa pré-definida tem qualquer coisa de obsceno. Travestido de amor pela humanidade, está-se apenas a manipular o sofrimento alheio para alcançar ganhos políticos. Eu não tenho dúvidas de que a austeridade tenha originado inúmeras injustiças, que merecem ser denunciadas – mas denunciem-nas decentemente, se faz favor. E não transformem a austeridade no bode expiatório de todos os males do mundo, como se ela fosse a serpente que veio estragar o Paraíso.(…)»