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quarta-feira, dezembro 02, 2015

Um post sobre Sérgio Monteiro ou sobre Carlos Costa?


Está quase tudo dito sobre Sérgio Monteiro. Vale a pena no entanto determo-nos em dois pontos:

1. A contratação por ajuste directo de Sérgio Monteiro leva-nos a questionar o que têm feito as entidades que haviam sido contratadas a peso de ouro para assessorar a venda do Novo Banco (referidas mais longamente aqui). Veja-se:

    • O BNP Paribas foi contratado para assessorar financeiramente a venda do Novo Banco. Pelos seus avisados conselhos, o banco francês recebe uma remuneração mensal de 250 mil euros, durante dois anos, e um prémio de sucesso (success fee) de 10 milhões. Tudo somado: 15 milhões de euros.

    • Enquanto «Autoridade de Resolução», o Banco de Portugal decide contratar mais um assessor financeiro, a TC Capital. Despesa anunciada dos serviços a prestar durante dez meses: uma remuneração mensal de 30 mil euros e um prémio de sucesso (success fee) de 500 mil. Tudo somado: 800 mil euros.

Agora, chega a vez de abrir os cordões à bolsa a Sérgio Monteiro. Porquê? Os outros não dão conta do recado?

2. Se no caso das anteriores contratações não foi sequer justificado os montantes envolvidos nos negócios, o Banco de Portugal recorreu a um artifício para que «o Dr. Sérgio Monteiro tenha direito a uma remuneração igual à que auferia na Caixa – Banco de Investimento, SA antes de desempenhar as funções de Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações».

Com efeito, Sérgio Monteiro deixou de ser administrador de uma instituição detida pela Caixa Geral de Depósitos quando foi nomeado secretário de Estado. Ao abandonar as funções no Governo, regressaria ao lugar de origem no banco público, uma vez que o cargo de administrador já estava ocupado. Se a remuneração a pôr à disposição de Sérgio Monteiro é a que ele auferiria após o regresso à Caixa, então deveria ter sido calculada em função do lugar de origem no quadro de pessoal e não com base num cargo (transitório) que ele abandonara há quatro anos.

Este não é bem um post sobre Sérgio Monteiro. Talvez seja mais sobre Carlos Costa, porque o Banco de Portugal não pode ser gerido como se fosse uma quinta privada.

sexta-feira, novembro 27, 2015

«A quem é que o eleitor de centro compraria um carro em segunda mão?»


• Francisco Louçã, O primeiro dia é feliz, mas as dificuldades chegam depois:
    «(…) Dizem alguns comentadores que entenderam do discurso de Cavaco Silva que este ameaça demitir o governo. Depois de 53 dias de empastelamento da política, alegar uma divergência de doutrina económica sobre o papel do consumo ou outra questão avulsa para impedir a apresentação da proposta do Orçamento de Estado, tudo isto nas últimas semanas de mandato, entre a Missa do Galo e a eleição do novo presidente? Em Portugal, isso não existe. Mas a notícia política é que houve quem vislumbrasse essa esperança obscura nas entrelinhas do Presidente. Ou seja, a direita está tão perdida que fantasia um confronto épico convocado numa manhã de nevoeiro a partir de Belém, o que simplesmente quer dizer que não sabe o que fazer.

    Costa respondeu com um governo moderado e com um discurso moderado. Ele quer acentuar a deslocação da direita para as bordas do discurso incompreensível. Nem precisa de se esforçar muito. Entre António Costa, oficialista e ponderado, e Marco António Costa, a prometer uma crise política que rebenta tudo, a quem é que o eleitor de centro compraria um carro em segunda mão? Pois é, nem vale a pena perguntar. (…)»

quarta-feira, novembro 18, 2015

Terrorismo/Cavaco/Novo Banco


Fernando Medina na TVI 24:
    «A questão do Novo Banco é uma daquelas histórias que nós vamos conhecendo às fatias. Foi-nos vendido no início que esta [a resolução] era a melhor solução, porque era uma solução sem custos para o contribuinte; depois, foi tentado um sistema de venda rápida; depois, foi mudado o sistema (faz-se a negociação, não é com o primeiro, é com o segundo); depois, chega-se a uma situação em que se percebe que não há comprador; depois, decide-se o adiamento da venda, sempre com o argumento de que isto não terá custos para os contribuintes…

    Passam as eleições, et voilà, começou a chegar a primeira factura, isto é, o apontar de que o Novo Banco necessita, pelo menos, de uma capitalização de 1400 milhões de euros para satisfazer os rácios de capital mostra uma deterioração da situação e evolução do Novo Banco, mas mostra, acima de tudo, que alguém vai ter de pagar este valor. Porque este valor das duas, uma: ou é pago pelo Estado, que mantém a ambição da venda por 4900 milhões, ou, então, vai ser pago a desconto pelo cliente que comprar o Novo Banco. Isso significa que esse valor vai ter de ser pago por alguém e os alguéns são naturalmente os contribuintes portugueses, seja por via directa ou, fundamentalmente, também por via indirecta.

    Este é talvez dos principais e primeiros problemas que estará na mesa do próximo governo.»

sexta-feira, novembro 06, 2015

Novo Banco, biombo velho

Imagem daqui

• Pedro Silva Pereira, Novo Banco, biombo velho:
    «Nunca tinha acontecido, mas aconteceu agora: uma entidade pública dependente do Governo teve a extraordinária ousadia de contratar um membro do próprio Governo para exercer uma actividade profissional imediatamente a seguir a deixar o cargo! A inovação, de tão exótica, impressiona. A tal ponto que - valha-nos Deus! - nem quero pensar o que seria se uma coisa destas tivesse acontecido com um governo socialista: sem dúvida, o País estaria hoje mergulhado numa onda de comoção nacional lamentando a quebra de mais uma tão nobre “tradição democrática portuguesa”. Felizmente, não é o caso e podem por isso os moralistas oficiais do regime, sempre tão apegados às tradições, assobiar para o lado e resignar-se à incontornável fatalidade histórica de que a tradição já não é o que era.

    Em causa, obviamente, está a recente contratação do dr. Sérgio Monteiro para liderar o processo de venda do Novo Banco. Não pelas qualidades pessoais ou profissionais do interessado, que não se trata de discutir aqui, mas sim pelas circunstâncias absolutamente anormais do caso.

    A contratação de Sérgio Monteiro para as funções de Project Management Officer do projecto de venda do Novo Banco foi tornada pública por comunicado do Banco de Portugal de 29 de Outubro. A data é importante: nessa altura, o dr. Sérgio Monteiro estava ainda no exercício de funções como membro do Governo, enquanto secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações. Perguntar-se-á, ainda assim, se não será legítimo que o Banco de Portugal, com a autonomia de que goza na gestão dos seus recursos humanos, possa promover negociações com um membro do Governo tendo em vista a sua contratação futura como profissional, desde que esse contrato só produza efeitos terminado o exercício das funções governativas? Tivesse a contratação sido realmente efectuada pelo Banco de Portugal e o caso, embora discutível, poderia ser, apesar de tudo, defensável. Mas a verdade é que o Banco de Portugal não contratou ninguém: limitou-se a emitir um comunicado e a servir, mais uma vez, de biombo do Governo.

    As aparências têm destas coisas: por vezes iludem. Sendo a contratação anunciada pelo Banco de Portugal, em comunicado seu, publicado no respectivo sítio oficial, a imagem que inevitavelmente passa, e sem dúvida se quis passar, é a de que se tratou de uma contratação feita pelo próprio Banco de Portugal. E funcionou: foi exactamente isso que acabou escrito, preto no branco, na maior parte dos jornais. Contudo, uma leitura um pouco mais atenta do segundo parágrafo do comunicado do Banco de Portugal revela, sem margem para dúvidas, que afinal a contratação do então secretário de Estado foi efectuada não pelo Banco de Portugal, que apenas a divulgou, mas sim pelo Fundo de Resolução - o que faz toda a diferença. De facto, o Banco de Portugal e o Fundo de Resolução não são a mesma coisa. O Fundo de Resolução é uma entidade pública, detida pelo Estado, cujos administradores são maioritariamente nomeados pelo Governo ou com a sua participação. Sendo assim, não há volta a dar: que uma entidade pública, sob tutela governamental, dirigida por administradores maioritariamente nomeados pelo Governo, tenha contratado os serviços profissionais de um membro do Governo em funções, é, obviamente, ultrapassar os mais elementares limites da decência. Que o tenhamos de saber pelo site do vizinho, é ainda mais feio

sexta-feira, outubro 16, 2015

Esqueletos escondidos no armário durante a campanha eleitoral

Cavaco Silva marcou eleições para Outubro, sabendo de antemão que esta decisão poderia ter como resultado deixar o país sem orçamento do Estado para o próximo ano. Acontece que todos os países da zona euro, com excepção de Portugal, fizeram até ontem chegar a Bruxelas os respectivos planos orçamentais.

Mas o que merece agora atenção é a circunstância de Passos Coelho se recusar sequer a enviar para Bruxelas um mero projecto de orçamento, apesar de Bruxelas exigir que Portugal apresente sem demoras esse esboço para 2016, sem prejuízo de o futuro governo o poder vir a alterar. O defunto governo, sempre tão pressuroso a acatar as ordens de Bruxelas, resiste a cumprir os procedimentos estabelecidos. Porquê?

Só há uma explicação para isto: Passos & Portas querem continuar a manter no armário, fechados a sete chaves, um sem-número de esqueletos. Repare-se que Maria Luís Albuquerque se tem recusado a facultar os elementos pedidos pelo PS, sem os quais não é possível fazer-se uma avaliação séria da situação financeira e económica do país.

Uma das questões colocadas pelo PS refere-se à situação do Novo Banco. A coligação de direita não quer dar elementos sobre o estado do banco. Mas, hoje, soube-se que o banco Société Générale antecipa que o Novo Banco precisa de mais 2,4 mil milhões de euros, tendo em conta que este poderá ter ainda de reconhecer mais 1,2 mil milhões de euros de imparidades, principalmente relacionadas com créditos concedidos a empresas e a imóveis que foram executados por incumprimento de crédito.

É esta razão por que o defunto governo não disponibiliza os elementos sobre o Novo Banco. Que mais esqueletos continuam escondidos?

quarta-feira, setembro 30, 2015

Bruxelas divulga documento que contradiz o Governo,
Cavaco Silva e o governador do Banco de Portugal:
contribuintes podem ter de pagar perdas do Novo Banco


Recorda-se, caro leitor, do que eles disseram sobre o Novo Banco? Refresquemos a memória:
    "[A solução] é aquela que oferece, seguramente, maiores garantias de que os contribuintes portugueses não serão chamados a suportar as perdas que, neste caso, respeitam pelo menos a má gestão que foi exercida pelo BES".
    "[A resolução do BES] protege os depositantes, seja qual for o valor dos depósitos, protege os contribuintes, salvaguarda os postos de trabalho, evita rupturas de crédito à economia, contribui para a estabilidade do sistema financeiro como um todo".
    "Os contribuintes não terão de suportar os custos relacionados com a decisão tomada hoje. A nova instituição será detida integralmente pelo Fundo de Resolução".
    "A medida de resolução agora decidida pelo Banco de Portugal, e em contraste com outras soluções que foram adoptadas no passado, não terá qualquer custo para o erário público, nem para os contribuintes".
    "A autoridade de supervisão, entre as alternativas que se colocavam, escolheu aquela que melhor servia o interesse nacional e que não trazia ónus para o contribuinte".

Então, saiba, caro leitor, que um documento elaborado no seio da Comissão Europeia adverte para a possibilidade de os contribuintes portugueses virem a ter de suportar as perdas do Novo Banco. Como se sabe desde que o Governo adoptou a resolução do BES.

ADENDA — Os dois vídeos seguintes ajudam a relembrar a história da criação do Novo Banco (o primeiro) e a verificar os efeitos da opção tomada pelo Governo (o segundo):

Rui Pedro Nascimento (via Nuno Serra)

sábado, setembro 26, 2015

2010 versus 2014


    «De acordo com o Instituto Nacional de Estatística os 4,9 mil milhões de euros injetados no Novo Banco contam para o défice de 2014, que passa a ser de 7,2% do PIB em vez dos anunciados 4,5%. O primeiro-ministro Passos Coelho desvalorizou o facto afirmando que "trata-se apenas de um reporte estatístico". Em 2011 o INE fez algo de semelhante considerando o BPN e o BPP no défice de 2010. Nessa altura, o ex-ministro deste Governo Miguel Macedo, então líder parlamentar do PSD, afirmou que lhe apetecia dizer "que ainda está para nascer em Portugal um primeiro-ministro que tivesse enganado tanto os portugueses".»

A CP conta mas o BES não?


• Ricardo Reis, A CP conta mas o BES não?:
    «(…) não é justo que o governo insinue que o verdadeiro défice é 4,5%. Ao contrário das linhas férreas, neste caso nós sabemos quanto vale este activo: aquilo que ainda há um mês três concorrentes estavam dispostos a pagar, que era bastante menos do que esperávamos. Por isso o défice "verdadeiro" também não é 4,5%, mas mais por culpa das perdas que se estima vamos ter quando finalmente vendermos o BES.»

quarta-feira, setembro 23, 2015

«Ai, Pedro 'Lapsos' Coelho:
o senhor não tem manifestamente estatura para primeiro-ministro»


    «O regozijo de hoje de Passos Coelho com o adiamento da venda do Novo Banco é a prova absoluta de como ele é irresponsável:

      1. O problema do BES-Novo Banco existe, com esta dimensão, também porque o Governo PSD-CDS não acudiu a tempo (tal como a troika e o Banco de Portugal). E agravou-se para milhares e milhares de portugueses, porque o Governo os convenceu de que o banco era sólido e os incentivou a acorrer ao aumento de capital, quando já estava à beira do precipício.

      2. A totalidade, repito a totalidade, dos 3,9 mil milhões de euros postos pelo Tesouro no Fundo de Capitalização é responsabilidade pública. Por isso é que conta para o défice. O valor que ficar por recuperar - por incumprimento ou atraso no incumprimento da dívida contraída pelos bancos - é responsabilidade do Estado. O mesmo se dirá para a recapitalização que vai ter de se fazer entretanto.

      3. Parte considerável do dinheiro que os bancos põem no Fundo é receita do Estado: falo dos muitos milhões que eram receita de impostos (da taxa extraordinária sobre os bancos), que o Governo aceitou que o Estado deixasse de receber.

      4. Toda e qualquer perda da Caixa penalizará o Estado.

      5. E, sobretudo, nenhum primeiro-ministro com mínimo sentido de responsabilidade pode ignorar que as perdas dos bancos (público e privados) com o processo do Novo Banco são um perigosíssimo fator de risco acrescentado à já de si muito frágil situação da banca portuguesa. Ai, Pedro 'Lapsos' Coelho: o senhor não tem manifestamente estatura para primeiro-ministro.

sábado, setembro 19, 2015

Passos, o BES e a verdade


• Pedro Silva Pereira, Passos, o BES e a verdade:
    «A narrativa angelical de Passos Coelho sobre o BES distorce grosseiramente os factos e enjeita indecentemente responsabilidades. A longa sucessão de enganos, ilusões e meias-verdades que pontuam desde o início o discurso de Passos Coelho sobre o BES confirma um problema estrutural que vem de longe: Passos e a verdade não se dão bem.

    Já em 2011 todos vimos Passos Coelho a prometer em campanha muitas coisas que não cumpriu a seguir às eleições. Desta vez, porém, temos uma novidade absoluta. Com o apressado recuo na sua surpreendente promessa de ele próprio "organizar" (sic) uma subscrição pública para financiar o recurso dos lesados do BES aos tribunais, o que Passos fez foi anunciar, ainda em plena campanha, que a promessa que fez na véspera aos lesados do BES afinal não é para cumprir. Ora aí está um feito digno de nota: mais rápido do que a própria sombra, Passos conseguiu quebrar uma promessa eleitoral ainda antes das eleições! É obra.

    O caso não teria relevância de maior se não se tratasse da confirmação de um padrão de comportamento. Quem não se lembra de Passos Coelho em 2011, no seu caminho para empurrar Portugal para a crise política e para o pedido de ajuda externa, a queixar-se em público de uma pretensa deslealdade institucional por alegadamente ter sido informado apenas telefonicamente do PEC IV, para depois se apurar que, afinal, foi informado presencialmente pelo primeiro-ministro de então, numa reunião de várias horas na Residência Oficial de São Bento?

    Vem isto a propósito do permanente "passa-culpas" de Passos Coelho a propósito da resolução do BES e das consequências do fiasco da venda do Novo Banco. Toda a narrativa de Passos sobre a resolução do BES está viciada por uma sistemática - e irritante - distorção dos factos. Vejamos três aspectos essenciais.

    Em primeiro lugar, embora a decisão de resolução do BES seja formalmente do Banco de Portugal, é óbvio que, ao contrário do que diz Passos, a operação de resolução do BES foi, desde o início, uma operação conjunta do Banco de Portugal e do Governo. Só isso explica que o Conselho de Ministros tenha aprovado em segredo o regime jurídico ao abrigo do qual a resolução viria a ser feita e que o tenha feito de urgência, no dia 31 de Julho de 2014, precisamente o dia seguinte à divulgação dos prejuízos do BES e véspera do dia em que a decisão de resolução foi comunicada pelo Banco de Portugal ao BCE. Mais: só com um especial envolvimento do Governo teria sido possível, como foi, obter do Presidente da República a promulgação desse decreto no próprio dia (!) em que ele foi aprovado em Conselho de Ministros. Com franqueza: dizer que a aprovação urgente deste Decreto-Lei pelo Governo não tem nada que ver com a resolução do BES decidida pelo Banco de Portugal no dia seguinte, ultrapassa os limites do razoável.

    Em segundo lugar, é também rotundamente falso que o Fundo de Resolução, único accionista do Novo Banco, seja detido ou sequer financiado (pelo menos, até ver) pelos bancos do sistema financeiro, ao contrário do que repetidas vezes o Governo tem referido. A verdade é que o Fundo de Resolução é uma entidade pública, da administração indirecta do Estado, que consolida no perímetro das contas públicas (e por isso o fiasco da venda do Novo Banco fará disparar o défice público de 2014 para cerca de 7,4% do PIB). Mais: o Fundo de Resolução é dirigido por uma administração constituída por três pessoas, a maioria (!) das quais - duas em três - é designada com intervenção directa da ministra das Finanças e nenhuma delas é indicada pelos bancos comerciais. Mais ainda: as receitas do Fundo de Resolução, além dos empréstimos, têm sido constituídas, essencialmente, por receitas fiscais desviadas para esse fim (por consignação das contribuições fiscais da banca), ou seja, por dinheiro que é indiscutivelmente dinheiro público, oriundo do Orçamento de Estado.

    Em terceiro lugar, ao contrário do que diz Passos, não é verdade, como já toda a gente percebeu, que a resolução do BES não implique custos para os contribuintes, mesmo que o Novo Banco seja vendido por um valor inferior ao que o Estado injectou no Fundo de Resolução - como é hoje mais do que certo. Não só a factura que impende sobre a Caixa Geral de Depósitos acabará sempre por penalizar os contribuintes, como a consignação acrescida de receitas fiscais, ainda que oriundas das contribuições da banca, resultará obviamente em prejuízo dos contribuintes e do Orçamento de Estado.

    A narrativa angelical de Passos Coelho sobre o BES distorce grosseiramente os factos e enjeita indecentemente responsabilidades. Pior: depois de induzir em erro clientes e investidores, hoje lesados do BES, pretende agora levar ao engano os contribuintes e os eleitores. Mas não passará.»

Somos todos lesados do BES

Hoje no Expresso
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Livrai-nos do Bom

• João Quadros, Livrai-nos do Bom:
    «Comunicado do Banco de Portugal: "No seguimento do convite do Fundo de Resolução, publicado a 4 de dezembro de 2014, 17 entidades manifestaram interesse no procedimento de alienação do Novo Banco dentro do prazo fixado (até às 17h00 de 31 de dezembro de 2014)".

    Eram 17 interessados e, no fim, não houve casamento. O melhor é o Novo Banco ir para um convento. Parece-me a ideia mais sensata, não vale a pena insistir e vai-lhe saber bem o silêncio depois das manifestações dos lesados do BES. Em princípio. Porque a verdade é que o Novo Banco esteve, recentemente, quase um ano numas termas, a limpar todo o bicho que tinha e, no final, saiu de lá com mais 200 milhões de prejuízo em seis meses. (…)»

terça-feira, setembro 15, 2015

E os dez milhões de contribuintes, Senhor?

Autor: Luís Vargas

    «As responsabilidades de Passos Coelho na tragédia BES/Novo Banco:
      1. Deixou arrastar a derrocada do BES/GES, sem intervir a tempo, apenas para salvar as aparências de uma saída limpa do programa de resgate.

      2. Assegurou aos Portugueses que o BES era seguro quando sabia ou devia saber que não o era.

      3. Nomeou quem quis, aliás da sua estrita confiança (por exemplo, um seu ex-secretário de Estado) para a administração do Banco de Portugal, quando teve oportunidade de recompô-la. Depois, renovou o mandato do Governador do Banco de Portugal.

      4. Recusou o caminho alternativo de fortalecer o Novo Banco antes de colocá-lo à venda.

      5. Fugiu à sua obrigação número um como governante: acautelar os interesses do país, defender os contribuintes portugueses e assegurar a estabilidade do sistema financeiro.

segunda-feira, setembro 14, 2015

24 horas bastaram para Passos Coelho dar o dito pelo não dito
sobre a subscrição pública

«Um peixe-papagaio, a dizer não importa o quê.
Fora do aquário ainda é mais aflitivo»


• Ferreira Fernandes, Até dá saudades do cherne:
    «(…) Passos, o imprevidente que não viu o desastre do BES chegar, meteu-se num mercado de Braga cheio de indignados do BES! Andou a fugir aos debates e, ali, quis debater com gente vociferante... Em um para um, Passos perde sempre. Que queria que acontecesse contra uma multidão? O pior é que ele próprio se deu logo conta no que se metia e pôs-se a mexer os lábios de forma estranha: 1) pediu, por favor, para não andarem mais atrás dele (pediu o primeiro-ministro a gente com a vida destroçada); e 2) propôs ser o primeiro a dar para um peditório para irem a tribunal (ofereceu esmola a quem clama por justiça). Um peixe-papagaio, a dizer não importa o quê. Fora do aquário ainda é mais aflitivo

Caso BES servirá de círio fúnebre a Cavaco, de véu negro a Maria Luís e de mortalha a Passos, os três principais responsáveis

• António Correia de Campos, A alegre campanha:
    «(…) O BES. Manancial inesgotável. Servirá de círio fúnebre a Cavaco, de véu negro a Maria Luís e de mortalha a Passos, os três principais responsáveis. O caso BES está para durar. Leviandade, mentiras e pressas, dão sempre maus resultados. Leviandade na voz grossa do aval político a negócios que se sabia impossíveis e fraudulentos, como a venda de papel comercial, como se de títulos firmes se tratasse. Já houve quem dissesse que a palavra de Passos (e Cavaco) seriam cartas de conforto da recusa de apoio de Estado, com o BCE e a Comissão mais que atentos. Mas depois vem o enleio da mentira, empurrada pelo contraponto: não, não se fez como no BPN, não se aceitou a nacionalização, apenas a resolução, ficando tudo a cargo da banca. O rabo de fora do gato escondido é desfeito pela imprensa económica: grandes perdas públicas existem no envolvimento maximal da Caixa, na vulnerabilidade que acresce a um BCP aflito cá e na Polónia, e sobretudo na redução regular de lucros bancários passíveis de imposto, devido à servidão a que a Banca será obrigada, mesmo que em prestações suaves. Finalmente a pressa, a eterna má conselheira. Mesmo que o negócio fosse mau, como se esperava, o Governo deitaria foguetes por ter encerrado um dossier difícil. Saiu tudo ao contrário: a pressa passou a sobranceria: não, não temos pressa nenhuma nem pressionamos o Banco de Portugal! Se a fatalidade era previsível, porquê então inventar um método de concurso em que o vendedor perde poder negocial a cada recusa de interessados, diminuindo de degrau em degrau a distância ao desprezo. Tudo isto fui depois explicado, clarinho, a Passos, perante centenas de milhares de Portugueses. Porquê continuar a errar e a mentir, atolando-se na lama, com os indignados em ira justificada? Até que o Governo, no final, ceda tudo o que, em bom tempo, teria podido negociar? A promessa de Passos de servir de primeiro subscritor de uma angariação para pagar a advogados, pensando que assim obtém a remissão dos seus erros e pecados, foi tirada indigna da dignidade do poder. Será destruída pelo ridículo. Semana horribilis? Não, apenas o princípio do desmontar da feira. (…)»

domingo, setembro 13, 2015

Requiem para uma governação

Passos tem o dever de manter informados os lesados do BES
de como está a decorrer o peditório

Imagens da SIC

Nunca se subestime o talento de Passos Coelho. O estarola está sempre disponível para confirmar os seus inesgotáveis dotes.

Ora o sistema de apoio judiciário em vigor não garante o direito constitucional de acesso à justiça e aos tribunais? Passos Coelho resolve: ele próprio disse estar disposto a organizar uma subscrição pública para assegurar o acesso dos lesados do BES aos tribunais. E será, diz o pantomineiro-mor, o «primeiro subscritor» do peditório. Perante o ar incrédulo de um lesado — «Compromete-se? Perante a opinião pública, compromete-se?» —, revalidou a sua insólita noção de Estado de direito: «A ajudá-lo a ir para tribunal? Sim, senhor, sim, senhor. Disso pode ter a certeza.»

Resta agora aos lesados do BES acompanhar o circuito da carne assada da coligação de direita, para se poderem manter informados de como está a decorrer o peditório. Passos Coelho, como impulsionador, organizador e primeiro subscritor, tem o dever de lhes prestar contas diárias.

sábado, setembro 12, 2015

Se tanto insistem em falar do passado,
quem chamou a troika em 2011?


Convenhamos que não seria fácil fazer a apologia da política austeritária de «ir além da troika», o tal empobrecimento de que falava Passos Coelho (depois de vencer as eleições), método eficaz para retirar 7,6 mil milhões a salários e doar 2,5 mil milhões ao capital. Por isso, Passos Coelho & Portas pretenderam fingir-se de mortos na campanha eleitoral.

No entanto, ao não conseguir fugir dos debates na televisão, a coligação de direita provou que os receios tinham razão de ser. Está a ser um descalabro: Passos Coelho saiu a cambalear do confronto com António Costa, Paulo Portas embatocou perante Catarina Martins e, ontem, Passos Coelho voltou a espalhar-se ao comprido quando a coordenadora do BE fez alusão ao desastre do Novo Banco e à privatização escondida das receitas da Segurança Social (através do recurso ao plafonamento).

Em desespero, Passos Coelho ainda tentou ressuscitar a coligação negativa de antigamente, mas o expediente não resultou (cf. debate, ao minuto 23):
    Passos Coelho — Isto é quase tão próximo como aquela afirmação de que foi o PSD que chamou a troika

    Catarina Martins — Por acaso eu acho que chamou mesmo.

Pois, se o leitor ainda tem dúvidas de quem escancarou as portas à troika, pode ler um relato dos dias trágicos em que a direita se entendeu sobre a necessidade de encontrar um pé-de-cabra para virar o país do avesso: A prova dos factos: afinal, quem chamou a troika em 2011?