• Teresa de Sousa, Baralhar e dar de novo:
- « (…) Na sexta-feira, a ortodoxa Finlândia (o país que mais deu dores de cabeça a Bruxelas em matéria de contribuição para os resgates) viu o seu “triplo A” ser reduzido para um “duplo A” pela Standard & Poor’s. Já só restam a Alemanha e o Luxemburgo. Vale a pena lembrar o que disse em 2011 o actual primeiro-ministro finlandês, Alexander Stubb, agora às voltas com uma inevitável recessão, citado pela Reuters: “Os princípios darwinistas devem aplicar-se à zona euro e as economias mais fortes devem ter a decisão final sobre a maneira de dirigi-la”. Agora lembra que a crise na Ucrânia e o abrandamento da economia russa trocaram as voltas à economia finlandesa. (…)
2. Vale, aliás, a pena começar pela Alemanha, que esta semana andou nas bocas do mundo por duas razões mais ou menos inesperadas. A primeira, quase hilariante pelos seus contornos, foi o estado das suas Forças Armadas. A questão foi debatida no Bundestag a partir de um relatório a que os jornais tiveram acesso, que as descreve como um desastre. Meia dúzia de exemplos: só um dos seus quatro submarinos funciona; só 70 dos seus 180 tanques Boxer estão em condições operacionais; apenas sete da sua frota de 43 helicópteros da Marinha podem voar, etc. É irresistível reproduzir um título de um jornal alemão, citado pela Reuters: “Se os tanques Boxers se mantêm de pé é graças à laca da ministra da Defesa”. Úrsula von der Leyen é criticada por gostar mais de se deixar fotografar do que de tratar da Bundeswehr. Médica e mãe de sete filhos, quer ser a sucessora de Angela Merkel na CDU. Judy Dempsey, do Carnegie Europe, recordava há dias que a Alemanha está a ter dificuldades para trazer os seis soldados no Afeganistão de volta a casa porque os aviões estão avariados. Dos 56 há apenas 24 operacionais. A analista também lembra que a Alemanha viu-se obrigada informar a NATO de que não consegue arranjar os aviões pedidos para patrulhar a fronteira dos Bálticos. Os exemplos são infindáveis. Para um país a quem toda a gente pede que assuma maiores responsabilidades internacionais, não é o que se estava à espera. A redução do orçamento da Defesa para 1,3 % do PIB pode ser uma explicação. A falta de prioridades é outra. Talvez valesse a pena explicar aos alemães que as despesas com a defesa têm de aumentar num mundo cada vez mais caótico, incluindo à volta das fronteiras da Europa.
A segunda questão que irrompeu no debate alemão tem a ver com a economia. Marcel Fratzscher, director do DIW (Instituto Alemão para a Investigação Económica), conselheiro habitual do Governo, acaba de publicar um livro sobre “A Ilusão Alemã”, que aponta para as fragilidades de uma economia que se apresenta como o modelo a seguir. As infra-estruturas de transportes estão envelhecidas e ninguém as repara. O desemprego baixo deve-se aos “mini-jobs” mal pagos e em part-time. O investimento caiu para 17 por cento e cada vez mais as grandes empresas preferem investir fora da Alemanha, por exemplo nos EUA. A produtividade cresceu muito pouco nos últimos anos (entre 2007 e 2002, 0,3%, para 0,5 na Dinamarca, 0,7 na Áustria, 0,9 no Japão ou 1,5 nos EUA e 3,2 na Coreia). Os salários continuam a perder valor real. Só exportar, exportar, exportar torna a economia alemã particularmente vulnerável a cada desaceleração da economia europeia e mundial. O director do DIW lembra que a Alemanha está em condições de se financiar a custos baixíssimos e era o que devia fazer para estimular a economia. O último sinal de alarme foi a queda inesperada das encomendas à indústria de 5,7% no segundo trimestre. Como escreve o Telegraph, “a Alemanha apenas parece saudável porque as outras economias europeias estão moribundas.” (…)»