Que estava em causa no projecto de lei nº 278/XII, esta manhã chumbado na Assembleia da República? Apenas isto: no superior interesse da criança, quando duas pessoas do mesmo sexo sejam casadas (ou vivam em união de facto), assumindo um deles responsabilidades parentais em relação a uma criança por via de filiação (ou adopção), deve poder o cônjuge (ou o unido de facto) requerer a co-adopção da criança.
Por outras palavras, estando em causa a co-adopção de crianças que já fazem parte de famílias constituídas, quem as protege se morrer o cônjuge com responsabilidades parentais? Gostaria de ouvir a resposta a esta questão por parte dos deputados que votaram contra ou se abstiveram.
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sexta-feira, março 14, 2014
O passo que falta dar:
ir buscar as crianças e enfiá-las numa instituição
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quinta-feira, fevereiro 27, 2014
quinta-feira, fevereiro 20, 2014
Eles não se detêm perante a lei…
1. O Tribunal Constitucional decidiu não verificada a constitucionalidade e a legalidade do referendo proposto na Resolução nº 6-A/2014, da Assembleia da República, sobre a co-adopção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo e a adopção por casais do mesmo sexo, casados ou unidos de facto, uma vez mais através de votações expressivas: 13-0 em relação à inconstitucionalidade de juntar a adopção com co-adopção; 11-2 em relação à inconstitucionalidade por não ser permitido o voto aos emigrantes. Hugo Soares, o testa-de-ferro de Passos Coelho para esta matéria, já veio dar a entender que o PSD não deixa cair o referendo.
2. As 85 obras de Miró que pertenciam ao BPN voltarão a leilão em Junho, anunciou hoje a leiloeira Christie's. O Governo continua sem esclarecer como é que as obras saíram do país, tendo em conta que não foram cumpridas as formalidades legais.
2. As 85 obras de Miró que pertenciam ao BPN voltarão a leilão em Junho, anunciou hoje a leiloeira Christie's. O Governo continua sem esclarecer como é que as obras saíram do país, tendo em conta que não foram cumpridas as formalidades legais.
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sábado, fevereiro 15, 2014
A entrevista do patriarca de Lisboa
José Sócrates na RTP em 9 de Fevereiro de 2014
(vídeo partilhado Manuel Cintra)
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sábado, fevereiro 08, 2014
Retrato
- “D. Manuel Clemente defende que direitos das minorias devem ser referendados”.
O patriarca inteligente.
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sábado, fevereiro 01, 2014
Tenham medo. Muito medo!
• Nuno Saraiva, Tenham medo. Muito medo!:
- ‘Incrédulo com a afirmação de que "todos os direitos das pessoas podem ser referendados", vista de fugida na televisão, não resisti ao desabafo instantâneo, através do Facebook. Instintivamente, escrevi: "O direito à justiça, o direito à saúde, o direito à educação, o direito ao trabalho e a um salário digno, o direito à não discriminação sexual, racial, política, religiosa ou qualquer outra. Isto para não falar no direito à vida. Tudo é, portanto, referendável e, por consequência, alienável." E acrescentei, a concluir: "Definitivamente, a imbecilidade não tem limites."
(…)
Talvez se questionem sobre a razão que me leva a "perder cinco minutos" a escrever sobre esta figura aparentemente menor. Hugo Soares, desenganem-se, não é personagem de somenos. Tem já, desde logo, o poder de legislar. Num tempo em que cada vez mais o acesso à política parece reservado e circunscrito a quem faz carreira a partir das juventudes partidárias - vejam-se os casos do atual primeiro-ministro e do líder do maior partido da oposição - determinará a ordem natural das coisas que, um dia destes, o dr. Hugo Soares possa ascender a um lugar de maior peso e relevância. E, à luz do pensamento que até agora lhe conhecemos, será esse o momento para termos medo. Muito medo.’
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sexta-feira, janeiro 31, 2014
O narcotráfico da direita
Entrevista de Passos Coelho ao i em 2010 |
• Fernanda Câncio, O narcotráfico da direita:
- ‘(…) que leva dois Governos de direita, com a popularidade em frangalhos, a fazer propostas destas, contrárias ao interesse da maioria dos cidadãos e controversas dentro dos próprios partidos, em países submetidos a brutais medidas de austeridade? Convicção ideológica? Se no caso do Governo espanhol é admissível, no do PSD português, cujo presidente e atual primeiro-ministro já defendeu publicamente não só a adoção por casais do mesmo sexo como reputou de inconstitucional a sua proibição (já referendar uma inconstitucionalidade, pelos vistos, não acha inconstitucional), é claro que não. Que vantagem viram então nestas manobras?
Óbvio: (…)’
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quinta-feira, janeiro 30, 2014
"Todos os direitos das pessoas podem ser referendados"
• Ferreira Fernandes, Povo: as mulheres podem conduzir? :
- “(…) É verdade, porém, que com a aberração de deputados como H.S., a Constituição não está livre de ser alterada, contra coxos e etc. Por isso é necessário tratá-la, à aberração, como fez a deputada Isabel Moreira, que também estava no debate televisivo. Acabou H.S. de dizer a enormidade e ela escreveu numa folha, soletrando o que ele dissera: "Todos os direitos das pessoas podem ser referendados." Isabel Moreira soletrou baixinho que é como se humilham as enormidades.”
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terça-feira, janeiro 28, 2014
Cavaco chuta para o Tribunal Constitucional
O Presidente da República decidiu enviar a proposta de referendo sobre a co-adopção e a adopção por casais homossexuais para o Tribunal Constitucional. Ouça-se na TSF o comentário do constitucionalista Reis Novais.
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sábado, janeiro 25, 2014
Hugo Soares, marxista da tendência Groucho
Hoje no i Nuno Oliveira, aqui |
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sexta-feira, janeiro 24, 2014
Referendo condenado
Passos Coelho ao jornal i |
• Fernanda Câncio, Referendo condenado:
- ‘Não é a primeira decisão de tribunais europeus a tornar claro que, como o TEDH [Tribunal Europeu dos Direitos Humanos] disse em 2002 a propósito destes temas, "os Estados não têm carta-branca para exercer poder arbitrário". Uma advertência que deve ser dificilmente compreensível a uma maioria que se especializou na arbitrariedade, no desrespeito pela Constituição e no insulto ao Tribunal Constitucional, e que só ajoelha perante as decisões europeias que mandem reduzir défice e aumentar austeridade. Mas não nos equivoquemos: o primeiro-ministro que em 2010 dizia achar que a proibição de adoção para casais homossexuais é inconstitucional pode estar-se nas tintas para os princípios, não ter uma pinga de vergonha e achar incompreensível a noção de direitos fundamentais e decisões neles baseadas, mas não quer um referendo. Só quer empatar e poder dizer aos integristas conservadores cujo apoio deseja que fez tudo o que estava ao seu alcance. E, brinde, passar a batata quente a Cavaco.’
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quarta-feira, janeiro 22, 2014
Da série "Frases que impõem respeito" [835]
- Nós temos o Presidente da República em funções. Ainda ontem condecorou o jogador Cristiano Ronaldo com um discurso de grande patriotismo e com grande ênfase. Eu até estava a ver e pensei: — Isto é que é de facto puxar pelos símbolos da Pátria. O que aconteceria se Portugal por acaso tivesse o Nobel da Literatura? Que discurso faria este homem se Portugal por acaso tivesse o Nobel da Literatura?
- Augusto Santos Silva, no comentário das terças-feiras na TVI24 (vídeo), em que falou da destruição do ensino levada a cabo por Nuno Crato (e dos seus efeitos no tecido económico), das marcelices e do referendo
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segunda-feira, janeiro 20, 2014
A vergonhosa atitude do PSD na co-adopção
José Sócrates na RTP em 19.01.2014
(2.ª parte do Telejornal - a partir de 2:46)
Partilhado por Manuel Cintra
(2.ª parte do Telejornal - a partir de 2:46)
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Diário do Povo
1. Foi publicada a Resolução da Assembleia da República n.º 6-A/2014, que propõe a realização de um referendo sobre a possibilidade de co-adopção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo e sobre a possibilidade de adopção por casais do mesmo sexo, casados ou unidos de facto. Eis as perguntas:
2. Está por explicar este êxodo, que não aconteceu no Egipto, mas em Belém. Não é de excluir a possibilidade de o locatário do palácio, guia do actual governo, ter andado pelos corredores a procurar persuadir os servidores a abandonarem as instalações: — Desamparem a loja. A alternativa é a requalificação.
3. Ainda há dias, na Opinião Pública da SIC-N, alguém se referia ao batalhão de secretárias pessoais do alegado primeiro-ministro. Já tem mais uma. Não veio da função pública, à qual Passos Coelho — em campanha eleitoral — prometeu ir abastecer-se. Veio da NOVOM - Assistência Técnica de Equipamentos de Hotelaria, L.da, onde ingressara há menos de um ano.
- 1 — «Concorda que o cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo possa adotar o filho do seu cônjuge ou unido de facto?»
2 — «Concorda com a adoção por casais, casados ou unidos de facto, do mesmo sexo?»
2. Está por explicar este êxodo, que não aconteceu no Egipto, mas em Belém. Não é de excluir a possibilidade de o locatário do palácio, guia do actual governo, ter andado pelos corredores a procurar persuadir os servidores a abandonarem as instalações: — Desamparem a loja. A alternativa é a requalificação.
3. Ainda há dias, na Opinião Pública da SIC-N, alguém se referia ao batalhão de secretárias pessoais do alegado primeiro-ministro. Já tem mais uma. Não veio da função pública, à qual Passos Coelho — em campanha eleitoral — prometeu ir abastecer-se. Veio da NOVOM - Assistência Técnica de Equipamentos de Hotelaria, L.da, onde ingressara há menos de um ano.
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sábado, janeiro 18, 2014
"This man is a dangerous man.
He lies while looking at you in the eye"¹
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Hoje no DN |
Estávamos em 2010. Passos Coelho enganou tudo e (quase) todos. Ana Sá Lopes, por exemplo, não poderia ter escrito um artigo mais laudatório: “A mudança radical que ocorreu no PSD há uma semana tem passado despercebida. Pela primeira vez na sua história, o partido social-democrata elegeu um líder não católico que defende, por exemplo, a adopção por casais homossexuais (…).” E, extasiada, interroga-se: “as opções pessoais do novo líder contagiarão um partido que ao longo da sua história tem alinhado com as ideias mais conservadoras nos costumes?”
Uns dias antes, a mesma jornalista havia entrevistado Passos Coelho, que preparava, com o terrível Ângelo e o facilitador Dr. Relvas, o assalto à São Caetano. O título que Ana Sá Lopes escolheu para a entrevista² não poderia ter sido mais premonitório: “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?” Eis um extracto dessa entrevista:
Foi este mesmo Passos Coelho que agora impôs a aprovação do referendo. E não se limitou a dar luz verde aos sectores mais ultramontanos do PSD: hoje, o Expresso relata que “Passos Coelho incentivou a ideia de um referendo à coadoção mal a lei foi aprovada no Parlamento em maio.” O último passo da operação ocorreu na véspera da votação da resolução, quando o testa-de-ferro da JSD esteve reunido com o alegado primeiro-ministro em São Bento, onde foi “devidamente instruído”. O que o Expresso refere coincide, de resto, com o que consta do DN.
Mas, hoje, Passos Coelho olhou para as câmeras de televisão com um ar impávido e disse que não deu qualquer indicação sobre referendo à co-adopção. Souness bem poderia estar a pensar em Passos Coelho quando se referiu a Vale e Azevedo.
________
¹ Graeme Souness, antigo treinador do Benfica, referindo-se a Vale e Azevedo [através de João Pinto e Castro].
² Partilhado pela Shyznogud.
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O sequestro da Assembleia da República
Intervenção do deputado Pedro Delgado Alves
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Um duplo exercício de cobardia política
Editorial do Público (partilhado por Nuno Oliveira) |
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"Julgo dever dirigir-me a vocês,
para vos dizer que a vossa actuação me cobre de vergonha"
para vos dizer que a vossa actuação me cobre de vergonha"
• Carlos Reis dos Santos, Carta aberta ao presidente da JSD e seus compagnons de route:
- ‘Hesitei em decidir a quem me dirigir: não sei quem hoje é o mandante da JSD, nem a quem prestam vassalagem. Assim, terei de me dirigir ao presidente formal da JSD – e a quem deu publicamente a cara por uma das maiores indignidades que se registaram na história parlamentar da República.
Para vocês, que certamente não me conhecem, permitam-me que me apresente: sou militante do PSD, com o n.º 10757. Na JSD onde me filiei aos 16 anos, fui quase tudo: vice-presidente, director do gabinete de estudos, encabecei o conselho nacional, fui quem exerceu funções por mais tempo como presidente da distrital de Lisboa, fui dirigente académico na Faculdade de Direito de Lisboa, eleito com a bandeira da JSD, fui membro da comissão política nacional presidida por Pedro Passos Coelho, de quem, de resto, fui um leal colaborador. Quando saí da JSD, elegeram-me em congresso como vosso militante honorário.
Por isso julgo dever dirigir-me a vocês, para vos dizer que a vossa actuação me cobre de vergonha. E que deslustra tudo o que eu, e tantos outros, fizemos no passado, para a emancipação cívica, económica, cultural e política, da juventude e da sociedade.
Com a vossa proposta de um referendo sobre a co-adopção e a adopção de crianças por casais de pessoas do mesmo sexo, vocês desceram a um nível inimaginável, ao sujeitarem a plebiscito o exercício de direitos humanos. A democracia não deve referendar direitos humanos de minorias, porque esta não se pode confundir com o absolutismo das maiorias. Porque a linha que separa a democracia do totalitarismo é ténue – é por isso que a democracia não dispensa a mediação dos seus representantes – e é por isso que historicamente as leis que garantem direitos, liberdade e garantias andam à frente da sociedade. Foi assim com a abolição da escravatura, com o direito de voto das mulheres, com a instituição do casamento civil, com a autorização dos casamentos inter-raciais, com o instituto jurídico do divórcio, com o alargamento de celebração de contratos de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Estes direitos talvez ainda hoje não existissem se sobre eles tivessem sido feitos plebiscitos.
Abstenho-me de fundamentar aqui a ilegalidade do procedimento que se propõem levar avante: a violação da lei orgânica do referendo é grosseira e evidente – misturaram numa mesma proposta de referendo duas matérias diferentes e nem sequer conexas. Porque adopção e co-adopção são matérias que vocês pretendem imoralmente enfiar no mesmo saco.
Em matéria de co-adopção vocês ignoram ostensivamente o superior interesse das crianças já criadas em famílias já existentes e a quem hoje falta a devida segurança jurídica e protecção legal. Ao invés, vocês querem que os seus direitos sejam referendáveis. Confesso que me sinto embaraçado e transido de vergonha pela vossa atitude: dispostos a atropelarem o direito de umas poucas crianças e dos seus pais e mães, desprotegidos, e em minoria, em nome de uma manobra política. E isto é uma vergonha.
Mas é também com estupefacção que vejo a actual JSD tornar-se numa coisa que nunca foi – uma organização conservadora, reaccionária e atávica. Vocês empurram, com enorme desgosto meu, a JSD para uma fronteira ideológica em contradição com a nossa História e ao arrepio do nosso património de ideias e valores: o humanismo em matéria de liberdades individuais sempre foi nossa trave mestra. O que vocês propõem é uma inversão de rumo: conservadores na vida familiar mas liberais na economia. Eu e alguns preferimos o contrário. Porque o PSD, em que nos revimos, sempre foi o partido mais liberal em matéria de costumes e em matérias de consciência. (…)’
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sexta-feira, janeiro 17, 2014
Bullying político
Estas famílias vão ser referendadas (porque não as outras todas também, hein?) |
Quando duas pessoas do mesmo sexo sejam casadas ou vivam em união de facto, exercendo uma delas responsabilidades parentais em relação a um menor, por via da filiação ou adopção, pode o cônjuge ou o unido de facto, reunidos determinados requisitos, co-adoptar o referido menor.
O Projecto de Lei n.º 278/XII do PS — sobre a co-adopção por casais do mesmo sexo — foi aprovado na generalidade em 17 de Maio de 2013, sendo depois discutido na especialidade. Inopinadamente, o PSD decide interromper o processo legislativo e impor um referendo de matéria já aprovada na generalidade (vide artigo de Isabel Moreira).
É possível que esta iniciativa vise apenas desviar a atenção do novo pacote de austeridade que consta do Orçamento do Estado para 2014, cujos efeitos os pensionistas, os funcionários públicos e os outros trabalhadores começam este mês a sentir no bolso. Ou que seja uma manobra para agradar aos círculos mais reaccionários da sociedade portuguesa. Seja qual for a razão, este caso de bullying político, como o apelidou Isabel Moreira, revela que, em nenhuma circunstância, este PSD se conforma com as regras do Estado de direito. E muito menos se preocupa com “o superior interesse da criança”.
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Referendar o horror
• Fernanda Câncio, Referendar o horror:
- ‘(…) Quem se habituou a pensar assim, quem gosta de pensar assim, prefere agarrar-se a essa ideia. É por esse motivo que de cada vez que se fala de coadoção em casais do mesmo sexo - a possibilidade de um dos cônjuges solicitar a um tribunal que lhe permita adotar o filho, biológico ou adotivo, do outro cônjuge, filho esse que vive com os dois, que é criado pelos dois e chama mãe ou pai aos dois (e que não pode ter mais nenhuma mãe ou pai reconhecido pela lei, porque se tiver a coadoção é interdita) - há quem fale de adoção por casais do mesmo sexo. Conduzir o debate para a possibilidade de adotar, em conjunto, uma criança disponível para tal e até aí sem laços com o casal permite dizer coisas como "as crianças devem ter direito a um pai e a uma mãe"; "a adoção não é um direito dos adultos, é um direito das crianças"; "não sabemos o efeito numa criança de ser criada por dois pais e duas mães, por isso é melhor não arriscar" - etc. Sobretudo, permite fingir que se está a pôr acima de tudo a preocupação com as crianças, quando a intenção é a contrária.
Negar a determinadas crianças o direito de gozar da proteção que lhes confere o reconhecimento legal de dois progenitores em vez de um: é isso que quer quem recusa a coadoção em casais de pessoas do mesmo sexo. Tem um tal horror aos homossexuais que não hesita em sacrificar o bem-estar muito concreto das crianças muito concretas que com eles vivem. Como bem sabe que isso é vergonhoso, finge estar a tentar impedir que "se entreguem crianças a homossexuais" e pede um referendo "para a sociedade decidir".
Entendamo-nos: as crianças em causa na lei da coadoção nunca vão ter "um pai e uma mãe". Têm duas mães ou dois pais e tê-los-ão sempre - quer a lei lhos reconheça ou não. Não está em causa decidir com quem essas crianças vivem, quem vai educá-las e amá-las e quem elas vão amar. Essa decisão não nos pertence. A nossa opção é entre aceitar e proteger essas famílias ou rejeitá-las e persegui-las. Entre dizer a essas crianças "a tua família é tão boa como as outras" ou "a tua família não presta". Referende-se então isso: "Tem tanto horror aos homossexuais que deseja que a sociedade portuguesa decida em referendo discriminar os filhos deles ou acha que a lei portuguesa deve deixar, o mais depressa possível, de fingir que essas crianças não existem e o Parlamento lhes deve garantir os direitos que lhes faltam?"’
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